Espiritualidade e Sociedade





Bianca Cirilo

>   A banalização do mal - Desafios ao fortalecimento da fé

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Bianca Cirilo
>   A banalização do mal - Desafios ao fortalecimento da fé

 

 

Diariamente, estamos sendo convidados por diferentes meios de comunicação de massa para fixar crenças e repetir comportamentos que criam uma rotina esvaziada, muitas vezes, dos valores que realmente queremos para nós mesmos.

Somos bombardeados pelos processos sofisticados da mesmice no campo de diferentes atividades humanas, programadas por terceiros, mediadas por um consenso social que nos ilude com a promessa subliminar de que nossa vida tem que ser de um determinado jeito.

A existência vem sendo esquadrinhada através de padrões robotizados da vida na Terra, criando rigidez de velhos modelos, disfarçados de inovação, mas que, no fundo, nos enterram em hábitos previsíveis e escravizados. Tudo isso acaba gerando sentimentos perturbadores, promotores do desencanto, já que, a rotina de apologia a uma vida padronizada e camuflada de novidade nos distancia do poder pessoal e libertador de viver como espíritos imortais que somos; dotados de potenciais divinos e nobres, a serem colocados em movimento em favor de nossa evolução pessoal e coletiva.

Esse estado de coisas tem contribuído para criar um padrão existencial perigoso de homens pessimistas e credores no mal como uma forma inevitável de vida e de convivência social. A produção do terror coletivo, da descrença e do medo parecem fortemente associados a essa mesmice, a esse tipo de vida sem expectativa superior e transcendente. Dito de outra maneira, o clima social que vem sendo incentivado de perda da esperança coincide com um incentivo inconsciente das massas a continuarem acreditando que o ser humano não muda, porque o mal seria algo instaurado no cotidiano e isso, incita a uma postura lamentável de banalização das coisas ruins. Estranhos a nós mesmos, vamos sendo capturados a representar esses papéis de reprodutores da falta de fé, naturalizando cada vez mais o que é nocivo à existência.

O Espírita tem, indiscutivelmente, todas as razões para traduzir o cotidiano e a realidade de forma muito diferenciada, considerando o acesso a informações doutrinárias sobre a dinâmica divina das vidas sucessivas, da expansão dos povos, das transformações planetárias e da maneira como os hábitos e costumes culturais se renovam.

Tomemos por base algumas recomendações do Evangelho sobre a fé e a sua racionalidade: No capítulo sobre a “A fé transporta montanhas” encontramos uma análise clara sobre a comprovação da fé como materialização da lei do Progresso. Acreditar em Deus é um sentimento inato e o mais curioso está em verificar como o ser humano parece brigar com isso, tentando viver como se Deus não existisse, ingenuamente, apoiando-se numa suposta possibilidade de reprogramar o íntimo e passar a viver sob uma perspectiva niilista. O que isso tem a ver com o momento atual que estamos vivendo?

Estamos exatamente em meio ao tempo de consolidação da fé definitiva em Deus, já nos damos conta disso? Há quanto tempo temos distorcido a mensagem divina, o próprio conceito do Criador e mistificado a vontade superior? Por que estamos neste momento universal? Basta observarmos a vida de extremos que temos experimentado frente às tentativas constantes de inculcação de um suposto mal, autonomamente instaurado na sociedade como se fosse tão poderoso quanto o próprio Deus. A veiculação deste mal começa na nossa descrença, na nossa postura de vivermos assombrados com tudo que é negativo. Até que ponto nós, espíritas, internalizamos o sentido da fé na transformação do mundo e dos homens?

Qual a base para sustentarmos essa certeza na vitória do amor e do bem e não mais nos rendermos a esta banalização do que é nocivo, ou seja, a esse estado de fatalismo social que a maioria está vivendo?

O Espiritismo nos diz que a vida se expande em ciclos transitórios, ou seja, nada que vivemos, atualmente, é definitivo, a não ser a nossa essência espiritual, e a forma como a Lei de Deus age em nós e nos mundos. Isso significa que a lei do Progresso é a lei que dá o maior sentido à nossa fé, pois tudo muda para melhor. Será que acreditamos mesmo nisso ou ficamos na aparência espalhafatosa do mal, como se aquilo que é contrário à Lei de Deus fosse para sempre?

Estagnar-se na ideia de que as coisas não mudam é a experiência mais cômoda para não ter que trabalhar e lutar pela própria evolução, destituindo Deus do seu lugar de Inteligência Suprema que absolutamente “não joga dados”, como dizia Einstein, logo, não brinca com nossa credulidade. Mas será que o mal que se perpetua como possibilidade continua em nossa mente ainda não é o medo que temos de reconhecer que nos equivocamos? Equivocados seremos arremessados à zona confortável do nosso orgulho e termos que admitir que não somos os donos da verdade, que há uma série de processos contínuos imperceptíveis de mudança, ignorados por nós, não controlados pela nossa vontade, aos quais teremos apenas que nos render. Aquele desafeto cuja imagem está fatalmente estagnada na nossa mente, pode estar, neste exato momento, mudando de estágio evolutivo. A vida muda, ininterruptamente, mas será que cada um de nós quer realmente ser outra pessoa, rever valores e refazer caminhos que julgávamos definitivos, abrindo mão do orgulho?


Referências Bibliográficas:

KARDEC, A. “A Fé Transporta Montanhas”. O Evangelho Segundo o Espiritismo. CAP XIX. Rio de Janeiro: CELD, 2004. Pp 317-325.

 

 

 

Fonte: Revista CELD de Estudos Espírita
https://celd.xyz/wp-content/uploads/01-Revista_CELD_Janeiro-2018.pdf

 

 

 

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