21/07/2013
Descoberta de 'relógio' primitivo pode mudar a história
e mostrar relação mais antiga entre homem e os
céus
Grosso modo, existem duas eras que
caracterizam a existência de humanos na Terra: primeiro, a
dos caçadores-coletores, grupos nômades que peregrinavam
por grandes áreas em busca de comida e abrigo. Depois, a
que chamamos de "civilização", produto da
fixação de populações em torno de áreas
cultiváveis, presumivelmente a partir dos natufianos, cerca
de 10 mil anos antes de Cristo, na área onde hoje estão
Israel e Jordânia.
Essas determinações
dependem crucialmente de artefatos achados em escavações
arqueológicas. É possível que outras áreas
existissem onde a agricultura fosse cultivada antes disso e que
ainda não foram descobertas. Essa é uma característica
básica das ciências ditas históricas, onde o
que num momento é o "primeiro" pode ser suplantado
por novos achados.
Dado o que sabemos, ou sabíamos,
havia uma outra distinção essencial entre os caçadores-coletores
e as primeiras civilizações. Na transição
de uma era para outra surgiu uma preocupação com a
passagem do tempo que levou à elaboração de
meios que tornassem possível sua determinação:
"relógios" primitivos que marcassem a regularidade
dos ciclos naturais.
Certamente, os caçadores-coletores
sabiam da passagem dos dias, das fases da Lua, das estações
do ano, todos esses fenômenos que ligavam a Terra aos céus.
Sabiam também, e temiam, fenômenos não regulares
como eclipses, cometas e chuvas de meteoros. Era claro que existiam
padrões de ordem e de desordem nos céus, cuja compreensão
ia muito além dos poderes humanos (até bem mais tarde,
quando a ciência entra em cena).
A divinização dos
céus - que se tornam a morada dos deuses - foi de certa forma
uma tentativa de estabelecer algum tipo de controle sobre o que
era incontrolável, com o intuito de preservar o grupo contra
forças naturais implacáveis e misteriosas.
Porém, dado o caráter
nômade dos caçadores-coletores, não se sabia
que tinham já não só uma preocupação
com a passagem do tempo, mas meios de marcá-la. Essa foi
a revelação surpreendente de pesquisadores da Universidade
de Birmingham, na Inglaterra, que descobriram o mais antigo "relógio"
celeste, criado aproximadamente 10 mil anos atrás.
Doze pedras imitando as várias
fases da Lua, num arco de cerca de 50 metros. No centro, uma pedra
de dois metros de diâmetro marca a Lua cheia. Curiosamente,
o arranjo é alinhado com o Sol nascente no meio do solstício
de inverno da época, o que dava aos arquitetos a chance de
recalibrar seu calendário lunar com o ano solar. Arqueólogos
encontraram evidências de que as pedras foram mudadas de lugar
durante milhares de anos.
O achado muda nosso modo de pensar
sobre os caçadores-coletores, que obviamente eram bem mais
sofisticados do que imaginávamos. Nessa região da
Escócia, migrações de animais ocorriam com
regularidade, e prevê-las era garantia de comida. Usar os
céus para fazê-lo mostrava um conhecimento astronômico
bem anterior ao das civilizações do Oriente Médio.
E é a prova de um início formal da história
ainda antes da agricultura, forjado por uma profunda ligação
entre o homem e os céus.