Estudo com
base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Livro Segundo, qq. de 237 à 256
Mundo Espírita ou dos Espíritos, Capítulo VI,
Vida Espírita
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
A alma, uma vez no mundo dos Espíritos,
tem ainda as percepções (1)
que tinha nesta vida e outras que não possuía, porque
o seu corpo era como um véu que a obscurecia. A inteligência
é um atributo do Espírito (2),
mas se manifesta mais livremente no mundo dos Espíritos quando
não tem entraves.
As percepções e os conhecimentos dos Espíritos
quanto mais se aproximam da perfeição mais sabem: se
são superiores, sabem muito. Os Espíritos inferiores
são mais ou menos ignorantes em todos os assuntos.
O conhecimento dos Espíritos em relação ao princípio
das coisas se faz conforme a sua elevação e a sua pureza.
Os Espíritos inferiores não sabem mais do que os homens.
Os Espíritos não compreendem a duração
do tempo como nós e isso faz que nem sempre os compreendamos,
quando se trata de fixar datas ou épocas. (3)
Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos.
A duração, para eles, praticamente não existe,
e os séculos, tão longos para nós, não
são aos seus olhos mais do que instantes que desaparecem na
eternidade, da mesma maneira que as desigualdades do solo se apagam
e desaparecem para aquele que se eleva no espaço.
Os Espíritos fazem do presente uma idéia mais ou menos
justa como aquele que vê claramente e tem uma idéia mais
justa das coisas, do que o cego. Os Espíritos vêem o
que não vemos, e julgam diferentes de nós. Mas isso
depende da sua elevação.
O passado para os Espíritos, é um presente, precisamente
como a lembrança de uma coisa que os impressionou durante a
encarnação. Entretanto, como não têm mais
o véu material que obscurece a sua inteligência, lembram-se
das coisas que desapareceram para nós. Mas nem tudo os Espíritos
conhecem (4), a começar pela sua própria criação.
Os Espíritos tem conhecimento do futuro conforme o progresso
espiritual que atingiram, ou melhor, quase sempre, nada mais fazem
do que entrevê-lo, mas nem sempre têm a permissão
de o revelar. Quando o vêem, ele lhes parece presente. O Espírito
vê o futuro mais claramente à medida que se aproxima
de Deus. Depois da morte, a alma vê e abarca de relance as suas
migrações passadas, mas não pode ver o que Deus
lhe prepara. Para isso é necessário que esteja integrada
nele, depois de muitas existências.
Quanto ao completo conhecimento do futuro, Deus é o único
e soberano Senhor, e ninguém o pode igualar.
Somente os Espíritos superiores vêem a Deus e o compreendem.
Os Espíritos inferiores o sentem e adivinham. Quando um Espírito
inferior diz que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, ele
não vê a Deus, mas sente a sua soberania, e quando uma
coisa não deve ser feita ou uma palavra não deve ser
dita, ele o sente como uma intuição, uma advertência
invisível que o inibe de fazê-lo. Nós, os encarnados,
temos pressentimentos que são para nós como advertências
secretas, intuição, para fazermos ou não alguma
coisa. O mesmo acontece com os Espíritos, mas em grau superior,
pois sendo mais sutil do que a dos encarnados a essência dos
Espíritos, podem receber mais facilmente as advertências
divinas.
A ordem transmitida por Deus, não lhe chega diretamente de
Deus, pois para comunicar-se com Ele é preciso merecê-Lo.
Deus transmite as suas ordens pelos Espíritos que estão
mais elevados em perfeição e instrução.
(5)
A vista dos Espíritos não
é circunscrita como nos seres corpóreos, para
eles é uma faculdade geral.
Os Espíritos vêem pela luz própria, sem necessidade
de luz exterior. Para eles não há trevas, a não
ser aquelas em que podem encontrar-se por expiação.
Quando os Espíritos precisam transportar-se para ver
em dois lugares diferentes ao mesmo tempo, como o Espírito
se transporta com a rapidez do pensamento, podemos dizer que vê
por toda parte de uma só vez. Seu pensamento pode irradiar
e dirigir-se para muitos pontos ao mesmo tempo (6).
Mas essa faculdade depende da sua pureza. Quanto menos puro ele for,
mais limitada é a sua vista. Somente os Espíritos superiores
podem ter visão de conjunto.
A faculdade de ver dos Espíritos, inerente à sua natureza,
difunde-se por todo o seu ser, como a luz num corpo luminoso. E uma
espécie de lucidez universal, que se estende a tudo, envolve
simultaneamente o espaço, o tempo e as coisas, e para a qual
não há trevas nem obstáculos materiais. Compreendo-se
que assim deve ser, pois no homem a vista funciona através
de um órgão que recebe a luz, e sem luz ele fica na
obscuridade. Mas, nos Espíritos, a faculdade de ver sendo um
atributo próprio que independe de qualquer agente exterior,
a vista não precisa de luz.
O Espírito vê as coisas mais distintamente do que os
encarnados, porque a sua vista nada a obscurece.
O Espírito percebe os sons mais do que nos os encarnados, até
mesmo os que os nossos sentidos obtusos não podem perceber.
Todas as percepções são atributos do Espírito
e fazem parte do seu ser. Quando ele se reveste do corpo material,
eles se manifestam pelos meios orgânicos; mas, no estado de
liberdade, não estão mais localizadas.
O Espírito só vê e ouve o que ele quiser. Isto
de uma maneira geral, e sobretudo para os Espíritos elevados,
porque os imperfeitos ouvem e vêem freqüentemente, queiram
ou não, aquilo que pode ser útil ao seu melhoramento.
A nossa música em relação a música celeste,
uma é para a outra o que o canto do selvagem é para
a suave melodia. Não obstante os Espíritos vulgares
podem provar um certo prazer ao ouvir a nossa música terrestre
porque não estão ainda capazes de compreender outra
mais sublime. A música tem, para os Espíritos, encantos
infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas.
Refiro-me à música celeste, que é tudo quanto
a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e
mais suave.
As belezas naturais dos vários globos são tão
diversas que estamos longe de as conhecer, mas os Espíritos
são sensíveis a elas, segundo as suas aptidões
para as apreciar e as compreender. Para os Espíritos elevados
há belezas de conjunto, diante das quais se apagam, por assim
dizer, as belezas dos detalhes.
Os Espíritos conhecem as nossas necessidades e os nossos sofrimentos
físicos, porque também os sofreram, mas não os
experimentam materialmente como nós, porque são Espíritos.
Os Espíritos não podem sentir a fadiga como a entendemos,
e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não
possuem órgãos em que as forças tenham de ser
restauradas. Mas o Espírito repousa no sentido de não
permanecer numa atividade constante. Ele não age de maneira
material, porque a sua ação é toda intelectual
e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu
pensamento diminui de atividade e não se dirige a um objeto
determinado; este é o verdadeiro repouso, mas não se
pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que
os Espíritos podem provar está na razão da sua
inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam.
Quando um Espírito diz que sofre, a natureza do seu sofrimento
é de angústias morais, que o torturam muito mais dolorosamente
que os sofrimentos físicos.
Quando alguns Espíritos se queixam de frio ou calor, essa lembrança
é do que sofreram durante a vida, e algumas vezes tão
penosa como a própria realidade. Freqüentemente é
uma comparação que fazem, para exprimirem a sua situação.
Quando se lembram do corpo experimentam uma espécie de impressão,
como quando se tira uma capa e algum tempo depois ainda se pensa estar
com ela.
NOTAS:
(1) Sobre as sensações e percepções
do espírito Kardec in Revista Espírita
- janeiro 1866 (A Jovem Cataléptica de Souabe), diz que: "A
alma é o ser inteligente; nela está a sede de
todas as percepções e de todas as sensações;
sente e pensa por si mesma; é individual, distinta, perfectível,
pré-existente e sobrevivente ao corpo.
(2) A inteligência é um atributo essencial
do espírito, porém, ambos se confundem num princípio
comum, de sorte que, para nós, parecem que são a mesma
coisa. (LE - 24)
(3) Na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita
de O Livro dos Espíritos, encontramos
o seguinte em relação a pensamento:
Item XIV da Introdução: "Livres
da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida
como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos
que se comunicam sem intermediário."
(4) Em Obras Póstumas,
2ª parte, Minha primeira iniciação no Espiritismo,
Allan Kardec diz que: "Um dos primeiros resultados de minhas observações
foi que os Espíritos, não sendo outros senão as
almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a soberana
ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento,
e que a sua opinião não tinha senão o valor de
uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio,
me preservou do grande escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu
de formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns."
(5) No O Livro dos Espíritos
questão 888ª, o Espírito Vicente de Paulo nos informa
para que "Não esqueceis jamais que o Espírito,
qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação
como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre
um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual
tem deveres iguais a cumprir."
(6) No O Livro dos Espíritos
questão 92, e em O Livro dos Médiuns,
2ª parte, item 282, questão 30, encontramos as seguintes
informações quanto a ubiquidade dos Espíritos:
Os Espíritos não tem o dom da ubiqüidade,
ou, em outras palavras, o mesmo Espírito não pode dividir-se
ou estar ao mesmo tempo em vários pontos, pois não pode
haver divisão de um Espírito, contudo cada um deles é
um centro que irradia para diferentes lados, e é por isso que
parecem estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol, que
não é mais do que um, e não obstante irradia por
toda parte e envia os seus raios até muito longe. Apesar disso,
ele não se divide. (LE – 92)
Para responder, ao mesmo tempo, às
perguntas que lhe são dirigidas, o Espírito se divide
ou tem o dom da ubiquidade?
R - O Sol é um só
e, no entanto, irradia ao seu derredor, levando longe seus raios,sem
se dividir. Do mesmo modo, os Espíritos. O pensamento
do Espírito é como uma centelha que projeta
longe a sua claridade e pode ser vista de todos os pontos do horizonte.
Quanto mais puro é o Espírito tanto mais o seu pensamento
se irradia e se estende, como a luz. Os Espíritos inferiores
são muito materiais; não podem responder senão
a uma única pessoa de cada vez, nem vir a um lugar, se são
chamados em outro.
Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em pontos diferentes,
responderá a ambas as evocações, se forem ambas
sérias e fervorosas. No caso contrário, dá preferência
à mais séria.
(O Livro dos Médiuns
– 62ª. ed. – Allan Kardec (Guia dos Médiuns
e dos Evocadores) (Paris - 1861), 2ª parte, item 282, questão
30)
Os Espíritos não irradiam com o mesmo
poder, bem longe disso, o poder de irradiação depende
do grau de pureza de cada um. (LE – 92a)
Nota de Allan Kardec: Cada Espírito
é uma unidade indivisível; mas cada um deles pode estender
o seu pensamento em diversas direções, sem por isso
se dividir. É somente nesse sentido que se deve entender o
dom de ubiqüidade atribuído aos Espíritos. Como
uma fagulha que projeta ao longe a sua claridade e pode ser percebida
de todos os pontos do horizonte. Como, dada, um homem que, sem mudar
de lugar e sem se dividir, pode transmitir ordens, sinais e produzir
movimentos em diferentes lugares.
* * *
Fontes:
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, cap. VI,
questões de 237 à 256.
Allan Kardec - Revista Espírita - janeiro 1866
(A Jovem Cataléptica de Souabe).
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, Introdução
ao Estudo da Doutrina Espírita, itens V, XIII e XIV.
Allan Kardec - Obras Póstumas, 2ª parte,
Minha primeira iniciação no Espiritismo.
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, questão
888ª.
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, questão
92.
Allan Kardec - O Livro dos Médiuns 2ª parte,
item 282, questão 30)
Fonte:
http://www.aeradoespirito.net/EstudosEM/PERCEPC_SENSAC_E_SOFR_%20DOS_ESP.html
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