A percepção da ““culpa””
tem sido objeto de investigações e influências
no amplo debate temático da Doutrina dos Espíritos e
das ciências psíquicas. Sabe-se que são intermináveis
e graves as consequências da conservação da “culpa”
em nossa vida, podendo alcançar indescritíveis destroços
emocionais, psicológicas, comportamentais e morais.
A famosa “culpa” se consubstancia
numa sensação de angústia adquirida após
reavaliação de um ato tido como reprovável por
nós mesmos, ou seja, quando transgredimos as normas da nossa
consciência moral.
Sob o ponto de vista religioso, a
“culpa” advém na transgressão de algo “proibido”
ou de uma norma de fé. A sanção religiosa tange
para a reprimenda e condenações punitivas. A sinistra
“culpa” religiosa significa um estado psicológico,
existencial e subjetivo, que indica a busca de expiação
de faltas ante o “sagrado” como parte da própria
autoiluminação como experiência sectária.
Frequentemente a religião
trata a “culpa” como um sentimento imprescindível
à contrição e a melhoria pessoal do infrator
pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer
como “pecaminoso”o ato cometido.
Essa interpretação religiosa
não se compatibiliza com as propostas espíritas, até
porque, a “culpa” é uma das percepções
psíquicas que não se deve nutrir, por ser uma espécie
de mal-estar estéril, uma inútil insatisfação
íntima. Em verdade, quando nos culpamos tolhemos todo o potencial
de nos manifestar com segurança perante a vida.
A “culpa” tem perigosas matrizes nas exigências
de auto perfeição que nos constrange a curvar-nos diante
de alguns atos equivocados. Tal estado psicoemocional provoca em nossa
consciência alguns sentimentos prejudiciais tais como o autojulgamento,
a autocondenação e a autopunição. Importa
libertar-nos das lamentações, dos processos psicológicos
de transferência da “culpa”, da autocomiseração,
das condutas autopunitivas e assumirmos com calma a responsabilidade
pelos nossos próprios atos.
É verdade! O comportamento autopunitivo causa gravíssimas
doenças emocionais, notadamente a depressão. Atualmente
a depressão é um colossal drama humano. “Eu não
mereço ser feliz”, “eu não nasci para ser
amado”, “ninguém gosta de mim” etc. Aqui
se manifesta um comportamento autopunitivo de complicado tratamento
psicológico e espiritual. Neste caso a “culpa”
está punindo e aprisionando. O culpado está acomodado
na queixa e na lamentação (pela “culpa”).
Mais amadurecido psicologicamente poderia avançar pelo caminho
do auto perdão e capacitaria abrir mais o coração
para a vida.
Nas patologias depressivas, muitas
vezes há muito ódio guardado no coração.
Muitas vezes oscilamos entre atos que geram a artimanha do “desculpismo”
e ações que determinam a “culpa”. Dependendo
de como lidamos com tais desafios a “culpa” permanece
mais forte, produzindo situações que embaraçam
o estado psíquico e emocional , razão pelo qual não
nos podemos exigir perfeição, inobstante, devemos fazer
esforços contínuos de auto aperfeiçoamento, afastando
do “desculpismo” que nada mais é do que uma porta
de escape para a fuga das próprias obrigações.
Sim! É preciso que nos perdoemos.
O auto perdão ilumina a consciência, predispondo-nos
à reparação necessária a fim de realizarmos
o bem àqueles a quem fizemos o mal; praticarmos a bondade em
compensação ao mal praticado, isto é, tornando-nos
humilde se temos sido orgulhosos, amáveis se temos sido austeros,
caridosos se temos sido egoístas, benignos se se temos sido
perversos, laboriosos se temos sido ociosos, úteis se temos
sido inúteis.
Pensemos o seguinte: nós erramos
porque somos humanos ou somos humanos porque erramos? Na verdade,
todos acertamos e erramos, não há pessoas perfeitas
na Terra. Se fizermos as coisas certas nos regozijemos por isso, porém
se erramos sigamos em frente e aprendamos com o erro, pois quando
aprendemos com os erros eles se tornam o grande caminho da lição
e do crescimento interior. Desta forma fica ilustrado, que se errar
é humano, diluir os erros e ter resignação são
as alavancas para impulsionar a vida, a fim de prosseguir a marcha
nas trilhas do bem, trabalhando e servindo, para reparar os fracassos
da caminhada.