“Uma sociedade sem esperança, sem fé no futuro,
é como um homem perdido
no deserto, como uma folha morta que rola ao sabor dos ventos.”
— LEÓN DENIS, Depois da Morte —
A citação de Léon Denis nos alude
à questão do sentir-se perdido, sentimento decorrente
da falta de esperança e de fé no porvir. Ela trabalha
a chamada crise moral, problema de extrema pertinência que há
muito tempo vem sendo palco de discussões urgentes no campo
da evolução humana e da ascensão espiritual.
Pela insistência do ser humano em ignorar a sua verdadeira natureza,
temos testemunhado diariamente a dor e o desencontro com a proposta
da vida. Vamos teimando em adotar as velhas medidas para resolver
dificuldades milenares, exigindo novas soluções impossíveis,
já que utilizamos as mesmas ferramentas ineficazes de resolução
de nossos conflitos e dramas.
Isso acontece porque muitos temem o novo; inovar, recriar, restaurar,
mudar a rota são ações que, para muitos espíritos,
representam uma ameaça. Alegam que têm medo de viver,
de enfrentar os desafios evolutivos como se sentissem incapazes de
lidar com a lei do Progresso, como se a atual condição
em que se encontram tivesse um caráter definitivo, e assim
vão se conformando em viver com poucas perspectivas de crescimento
interior. Alguns acreditam que a felicidade não é deles,
como se ela não dependesse de esforço, de revisão
dos valores, de novas tomada de decisão para o melhor, para
o que faz bem à alma.
O medo de crescer, de mudar, de lidar com os fatos cotidianos que
são necessários à superação das
etapas evolutivas pode vir disfarçado de humildade, na realidade,
falsa modéstia. Essa conduta tem sido observada no meio espírita,
infelizmente, quando alguns companheiros dizem que a ambição
é um sentimento perigoso, que não devemos querer ser
quem não somos, que Jesus era simples. Certamente, todas essas
alegações são alertas para que a soberba e a
vaidade não aumentem em nosso íntimo e venhamos a resvalar
na ilusão da superioridade ilegítima. Contudo, ao incitar
o crescimento, o Espiritismo está se referindo essencialmente
à transformação da consciência no sentido
de revisão de valores e busca dos referenciais cristãos,
isso alude à interioridade, indiscutivelmente. Precisamos modificar
nossa afetividade, nossa visão de mundo, nossa percepção
do que venha a ser crescer moralmente. Humildade não tem a
ver com subserviência, baixa autoestima, vestes simples; humildade
tem a ver com o reconhecimento de que somos pequenos perante Deus,
a ele estamos submetidos através das leis e isso nos faz grandiosos
na essência, como espíritos totalmente capazes de crescer,
nos iluminarmos e finalmente, estarmos em paz com as suas leis, logo,
conosco e com o nosso próximo.
O medo de passar a não sofrer mais o que hoje sofremos, faz
com que fiquemos na acomodação justificando essa postura
pelas ideias pessimistas que criticam todos os âmbitos da esfera
humana. Assim, reclamamos da vida social, política, religiosa,
etc, como se as situações fossem definitivas, como se
o que é inadequado, contrário às Leis divinas
não acabasse. A atual conjuntura pessoal e coletiva que vivemos
tem um fim, porque é da lei que tudo se renove, entretanto,
precisamos abrigar em nossos corações o otimismo como
fato e não como atitude romântica que os críticos
condenam como ingenuidade.
Seria ingenuidade constatar o óbvio da lei do Progresso? Os
fatos são patentes, a vida se renova initerruptamente e para
melhor. Mas precisamos ver sob o prisma que o Espiritismo nos convida,
como alavanca de progresso da Humanidade. Léon Denis (1983)
nos alerta sobre a crise moral, porque não tem como melhorar,
se sentir mais feliz se não aceitarmos que a verdadeira transformação
vem de dentro, depende da renúncia de vários afetos
que nos chumbam ao olhar menor, que tornam nossa perspectiva de mundo
restrita e nos cega à nossa vida cotidiana como se o sentido
dela fosse apenas atender necessidades transitórias.
A fé é um elemento também evidente em sua eficácia
porque se confirmamos a lei do Progresso de maneira factual, como
não desenvolver o sentimento da confiança de que as
coisas se renovam para melhor? Basta olhar a vida com novas lentes.
A dor que ontem nos causa um descompasso quase irreversível
quando a experimentávamos deixou um rastro de fortaleza, muitas
vezes, não consciente ainda, não percebida por nós,
porque ficamos vibrando na falta, na derrota e nos esquecemos de visualizar
o que passou a dar certo depois desta ou daquela frustação,
daquela perda, daquele corte, daquela ruptura.
Jesus fala do nascimento do Reino de Deus dentro de nós, porém
alerta que, para isso, é preciso nascer de novo. Nascer de
novo em espírito também seria “reencarnar várias
vezes na mesma vida”, ou seja, despertar o autoamor em nós
para aprender a respeitar as nossas necessidades, ficarmos atentos
ao que precisamos rever; criar um espaço na nossa vida para
cuidar de nós mesmos, do nosso coração, das nossas
relações, da nossa vida íntima. Ele vive em nós,
esperando que acendamos a força da coragem em segui-lo, porém,
para isso, precisamos construir nossa mudança no terreno firme
da renovação moral.