Edgard Armond dizia, há mais
de 60 anos, que o umbral estava cheio de espíritas e essa
informação causou na época um tremendo mal
estar em muitos adeptos que achavam que só o fato de se declararem
espíritas era suficiente para que tivessem uma morte tranquila
e fácil acesso às colônias luminosas do plano
espiritual. No umbral, segundo André Luiz, existiam eficientes
Escolas de Vingança (base dos processos
obsessivos) e no movimento espírita havia aquela morosidade
doutrinária. Armond estava querendo dizer que a moral espírita
não estava fazendo efeito prático nos espíritas
e que era necessário criar um método educativo mais
eficiente de transformação moral e não somente
as leituras e as práticas mediúnicas tradicionais
oferecidas nas casas. Ele idealizava também um centro espírita
em cada esquina, antecipando a crise moral que sociedade vive atualmente.
Foi por isso que ele criou a Escola de Aprendizes do Evangelho (Escolas
de Amor e Perdão), uma iniciativa eficiente para
acolher esse público flutuante, ensinar a maioria, educar
a média e selecionar os mais aptos para tarefas especializadas.
Era uma forma de ajudar também os espíritas a controlar
melhor suas más inclinações e evitar envolvimentos
perigosos, numa sociedade sempre cheias de tentações.
Naquela época, nos anos 1950, a FEESP já atendia massas
e a gravidade do desvio de público era muito preocupante.
Muitos ainda acham que isso foi um exagero de Armond, mas a realidade
é que o sistema cumpria rigorosamente objetivos superiores
de ensino, educação e capacitação de
trabalhadores. Muitos espíritas ainda sucumbem às
tentações do mundo porque não possuem conhecimento
suficiente, principalmente auto-conhecimento, ferramentas seguras
para enfrentar a corrupção e as ciladas do mundo,
sobretudo os médiuns.
Muitos pessoas tem ido aos centros espíritas para tomar passes
e ouvir palestras. Estão sem rumo e certamente querem consolo
e explicações para não sucumbirem em suas tarefas
cotidianas. A maioria dos centros não possui programas de
ação para receber e esclarecer esse público.
Oferecem apenas passes, palestras, água fluidificada e as
campanhas de serviço social. É uma atividade benéfica,
porém insignificante tendo em vista o grandioso potencial
de esclarecimento das casas. Esgotados esses serviços corriqueiros
de consolo, a maioria dos freqüentadores se dispersam e pouquíssimos
se integram ao trabalho. Boa parte dos dirigentes são inseguros,
centralizadores, acomodados aos esquemas tradicionais, preocupados
com a estabilidade das casas. Muitos deles temem o ingresso de novas
lideranças e, quando isso acontece, não raro, logo
dão um jeito de expurgar os que se mostram mais habilidosos
na organização e na dinâmica dos serviços.
É um lamentável desperdício de tempo e de possibilidades
de expandir as casas espíritas através de células
novas e bem estruturadas, para dar continuidade à necessária
multiplicação. O principal obstáculo desse
processo de desenvolvimento, como sempre, é o assistencialismo,
que se impõe como prioridade (pois é mais cômodo
e não tem implicações morais tão graves),
desviando as casas espíritas da sua vocação
natural educativa e doutrinária. De um centro bem estruturado
doutrinariamente pode sair muitos outros centros semelhantes; todavia,
de um centro assistencialista e desviado, quase nada se desprende
e se expande.
A maioria dos freqüentadores dos centros não são
“espíritas” na verdadeira concepção
da palavra, mas apenas consumidores de livros e serviços
das casas espíritas. André Luiz fez esse alerta em
Os Mensageiros e em muitas outras obras, mas as pessoas continuam
achando que tudo é exagero e brincadeira. Desde àquela
época pouca coisa mudou. As escolas sistematizadas de esclarecimento
e capacitação ainda ocupam pouco espaço. A
maioria, com raríssimas exceções, propõe
uma complicada sistematização das obras de Kardec,
cujas aulas são verdadeiros convites ao abandono. Não
existe a ligação necessária entre teoria e
prática doutrinária. Algumas levam anos na rotina
teórica cultivando um pretencioso domínio intelectual
de conteúdos, quando já poderiam impulsionar os alunos
para as práticas supervisionadas, sempre incrementadas por
reciclagens e atualizações. Aprender a Conhecer, aprender
a Fazer, aprender a Conviver e finalmente aprender a Ser, preconiza
a ONU na sua bússola curricular e progrmas educativos da
Unesco para o século XXI. Tudo a ver com o Espiritismo e
com o nosso movimento, não?
Será que o umbral continua cheio de espíritas?
Deve ser terrível para qualquer um de nós, sob as
constantes gargalhadas dos adversários nos provocando: “Uai,
o espiritismo não os alertou que era preciso ir muito além
dos livros e mensagens?
E nós, humilhados, de cabeça baixa e em prantos convulsivos,
nos perguntando onde foi que erramos.
* * *