Allan Kardec escreveu na RE de novembro
de 1858, que "jamais devemos dar satisfação aos
amantes de escândalos. Entretanto, há polêmica
e polêmica. Há uma ante a qual jamais recuaremos —
é a discussão séria dos princípios que
professamos". É isto o que chamamos polêmica útil,
pois o será sempre que ocorrer entre gente séria,
que se respeita bastante para não perder as conveniências.
Podemos pensar de modo diverso sem diminuirmos a estima recíproca.
Que os dirigentes espíritas, sobretudo os
comprometidos com órgãos “unificadores”,
compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele
dialogar, conforme lembrava Chico Xavier. Devemos primar pela simplicidade
doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações,
evidências individuais, privilégios injustificáveis,
imunidades, prioridades, industrialização dos eventos
doutrinários.
Os eventos devem ser realizados, gratuitamente,
para que todos, sem exceção, tenham acesso a eles.
Os Congressos, Encontros, Simpósios, etc., precisam ser estruturados
com vistas a uma programação aberta a todos e de interesse
do Espiritismo, e não para servirem de ribalta aos intelectuais
com titulação acadêmica, como um "passaporte"
para traduzirem "melhor" os conceitos kardecianos. Não
há como “compreender o Espiritismo sem Jesus e sem
Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que
o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a
que se propõe.” (1)
"A presença do elitismo nas atividades
doutrinárias (...) vai expondo-nos a dogmatização
dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para pobres,
para ricos, para intelectuais, para incultos.”(2)
Infelizmente, alguns se perdem nos labirintos das promoções
de shows de elitismo nos chamados “Congressos”. Patrocinam
eventos para espíritas endinheirados, e, sem qualquer inquietação
espiritual, sem quaisquer escrúpulos, cobram altas taxas
dos interessados, momento em que a idéia tão almejada
de “unificação” se perde no tempo. Conhecemos
Federativa que chega a desembolsar R$. 90.000,00 (noventa mil reais);
isso mesmo! 90 mil, para promover evento destinado a 3, 4, 5.000
(cinco mil) pessoas. A pergunta que não quer calar é:
será que o Espiritismo necessita desses eventos "grandiosos"?
Cobrar taxa em eventos espíritas é incorrer nos mesmíssimos
e seculares erros da Igreja, que, ainda, hoje, cobra todo tipo de
serviço que presta à sociedade. É a elitização
da cultura doutrinária.
Sobre isso, Divaldo Franco elucida na Revista O
Espírita, edição de 1992, o seguinte: “é
lentamente que os vícios penetram nos organismos individuais
e coletivos da sociedade. A cobrança desta e daquela natureza,
repetindo velhos erros das religiões ortodoxas do passado,
caracteriza-se ambição injustificável, induzindo-nos
a erros que se podem agravar e de difícil erradicação
futura. Temos responsabilidade com a Casa Espírita, deveres
para com ela, para com o próximo e, entre esses deveres,
o da divulgação ressalta como uma das mais belas expressões
da caridade que podemos fazer ao Espiritismo, conforme conceitua
Emmanuel, através da mediunidade abençoada de Chico
Xavier. Nos eventos essencialmente espíritas, deveremos nós,
os militantes na doutrina, assumir as responsabilidades, evitando
criar constrangimentos naqueles que, de uma ou de outra maneira,
necessitem de beneficiar-se para, em assimilando a doutrina, libertarem-se
do jogo das paixões, encontrando a verdade. O dar de graça,
conforme de graça nos chega, é determinação
evangélica que não pode ser esquecida, e qualquer
tentativa de elitização da cultura doutrinária,
a detrimento da generalização do ensino a todas as
criaturas, é um desvio intolerável em nosso comportamento
espírita.”(3)
As Federativas Espíritas devem envidar todos
os esforços para que não haja a necessidade de qualquer
cobrança de taxa de inscrição dos participantes
de Congressos, exceto em casos extremos (o que não é
desejável obviamente), procurando fazer frente aos custos
do evento. Para esse mister devem buscar viabilizar, previamente,
os recursos financeiros através de cotização
espontânea de confrades bem aquinhoados. Realizar promoções,
doutrinariamente, recomendáveis para angariar fundos. Os
dirigentes devem preservar o Espiritismo contra os programas marginais,
atraentes e, aparentemente, fraternistas, que nos desviam da rota
legítima para as falsas veredas em que fulguram nomes pomposos
e siglas variadas.
A Doutrina Espírita é o convite à
liberdade de pensamento, tem movimento próprio, por isso,
urge deixar fluir naturalmente, seguindo-lhe a direção
que repousa, invariavelmente, nas mãos do Cristo. Chico Xavier
já advertia, em 1977, que "É preciso fugir da
tendência à ‘elitização’
no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para
o povo. É indispensável que o estudemos junto com
as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles
nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco,
estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando
o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos
acadêmicos ou intelectuais (...).”(4)
Não reprovamos os Congressos, Simpósios,
Seminários, encontros necessários à divulgação
e à troca de experiências, mas, a Doutrina Espírita
não pode se trancar nas salas de convenções
luxuosas, não se enclausurar nos anfiteatros acadêmicos
e nem se escravizar a grupos fechados. À semelhança
do Cristianismo, dos tempos apostólicos, o Espiritismo é
dos Centros Espíritas simples, localizados nos morros, nas
favelas, nos subúrbios, nas periferias e cidades satélites
de Brasília; e não nos venham com a retórica
vazia de que estamos propondo, neste artigo, alguma coisa que lembre
um tipo de “elitismo às avessas”. Graças
a Deus (!), há muitos Centros Espíritas bem dirigidos
em vários municípios do País. Por causa desses
Núcleos Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo
haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá,
no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan
Kardec. Assim, esperamos!