Continuando a sequência do
primeiro texto que visava introduzir e contextualizar o papel de Agostinho,
passamos a um sobrevoo por sua obra prima.
Assim se inicia este livro magistral, com nada menos do que um dos
mais belos parágrafos que a cultura humana produziu:
Sois grande,
Senhor, e infinitamente digno de ser louvado. É grande o
vosso poder e incomensurável a vossa sabedoria. O homem,
fragmentozinho da criação, quer louvar-Vos; - O homem,
que publica a sua mortalidade, arrastando o testemunho do seu pecado
e a prova de que Vós resistis aos soberbos. Todavia, esse
homem, particulazinha da criação, deseja louvar-Vos.
Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque
nos criaste para Vós e o nosso coração repousa
inquieto, enquanto não repousa em Vós.[1]
Paulo de Tarso, o grande ídolo de Agostinho
No terceiro capítulo do livro
sétimo, Agostinho inicia uma escalada lírica que reveste
o profundo processo psicológico de sua conversão. Este
fragmento denota o assombro diante das dificuldades de retorno à
origem:
Por que assim,
ó Senhor, Deus meu, quando Vós próprio sois
a vossa alegria eterna, e tudo o que está à vossa
volta se alegra em Vós? Por que é que esta parte das
vossas obras oscila em alternativas de queda e de progresso, de
ofensas e de reconciliações? Será esta a sua
condição? Só lhe concedestes isso, quando da
altura dos céus até os abismos da terra, do princípio
ao fim dos séculos, do anjo ao mais pequenino verme, do primeiro
ao último movimento dispúnheis todas as variedades
de bens e todas as vossas obras justas no seu lugar, e as determináveis
no seu respectivo tempo? Ai de mim! Quão alto sois nas alturas
e quão profundo nos profundos abismos! Nunca vos apartais
de nós e, contudo, com que dificuldade nos voltamos para
Vós.[2]
E a dificuldade estava exatamente
no seguinte:
O inimigo
dominava o meu querer, e dele me forjava uma cadeia com que me apertava.
Ora, a luxúria provém da vontade perversa; enquanto
se serve à luxúria, contrai-se o hábito; e,
se não se resiste a um hábito, origina-se uma necessidade.
Era assim que, por uma espécie de anéis entrelaçados
– por isso lhe chamei cadeia –, me segurava apertado
em dura escravidão. A vontade nova, que começava a
existir em mim, a vontade de Vos honrar gratuitamente e de querer
gozar de Vós, ó meu Deus, único contentamento
seguro, ainda se não achava apta a superar a outra vontade,
fortificada pela concupiscência. Assim, duas vontades, uma
concupiscente, outra dominada, uma carnal e outra espiritual, batalhavam
mutuamente em mim. Discordando, dilaceravam-me a alma.[3]
Como contrariar a verdade desta revelação?
Acaso alguém já devassou mais profundamente o mistério
da vontade? Quem pode negar que o “inocente” hábito,
ao qual nos permitimos por fraqueza e com consciência, seja
a causa de todas as necessidades que depois nos escravizam? Os vícios,
as compulsões e obsessões, as patologias mais absurdas
começam com os maus hábitos, frágeis e discretos
em sua raiz, mas por isso mesmo é tentador justifica-los, defender
sua inocuidade, “permitir-se”, como na linguagem adulterada
de nossa geração.
Não há hoje palavra mais celebrada que o 'permitir-se'.
Como se todo o comedimento, toda a privação, remontasse
a uma repressão tirânica, um exagero do pudor. A psicologia
desviada prega, a cultura exalta, as personalidades, especialmente
as que hoje se denominam “artistas”, idolatram a nova
deusa. Permissividade é o seu nome; honestidade e autenticidade
são seus falsos distintivos de autoridade, ficar “de
bem consigo mesmo” é a sua mentirosa promessa.
Mas o clímax que hoje se vivencia não é mais
que um retorno das mil Babilônias da história. Roma com
sua licenciosidade escandalosa, com seus cidadãos pervertidos
a se considerarem livres das amarras do passado virtuoso. A Paris
e a Londres das festas e das orgias. Ricos e pobres cultuando a vadiagem
e a depravação como conquistas da civilização
e do progresso. Nossa época teve muitos precedentes. Só
a generalização e internacionalização
da imoralidade é uma novidade. É que a alma tem em sua
natureza este conflito, com potencial para elevar-se ou decair, e
os meios se multiplicaram, tanto para a queda como para a ascensão;
preferindo as criaturas lamentavelmente a opção que
lhes é mais próxima da realidade mental e dos hábitos
arraigados.
Essa dicotomia da alma tem, entretanto, uma polaridade mais forte
do que a outra, como se uma das tendências manifestasse o determinismo
universal do progresso, enquanto a outra constitui meramente um elemento
de resistência. Bem e mal, de forma neoplatônica, são
uma polaridade assimétrica. Todo o criado é limitado,
fraco, mas a sua parte divina, aquilo que faz dela a imagem do criador,
é sempre mais forte. Não obstante, este não é
um conflito simples, porque apesar de constituir a parte mais fraca,
a escuridão é a predominante na natureza humana, saída
do lodo e a ele habituada. A ascensão para a luz é estranha
ao homem, mesmo que a própria treva de onde ele tenta, ou não,
se desgarrar seja produzida pela luz.
Semelhante
ao que dorme num sonho, sentia-me docemente oprimido pelo peso do
século. Os pensamentos com que em Vós meditava pareciam-se
com os esforços daqueles que desejavam despertar, mas que,
vencidos pela profundeza da sonolência, de novo mergulham
no sono. Não há ninguém que queira dormir sempre.
A sã razão de todos concorda que é preferível
estar acordado. E contudo, quando o torpor torna os membros pesados,
retarda-se, as mais das vezes, a hora de sacudir o sono, e vai-se
continuando, de boa vontade, a prolonga-lo até ao aborrecimento,
mesmo depois de haver chegado o tempo de levantar.
(...)
Mostrando-me Vós, por toda parte, que faláveis verdade,
eu, que já estava convencido, não tinha absolutamente
nada que Vos responder senão palavras preguiçosas
e sonolentas: “Um instante, um instantinho, esperai um momento”.
Mas este “instante” não tinha fim, e este “esperai
um momento” ia-se prolongando.[4]
Esse período de lutas desemboca
na conversão, onde toda a sensibilidade de Agostinho se transubstancia
da guerra ao louvor bem-aventurado. O crente deseja cantar em altos
brados a sua alegria, a sua libertação, e, naturalmente,
só o pode fazer através dos Salmos. Assim enche-se o
nono capítulo com os cânticos de adoração
dos judeus, sua herança maior para a humanidade. Com destaque
para o salmo 4.
“Filhos
dos homens, até quando sereis duros de coração?
Para que amais a vaidade e buscais a mentira?”[5]
“Está gravada dentro de nós a luz do vosso rosto,
Senhor.”[6]
“Oh! Estarei em paz! Oh! Viverei em paz no seu mesmo ser!”[7]
“Deus do meu coração, minha glória e
minha vida”[8]
“aproveis esta oblação voluntária da
minha boca.”[9]
Tão bem encadeada é
a narrativa e tão orgânicos se tornam os salmos dentro
desse edifício que se diria ser o mesmo autor o das confissões
e o dos mais belos cânticos. Chega-se, afinal, ao livro X, e
a religião se encontra com a filosofia, mas não mais
em choque. Divinamente aparentadas, ambas as disciplinas se fortalecem,
mas uma forte soberania da fé sobre a razão é
a chave para semelhantes bodas.
O capítulo contém, pouco após o seu início,
um esclarecimento sobre a necessidade da confissão. Nela ressalta-se
uma compreensão lúcida da sabedoria paulina.
Vós,
Senhor, podeis julgar-me, porque ninguém “conhece o
que se passa num homem, senão o seu espírito, que
nele reside.”[10]
Há, porém, coisas no homem que nem sequer o espírito
que nele habita conhece. Mas Vós, Senhor, que o criastes,
sabeis todas as suas coisas. Eu, ainda que diante de Vós
me despreze e me tenha na conta de terra e cinza, sei de Vós
algumas coisas que não conheço de mim. “Nós
agora vemos como por um espelho, em enigma, e não ainda face
a face.”[11]
Por isso, enquanto peregrino longe de Vós, estou mais presente
a mim do que a Vós. Sei que em nada podeis ser prejudicado,
mas ignoro a que tentações posso ou não posso
resistir. Todavia, tenho esperança, porque sois fiel e não
permitis que sejamos tentados acima das próprias forças.
Com a tentação, dai-nos também os meios para
a podermos suportar.[12]
Confessarei, pois, o que sei de mim, e confessarei também
o que de mim ignoro, pois o que sei de mim, só o sei porque
Vós me iluminais; e o que ignoro, ignora-lo-ei somente enquanto
as minhas trevas se não transformarem em meio-dia, na vossa
presença.[13]
E chegando a um dos pontos mais altos
de toda essa estonteante obra, vislumbramos a definição
agostiniana de Deus. O filósofo-santo-poeta pergunta a tudo,
céu e mar, animais e plantas, estrelas e elementos, e tudo
é impotente para dar-lhe a imagem de Deus. Mas toda a criação
exclama: “Foi Ele quem nos criou.”[14]
Como nas ancestrais Upanixades, a busca ansiosa de Agostinho não
é frustrada, apesar de ele não chegar ao Arquiteto do
qual tudo se origina. Pois, para o assombro dos céticos, a
natureza responde em festa ao interrogatório, e o crente reconhece
sem esforço não ser o sol o seu Deus, mas a luz do sol;
não o vento, mas a sua carícia; não as aves,
mas o seu canto.
“...Amo
uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando
amo o meu Deus, luz, voz, perfume, alimento e abraço do homem
interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço
contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata,
onde se exala um perfume que o tempo não esparge, onde se
saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui,
onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis
o que eu amo, quando amo o meu Deus.”[15]
Insaciado, Agostinho prossegue investigando
as criaturas do universo, e tudo lhe é ao mesmo tempo insuficiente
e promissor. Obras e virtudes anunciam o Criador, mas ele não
se apresenta diretamente. E num dos momentos de maior elevação
do gênero humano, Agostinho equaciona toda a teoria estética
numa sentença que um dia ainda deverá balizar a arte
do futuro: “A minha pergunta consistia em contemplá-las;
a sua resposta era a sua beleza.”[16]
Chegamos a parte propriamente filosófica
do livro, onde as dificuldades metafísicas, epistemológicas
e psicológicas exigem um tratamento mais vagaroso e técnico.
Este trecho, respectivo ao poder da memória, torna-se a pedra
angular da compreensão agostiniana da alma, de suas faculdades,
e em especial da liberdade.
A memória armazenaria imagens e conhecimento. As imagens sendo
aquelas impressões sensíveis dos objetos, como cópias
deles, meramente destinadas a informar, e acessadas pela mente com
a função de referenciar o que são as coisas e
situações. O conhecimento não se refere aos objetos,
e, portanto, não se resume a cópia do que foi percebido.
Ele encerra a classe de realidades mentais independentes dos objetos
exteriores, como a matemática. Enquanto a imagem é uma
reprodução mental de uma coisa, o conhecimento é
uma lembrança de uma lei, um padrão ou um princípio,
não podendo ser afetado pela confusão.
Agostinho se revela um mestre da psicanálise. Ele reconhece
que há memórias tão obscuras, “escondidas
em cavidades secretíssimas da mente”, que só podem
de lá ser arrancadas por força de um agente externo,
como algo que se refira diretamente àquelas lembranças
perdidas. Percebeu que a memória lembra-se de lembrar, como
quando fazemos notas mentais para não esquecer algo, e mesmo
nos recordamos de nos ter programado para recordar algo. E o mais
impressionante, a memória pode trazer, contra todo o juízo
dos materialistas, uma sensação contrária a que
experimentamos agora. Pode o homem em meio ao prazer avivar a memória
de suas tristezas e dores, ou em meio ao ócio sentir em si
as agruras do trabalho, ou ainda, padecendo de enfermidade, ter a
sensação de gozar de perfeita saúde, tudo isto
contradizendo as sensações mais fortes que o corpo lhe
comunica naquele instante. É por essa propriedade que o homem
pode viver espiritualmente, não apenas no plano abstrato, mas
até no plano sensível e emocional, dando menor importância
ao que experimenta presentemente o corpo.
Esse mesmo poder de representar e evocar elementos ausentes da percepção
exerce o mais importante papel na vida humana, a lembrança
da felicidade. Pergunte-se a qualquer homem se é plenamente
feliz, e excetuando-se pelos desacostumados a maiores reflexões
todos responderão que não, ainda. Falta-lhes algo, que
os vulgares imaginam ser mais saúde, dinheiro ou a presença
de pessoas pelas quais são enamorados, e os mais sensatos saberão
dizer: “não sei o que me falta, mas sei que há
algo do qual depende minha felicidade”.
O homem sente a falta de uma felicidade que jamais experimentou. Como
pode ser assim? Agostinho imagina ter encontrado a resposta na memória
do esquecimento. Às vezes, quando nos esquecemos de algo, temos
a sensação deste esquecimento. Ele não é
completo, e embora não nos lembremos do quê, sabemos
haver esquecido de algo. Quem não experimentou essa sensação
de achar ter algo ausente de sua memória, algo importante,
mas sem poder inferir o menor detalhe sobre este?
O homem tem um tal esquecimento radical na sua alma. Algo perdido
que precisa reencontrar, e sem o que não está completo.
Mas, a tragédia, ele sequer sabe o que perdeu. Só pode
confiar no instinto que lhe diz: “Encontrai este algo e sereis
feliz”. Sabemos todos que a felicidade existe, e disto temos
uma certeza profunda, mas a ninguém ocorre onde possa estar.[17]
Ora, a felicidade só pode estar
no fundo da alma, naquilo que ela tem de mais próprio, no seu
ser. E não é outro senão Deus este fundo.
Poderemos
então concluir que nem todos querem ser felizes porque há
alguns que não querem alegrar-se em Vós, que sois
a única vida feliz? Não; todos querem uma vida feliz.
Mas como a carne combate contra o espírito e o espírito
contra a carne, muitos não fazem o que querem, mas entregam-se
àquilo que podem fazer. Com isso se contentam, porque
aquilo que não podem realizar, não o querem com a
vontade quanta é necessária para o poderem fazer.[18]
(grifo nosso)
É por isso que muitos reconhecem,
com razão, estar toda a moderna psicologia contida nas investigações
de Agostinho. E na sequencia ele consegue aprofundar-se ainda mais:
Pergunto
a todos se preferem encontrar a alegria na verdade ou na falsidade.
Todos são categóricos em afirmar que a preferem na
verdade, como em dizer que desejam ser felizes. A vida feliz é
a alegria que provém da verdade... Encontrei muitos com desejos
de enganar outros, mas não encontrei ninguém que quisesse
ser enganado...
Por que a verdade gera ódio? Porque é que os homens
têm como inimigo aquele que prega a verdade, se amam a vida
feliz, que não é mais que a alegria vinda da verdade?
Talvez por amarem de tal modo a verdade que todos os que amam outra
coisa querem que o que amam seja a verdade. Como não querem
ser enganados, não se querem convencer de que estão
em erro. Assim, odeiam a verdade, por causa daquilo que amam em
vez da verdade... Não querendo ser enganados e desejando
enganar, amam-na quando ela se manifesta e odeiam-na quando ela
os descobre.[19]
Não é este o processo
que a psicologia atual denomina racionalização? E como
se poderia explicá-lo melhor do que nestes termos: “os
homens, por tanto amarem a verdade, enganam-se quando ela é
contra eles, porque o que fazem ou querem, não o querem associar
ao erro, e sim à verdade”? Assim cada homem pensa estar
sempre com a razão, no que todos a contrariam. Esta a fonte
de todas as disputas, no lar ou no templo, na vida pública
ou na intimidade da própria consciência.
Pobre do homem que em seu orgulho foge da verdade para não
se permitir ver a si mesmo como um tolo. Quanto mais o faz, mais mergulha
na própria tolice, e menores são suas chances de escapar
a esse destino vicioso, pois quão mais funda é a sua
condição, quanto mais radical é o erro que ele
sustenta, mais terrível será para o seu orgulho ter
de confessá-los.
É também por isso que os filósofos, especialmente
os franceses, do século das luzes se associavam, em teologia,
à corrente dos agostinianos. A luz da razão, precursora
da verdade, não pode luzir na presença das máscaras
que o orgulho forja para ocultar as enfermidades da alma, fazendo-as
parecer belas e nobres.
Mas há esperança:
Quando estiver unido a Vós
com todo o meu ser, em parte nenhuma sentirei dor e trabalho. A
minha vida será então verdadeiramente viva, porque
estará toda cheia de Vós. Libertais do seu peso aqueles
que encheis. Porque não estou cheio de Vós, sou ainda
peso para mim.[20]
Só na grandeza da vossa misericórdia coloco toda a
minha esperança. Dai-me o que me ordenais, e ordenai-me o
que quiserdes.[21]
E ainda que o acusem de moralismo,
não é o pedante quem encontramos nas Confissões,
senão o homem honesto que se abre em público à
devassa de suas fraquezas:
Mandais-me, sem dúvida,
que me abstenha da concupiscência da carne, da concupiscência
dos olhos e da ambição do mundo... Mas na minha memória
vivem ainda as imagens de obscenidades que o hábito inveterado
lá fixou. Quando, acordado, me vêm à mente,
não têm força. Porém, durante o sono,
não só me arrastam ao deleite, mas até à
aparência do consentimento e da ação. A ilusão
da imagem possui tanto poder na minha alma e na minha carne, que,
enquanto durmo, falsos fantasmas me persuadem a ações
a que, nem sequer as realidades me podem persuadir.
Meu Deus e Senhor, não sou eu o mesmo nessas ocasiões?..
Onde está nesse momento a razão que resiste a tais
sugestões quando estou acordado e permanece inabalável,
quando as próprias realidades se lhe introduzem?[22]
Acusam-no de exagero e rigorismo,
mas ele está a todo o momento confessando não praticar
um regime estóico. Em relação à gula comenta:
Sendo a saúde o motivo
do comer e beber, o prazer junta-se a esta necessidade... Ora, o
limite não é o mesmo para ambos os casos, pois o que
basta à saúde é insuficiente para o prazer...
Ouvi ainda outra voz “Aprendi a contentar-me com o que possuo;
sei viver na abundância e sofrer a penúria. Tudo posso
naquele que me conforta”[23]
Eis como fala um soldado dos acampamentos celestiais, que não
é o pó que nós somos.[24]
Esse é um dos inúmeros
trechos em que Agostinho revela sua reverência absoluta por
Paulo. Aqui também se descreve a imoderação com
conhecimento de causa, e o fato de transparecer sua humildade diante
do apóstolo dos gentios revela a dificuldade de seguir-lhe
o exemplo. “Quem será, Senhor, que não se deixe
arrastar um pouco para além dos limites da necessidade? Se
alguém há, como é grande!... Eu porém
não sou deste número.”[25]
Muito teríamos de dizer sobre
o capítulo seguinte, acerca do tempo. Agostinho teve o mérito
inolvidável de considerar o tempo como grandeza psicológica,
conquista que só foi amplamente retomada por Kant, treze séculos
depois.
Mas já esgotamos o espaço que poderíamos dedicar
a essa monumental obra do santo de Hipona. A seguir veremos as linhas
gerais de outra de suas obras principais, A Cidade de Deus, e a reaparição
do célebre teólogo nos anos da Codificação.
(Continua
em Agostinho e Kardec III)
Bibliografia:
AGOSTINHO, santo. Confissões. São Paulo:
Nova Cultural, 1999.
________________________________________________________
[1] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 37.
[2] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 37.
[3] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 209.
[4] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 210.
[5] Salmos 4: 3.
[6] Salmos 4: 6.
[7] Salmo 4: 9.
[8] Salmo 117: 14, 27, 26.
[9] Salmo 118: 108.
[10] I Coríntios 2: 11.
[11] I Coríntios 13:12.
[12] I Coríntios 10: 13.
[13] Isaías 58: 10.
[14] Salmo 99: 3.
[15] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 264.
[16] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 265.
[17] Todas as referências se encadeiam didaticamente no capítulo
X.
[18] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 282.
[19] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 283.
[20] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 285.
[21] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 286.
[22] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 287.
[23] Filipenses 4: 4, 11, 13.
[24] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 289-290.
[25] Santo AGOSTINHO. Confissões. Pg. 291.