O nosso livre-arbítrio está para o nosso intelecto,
assim como a nossa fala está para o nosso pensamento.
O livre-arbítrio supõe a existência do intelecto,
assim como a fala supõe a existência do pensamento. E
esses nossos atributos interagem e confundem-se entre si no nosso
agir constante.
Para Spinoza, o nosso livre-arbítrio é limitado, pois
depende de nossa consciência, que nunca é totalmente
plena. Só a de Deus o é. E, segundo Santo Agostinho,
ele é-nos limitado por causa do nosso pecado original. E, na
verdade, o pecado original é o nosso carma com o qual nascemos.
São polêmicas essas questões do livre-arbítrio
e do seu oposto, o determinismo, pois ambos são relativos.
Quanto mais evoluído for o espírito, maior é
seu livre-arbítrio, e, conseqüentemente, maior sua responsabilidade.
É oportuno aqui nos lembrarmos da frase de Pietro Ubaldi: “Só
há responsabilidade onde há liberdade”
Com efeito, diante do livre-arbítrio, a Doutrina da Predestinação
é insustentável. O Nazareno, com sua frase “Eu
sou o caminho”, mostrou-nos que nós temos que optar por
seu Evangelho, mas se o nosso destino já tivesse sido traçado
por Deus, para que escolheríamos esse caminho? O Novo Catecismo
da Igreja diz que o vigário de Cristo na Terra é a voz
de nossa consciência. E a pergunta 621 do “Livro dos Espíritos”
de Kardec tem, como resposta, que a Lei de Deus está escrita
na nossa consciência. Ora, Deus não teria gravado nela
a sua Lei, se não fosse para ela ser seguida por nós,
e para isso, ela tem que passar pelo crivo de nossa vontade. E o nosso
destino é feito por nós mesmos, isto é, pelo
nosso carma, pois a Lei de Causa e Efeito é inexorável.
“A toda ação corresponde uma reação
de igual potência e reversibilidade”. “Colhemos
o que plantamos”. E “Ninguém deixará de
pagar até ao último centavo”. Mas, também,
ao pagarmos o último centavo, estaremos quites!
Se o mundo está um caos, é justamente porque os seres
humanos abusam do seu livre-arbítrio. E, Infelizmente, os dirigentes
de religiões, às vezes, não ensinam para os seus
fiéis que seu ego tem de ser disciplinado e dominado pelo seu
eu interior, e não o contrário. Segundo o ensinamento
de Jesus, é imprescindível a renúncia a nós
mesmos, como condição, “sine qua non”, ficaremos
estagnados espiritual e moralmente.
E como, também, as explicações teológicas
tradicionais não satisfazem às indagações
existenciais de muitos sobre a balbúrdia do mundo, eles acabam
abraçando o ateísmo Mas a crença racional em
Deus é sempre uma realidade mais concreta, haja vista o que
disseram Voltaire e Einstein, respectivamente: “Se Deus não
existisse, nós teríamos que O inventar” e “Cada
porta do conhecimento que abro, encontro Deus.”