Espiritualidade e Sociedade





Bianca Cirilo

>   Otimismo e fé - Antídotos contra o medo da vida

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Bianca Cirilo
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“Uma sociedade sem esperança, sem fé no futuro, é como um homem perdido
no deserto, como uma folha morta que rola ao sabor dos ventos.”

— LEÓN DENIS, Depois da Morte —

 

 

A citação de Léon Denis nos alude à questão do sentir-se perdido, sentimento decorrente da falta de esperança e de fé no porvir. Ela trabalha a chamada crise moral, problema de extrema pertinência que há muito tempo vem sendo palco de discussões urgentes no campo da evolução humana e da ascensão espiritual.

Pela insistência do ser humano em ignorar a sua verdadeira natureza, temos testemunhado diariamente a dor e o desencontro com a proposta da vida. Vamos teimando em adotar as velhas medidas para resolver dificuldades milenares, exigindo novas soluções impossíveis, já que utilizamos as mesmas ferramentas ineficazes de resolução de nossos conflitos e dramas.

Isso acontece porque muitos temem o novo; inovar, recriar, restaurar, mudar a rota são ações que, para muitos espíritos, representam uma ameaça. Alegam que têm medo de viver, de enfrentar os desafios evolutivos como se sentissem incapazes de lidar com a lei do Progresso, como se a atual condição em que se encontram tivesse um caráter definitivo, e assim vão se conformando em viver com poucas perspectivas de crescimento interior. Alguns acreditam que a felicidade não é deles, como se ela não dependesse de esforço, de revisão dos valores, de novas tomada de decisão para o melhor, para o que faz bem à alma.

O medo de crescer, de mudar, de lidar com os fatos cotidianos que são necessários à superação das etapas evolutivas pode vir disfarçado de humildade, na realidade, falsa modéstia. Essa conduta tem sido observada no meio espírita, infelizmente, quando alguns companheiros dizem que a ambição é um sentimento perigoso, que não devemos querer ser quem não somos, que Jesus era simples. Certamente, todas essas alegações são alertas para que a soberba e a vaidade não aumentem em nosso íntimo e venhamos a resvalar na ilusão da superioridade ilegítima. Contudo, ao incitar o crescimento, o Espiritismo está se referindo essencialmente à transformação da consciência no sentido de revisão de valores e busca dos referenciais cristãos, isso alude à interioridade, indiscutivelmente. Precisamos modificar nossa afetividade, nossa visão de mundo, nossa percepção do que venha a ser crescer moralmente. Humildade não tem a ver com subserviência, baixa autoestima, vestes simples; humildade tem a ver com o reconhecimento de que somos pequenos perante Deus, a ele estamos submetidos através das leis e isso nos faz grandiosos na essência, como espíritos totalmente capazes de crescer, nos iluminarmos e finalmente, estarmos em paz com as suas leis, logo, conosco e com o nosso próximo.

O medo de passar a não sofrer mais o que hoje sofremos, faz com que fiquemos na acomodação justificando essa postura pelas ideias pessimistas que criticam todos os âmbitos da esfera humana. Assim, reclamamos da vida social, política, religiosa, etc, como se as situações fossem definitivas, como se o que é inadequado, contrário às Leis divinas não acabasse. A atual conjuntura pessoal e coletiva que vivemos tem um fim, porque é da lei que tudo se renove, entretanto, precisamos abrigar em nossos corações o otimismo como fato e não como atitude romântica que os críticos condenam como ingenuidade.

Seria ingenuidade constatar o óbvio da lei do Progresso? Os fatos são patentes, a vida se renova initerruptamente e para melhor. Mas precisamos ver sob o prisma que o Espiritismo nos convida, como alavanca de progresso da Humanidade. Léon Denis (1983) nos alerta sobre a crise moral, porque não tem como melhorar, se sentir mais feliz se não aceitarmos que a verdadeira transformação vem de dentro, depende da renúncia de vários afetos que nos chumbam ao olhar menor, que tornam nossa perspectiva de mundo restrita e nos cega à nossa vida cotidiana como se o sentido dela fosse apenas atender necessidades transitórias.

A fé é um elemento também evidente em sua eficácia porque se confirmamos a lei do Progresso de maneira factual, como não desenvolver o sentimento da confiança de que as coisas se renovam para melhor? Basta olhar a vida com novas lentes. A dor que ontem nos causa um descompasso quase irreversível quando a experimentávamos deixou um rastro de fortaleza, muitas vezes, não consciente ainda, não percebida por nós, porque ficamos vibrando na falta, na derrota e nos esquecemos de visualizar o que passou a dar certo depois desta ou daquela frustação, daquela perda, daquele corte, daquela ruptura.

Jesus fala do nascimento do Reino de Deus dentro de nós, porém alerta que, para isso, é preciso nascer de novo. Nascer de novo em espírito também seria “reencarnar várias vezes na mesma vida”, ou seja, despertar o autoamor em nós para aprender a respeitar as nossas necessidades, ficarmos atentos ao que precisamos rever; criar um espaço na nossa vida para cuidar de nós mesmos, do nosso coração, das nossas relações, da nossa vida íntima. Ele vive em nós, esperando que acendamos a força da coragem em segui-lo, porém, para isso, precisamos construir nossa mudança no terreno firme da renovação moral.

 

Referências Bibliográficas:

DENIS, Léon. “A Crise Moral”. Depois da Morte. Rio de Janeiro: FEB, 1983.

KARDEC A. “Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo. CAP. IV.
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: CELD, 2004.

 

 

Fonte: https://celd.xyz/wp-content/uploads/08-Revista_CELD_Agosto_2017.pdf

 

 

 

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