Queridos irmãos do movimento
espírita, diante do acirramento das tensões por ocasião
das manifestações de apoio ou contrariedade a um posicionamento
do nosso respeitabilíssimo irmão Divaldo Franco, muitos
de nós nos vimos envolvidos em discussões, reflexões,
leituras e, talvez em menor frequência, mas afortunadamente,
orações.
O escalonamento da celeuma seguiu ao ritmo frenético das redes
sociais, às quais nossas consciências ainda não
começaram a se adaptar, e a passionalidade aflorou de forma
destrutiva e desagregadora, contrariando frontalmente tudo o que entendemos
por Doutrina dos Espíritos. Através de mecanismos de
reforço e recompensa muito primários, as plataformas
de rede social estimulam as dicotomias e as bolhas ideológicas,
onde os sujeitos com número suficiente de apoiadores têm
a ilusão de que seu ponto de vista é triunfante, quiçá
correto. Na polêmica em questão, apoiadores e contestadores
de Divaldo acrescentaram à fala dele uma série de inferências,
juízos ou condenações, muitas vezes em sintonia
com a formatação fragmentária e opositiva estimulada
pela rede social.
Não poucos confrades observaram a contradição
entre as manifestações políticas e ideológicas,
pró ou contra o comunicado do espírita baiano, e os
postulados serenos e consoladores da filosofia espírita.
Mais do que apregoar o amor, a instrução e a união
de forças para a transformação íntima
e coletiva – pautas de todas as religiões e grande parte
das correntes filosóficas –, o Espiritismo se tipifica
pela abordagem e pelo ponto de vista espirituais de todas as questões.
É inconcebível, pois, que sigamos a projetar nossas
construções mundanas, horizontais, por sobre a luz meridiana
da filosofia imortalista e perenialista das coletividades esclarecidas.
Todos temos direito a preferências, opiniões e perspectivas
a respeito dos assuntos em voga, mas tentar ler a filosofia dos espíritos
sob sua chave é, mais que uma perversão de valores,
uma perversão lógica.
O Espiritismo não foi, não é e jamais será
de direita ou de esquerda, não importa quantos autores se esforcem
por subsumi-lo nesta dicotomia inteiramente terrena. A falange consoladora
reuniu propositalmente indivíduos com as mais díspares
posições políticas e filosóficas na Terra,
para mostrar, justamente, que a libertação da matéria
eleva incomensuravelmente essas concepções rumo à
fraternidade universal.
Seres falhos que somos, permitimos vez ou outra que o homem velho
aflore e assuma a direção de nosso comportamento, obscureça
a nossa consciência. Não podemos permitir, no entanto,
que essas recalcitrâncias nos hábitos automáticos
voltem a pautar o comportamento médio que com tanto sacrifício
e amparo do Alto sustentamos. É preciso rejeitar insistentemente
o convite ao desforço moral e intelectual representado pela
leitura materialista, oportunista, mística, economicista, psicologizante,
política, sociológica ou ideológica da Doutrina
dos Espíritos.
Como sempre, as dissenções e as rusgas passarão,
dando lugar a novos acontecimentos íntimos e coletivos, enquanto
a sabedoria e o Bem restarão incólumes à passagem
dos tempos e a toda a transitoriedade mundana. Restar-nos-á
apenas o saldo consciencial do que dela tivermos extraído,
do bem que fomos capazes de espalhar inspirados por ela, que não
necessita de nós, de nossa agressividade, ponto de vista ou
passionalidade para sua defesa.