Após proferir palestra no
Centro Espírita, cujo tema nos induziu a afirmar para o público
sobre o delírio da cobrança de taxas para entrada
no congresso “espírita”, programado pelo órgão
federativo local, um amigo sugeriu-nos a leitura do “Projeto
de Interiorização”- Espiritismo para os simples
(1). Procuramos conhecer o projeto,
lemos e apreciamos bastante as diretrizes e planos ali consignados.
O confrade também indicou-nos o artigo “União
com fidelidade, simplicidade e fraternidade” do admirável
Antonio César Perri de Carvalho, Diretor da FEB. Encontramos
o artigo na Revista Reformador; analisamos o texto e ficamos entusiasmados
com os dizeres do representante da Comissão Executiva do
Conselho Espírita Internacional. O excelente artigo, dentre
outras reflexões audaciosas, inspira-nos para o imperativo
da “unidade do espírito pelo vínculo da paz”.
(2)
César Perri ilustra o tema
afirmando que “entre os desafios atuais para a união
dos espíritas (...)há necessidade de revisão
de algumas estratégias e posturas, para se ampliar a difusão
do Espiritismo em todas as faixas etárias e sociais. (...)
entendemos que o acolhimento dos simples [espíritas desempregados,
iletrados, pobres] no ambiente das reuniões espíritas
é tarefa de primordial importância nos tempo em que
vivemos.”(3)
Para o Diretor da FEB “a realização de eventos
federativos e de divulgação devem ter como parâmetros
o que é simples e viável para a maioria das instituições
e dos espíritas.” (4)
O tema é recorrente e crônico. É flagrante a
marginalização de confrades valorosos que, devido
à impossibilidade de arcar com os escorchantes preços
dos eventos espíritas, ficam e continuarão a ficar
excluídos dos congressos espíritas, como os que têm
sido realizados ultimamente por diversas federativas estaduais e
mesmo pela Casa Mater. Após 36 anos escrevendo para imprensa
espírita e alertando sobre a discrepância dos eventos
pagos, confessamos que o Perri pacificou-nos o ânimo com as
suas judiciosas e lúcidas palavras. E, mais, advindo de um
confrade de envergadura moral irrepreensível como é
o caso do Perri, acreditamos que o Movimento Espírita brasileiro
mudará de rota no Brasil e no Mundo.
À guisa de sugestão , considerando a viabilidade de
participação nos eventos doutrinários da maioria
das instituições e dos espíritas, propomos
aos abastados seguidores de Kardec abrirem mão do excesso
da conta bancária e colaborem mais frequentemente com o Movimento
Espírita. Poderiam bancar vários eventos doutrinários
sem consentir que espíritas simples fossem excluídos
dos congressos, seminários e encontros. Portanto, sem ferir
a ótica e a ética espíritas, saberiam utilizar
com inteligência os recursos que Deus concede, fugiriam da
avareza, seriam pródigos no amor, conscientizar-se-iam da
imensa responsabilidade social e colaborariam para fazer do Espiritismo
o mais importante núcleo de debates espirituais da Terra...
Modelo de mecenas (5)
não falta! “O empresário carioca Frederico Figner,
proprietário da Casa Edison e introdutor do fonógrafo
no Brasil, era um deles. Tão rico quanto espírita,
ele trocou cartas com Chico Xavier 17 anos seguidos. E o ajudou
muito. Sem suas doações, o datilógrafo da Fazenda
Modelo não conseguiria atender tanta gente. A cada mês,
o filho de João Cândido gastava o correspondente a
três vezes o seu salário só com assistência
social. Para Chico, os ricos deveriam ser considerados “administradores
dos bens de Deus”. Ao longo de sua vida, ele ajudaria muitos
milionários “benfeitores” a canalizar os “tesouros
divinos” para a caridade.”(6)
O editorial da revista "O Espírita", de jan/mar-93
registra que "a fé começa nos lábios,
obrigatoriamente passa pelo bolso, para se instalar no coração"(7).
Sabemos que a divulgação doutrinária é
urgente mas não apressada. Portando, não identificamos
necessidade nenhuma para o afoitamento e desespero das federativas
promoverem improfícuos festivais de congressos, seminários
e simpósios onerosos. Jamais esqueçamos que “é
indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos
Mensageiros Divinos a Allan Kardec: sem compromissos políticos,
sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem
pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.”
(8)
Os congressos espíritas são importantes para a vitalidade
do movimento espírita, para a permuta de experiências
e o congraçamento entre pessoas. Mas, francamente! O frenesi
para realização de congressões espíritas
dispendiosos têm revigorado o status, o personalismo e a vaidade
de muitos líderes incautos. Jesus nos ensinou a condenar
o erro, preservando a quem erra. Mas, até mesmo Ele, que
era um exemplo de brandura, atuou com austeridade, com muito rigor,
aliás, quando a expelir os vendilhões do Templo.
Não condenamos e nem poderíamos desaprovar os Congressos,
Simpósios, Seminários, encontros necessários
à divulgação e à troca de experiências,
mas, a Doutrina Espírita não pode ficar cerrada nos
Centros de Convenções suntuosos, não se pode
enclausurar Espiritismo nos excludentes anfiteatros acadêmicos
e nem aprisioná-lo em grupos fechados. À semelhança
do Movimento Cristão, dos tempos apostólicos, A Doutrina
dos Espíritos também pertence aos Centros Espíritas
simples, localizados nos bolsões de desventura, nos assentamentos,
nas favelas, nos bairros miseráveis, nas periferias urbanas
esquecidas; e não nos venham com a eloqüência
oca de que estamos sugerindo um tipo de “elitismo às
avessas”. O que fortalece nossas assertivas são os
muitos Centros Espíritas simples e pobres, todavia bem dirigidos
em vários municípios do País. Por causa desses
Núcleos Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo
haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá,
no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan
Kardec.
E por falar no mestre lionês, precisamos de “Allan Kardec
nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras,
a fim de que à nossa fé não se faça
hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre
as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão
e sofrimento. Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido,
apregoado ou manifestado, à nossa bandeira, mas suficientemente
vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas.
Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão
que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.”
(9)
Jorge Hessen
Referências bibliográficas:
(1) disponível em: http://www.febnet.org.br/ba/file/CFN/Projeto_interiorização.pdf
(2) Xavier, Francisco C. Fonte Viva, ditado pelo espírito
Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 49, pg.116
(3) Carvalho, Antonio C. Perri. Artigo “União com fidelidade,
simplicidade e fraternidade” publica do em Reformador, abril,
ano 2011 pags. 29,30 e 31
(4) idem
(5) O termo mecenas, nos países de línguas neolatinas,
indica uma pessoa dotada de poder ou dinheiro que fomenta concretamente
a produção de certos literatos e artistas. Num sentido
mais amplo, fala-se de mecenato para designar o incentivo financeiro
de atividades culturais, como exposições de arte,
feiras de livros, peças de teatro, produções
cinematográficas, restauro de obras de arte e monumentos.
(6) Maior, Marcel S. As vidas de Chico Xavier, São Paulo:
Editora Planeta, 2003
(7) Editorial da revista "O Espírita" de Brasília
edição de jan/mar-93
(8) Bezerra de Menezes, trechos da mensagem “Unificação”,
Psic. F. C. Xavier – Reformador, dez/1975 - FONTE: CEI - Conselho
Espírita Internacional.
(9) Idem