PERDA E SUSPENSÃO DA MEDIUNIDADE
Estudo com base in O Livro dos Médiuns
(Allan Kardec).
Segunda Parte, Capítulo XVII, item 220.
Pesquisa: Elio Mollo e Claudia C
A faculdade mediúnica está
sujeita a intervalos e a suspensões momentâneas, isso acontece
com freqüência, qualquer que seja o gênero da faculdade.
Geralmente essa interrupção é apenas momentânea
e a faculdade volta quando cessa a causa que a interrompeu.
A causa da perda da mediunidade pode acontecer
pelo esgotamento do fluido, porém qualquer que seja o motivo,
o médium deve estar consciente que não conseguirá
usar faculdade mediúnica sem o concurso simpático dos
Espíritos. Assim, quando nada obtém, nem sempre é
porque a faculdade lhe falta, mas frequentemente são os Espíritos
que não querem ou não podem servir-se dele por algum motivo.
O uso que o médium faz da faculdade
mediúnica é o que mais influi sobre os Espíritos
bons. Sendo assim, eles podem abandonar o médium quando emprega
a mediunidade em futilidades ou com finalidades ambiciosas, e quando
se recusa a transmitir as palavras dos Espíritos ou a colaborar
na produção dos fenômenos para os encarnados que
lhe apelam ou que precisam ver para se convencerem. Esse dom de Deus
não é concedido ao médium para o seu bel prazer,
e menos ainda para servir às suas ambições, mas
para servir ao seu progresso e para dar a conhecer a verdade aos homens.
Se o Espírito vê que o médium não corresponde
mais aos seus propósitos, nem aproveita as instruções
e os conselhos que lhe dá, naturalmente, afasta-se e vai procurar
um protegido mais digno.
É importante que o médium
seja sério no que diz respeito a doutrina espírita ou
as comunicações, tratá-las com leviandade e inconseqüência
pode fazê-lo receber uma punição física,
no mínimo com a suspensão da mediunidade ou impossibilitando-o
de se comunicar com os bons espíritos. Como sabiamente nos orientam
os espíritos: "É preciso ser sério, não
só com os Espíritos benevolentes e esclarecidos que vêm
dar sábias instruções, e que vosso pouco recolhimento
afastaria, mas ainda com os Espíritos sofredores ou maus que
vêm, uns vos pedir consolações, os outros vos mistificar.
Direi mesmo que é sobretudo com estes últimos que é
preciso seriedade, embora temperada pela benevolência; é
o melhor meio de lhes impor, e mantê-los à parte constrangendo-os
ao respeito." (1)
Não faltam Espíritos que
desejam comunicar-se e estão sempre prontos a substituir os que
se retiram. Porém, quando este é um Espírito bom,
pode ter se afastado do médium momentaneamente, privando-o por
algum tempo de toda comunicação com a finalidade de lhe
oferecer uma lição e de lhe provar que a sua faculdade
não depende dele, evitando assim, que a utilize para estimular
sua vaidade e seu orgulho.
Ser médium é ser intermediário
entre o mundo espiritual e o mundo físico objetivando o progresso
universal, assim, o médium escreve sob influência de um
Espírito, desse modo, se não há um Espírito
ou mesmo se um Espírito não deseja comunicar-se a interrupção
será um fato. Porém esta interrupção da
faculdade não é sempre uma punição, pode
demonstrar às vezes a dedicação do Espírito
pelo médium a quem se afeiçoou, e ao qual deseja proporcionar
um repouso que julga necessário, e para isto ele não permite
que outro Espírito se comunique através do médium.
Existem médiuns cujo merecimento
é evidente, moralmente falando, que não sentem nenhuma
necessidade de repouso e ficam contrariados com a interrupção
da faculdade mediúnica, pois não compreendem o motivo
da cessação. Isto lhe serve para experimentar-lhe a paciência
e avaliar a sua perseverança. É por isso que os Espíritos
geralmente não marcam o fim da suspensão, pois querem
ver se o médium desanima. Muitas vezes também é
para lhe deixar tempo de meditar sobre as instruções que
os Espíritos lhe deram. É por essa meditação
irão reconhecer os espíritas verdadeiramente sérios.
Os Espíritos não consideraram, assim, aqueles que, na
verdade, são simples amadores de comunicações.
"Num grupo modelo, como tendo
e posto em prática os deveres espíritas, notou-se com
surpresa que certos Espíritos de elite habituados se abstinham
há algum tempo de ali dar instruções, o que motivou
a pergunta seguinte:
Pergunta. De onde vem que os Espíritos elevados que nos assistem,
comumente se comuniquem mais raramente a nós?
Resposta. Caros amigos, há duas causas para esse abandono do
qual vos lamentais. Mas, primeiro, isso não é um abandono,
não é senão um distanciamento momentâneo
e necessário. Sois como escolares que, bem repreendidos e bem
providos de repetições preliminares, são obrigados
afazer seus deveres sem o concurso dos professores; eles procuram em
sua memória; espreitam um sinal, espiam uma palavra de socorro:
Nada vem, nada deve vir.
Esperais os nossos encorajamentos,
os conselhos sobre vossa conduta, sobre vossas determinações:
nada vos satisfaz, porque nada deve vos satisfazer. Fostes providos
de ensinos sábios, afetuosos, de encorajamentos freqüentes,
cheios de amenidade e de verdadeira sabedoria; tivestes quantidade de
provas de nossa presença, da eficácia de nossa ajuda;
a fé vos foi dada, comunicada; vós a agarrastes, raciocinastes,
adotastes; em uma palavra, como o escolar, fostes providos pelo dever,
é preciso fazê-lo sem faltas, com os vossos próprios
recursos, e não mais com o nosso concurso; onde estaria vosso
mérito? Não poderíamos senão vos repetir,
sem cessar, a mesma coisa; cabe a vós agora aplicar o que vos
ensinamos; é preciso voar com as vossas próprias asas
e caminhar sem andadeiras." (2)
A interrupção da faculdade
mediúnica nem sempre é uma censura dos Espíritos,
pois pode ser uma demonstração de benevolência.
Caso o médium achar que é uma censura, que consulte a
sua consciência e pergunte a si mesmo que uso tem feito da sua
faculdade, que bem disto tem resultado para os outros, que proveito
tem tirado dos conselhos que lhe deram os Espíritos, e chegará
a resposta.
Durante a suspensão da mediunidade,
se o(s) Espírito(s) o aconselhar(em), pode ser necessário
que o médium prossiga nas tentativas de escrever; mas se lhe
sugerirem que se abstenha, deve, e de bom senso, seguir a sugestão.
Um meio de abreviar a prova é a
resignação e a prece. No mais, basta fazer diariamente
uma tentativa de alguns minutos, pois seria inútil desperdiçar
tempo em ensaios infrutíferos. Mas, a tentativa tem apenas o
fim de verificar se já recobrou a faculdade.
A suspensão mediúnica de
maneira nenhuma implica no afastamento dos Espíritos que habitualmente
se comunicam através do médium. O médium se acha
na situação da pessoa que tivesse perdido a vista momentaneamente,
mas que não foi abandonado pelos amigos, embora não os
veja. O médium pode e deve continuar a conversar pelo pensamento
com os Espíritos familiares e persuadir-se de que é ouvido.
Se a falta da mediunidade pode privá-lo das comunicações
por meio material com certos Espíritos, não o priva das
comunicações mentais.
É verdade que um médium impedido
de usar a faculdade mediúnica pode recorrer a outro, Mas, dependendo
da causa da interrupção, ou seja, se foi uma necessidade
de deixar ao médium um tempo para meditação, após
os conselhos que lhes foram dados, a fim de não o deixar acostumado
a nada fazer sem um bom objetivo, fruto dos Espíritos, nesse
caso ele não encontrará o que procura com outro médium,
e isso tem ainda uma finalidade, que é o de provar a independência
dos Espíritos, e que eles não agem conforme a vontade
do médium. É também por essa razão que os
que não são médiuns nem sempre obtêm todas
as comunicações que desejam.
Deve-se observar, com efeito, que os que
recorrem a um terceiro para obter comunicações, muitas
vezes nada obtêm de satisfatório, enquanto, noutras ocasiões,
as respostas obtidas são bastante explícitas. Isso de
tal maneira depende da vontade dos Espíritos, que nada se consegue
mudando de médium. Parece que os próprios Espíritos
obedecem, nesse caso, a uma palavra de ordem, pois o que não
se consegue de um, de outro não se obterá melhor. Deve-se
assim evitar insistir e de se impacientar, para não ser vítima
de Espíritos enganadores, que responderão, se se desejar,
ardentemente, pois os bons deixarão que o façam, para
punirem a insistente teimosia.
A Providência dotou certas pessoas
de mediunidade, de uma maneira especial, com a finalidade de uma missão
e de elas se sentirem felizes em fazer o bem: serão os intérpretes
úteis entre os Espíritos bons e sábios e os homens.
Os médiuns que só empregam a sua faculdade com má
vontade são médiuns imperfeitos. Não sabem o valor
do dom que lhes foi concedido.
Mesmo a mediunidade sendo uma missão,
nem sempre ela se apresenta como privilégio dos homens de bem,
sendo, inclusive, dada a pessoas que não merecem nenhuma consideração
e que podem abusar dela. Isso acontece porque essas pessoas necessitam
da faculdade mediúnica para se aperfeiçoarem, e para que
tenham a possibilidade de receber bons ensinamentos. Se não a
aproveitarem, sofrerão as conseqüências. Jesus falava
de preferência aos pecadores, dizendo que é preciso dar
aos que não têm.
As pessoas que têm grande desejo
de escrever como médiuns e não o conseguem, não
devem chegar a conclusões negativas contra si mesmas, no tocante
à boa vontade dos Espíritos para com elas, porque Deus
pode haver-lhes recusado essa faculdade, como pode haver-lhes recusado
o dom da poesia ou da música, mas se não obtiveram esses
favores, podem ter obtidos outros, tão importantes quanto a mediunidade
de psicografia.
O homem pode aperfeiçoar-se de múltiplas
maneiras, quando não tem, seja por seu intermédio ou de
outros médiuns, a possibilidade de receber esse ensino direto.
Existe uma infinidade de fontes. Moralmente, tem o ensino legado por
Jesus no Evangelho sem que se tenha a necessidade de ouvir as palavras
da própria boca do mestre.
NOTAS:
(1) Allan Kardec, Revista Espírita, março
de 1865, Da seriedade nas reuniões.
(2) __________, Revista Espírita, junho de 1866,
Suspensão na assistência dos espíritos.