Embora usemos comumente esse termo
"pedagogia" como uma ação educativa genérica,
podemos e devemos lembrar que Jesus não praticava a pedagogia.
Ele fazia o inverso, que era a andragogia. Seus ensinamentos não
se dirigiam à existência física, linear e horizontal
(posição dos animais), e sim à consciência
metafísica, não linear e vertical (posição
ereta dos seres humanos em transformação mental).
Na pedagogia privilegia-se os sentidos e o intelecto (habilidades
efêmeras); na andragogia o alvo são as competências
definitivas. Verticalidade e horizontalidade dizem respeito ao nosso
domínio mental da lei da gravidade. Esse é o sentido
de jugo e libertação na proposta educativa de Jesus
e também do Espiritismo. Jugo pesado e jugo leve são
metáforas desses saberes do Espírito, mesmo quando
está preso na carne.
O Evangelho não é pedagógico. Nem o Espiritismo.
Ambos são andragógicos, quando se fala de educação
ou mudança de comportamento.
O que fazemos hoje com o Espiritismo é pura instrução,
cujo alvo é apenas intelectual e existencial. Deveríamos,
segundo essa observação de Allan Kardec, fazer educação,
visando atingir a consciência, base da transformação
moral. Mudar o pensamento é simples e basta instruir; mudar
os sentimentos e as ações é mais complexo e
exige outras formas e técnicas educativas, ou seja as aprendizagens
vivenciais.
Pedagogia e Andragogia eram conceitos utilizados na Grécia
antiga respectivamente para o ensino de crianças (mentes
infantis e imaturas) e adultos (mentes maduras), não importando
muito a questão da idade cronológica e sim a idade
psicológica. A Escola de Pitágoras (iniciática
e seletiva) trabalhava com o dois conceitos, simultaneamente. Já
as escolas filosóficas convencionais só usavam a pedagogia,
pois concentravam-se apenas no intelecto e nos interesses externos
ao indivíduo. Uma coisa é ensinar para as coisas da
vida e outras é ensinar a refletir e se conduzir sobre as
escolhas que fazemos na vida. Viver por viver é diferente
de viver com propósitos superiores ao comum. Os pedagogos
gregos que foram escravizados pelos romanos não conseguiram
ou não quiseram transmitir essa diferença essencial
educativa para nova civilização que os subjugaram.
Roma não aprendeu a educação andragógica.
Estava interessada apenas em instrução técnica,
política e militar. Jesus ao falar para as massas era pedagógico
e genérico, mas ao escolher e treinar seus discípulos
ou então quando fazia abordagens pessoais, era específico
e usava o método andragógico. Ele foi selecionando
naturalmente os mais maduros e apenas tolerando os imaturos (Judas,
por exemplo), confiando que o livre arbítrio poderia um dia
despertá-lo no tempo propício do seu ritmo pessoal.
As parábolas de Jesus eram sempre andragógicas. A
parábola do semeador é a essência da andragogia.
Nesse aspecto também os gregos usavam a metáfora do
"tempo de aprender" os ritmos da aprendizagem : kronos,
para as coisas do corpo ou existência; e kairós, para
as coisas da mente e da consciência. Isso era simbolizado
pelo relógio (extroversão) e uma bússola (introversão).
Allan Kardec, por exemplo, ao tomar contato com os fenômenos
espíritas e suas repercussões internas e externas,
saltou de kronos para kairós em apenas 14 anos. Era maduro
intelectual e espiritualmente.