Elio
Mollo; Claudia C.
> Separação da alma e do corpo
Estudo com base no Livro II, Capítulo
III, questões 154 à 162 de O Livro dos Espíritos
(Allan Kardec).
Se considerarmos o significado da palavra
dor, que é de acordo com o dicionário uma "sensação
desagradável produzida pela excitação de terminações
nervosas sensíveis aos estímulos dolorosos e classificada
de acordo com o seu lugar, tipo, intensidade, periodicidade, difusão
e caráter" a separação da alma e do corpo
não é dolorosa; o corpo, freqüentemente, sofre mais
durante a vida que no momento da morte; neste, a alma nada sente. Os
sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são
um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Na morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade orgânica,
em conseqüência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber:
é uma lâmpada que se apaga por falta de energia.
A separação da alma e do corpo se opera desligando-se
os liames que a retinham, assim ela se desprende. Essa separação
não se verifica instantaneamente ou numa transição
brusca; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um
pássaro cativo que fosse libertado. Os dois estados se tocam
e se confundem, de maneira que o Espírito se desprende pouco
a pouco dos seus liames; estes se soltam e não se rompem.
Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu
envoltório material ou perispírito; a morte é apenas
a destruição do corpo, e não desse envoltório,
que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação
prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não
se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão
variável, segundo os indivíduos. Para uns é bastante
rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também
o da libertação, que se verifica logo após. Noutros,
porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual,
o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes
alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica
a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade
de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade
entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre
na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito
deu à matéria. É lógico admitir que quanto
mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais
sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual
e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo
de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a
morte chega é quase instantânea. Este é o resultado
dos estudos efetuados sobre todos os indivíduos observados no
momento da morte. Essas observações provam ainda que a
afinidade que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e
o corpo, é às vezes muito penosa, porque o Espírito
pode experimentar o horror da decomposição. Este caso
é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se
em alguns suicídios.
Na agonia, às vezes, a separação definitiva entre
a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa
da vida orgânica, ou seja, a alma já deixou o corpo, que
nada mais tem do que a vida orgânica. O homem não tem mais
consciência de si mesmo, e não obstante ainda lhe resta
um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração
põe em movimento. Ele se mantém enquanto o coração
lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso não necessita
da alma.
No momento da morte a alma sente, muitas vezes, que se desatam os liames
que a prendem ao corpo, e então emprega todos os seus
esforços para se desligar de uma vez. Já parcialmente
separado da matéria, vê o futuro desenrolar-se diante dela
e goza por antecipação do estado de Espírito.
Kardec explica que este desprendimento antecipado da alma ocorre com
certa freqüência, antes de morrer muitas pessoas entrevêem
o mundo espiritual, desta forma, esperançosos, podem suavizar
o pesar de deixar a vida. Porém no momento exato da separação
o espírito perde a consciência de si mesmo e como ocorre
no nascimento, ele jamais testemunha o último suspiro de seu
corpo, a separação ocorre sem que ele se dê conta
disto. A agonia final é muitas vezes acompanhada por convulsões
que nada mais são do que um efeito físico, e cuja sensação
o espírito quase nunca experimenta, pode algumas vezes, sentir
estas últimas dores como um castigo. (1)
O exemplo da larva que primeiro se arrasta pela terra, depois
se fecha na crisálida, numa morte aparente, para renascer numa
existência brilhante, pode dar-nos uma pálida idéia
da vida terrena, seguida do túmulo e por fim de uma nova existência,
porém, é necessário não tomá-la ao
pé da letra.
A sensação que experimenta a alma no momento em que se
reconhece no mundo dos Espíritos, depende do que se fez durante
a vida terrena, se fez o mal, no primeiro momento, sente-se envergonhado
de o haver feito, depois a consciência lhe cobra a reparação
dos maus atos praticados. Para o justo, é muito diferente: ele
se sente aliviado de um grande peso, porque não receia encontrar
nenhum olhar perquiridor.
Em uma comunicação transcrita na Revista Espírita
(2) encontramos o seguinte diálogo:
"Perg. –
Que efeito vos produziu a morte?
Resp. – A
morte! Não estou morto, meu filho; tu te enganas. Levantava
e, de repente, fui tomado por uma escuridão que me desceu sobre
os olhos; depois me ergui: julga o meu espanto ao me ver e me sentir
vivo, percebendo, ao lado, sobre a laje, meu outro ego deitado. Minhas
idéias eram confusas; errei para me refazer, mas não
pude; vi chegar minha esposa, velar-me, lamentar-se, e me perguntei:
Por quê? Consolei-a, falei-lhe, mas não respondia nem
me compreendia; foi isso que me torturou, deixando-me o Espírito
ainda mais perturbado."
O Espírito encontra imediatamente
aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele, segundo a afeição
que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber
na sua volta ao mundo dos Espíritos, e o ajudam a libertar-se
das faixas da matéria. Vê também a muitos
que havia perdido de vista durante a passagem pela Terra; vê os
que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados,
que vai visitar.
Na morte violenta ou acidental, quando os órgãos ainda
não se debilitaram pela idade ou pelas doenças, a separação
da alma e a cessação da vida geralmente se verificam simultaneamente,
mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto.
Na Revista Espírita de 1859 (3)
Kardec traz uma entrevista com um oficial do exército da Itália
que descreve o momento da separação da alma e do corpo
durante um compate:
"Perg. –
7. Assistindo a um combate e vendo homens morrer, testemunhais a separação
entre a alma e o corpo?
Resp. – Sim.
Perg. – 8. Nesse momento vedes
dois indivíduos: o Espírito e o corpo?
Resp. – Não; que é então o corpo?
Perg - Mas nem por isso o corpo deixa de estar
lá; não deve ser distinto do Espírito?
Resp. – Um cadáver, sim; mas não é
mais um ser.
Perg. – 9. Qual a aparência
que então assume o Espírito?
Resp. – Leve.
Perg. – 10. O Espírito afasta-se
imediatamente do corpo? Dignai-vos descrever tão explicitamente
quanto possível como as coisas se passam e como as veríamos,
caso fôssemos testemunhas.
Resp. – Há poucas mortes realmente
instantâneas. O Espírito, cujo corpo foi atingido por
uma bala, a maior parte do tempo argumenta consigo mesmo: "Vou
morrer, pensemos em primeiro sentimento a dor o arranca do corpo e
só então podemos distinguir o Espírito, que se
move ao lado do cadáver. Isso parece tão natural que
a visão do corpo morto não produz nenhum efeito desagradável.
Tendo sido toda a vida transportada para o Espírito, apenas
este chama a atenção; é com o Espírito
que conversamos ou é a ele que damos ordens.
Observação –
Poderíamos comparar esse efeito ao produzido por um grupo de
banhistas; o espectador não presta nenhuma atenção
às roupas deixadas à margem."
Após a decapitação, por exemplo, freqüentemente
o homem conserva por alguns instantes a consciência de si mesmo
por alguns minutos, até que a vida orgânica se extinga
de uma vez. Porém, muitas vezes a preocupação da
morte lhe faz perder a consciência antes do instante do suplício.
Não se trata, aqui, senão da consciência que o supliciado
pode ter do si mesmo como homem, por meio do corpo, e não como
Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do
suplício, ele pode conservá-lo por alguns instantes, mas
de duração muito curta, e a perde necessariamente com
a vida orgânica do cérebro. Isso não quer dizer
que o perispírito esteja inteiramente desligado do corpo, mas
pelo contrário, pois em todos os casos de morte violenta, quando
esta não resulta da extinção gradual das forças
vitais, os liames que unem o corpo ao perispírito são
mais tenazes, e o desprendimento completo é mais lento.
NOTAS:
(1) Allan Kardec - Revista Espírita, junho de
1861, Marques de Saint-Paul, morto em 1860 e evocado a 16 de maio de
1861 a pedido de sua irmã membro da Sociedade Espírita
Parisiense.
(2) __________ - Revista Espírita, dezembro de 1858, Um Espírito
nos funerais de seu corpo.
(3) __________ - Revista Espírita, setembro de 1859, Um oficial
do exército da Itália.
Fonte: http://aeradoespirito2.sites.uol.com.br/Estudos/SEPAR_DA_ALMA_E_DO_CORPO.html
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Em co-autoria:
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