Clássica no movimento espírita é
a parábola dos trabalhadores da última hora, tratada
por Allan Kardec no capítulo XXI de “O evangelho segundo
o Espiritismo”, que aborda este pelo viés da missão
dos espíritas como trabalhadores da última hora.
Perdoe o leitor a ousadia deste articulista, mas
vamos propor nas breves linhas desse artigo uma outra abordagem
da parábola citada, extraindo dela novos conhecimentos, não
competindo, mas agregando valor.
De forma resumida, a parábola apresenta o
senhor que sai a cada hora do dia para recrutar trabalhadores para
a sua vinha e, no momento da remuneração, recusa a
boa matemática das horas trabalhadas e remunera a todos da
mesma maneira; o que causa revolta nos trabalhadores das primeiras
horas.
A parábola ilustra que a remuneração
não é o mais importante e que para além do
“toma-lá-da-cá”, do salvacionismo individualista,
o importante é o trabalho na vinha, onde, ao ouvir o “chamado”,
atendendo-o, já recebemos o nosso galardão.
E esse chamado, em nossa opinião, se apresenta
como o tema central da parábola, mostrando o convite permanente
do senhor da vida para o trabalho na vinha. De forma metafórica,
cada hora representa uma fase de nossa vida, na qual recebemos chamados
ao trabalho, cuja necessidade se faz de forma constante. Na juventude,
na infância, na madureza e na melhor idade, recebemos convites
do senhor de forma incessante, ainda que nos façamos, por
vezes, distraídos.
Pode-se dizer também que as horas da parábola
representam as nossas diversas reencarnações, nas
quais em cada uma delas Deus aposta em nós, nos oferecendo
mais uma oportunidade de crescimento. A reencarnação
é o chamado e precisamos identificar nesta oportunidade a
soma de pequenas missões que nos cabem.
E a cada dia, recebemos chamados... Acolhemos alguns,
recusamos outros, pela preguiça ou pela ignorância,
perdendo oportunidades valiosas. Quando atendemos cada chamado,
nos incorporamos à vinha, fonte de crescimento que nos remunera,
independente da hora em que acudimos ao chamado.
Isso significa o fim do mérito? Que basta
apenas tomar-se uma decisão? Não; significa que essa
decisão é fundamental, mas o que é importante
é a vinha! A parábola não se prende àqueles
que desperdiçam o chamado e sim àqueles que foram
recrutados, indicando o fluxo incessante de trabalho para o qual
somos convidados, e que essa é a nossa fonte de evolução.
Necessitamos ficar atentos aos chamados, em cada
hora da vida. A parábola demonstra que a remuneração
é a mesma, indicando o valor de todas as oportunidades como
ferramentas de evolução. Sempre há esperança,
sempre é hora de mudar, agora é a hora. Essa é
a mensagem!
Mais relevante que a última hora é
a nossa entrada no trabalho, o nosso alistamento nas fileiras do
Cristo, nas múltiplas inflexões, grandes ou pequenas,
que experimentamos nas diversas encarnações. A cada
subida de degraus, ganhamos nossa recompensa, independentemente
se ascendermos antes ou mais tarde, dependendo isso de nossa maturidade
espiritual e de nosso empenho.
Cada um a seu tempo, de acordo com seu esforço,
atendendo aos chamados que se apresentam. Ao receber o chamado,
é preciso se posicionar, enfrentar a vinha e seus desafios.
Outro dia nascerá e o senhor necessitará
de mais trabalhadores, a cada hora. A última hora de hoje
pode ser a primeira de amanhã. Ser a última hora não
é ser a última bolacha do pacote e sim se mostrar
disposto à renovação, que necessita de esforços
e persistência para se materializar em evolução.
Tornarmos a nós mesmos trabalhadores da vinha
é o fim pretendido, independente da hora em que soar o nosso
gongo interior. A parábola fala sobre a justiça de
Deus e sobre o sol da evolução que brilha sobre todos.
A lei é de amor e justiça, somos filhos de nosso pai
e o nosso destino é amar. A vinha nossa de cada dia nos espera
e a última hora é agora.