O Eclesiastes é um dos livros
bíblicos que nos dão uma ideia de como devemos entender
a Bíblia, que não é literalmente a palavra de
Deus, mas apenas um livro que contém uma mensagem de Deus,
ou do Mundo Espiritual para nós, mas que foi escrito por homens,
que não são isentos de erros! Mas não vamos por
isso deixar de valorizar esse livro mais lido do mundo e que é
de grande valor espiritual para o judaísmo, o cristianismo
e até mesmo para o islamismo, pois no Alcorão constam
também referências bíblicas.
O primeiro livro bíblico, o Gênesis, tem nos seus capítulos
um e dois, duas narrações diferentes sobre a criação
do homem, o que nos leva a entender que não foi só um
o autor dele. Portanto, um não deve ser de autoria de Moisés.
Ou quem sabe, ele é psicografia de espíritos diferentes,
que o escreveram através de Moisés? Isso não
nos parece estranho, pois Moisés era um grande médium.
E há até outros exemplos de textos bíblicos que
nos levam a pensar nessa hipótese. Aliás, como já
sabem muitos de meus leitores, o respeitado pastor presbiteriano Nehemias
Marien afirmou que a Bíblia é um manual de psicografia
do princípio ao fim, e também de psicofonia.
Vamos a outro exemplo em que podemos admitir também a hipótese
de psicografia de espíritos diferentes através do grande
médium Moisés. Mas primeiro lembremo-nos do que disse
Kardec sobre profetas. Segundo ele, médium significa uma pessoa
que possui faculdades iguais às que possuíam os profetas
da Bíblia, faculdades essas chamadas por são Paulo de
dons espirituais, dos espíritos, pois, dos profetas ou médiuns.
Temos de ter mesmo um entendimento racional da Bíblia e não
cego, mesmo que a consideremos escrita por autores inspirados por
espíritos santos iluminados, pois, como já vimos, os
homens podem errar.
Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala
a seu amigo...” (Êxodo 33: 11). Moisés afirma que
conversava normalmente com Deus como alguém conversa com outra
pessoa. Mas, posteriormente, o próprio Moisés diz que
quem vir Deus, não continua vivo. “...Não me poderá
ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá”
(Êxodo 33: 20). Com esse segundo texto, Moisés anula
por completo o que disse anteriormente. E Jesus confirma a verdade
desse último texto. “Ninguém jamais viu a Deus:
o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem
o revelou.” (João 1: 18).
E vamos ao Livro do Eclesiastes. Sabe-se que os saduceus formavam
uma corrente do judaísmo que negava a ressurreição
e a existência de anjos e demais espíritos. “Pois
os saduceus declaravam não haver ressurreição,
nem anjo, nem espírito...” (Atos 23: 8).
Nessa passagem, como vimos, os judeus saduceus eram materialistas,
pois negavam a existência dos espíritos, dos anjos e
a ressurreição dos mortos. Sabe-se que o Eclesiastes
teve mais de um autor. E, a nosso ver, um deles era um saduceu, que,
como dissemos, era membro de uma ala materialista do judaísmo.
E eis o que diz um texto do Eclesiastes: “Porque os vivos sabem
que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma...”
(Eclesiastes 9: 5). Essa passagem do Eclesiastes é um dos exemplos
claros de que a Bíblia tem de fato erros, pelo que numa visão
racional dela, ela não pode ser tida como sendo literalmente
a palavra de Deus!
Escritor,
prof. de português pela PUC-Minas, jornalista, biblista,
teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo
na Bíblia, radialista, palestrante no Brasil e exterior,
estudou para padre Redentorista, tradutor de "O Evangelho
Segundo o Espiritismo", editado pela Editora Chico Xavier,
e colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte, às
segundas-feiras. www.otempo.com.br