Recebemos o convite de uma publicação
especializada para opinar sobre as novas gerações
de espíritos, questão polêmica que significa
discussão empolgante e ao mesmo tempo delicada.
O adolescente Bill Gates no início dos
anos 1970: protótipo de um nova humanidade?
As principais correntes espiritualistas, sempre na vanguarda, naturalmente
tendem a se posicionar de maneira aberta sobre o assunto: algumas
com restrições e critérios cautelosos, outras
com empatia e entusiasmo, porém sem a postura crítica
necessária, o que pode prejudicar o estudo e uma melhor definição
do tema.
Os espíritas também
se dividiram nessas duas categorias, mesmo tendo como referência
as citações de Allan Kardec sobre as futuras gerações.
Alguns médiuns, demonstrando até certa ousadia, já
fizeram “revelações” sobre a reencarnação
desses espíritos, apontando inclusive a origem dos mesmos.
Temos que considerar que essas informações
ainda são apenas opiniões e não certezas. Ainda
não existe nenhuma evidência positiva, ou seja, não
há fenômenos cientificamente comprovados que possam
atestar objetivamente a presença desses espíritos,
não da forma como vem sendo apresentada pelos seus divulgadores.
Os sinais comprobatórios seguem as leis da natureza e apenas
dão pistas que só podem ser desvendadas com observações
de longo prazo.
As velhas gerações
que hoje controlam o saber no planeta um dia foram gerações
novas e também causaram espanto e especulações.
Em todas as épocas nós encontramos protótipos
humanos revolucionários e que tiveram um papel extremamente
importante na transformação social do planeta. Protótipos
são modelos históricos, cujas experiências são
reconhecidas e culturalmente registradas. Todos eles dominavam saberes
revolucionários, novas tecnologias, intuições
artísticas intrigantes e possuíam um padrão
moral diferente do comum, embora não fossem vistos por seus
pares com seres extra-terrestres e anormais.
Tecnologia e intuição
também não são novidades nem exclusividade
do tempo atual e futuro. Elas sempre existiram e se manifestaram
através desses protótipos, que aprenderam a lidar
com o fogo, a agricultura, a escrita e as famosas máquinas
industriais, administrando todas as consequências sociais
dessas mudanças. Recentemente passamos por grande revolução
nas áreas da informação e da genética.
Os proponentes dessas descobertas não são pessoas
comuns, possuem uma inteligência acima da média e não
se diferenciam das gerações anteriores de brilhantes
cientistas, inventores e artistas. O padrão moral deles também
não é muito diferente dos seus antecessores. De onde
teriam vindo tais espíritos?
A história e a antropologia
mostram que as grandes mudanças tecnológicas e sociais
ocorreram pelos processos naturais de socialização,
ou seja, os protótipos aparecem com suas características
intelectivas mais avançadas e, em determinadas circunstâncias,
passam a influir culturalmente de forma mais significativa sobre
a geração daquele contexto, mudando os paradigmas
até então dominantes. Os chamados Espíritos
Superiores , encarnados e desencarnados, que influíram na
fundação da Doutrina Espírita e também
nas antigas doutrinas históricas, também eram protótipos
avançados, bem diferentes em inteligência e moral dos
espíritos que geralmente se manifestaram de forma limitada
e medíocre no planeta. Esse foi o diferencial que logo foi
percebido, identificado e explicado por Allan Kardec. Qual a origem
e caráter dessa superioridade intelecto-moral ? Aliás,
devemos lembrar do texto “As aristocracias”, no qual
Kardec também expõe, nessa perspectiva histórica
e antropológica, a sua visão sobre as gerações
futuras.
Também no tocante a esse
assunto, é bom lembrar que o movimento espírita foi
bastante influenciado pela tese dos capelinos – revelada por
Emmanuel e amplamente discutida e opinada por Edgard Armond. O tema
já havia sido rapidamente comentado por Kardec em A Gênese.
Essa influência mais recente, fundada numa revelação
de natureza mística, alimentou bastante o nosso imaginário
sobre essas reencarnações coletivas.
É certo que não estamos
vivendo uma época comum da Humanidade. Estamos vivendo uma
grande transição e as mudanças velozes e impactantes
estão aí para comprovar. Isso alimenta ainda mais
essa visão mística, porém não podemos
esquecer que as coisas não mudam ao sabor da nossa imaginação
e sim no ritmo próprio dos acontecimentos.
Particularmente gostamos muito de
duas abordagens sobre esse assunto e que nos fazem refletir melhor
sobre essa idéia de uma nova humanidade: primeiro, o texto
do psicólogo norte-americano Carl Rogers, denominado “Um
novo mundo, uma nova pessoa”, escrito em 1981; e segundo,
o artigo brilhante de Richard Sinonetti, escrito há alguns
anos, quando o movimento espírita foi atingido em cheio pela
onda das chamadas “crianças índigo”. Rogers
escreveu sob efeito do risco de uma catástrofe nuclear, revelando
uma impressionante capacidade de observação, síntese
e lucidez. É um texto ao mesmo tempo profético e científico,
pois a visão sobre o futuro humano e planetário é
tratada como probabilidade e hipótese. Já o texto
de Simonetti , não tão profundo mas somente sincero
e sensato, seguiu o modelo de Kardec, dando um banho de água
fria sobre os excessos dos entusiastas e também um grande
conforto para os conservadores mais temerosos.