Após assistir no cinema ao
excelente filme “E a vida continua”, inspirado na obra
homônima de André Luiz, na psicografia de Chico Xavier,
fiquei a refletir nas intensas relações entre as pessoas
no decorrer das sucessivas encarnações. Alternando-se
em papéis, construindo e desconstruindo relações,
as famílias espirituais descritas em “O Evangelho segundo
o Espiritismo” seguem sua jornada, agregando relações
com outras famílias espirituais.
Lembrei-me do experimento do pesquisador
romeno Jacob Moreno que, observando crianças no parquinho,
mapeou as redes de relações entre estas, identificando
as redes existentes e o papel de cada criança nelas, fortalecendo
a visão matricial das relações humanas e as
pequenas redes dentro de uma rede maior, bem como, ainda, as comunicações
existentes.
A nossa evolução não
se dá em uma linha, se dá em uma rede. Sim, ainda
que a responsabilidade seja individual, a evolução
só se dá no coletivo, nas relações com
os outros Espíritos. Se assim não fosse, evoluiríamos
à feição dos eremitas nas cavernas, apenas
meditando e estudando. Por isso, o processo evolutivo nos convida
a nascer de outros dois seres humanos e ali formarmos a nossa primeira
rede, que tem reflexos em uma rede maior, da nossa família
espiritual.
O que caracteriza uma rede é
a interdependência de seus membros dentro de um mesmo contexto,
onde cada um desempenha um papel que se referencia no papel dos
outros, compondo um conjunto de forças na condução
de uma tarefa, em arranjos cooperativos e competitivos, com hierarquia
ou não.
A rede deve ser regada, para ser
forte. As relações devem ser valorizadas, com diálogo
e interação, com vontade de estar e permanecer na
rede. Não é a rede o Facebook ou outra rede social.
Esses aplicativos são reflexos de relações
que construímos e fortalecemos: a rede que trazemos da escola,
da rua, do trabalho e, como apresentado bem no drama psicografado
por Chico Xavier, a rede estampada na fieira das nossas encarnações,
embasada na máxima de que nada acontece por acaso.
Assim, conglomerados de Espíritos,
relacionados em pequenas redes, se agrupam na Terra e no plano espiritual,
formando todos uma rede maior, a rede do Cordeiro. Sim, a espiritualidade
superior, aqui representada por Jesus, supervisiona as relações
dessas redes para que elas sejam produtivas e possibilitem o crescimento
espiritual de seus integrantes. Estar em rede não é
estar estacionado, e sim estar crescendo dentro de um mesmo grupo,
entre provas e expiações.
Por isso, é importante identificarmos
a nossa rede de relações e por que estamos ali, ligados
àquele grupo de pessoas. A rede terrena nos oferece tarefas
em conjunto, de resgate, aprendizado e crescimento espiritual. Da
mesma forma, sentimos diariamente a interação com
a rede de companheiros espirituais que nos cercam, unidos alguns
por laços de amor e outros de ódio, mas sempre de
afinidade. São relações do mundo de cá
e de lá que nos impulsionam, lembrando a nossa vontade de
crescer, nesse planetinha azul chamado Terra.
Cabe-nos verificar, então,
se estamos ajustados à nossa rede, criando e construindo
um caminho de luz, antenados com as orientações do
gerente maior desta, o Cordeiro, ou se estamos dissonantes, olhando
apenas para os nossos problemas, isolados na periferia da rede,
necessitando enxergar o mundo que nos cerca.