De volta a onda de questionadores da
obra de André Luiz. Para não atacar a figura do médium
Chico Xavier, os ataques se concentram no espírito, que teria
“enganado” o médium com seus “delírios”.
A ferramenta utilizada nas críticas são fragmentos
comparativos da obra de Kardec para fazer afirmações
puramente teóricas, sem nenhuma base experimental.
Usar os conceitos de Kardec como categoria de análise é
importante, mas não de forma rígida e limitadora.
Essa não era, por exemplo, a visão de Herculano Pires,
que identificava a obra de André Luiz como uma respeitável
ilustração dos conceitos contidos nas obras de Kardec.
Herculano também tinha suas limitações e não
aceitava informações que não conseguia digerir
emocionalmente e apelava para a razão como fuga. Uma das
suas limitações era a exigência do uso radical
da terminologia espírita do século XIX para descrever
os fenômenos. E quando essa terminologia não serve
para descrever determinados fenômenos e impressões?
O médium deve calar-se ou suportar o rigor doutrinário?
Herculano ficava chocado com qualquer informação que
lhe causava desconforto pessoal e colocava a culpa no rigor doutrinário.
Os romances históricos parecem não ter incomodado
tanto.
André Luiz não foi o único autor a descrever
essas informações e Chico Xavier também não
tinha o monopólio e exclusividade dessa revelações.
Andrew Jackson Davis já fazia essas descrições.
Talvez o equívoco está na generalização
e na padronização das informações por
parte dos leitores, sobretudo os que foram mentalmente educados
em religiões dogmáticas. Esse filme (Nosso Lar), por
exemplo, é de uma pobreza imagética lamentável,
limitadora. Fazer o quê? Transpor para linguagem de cinema
algo que já foi de certa forma distorcido pelo Espírito
e pelo médium, não poderia ser diferente. Isso não
deve causar estranheza.
Não existe ilustração pura e conceitual do
mundo espiritual. A licença poética ou artística
usada nessas descrições (essencialmente ilógica)
nunca será compatível com o conceito positivo e lógico.
Fazer isso é pior que fundamentalismo. É demonstração
de ingenuidade ou arrogância. A obra de Kardec é muito
mais do que uma régua do paradigma positivo. Os grandes livros
de ficção quando sofrem essas adaptações
são exemplos disso. Muitos roteiros de cinema nessa linha
espiritualista são primorosos na essência das informações
embora nem sempre sejam compatíveis com as teorias de Kardec.
Isso não invalida o conteúdo. Muito de antes de existir
Kardec e Espiritismo, já existiam descrições
mediúnicas de mundos e planos.
A maioria desses autores de ficção são médiuns
e nem sabem disso. Pensam que são criadores exclusivos dessas
narrativas. A diversidade de planos, organizações,
culturas, etc. é um conceito universal sobre isso. O que
foi descrito por André Luiz mostra apenas uma tipologia de
comunidade e não o todo; mostra uma cultura cristã
e de influência ibérica, o que pode ser totalmente
diferente dos padrões culturais de outros lugares do planeta.
Yvone Pereira fez a mesma linha de descrições, demonstrando
essa diversidade. Diversos outros médiuns foram por esse
caminho. Eu mesmo já tive experiências fora do corpo
que tive dificuldades par compreender e descrever, mas que revelava
uma enorme diversidade de elementos e nunca um padrão de
unidade.
É preciso ter cuidado ao usar os conceitos sem usar o bom
senso, pois a lógica nem sempre explica aquilo que a razão
desconhece. Como virou moda e exibicionismo intelectual contestar
o que faz sucesso, cria referência que se choca com o paradigma
vigente, também ficamos com um pé atrás nessas
críticas, que, apesar da argumentação teórica
aparentemente correta, não deixa de evidenciar algumas limitações.