Muitos são os motivos que nos levam a fazer
paradas forçadas no ritmo do estilo de vida que adotamos. Dores,
rompimentos, crises compõem o universo de desafios existenciais
a nos convidar a reflexões e posteriores tomadas de decisão,
em prol da paz interior. Contudo, este processo nos exige o percurso
interno acerca do que sentimos diante da mudança do curso daquilo
que parecia fluir tão bem. Afinal, o que aconteceu?
Toda crise reflete a necessidade da lei do progresso cuja essência
está em nos tirar das zonas de conforto que construímos,
como se fossem os celeiros mencionados no Evangelho, nos quais acumulamos
nossa falsa segurança, acreditando que as situações,
pessoas, vínculos não mudam, não se renovam,
não acabam.
Dar conta do tipo de crise que estamos vivendo seria o primeiro passo
para rever o quanto de esforço temos feito na direção
do nosso bem-estar espiritual. Isso significa que, quando identificamos
que algo não vai bem no mundo interior, é preciso parar
de negar e fingir que nada está acontecendo e começar
a perceber o que devemos fazer para captar o aprendizado contido em
toda crise. Ao focarmos no que precisamos aprender, automaticamente,
vamos acionado dentro de nós nossa criatividade. Mas será
que sabemos perceber a importância da busca da inovação?
O que crise tem a ver com mudança, se, dentro de nós,
quando ela se instala, parece haver apenas dor e sofrimento?
Quando Jesus esteve entre nós, ele nos ensinou que a dor acaba
quando nos dirigimos ao amor. Mas como podemos aprender a reconhecer
a força do amor como único meio seguro de transformação
verdadeira? Sabemos que existe uma Consciência Suprema que é
Deus cuja maneira de ordenar a Natureza se deu através do amor,
ou seja, o amor tem uma ordem naturalmente construída pelo
Criador para determinar como as coisas funcionam desde o micro ao
macrocosmo, como nos diz André Luiz.
Melhor dizendo, toda vez que uma crise acontece, ela revela que no
curso da lei de amor estabelecida por Deus chegou o momento de mudarmos
de estágio, de rompermos com o que era antigo e seguirmos a
ordem do amor que nos leva a galgar novos patamares evolutivos. Isso
traz, certamente, a necessidade de desapego, a importância do
desenvolvimento da fé para abrirmos mão de valores e
crenças repetitivas e asfixiantes, tendo, assim, a humildade
de fazer outros caminhos ainda não percorridos.
León Denis nos diz que são nos momentos de profundas
reflexões, a partir das dores superlativas, que saem as melhores
decisões, aclarando a consciência do espírito
que experimenta a ruptura com as expectativas até então
tomadas como definitivas. A dor, portanto, se expressa como ferramenta
necessária à saída da crise para que novas conquistas
se façam no campo do afeto e da conduta.
Sendo assim, apegar-se a dor transformando-a em sofrimento prolongado
significa faltar com a fé em Deus que tudo provê. Contudo,
será que sabemos compreender como a Divina Inteligência
atua neste caso? Como Deus nos provê se olhamos para a nossa
vida e os motivos eleitos por nós como causa de nossas angústias
e tumultos internos continuam atuando? Este provimento divino acontece,
inicialmente, através de estímulos à reflexão
sobre o sentido da dor, o sentido da crise. Na verdade, o Pai Celestial
utiliza seus recursos infalíveis para que comecemos a enxergar
para além da dor, ou seja, para que saibamos descortinar o
processo restaurador que os momentos de renúncia nos convidam
a fazer. A dor aponta para o que devemos mudar em nós.
O que seria reparar no sentido dado pelo Espiritismo? Na obra O
Céu e o Inferno, Allan Kardec nos esclarece sobre as fases
de superação do espírito da própria falta,
ou seja, a falta é a decisão que equivocadamente tomamos
na direção do nosso afastamento do amor divino. Em muitos
momentos difíceis, ficamos atrelados a certas justificativas
para continuarmos mantendo padrões de sentimentos perturbadores
como raiva, medo, ciúme, inveja e desespero.
Reparar significa aproveitar a crise que rompe com a forma de funcionar
do “homem velho” e apresenta forçosamente a necessidade
de tomarmos nossa vida de volta, nos retratando com a própria
consciência. Trata-se, pois, de retomada da autonomia e da satisfação
de vencer os próprios entraves e limitações,
respeitando o ritmo pessoal, das coisas e das pessoas, ou seja, observando
o tempo de cada etapa reparadora, transformando culpa em arrependimento
e aprendendo consigo mesmo.
Arrepender-se significa um ato de amor e respeito para conosco, pois
representa compreender os mecanismos de amor das Leis Divinas, obedecendo
ao processo natural dos fatos e dos ciclos evolutivos. Toda crise
é oportunidade de recomeço, e recomeçar será
sempre uma primeira atitude de amor para conosco, sem qualquer medo
de perder a rota do caminho que só é revelado quando
passamos a percorrê-lo para dentro de nossa vida espiritual,
sintonizados com o amor indefectível de Jesus a trazer o autoperdão
e o consequente perdão aos outros como meios infalíveis
e únicos para podermos começar novamente, sem pressa,
mas continuamente.
Referências Bibliográficas:
DENIS, L. “A Dor”. O Problema do
Ser e do Destino.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno.
XAVIER, F e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos. Pelo
Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FE