1- Introdução:
De todas as necessidades educacionais especiais: a deficiência
visual, auditiva, motora... Dentre todas o grande nó da aprendizagem
está na questão da Deficiência Mental, pois
afeta diretamente a questão cognitiva e não os caminhos
da sua construção. Durante séculos o deficiente
mental foi confundido com o doente mental, associado a possessões
demoníacas e restrito ao convívio social. Nos dias
de hoje, ainda existem famílias que insistem em manter seus
entes deficientes mentais isolados do convívio social normal,
como a escola e o lazer. Vale relembrar que a deficiência
mental está representada em uma série de síndromes,
na sua maioria fruto de alterações genéticas,
que afetam o lado cognitivo do indivíduo na sua fase inicial,
como a síndrome de Down, Triplo X e outras. O doente mental
é um indivíduo que adquire uma doença, muitas
vezes por pressões psicológicas extremas, que atinge
o seu lado afetivo, como as psicoses e a esquizofrenia. O nosso
objetivo neste artigo é discutir a importância do nosso
irmão deficiente mental frequentar a Casa Espírita
e como esta pode se preparar para recebê-lo.
2- A importância:
Quantas vezes ao observarmos uma família ou uma professora
em contato com um indivíduo com deficiências cognitivas,
ouvimos a célebre frase: “Não sei por que
ensinar, pois ele não aprende nada”. Nós,
que raciocinamos no paradigma espírita das múltiplas
existências, não podemos nos deixar levar por essa
idéia. O fato é que aquele espírito nem sempre
foi assim e nem sempre será e se ele reencarnou com essas
dificuldades é devido a uma necessidade de superação
que ele tem para essa existência, ainda que seja curta. Como
negar a ferramenta que é o espiritismo para o progresso e
compreensão da vida para esse espírito. A compreensão
destas verdades poderá aliviar a sua revolta ou mesmo fazer
de suas reflexões, em espírito, salutares para as
próximas encarnações. Como privar este indivíduo
do convívio social, única forma de crescimento apresentada
pelos espíritos quando rechaçam o isolamento em O
Livro dos Espíritos(1).
Como privar os outros da convivência com alguém só
porque este outro é um pouco diferente. Se não convivermos
nos ambientes comuns, como esperar que sejam rompidos esses muros
de separação entre os indivíduos com alguma
deficiência, que vem de séculos. Colecionamos vários
casos na literatura pedagógica5 de pais que exigiram a saída
do aluno com necessidades especiais da escola regular por medo e
incompreensão. Apesar deste convívio ser amparado
por lei, a questão transcende, pois nenhuma lei irá
convencer as pessoas desse entendimento.
Quando observamos em nossa Casa Espírita
no Rio de Janeiro que apesar da Casa possuir mais de mil frequentadores,
não conhecíamos nenhum indivíduo com necessidades
especiais que frequentasse a Casa, contrariando qualquer estatística,
iniciamos assim um atendimento voltado para o especial durante o
horário da evangelização e muitas crianças
apareceram a partir deste momento. Mas, era inegável os olhares
de medo e apreensão dos outros pais ao verem aquelas crianças
participando junto de seus filhos. Mas, como na vida o costume é
o imperativo, com o decorrer do tempo os mitos foram sendo derrubados
e aos poucos os olhares já foram se “normalizando”.
Desse modo, é inegável que o atendimento ao indivíduo
com necessidades especiais (Digo atendimento no sentido pedagógico)
deve existir na casa espírita, para que ele tenha acesso
aos conhecimentos da nossa doutrina consoladora, como a todos é
garantido nas palestras e outras atividades. Muito nos preocupamos
em relação a esses indivíduos no seu atendimento
fonoaudiológico, fisioterápico, médico e social.
Em relação a questão da assistência,
que muitas vezes está associada, a casa espírita pode
prestar este serviço como presta tantos outros. Mas, a questão
sempre olvidada é o pedagógico, o aprendizado dos
conceitos da doutrina espírita. Essa é a lacuna a
ser preenchida. Mas, que conteúdos e quais estratégias
devem ser utilizadas?
3- O currículo:
As escolas de Evangelização, de um modo geral, seguem
as diretrizes curriculares emanadas pela Federação
Espírita Brasileira através do “Currículo
para as Escolas de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil
(4)” e utilizam apostilas de diversas procedências,
inclusive de federativas estaduais. No caso do indivíduo
com necessidades especiais, o Conteúdo é o mesmo dessas
diretrizes, diferindo em especial nas abordagens e estratégias
didáticas. Um indivíduo com restrições
cognitivas, que geralmente traz associado restrições
motoras, deve apreender os conceitos de forma concreta e lúdica,
utilizando das metáforas das histórias e a concretude
das sensações. No trabalho da questão da reencarnação,
de fundamental importância, pode-se tratar da questão
da chuva e da água, usando o algodão como nuvem e
a água como água mesmo. Após tomar contato
com o vapor (Pode ser usado um nebulizador doméstico), falamos
do ciclo da água e falamos depois do ciclo da vida. Para
a criança, comparativamente a questão da chuva, vai
ficar a ideia de ciclo, de renascer, o que já leva a reencarnação.
Neste ponto deste artigo, o prezado confrade que tem mais contato
com essas questões afirmará: “Ora, isso
é muito fácil com uma criança com um nível
de compreensão alta. Mas, eu quero ver resultados nos casos
mais severos!” Realmente, o confrade tem razão.
Existem síndromes que o nível de apreensão
mediante estimulação é bem alto. Quando vemos
na publicidade falar da deficiência, sempre nos mostram o
lado menos severo da questão. Pois aí que entra o
diferencial espírita. Os mais severos são também
espíritos e apesar dos profissionais dizerem que aquela determinada
síndrome somente permite o desenvolvimento até determinado
ponto, em um determinismo biológico, devemos acreditar, consoante
com as idéias atuais da ciência da aprendizagem do
grande educador Vigotzky (3), que o
indivíduo irá aprender se for apresentado aos elementos
do mundo com maior constância e cada vez mais cedo. A diferença
é somente na velocidade que esse processo ocorre, quando
se trata do deficiente mental. Um olhar, um pequeno gesto depois
de muito tempo revela que conceitos foram aprendidos. Quem está
acostumado a trabalhar com esses espíritos, sabe a profundidade
dessas palavras.
Assim, não podemos deixar de acreditar no potencial desses
indivíduos e de insistir com eles para o aprendizado e reflexão
desses conhecimentos espíritas, usando somente seu esforço
em aprender. O esforço por parte do Evangelizando vai ocorrer
se as condições de favorecimento ao aprendizado surgirem.
4- Estrutura:
Um dos problemas da humanidade, causador de guerras e conflitos
é o radicalismo. Ao constatarmos alguma coisa nova, assumimos
muitas vezes posturas radicais, ignorando que “a natureza
não dá saltos”. Isso acontece em relação
a questão da inclusão dos deficientes. Um dia concluímos,
após séculos de segregação, que o nosso
mundo não era um lugar inclusivo - Um salto para a humanidade-
Em se tratando de mundo, inclua-se as ruas, o comércio, as
escolas, a fábrica, as igrejas. Daí partimos para
um processo extremamente salutar de descobrir esses indivíduos
na busca de incluí-los na sociedade. Outrossim, devemos ter
claramente que essa inclusão é um processo e que não
será do dia para a noite que mudaremos estruturas sociais
seculares.
Digo isso, pois muitos acham que incluir o aluno deficiente na sala
de aula é colocá-lo no mesmo ambiente físico
e enquanto a aula acontece, ele fica lá no seu cantinho,
incluído fisicamente e não cognitivamente. Penso que
devemos assumir um modelo de transição gradativa com
objetivos. Inicialmente, após identificar as crianças
que trazem deficiências cognitivas (e não as crianças
agitadas ou indisciplinadas), deve-se no mesmo horário da
evangelização, com uma equipe um pouco mais numerosa
e com a participação inicial das mães, iniciar
a evangelização. Músicas e atividades comemorativas
teriam a participação de todos juntos, mais na hora
da troca do conhecimento, uma visão mais individualizada
para os que trazem esta dificuldade traria a estes uma maior aprendizagem.
Posteriormente, deve-se aumentar a integração com
as outras turmas e aqueles que já ser incluídos, sem
prejuízo na questão cognitiva de um modo geral, devem
ser transferidos. Duas questões práticas se apresentam
neste aspecto. Primeiro: Não adianta pegar
um indivíduo com uma deficiência severa e que nunca
foi a escola ou teve outros estímulos na família e
pensar que ele vai se adaptar a uma classe de evangelização.
Esse é um processo lento e que não pode violentar
o indivíduo. Segundo: Não existe
na aprendizagem o conceito “ele tem uma mentalidade de
quatro anos”. Os alunos têm uma deficiência
cognitiva, mas seu corpo se desenvolve naturalmente. Então,
achar que porque o jovem tem uma deficiência cognitiva e que
ele vá gostar apenas de temáticas infantis é
um engano. Eles vêem novelas, gostam de músicas como
outro adolescente qualquer, pois é assim que ele se vê
no espelho. Então, não adianta colocar este indivíduo
nas turmas dos pequeninos para fazer atividades infantis. Deve haver
uma destinação por turma associando os fatores cognitivos
e a idade cronológica, não dispensando o acompanhamento
de um evangelizador nesta passagem para uma nova turma inclusiva.
Preconceito se difere de previdência no trato de questões
do ser humano.
Também se faz mister uma estrutura de estudo de literatura
espírita afim e de troca de impressões, podendo inclusive
contar com a presença dos pais. Atividades que envolvam expressões
artísticas são salutares no desenvolvimento dos conceitos
e o acompanhamento de casos obsessivos junto a reunião pertinente
na Casa é fundamental.
5- A casa:
A nossa sociedade está caminhando ainda rumo a inclusão.
Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, nossas ruas
não têm rampas, nossos locais públicos são
repletos de escadas e nossos sanitários não são
adaptados. Assim como as casas espíritas estão inseridas
nesta sociedade, elas também padecem dessa estrutura não-inclusiva:
Salões com escadaria e sem rampa, sanitários sem adaptação,
acessos apenas por escadas e até a falta de literatura espírita
sobre o assunto e eventos/artigos que tratem dessa questão
mais amiúde. A iniciativa de adaptar a nossa casa espírita
para que todos possam dela usufruir é fundamental e incluir
no projeto de reforma ou construção essas questões
resolveria um pouco este problema. Também incentivar palestras,
artigos e painéis nas atividades de evangelização
que capacitem o pessoal é importante para que essas pessoas
não sejam esquecidas, independente das instituições
assistenciais espíritas voltadas para esse fim.
6- Conclusão:
Com certeza, em nossa casa espírita ou município,
existem diversas famílias espíritas que tem integrantes
com necessidades educacionais especiais, principalmente na questão
da Deficiência Mental. Eles estão na Casa espírita?
A casa espírita está atendendo eles de forma adequada?
Se observarmos bem, veremos que fora das escolas especiais e clínicas,
nós ainda estamos engatinhando na presença dos nossos
irmãos na casa espírita e lembrando as palavras do
Mestre Jesus (2), que nos faz pensar
nos pequeninos sem distinção, verificamos que a seara
é grande, necessitando cada vez mais de trabalhadores