Diariamente, somos convidados a refletir
sobre a condução que estamos dando às nossas
vidas. Revisitando afetos, percebemos consciente ou inconscientemente
que a vida é feita de vínculos que, por sua vez, são
escadas para o alcance de valores maiores, desenvolvendo em nós
a capacidade de se relacionar melhor com o outro e conosco.
Vínculos são ferramentas divinas que expressam a lei
de sociedade, atuando na contribuição do uso de nosso
livre-arbítrio em favor da melhoria da convivência, logo,
aprender a se vincular também representa aprender a se desvincular,
ensaiando assim a capacidade de dedicação e de renúncia,
simultaneamente. Ora estamos ligados a pessoas e situações
e ora estamos tendo que nos desligar de circunstâncias e de
entes queridos.
Neste processo de construção da afetividade equilibrada,
das relações interpessoais e da vida coletiva, ligando-se
e desligando-se conforme nossa necessidade de progresso, precisamos
atentar sobre a importância de desenvolvermos a gratidão
como sentimento, por excelência, diante da vida. Isso significa
dizer que vinculações e desligamentos, assim como tudo
que nos acontece como espíritos, devem ser lidos como oportunidade
de crescimento interior, logo, agradecer a Deus, por absolutamente
tudo que nos acontece, é exercitar o reconhecimento do investimento
altíssimo que ele faz em cada um de nós, em cada ser
que ele cria e submete às suas Leis.
Já nos damos conta das razões indiscutíveis que
temos para agradecer ao nosso Criador?
Vejamos algumas apenas: a imortalidade como certeza segura de que
jamais seremos destruídos ou aniquilados em nossa existência
espiritual. Não importa o que nos aconteça ou o teor
da dor que tenhamos que experimentar, já que jamais nos perderemos,
pois como espíritos imortais nossa história será
sempre gravada por nós e em nós mesmos como patrimônio
inalienável, significando que nada do que aprendemos se perde
ou é inutilmente vivenciado.
Agradecer pela possibilidade de nunca ter nossa essência da
vida aniquilada é criar em nós a base maior para continuarmos
caminhando mesmo em meio às dores que nos assaltam. Isso porque
as dores, nesta perspectiva da lógica espírita, ganha
outra configuração, isto é, não mais como
martírio improdutivo, mas sim como alerta sobre o quanto temos
que abandonar hábitos de desrespeito a nós mesmos e
retomar o caminho legítimo de amor.
Daí, precisamos então, aprender a agradecer a dor: outro
aspecto que nos dá razão para louvar a Deus como Inteligência
que nos preside a vida. Seria isso masoquismo? Certamente que não,
pois desenvolver a gratidão pelo que nos chega e nos causa
desconforto inevitável regido pela lei de causa e efeito é
o convite para que reflitamos sobre como temos utilizado nossa liberdade
de pensar, de agir e de sentir. Se a dor nos chega, ela traz sempre
um recado e, graças a ela, vamos exercitando a necessidade
de auto-amor e de melhor escolher o que é conveniente à
nossa paz.
Ser grato pelo que nos constrange e, muitas vezes, fere a nossa sensibilidade
é ter a certeza de que a lei de causa e efeito nos alivia,
em seu mecanismo de cura de nossas mazelas espirituais. Com isso,
atentamos para mais uma razão de sermos gratos a Deus: a bênção
da reencarnação, do recomeçar quantas vezes forem
necessárias para que construamos a felicidade dentro de nós.
Sendo essa a lei, por que continuamos tão apegados, tão
controladores, tão infelicitados, reiterando que os motivos
de nosso desencontro estaria fora e não dentro de nós?
Destacamos o pensamento de Joanna de Ângelis:
Quando o Espírito alcança
o objetivo do seu significado imortal e entende-o com discernimento
lúcido, abençoa tudo e todos, agradecendo-lhes a oportunidade
por fazer parte do seu conglomerado.
A autora espiritual nos fala
sobre lucidez, sobre, portanto, discernir de forma clara, ou seja,
analisar tudo que nos acontece como bênçãos, pois
são meios de nos fazer mudar de estágio evolutivo pelo
esforço de vencer em nós o que nos afasta das Leis Divinas
e nos traz o prolongamento desnecessário do sofrimento.
A gratidão vê em tudo, então, as chances de melhoria,
porque nossas experiências são todas aproveitadas como
fonte de aprendizado, como formas de desnudar potencialidades. Há
momentos melhores para desenvolver nossas potências do que quando
somos desafiados a lutar, a superar obstáculos? Agradecer,
sim, pelas lutas, agradecer pelas bênçãos que
nos aliviam, agradecer pelos recursos que nos são dados continuamente,
eis aí o segredo para estarmos cada vez mais em paz com o sentido
maior da existência. Nesta lógica, sendo tudo aproveitado
como estímulo à nossa contínua jornada de encontro
com Deus em nós, haveria alguma coisa que não nos fizesse
bem ou será que o bem que, muitas vezes, não percebemos
nos momentos de contrariedade seria porque esquecemos o que, afinal,
estamos fazendo aqui e, portanto, qual o propósito da vida?
Agradeçamos a Deus pelas suas leis perfeitas que nos dão
total garantia, pelo amor que nos sustenta e pela ininterrupta possibilidade
de viver sob o seu amparo infinito. Sendo assim, é impossível
se perder!