Espiritualidade e Sociedade





Bianca Cirilo

>   Tornar-se íntimo com a Lei de Deus O segredo da felicidade

Artigos, teses e publicações


Bianca Cirilo
>   Tornar-se íntimo com a Lei de Deus O segredo da felicidade

 

 

A nossa condição de filhos de Deus ainda é uma conquista do ponto de vista do sentimento. Isso quer dizer que nosso desafio espiritual, a cada encarnação vivida, será sempre o aprendizado de sentir-se verdadeiramente como ser, absolutamente, integrado à
paternidade excelsa.

A jornada do espírito tem demonstrado vários desencontros com a Lei Divina, tendo em vista o processo natural de maturação do espírito, migrando do instinto ao sentimento, passando pela sensação e, neste percurso, fixando valores descortinados a cada impacto que a consciência sofre diante de si mesma.

Descobrir que somos filhos de Deus só é possível mediante o reconhecimento da ação de suas leis em nossas vidas e, exatamente, porque, durante muito tempo, temos vivido como filhos pródigos, ainda agindo como estranhos ao lugar especial que nosso Criador concede a toda sua obra. Esse lugar especial não é exclusivo a nós; ele é oferecido como garantia evolutiva de que todos chegaremos à total integração com esta nossa identidade real, estabelecida pelo Altíssimo — a de espíritos plenamente em paz consigo mesmo e com o Universo.

Ao longo da história dos homens e das religiões, vamos testemunhando os processos estratégicos de afastamento que as diferentes instituições de controle do pensamento, das crenças e dos costumes diversos agenciam para criar uma relação equivocada com o nosso Criador. Esse processo funciona da seguinte maneira: lideranças religiosas, antes do Espiritismo, tentaram reforçar o quanto Deus estaria longe de nós, mediante a construção de uma imagem e ação divinas incompatíveis com seu amor incondicional.

Fomos, portanto, sendo afastados de nossa essência de filhos, esmagados pelo medo da fúria divina, medo da desobediência que nos custaria do purgatório ao inferno. Decerto, a estratégia menos feliz era e foi eficaz porque quando distanciamos o espírito de seu objetivo maior, qual seja: ser perfeito, logo, totalmente harmonizado com a proposta jurídica soberana, vamos retirando sua potência de transformação. Como poderíamos pensar em evoluir se lidar com Deus era confirmar nossa condição de devedores? Isso gerava desânimo ou motivação? O medo sempre foi um dos maiores instrumentos de manipulação das massas para gerar confusão, alimentar a ignorância e o que é pior, impedir a intimidade que todos temos direito a ter com nosso Pai. Deus, é nosso Pai, então qual deve ser a relação entre um pai e seus filhos? Qual a missão da paternidade e, em se tratando da divina, já dimensionamos o que isso significa?

Nosso foco como espíritas deveria ser resgatar essa aproximação fundamental à nossa evolução com as Leis Divinas e, consequentemente, com o nosso sentido da existência: Deus-Pai. Fomos acreditando, ao longo das encarnações de sofrimento, que Deus estava ali somente para nos cobrar e não para nos corrigir. Corrigir sendo sinônimo de educar representa auxiliar seus filhos a voltar para o que traz paz e felicidade, isto é, aprender a reconhecer que, somente praticando o Bem, o Amor e a empatia, seremos capazes de desfrutar da paz de consciência. Não há paz possível fora da prática das Leis de Deus, porque a vida universal foi programada para que buscássemos aquilo que é certo, de acordo com o que Deus estabeleceu como rota positiva e verdadeira.

Sem criarmos essa intimidade de filhos, vamos continuar interpretando lei de causa e efeito como reforço para permanecer sofrendo, justificativas para repetir os velhos padrões comportamentais, sentindo e fazendo as coisas do mesmo jeito, com a mesma energia paralisadora, ressentida, duvidosa e sem fé que nos chumba, transformando nossa existência em um fardo. Seria possível evoluir pelo amor desse jeito?

Não precisamos de intermediários entre nós e Deus para garantir nossa condição de filhos, precisamos? Teríamos que marcar uma audiência para sentir Deus ou bastaria nos dirigir ao exercício contínuo de suas leis para nos arremessarmos ao seio do seu amor? Os nossos amigos espirituais são intermediários de sua mensagem, de suas leis, mas não são eles que nos conferem o direito de sermos filhos. Todos já somos por determinação da própria Inteligência Suprema e este lugar é o que mais temos evitado, renegado, iludidos por papéis transitórios e estimuladores do nosso orgulho e do nosso egoísmo.

O sociólogo Zigmund Bauman deixou um legado brilhante de reflexões em torno de como temos nos relacionado, em termos de coletividade, através do que ele analisa como amor líquido. Essa liquidez refere-se a uma fragilidade no campo dos vínculos afetivos e em geral que tornam as relações sociais superficiais, descomprometidas com uma continuidade. Diríamos que esvaziadas pela artificialidade, pela mesmice, pela previsibilidade e pela banalização social.

Tomando essa referência como apoio, poderíamos dizer que estamos num mundo onde há uma contínua fabricação de distanciamento, logo, de elos frouxos, em detrimento da profundidade, e se continuarmos assim, perderemos a chance de estabelecer contato verdadeiro com a vida que somente a intimidade nos proporciona; intimidade essa sem ser abusiva, inconveniente, antiética; intimidade que começa dentro de nós como seres que necessitam urgentemente aprender a se aproximar da própria essência e, neste movimento, encontraremos Deus em nós.

 

Referências Bibliográficas:

BAUMAN, Z. Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2003.

 

 

 

Fonte: Revista CELD de Estudos Espírita
> https://celd.xyz/wp-content/uploads/03-Revista_CELD_Marco-2018.pdf

 

 

 

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