A amiga e educadora santista Ana
Lúcia Caetano enviou-nos por e-mail uma entrevista do educador
português José Pacheco falando
sobre a revolução educacional feita por Eurípedes
Barsanulfo em Sacramento. Pacheco é o criador da famosa Escola
da Ponte, um ambiente educativo também revolucionário
e que foge totalmente dos padrões sistemáticos vigentes.
Naturalmente a amiga Ana Lúcia
e muitas outras pessoas se lembraram das críticas e questionamentos
que fizemos há alguns anos sobre a chamada pedagogia espírita,
enfatizando que Eurípides colocou em prática um projeto
altamente inovador, tão inovador que não pôde
ser sustentado após o seu desencarne. Fracassou como instituição,
mas rendeu os frutos humanos que todos nós conhecemos e que
são citados por José Pacheco.
Mas a nossa antiga pergunta persiste:
Por que esse fator revolucionário não se sustenta?
Nossa grande preocupação
com o rótulo “pedagogia espírita” é
que o Espiritismo do qual Herculano Pires tornou-se fiel defensor
não é o mesmo Espiritismo dogmático e lamentavelmente
sectário que se pratica atualmente no movimento espírita
brasileiro. Claro que sabemos que o ser humano Rivail era produto
pedagógico de Pestalozzi e Rousseau e que Kardec foi muito
além disso na sua educação pessoal e andragógica.
Achamos inclusive que o conceito espírita que se pratica
hoje seria extremamente prejudicial à pureza universalista
desses pensadores, daquilo que se praticou em Yverdon ou mesmo inicialmente
em Sacramento. Colocar um rótulo espírita numa escola
é muito fácil. Difícil é manter-se fiel
aos seus princípios.
Continuamos achando também
que a experiência pestalozziana ainda é uma excelente
proposta e que qualquer pessoa progressista – incluindo alguns
espíritas – poderia confiar a educação
dos seus filhos à tal projeto. Com a marca espírita
seria mais uma escola confessional, restrita, com espírito
de seita, discriminatória, etc. É triste dizer, mas
é a realidade. Um dia, quem sabe, quando estivermos devidamente
educados no próprio espírito universalista da Doutrina
poderemos sustentar o conceito “espírita” em
nossos projetos educacionais. Antes disso – embora sejamos
sempre favoráveis às tentativas – achamos que
é utopia (no sentido de projeto em construção)
e que dificilmente será dissociada do sectarismo religioso
que hoje fanatiza o movimento espírita. A própria
a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita
poderia mudar o nome para algo mais abrangente como Humanista e
vão perceber que as pessoas deixarão de torcer o nariz,
como fazem hoje quando ouvem a definição de “pedagogia
espírita”, não somente por causa do preconceito
contra o Espiritismo, mas por causa dos limites dos sistemas educacionais.
Releiam o relato de Ary Lex no seu livro de memórias (50
anos de Espiritismo em São Paulo) e vão entender um
pouco essa nossa desconfiança em relação a
tudo isso. Vejam bem: é apenas desconfiança. Não
é raiva, nem teimosia. Herculano Pires teve pouquíssimas
limitações ao tratar de Espiritismo. A educação
foi uma delas e o motivo dessa limitação talvez tenha
sido o fato de nunca ter sido educador de fato. A maioria dos intelectuais
tem essa dificuldade de harmonizar a teoria com a prática.
A reciproca também é verdadeira para educadores leigos
e empíricos.
Ao nosso ver essa questão
da educação espírita continua indefinida e
inconsistente, tanto quanto outras questões filosóficas
como a arte, a política e o partido espíritas. Esse
assunto também nos lembra da relação entre
esperanto e espiritismo. De onde surgiu essa relação
histórica e filosófica? E sempre que esse assunto
vem à tona, nos questionamos também: Que tipo de idioma
seria ideal para a educação dos nossos filhos num
mundo globalizado?
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