Espiritualidade e Sociedade





Bianca Cirilo

>   Que crise é esta? A dor como reparação

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Bianca Cirilo
>   Que crise é esta? A dor como reparação

 

 

 

 

Muitos são os motivos que nos levam a fazer paradas forçadas no ritmo do estilo de vida que adotamos. Dores, rompimentos, crises compõem o universo de desafios existenciais a nos convidar a reflexões e posteriores tomadas de decisão, em prol da paz interior. Contudo, este processo nos exige o percurso interno acerca do que sentimos diante da mudança do curso daquilo que parecia fluir tão bem. Afinal, o que aconteceu?

Toda crise reflete a necessidade da lei do progresso cuja essência está em nos tirar das zonas de conforto que construímos, como se fossem os celeiros mencionados no Evangelho, nos quais acumulamos nossa falsa segurança, acreditando que as situações, pessoas, vínculos não mudam, não se renovam, não acabam.

Dar conta do tipo de crise que estamos vivendo seria o primeiro passo para rever o quanto de esforço temos feito na direção do nosso bem-estar espiritual. Isso significa que, quando identificamos que algo não vai bem no mundo interior, é preciso parar de negar e fingir que nada está acontecendo e começar a perceber o que devemos fazer para captar o aprendizado contido em toda crise. Ao focarmos no que precisamos aprender, automaticamente, vamos acionado dentro de nós nossa criatividade. Mas será que sabemos perceber a importância da busca da inovação? O que crise tem a ver com mudança, se, dentro de nós, quando ela se instala, parece haver apenas dor e sofrimento?

Quando Jesus esteve entre nós, ele nos ensinou que a dor acaba quando nos dirigimos ao amor. Mas como podemos aprender a reconhecer a força do amor como único meio seguro de transformação verdadeira? Sabemos que existe uma Consciência Suprema que é Deus cuja maneira de ordenar a Natureza se deu através do amor, ou seja, o amor tem uma ordem naturalmente construída pelo Criador para determinar como as coisas funcionam desde o micro ao macrocosmo, como nos diz André Luiz.

Melhor dizendo, toda vez que uma crise acontece, ela revela que no curso da lei de amor estabelecida por Deus chegou o momento de mudarmos de estágio, de rompermos com o que era antigo e seguirmos a ordem do amor que nos leva a galgar novos patamares evolutivos. Isso traz, certamente, a necessidade de desapego, a importância do desenvolvimento da fé para abrirmos mão de valores e crenças repetitivas e asfixiantes, tendo, assim, a humildade de fazer outros caminhos ainda não percorridos.

León Denis nos diz que são nos momentos de profundas reflexões, a partir das dores superlativas, que saem as melhores decisões, aclarando a consciência do espírito que experimenta a ruptura com as expectativas até então tomadas como definitivas. A dor, portanto, se expressa como ferramenta necessária à saída da crise para que novas conquistas se façam no campo do afeto e da conduta.

Sendo assim, apegar-se a dor transformando-a em sofrimento prolongado significa faltar com a fé em Deus que tudo provê. Contudo, será que sabemos compreender como a Divina Inteligência atua neste caso? Como Deus nos provê se olhamos para a nossa vida e os motivos eleitos por nós como causa de nossas angústias e tumultos internos continuam atuando? Este provimento divino acontece, inicialmente, através de estímulos à reflexão sobre o sentido da dor, o sentido da crise. Na verdade, o Pai Celestial utiliza seus recursos infalíveis para que comecemos a enxergar para além da dor, ou seja, para que saibamos descortinar o processo restaurador que os momentos de renúncia nos convidam a fazer. A dor aponta para o que devemos mudar em nós.

O que seria reparar no sentido dado pelo Espiritismo? Na obra O Céu e o Inferno, Allan Kardec nos esclarece sobre as fases de superação do espírito da própria falta, ou seja, a falta é a decisão que equivocadamente tomamos na direção do nosso afastamento do amor divino. Em muitos momentos difíceis, ficamos atrelados a certas justificativas para continuarmos mantendo padrões de sentimentos perturbadores como raiva, medo, ciúme, inveja e desespero.

Reparar significa aproveitar a crise que rompe com a forma de funcionar do “homem velho” e apresenta forçosamente a necessidade de tomarmos nossa vida de volta, nos retratando com a própria consciência. Trata-se, pois, de retomada da autonomia e da satisfação de vencer os próprios entraves e limitações, respeitando o ritmo pessoal, das coisas e das pessoas, ou seja, observando o tempo de cada etapa reparadora, transformando culpa em arrependimento e aprendendo consigo mesmo.

Arrepender-se significa um ato de amor e respeito para conosco, pois representa compreender os mecanismos de amor das Leis Divinas, obedecendo ao processo natural dos fatos e dos ciclos evolutivos. Toda crise é oportunidade de recomeço, e recomeçar será sempre uma primeira atitude de amor para conosco, sem qualquer medo de perder a rota do caminho que só é revelado quando passamos a percorrê-lo para dentro de nossa vida espiritual, sintonizados com o amor indefectível de Jesus a trazer o autoperdão e o consequente perdão aos outros como meios infalíveis e únicos para podermos começar novamente, sem pressa, mas continuamente.

 

 

Referências Bibliográficas:
DENIS, L. “A Dor”. O Problema do Ser e do Destino.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno.
XAVIER, F e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos. Pelo
Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FE

 



 

 

Fonte: https://celd.xyz/wp-content/uploads/05-Revista_CELD_Maio-2017.pdf

 

 

 

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