De colega do movimento espírita,
recebi de presente de aniversário certa feita o DVD do Filme
“Quo Vadis?”, de 1951, épico do
diretor Mervin LeRoy, baseado em livro de Henryk Sienkiewicz. O filme
tem como personagem principal meu homônimo, Marcus Vinicius,
o que motivou o referido presente.
Trata-se de um filme épico de uma beleza ímpar e que
traz em seu nome uma expressão latina que vem do Novo Testamento
(João, 16:5), na fala de Jesus:
"E agora vou a aquele que me enviou; e nenhum de vós
outros me pergunta: Aonde vais?". “Quo Vadis?”
é “Aonde vais?” e o título do filme
advém de uma cena onde o Tribuno Marcus Vinicius se encaminha
para sair de Roma e Pedro, o apóstolo, faz a pergunta título,
relembrando seu compromisso com a causa do Cristianismo.
Inicio este artigo com a referência a esse brilhante filme para
provocar a reflexão sobre uma máxima espírita,
que é o “Conhece-te a ti mesmo”,
frase entalhada no templo de Delfos, na Grécia antiga, e citada
na pergunta 919 de “O livro dos Espíritos”. A reflexão
proposta é que o “Conhece-te a ti mesmo” pode trazer
em si uma dose de determinismo. Sou assim, nasci assim, eu sou sempre
assim... - na frase imortalizada da modinha para Gabriela, de Dorival
Caymmi.
Penso que nas nossas reflexões diárias, olhando o teto
antes de dormir, devemos transcender o “Conhece-te a
ti mesmo”, estático e introvertido, e adotar
o “Quo Vadis”. Sim, importa avaliarmos ao final de cada
dia o que estamos nos tornando, que decisões temos adotado
que têm nos levado a determinadas atitudes.
As tendências não são coisas estáticas,
deterministas. São forças pujantes e construídas
ao longo de nossas encarnações na interação
com a vida encarnada e desencarnada. A vontade nos diz para onde vamos
a cada dia, frente aos desafios, construindo a nossa encarnação,
lutando com as tendências herdadas e sonhando com a melhora
futura, perguntado cotidianamente pelo Cristo: “Quo
vadis?”.
A cada decisão nos tornamos o homem novo que o Cristo espera
de nós ou perpetuamos o homem velho, empedernido nas estagnações.
Conhecer a ti mesmo, mapear o que somos, demanda algo mais no processo
evolutivo, a força e a coragem para transformar nossas tendências
nas atitudes desejadas.
A evolução não se faz no mundo contemplativo
e sim na luta diária com os nossos irmãos encarnados,
aprendendo a amar e demonstrando a lição aprendida.
Assim, o criminoso aprende a virtude e o vilão se converte
em herói, nas pequeninas mudanças de atitudes que nos
conduzem a momentos de inflexão, das transformações
relevantes, onde somos chamados a subir mais um degrau da evolução.
Nas orações noturnas, no momento em que sopesamos o
dia, pensemos nos caminhos adotados, até onde eles nos levarão,
dado que, se o que somos é o nosso passado, o que seremos no
futuro depende das decisões no nosso presente. Não nos
iludamos! Cada reencarnação é uma aposta de Deus
em nós, na nossa capacidade de superar a nossa inferioridade
e de avançar mais rápido pelas decisões certas,
ou mais lento pelas decisões erradas.
Importa-nos a coragem para encarar de frente as nossas tendências
e sobre ela trabalharmos. Fugir disso pode ser se afogar no mar de
nossas dificuldades. Muitos anseiam descobrir seu passado reencarnatório
para ficarem ali, admirando suas faltas, esquecidos de que a vida
nos impele a avançar, a partir do ponto em que nos encontramos.