Diariamente, estamos sendo convidados
por diferentes meios de comunicação de massa para fixar
crenças e repetir comportamentos que criam uma rotina esvaziada,
muitas vezes, dos valores que realmente queremos para nós mesmos.
Somos bombardeados pelos processos sofisticados da mesmice no campo
de diferentes atividades humanas, programadas por terceiros, mediadas
por um consenso social que nos ilude com a promessa subliminar de
que nossa vida tem que ser de um determinado jeito.
A existência vem sendo esquadrinhada através de padrões
robotizados da vida na Terra, criando rigidez de velhos modelos, disfarçados
de inovação, mas que, no fundo, nos enterram em hábitos
previsíveis e escravizados. Tudo isso acaba gerando sentimentos
perturbadores, promotores do desencanto, já que, a rotina de
apologia a uma vida padronizada e camuflada de novidade nos distancia
do poder pessoal e libertador de viver como espíritos imortais
que somos; dotados de potenciais divinos e nobres, a serem colocados
em movimento em favor de nossa evolução pessoal e coletiva.
Esse estado de coisas tem contribuído para criar um padrão
existencial perigoso de homens pessimistas e credores no mal como
uma forma inevitável de vida e de convivência social.
A produção do terror coletivo, da descrença e
do medo parecem fortemente associados a essa mesmice, a esse tipo
de vida sem expectativa superior e transcendente. Dito de outra maneira,
o clima social que vem sendo incentivado de perda da esperança
coincide com um incentivo inconsciente das massas a continuarem acreditando
que o ser humano não muda, porque o mal seria algo instaurado
no cotidiano e isso, incita a uma postura lamentável de banalização
das coisas ruins. Estranhos a nós mesmos, vamos sendo capturados
a representar esses papéis de reprodutores da falta de fé,
naturalizando cada vez mais o que é nocivo à existência.
O Espírita tem, indiscutivelmente, todas as razões para
traduzir o cotidiano e a realidade de forma muito diferenciada, considerando
o acesso a informações doutrinárias sobre a dinâmica
divina das vidas sucessivas, da expansão dos povos, das transformações
planetárias e da maneira como os hábitos e costumes
culturais se renovam.
Tomemos por base algumas recomendações do Evangelho
sobre a fé e a sua racionalidade: No capítulo sobre
a “A fé transporta montanhas” encontramos uma análise
clara sobre a comprovação da fé como materialização
da lei do Progresso. Acreditar em Deus é um sentimento inato
e o mais curioso está em verificar como o ser humano parece
brigar com isso, tentando viver como se Deus não existisse,
ingenuamente, apoiando-se numa suposta possibilidade de reprogramar
o íntimo e passar a viver sob uma perspectiva niilista. O que
isso tem a ver com o momento atual que estamos vivendo?
Estamos exatamente em meio ao tempo de consolidação
da fé definitiva em Deus, já nos damos conta disso?
Há quanto tempo temos distorcido a mensagem divina, o próprio
conceito do Criador e mistificado a vontade superior? Por que estamos
neste momento universal? Basta observarmos a vida de extremos que
temos experimentado frente às tentativas constantes de inculcação
de um suposto mal, autonomamente instaurado na sociedade como se fosse
tão poderoso quanto o próprio Deus. A veiculação
deste mal começa na nossa descrença, na nossa postura
de vivermos assombrados com tudo que é negativo. Até
que ponto nós, espíritas, internalizamos o sentido da
fé na transformação do mundo e dos homens?
Qual a base para sustentarmos essa certeza na vitória do amor
e do bem e não mais nos rendermos a esta banalização
do que é nocivo, ou seja, a esse estado de fatalismo social
que a maioria está vivendo?
O Espiritismo nos diz que a vida se expande em ciclos transitórios,
ou seja, nada que vivemos, atualmente, é definitivo, a não
ser a nossa essência espiritual, e a forma como a Lei de Deus
age em nós e nos mundos. Isso significa que a lei do Progresso
é a lei que dá o maior sentido à nossa fé,
pois tudo muda para melhor. Será que acreditamos mesmo nisso
ou ficamos na aparência espalhafatosa do mal, como se aquilo
que é contrário à Lei de Deus fosse para sempre?
Estagnar-se na ideia de que as coisas não mudam é a
experiência mais cômoda para não ter que trabalhar
e lutar pela própria evolução, destituindo Deus
do seu lugar de Inteligência Suprema que absolutamente “não
joga dados”, como dizia Einstein, logo, não brinca com
nossa credulidade. Mas será que o mal que se perpetua como
possibilidade continua em nossa mente ainda não é o
medo que temos de reconhecer que nos equivocamos? Equivocados seremos
arremessados à zona confortável do nosso orgulho e termos
que admitir que não somos os donos da verdade, que há
uma série de processos contínuos imperceptíveis
de mudança, ignorados por nós, não controlados
pela nossa vontade, aos quais teremos apenas que nos render. Aquele
desafeto cuja imagem está fatalmente estagnada na nossa mente,
pode estar, neste exato momento, mudando de estágio evolutivo.
A vida muda, ininterruptamente, mas será que cada um de nós
quer realmente ser outra pessoa, rever valores e refazer caminhos
que julgávamos definitivos, abrindo mão do orgulho?