08/06/2014
A possibilidade de humanos evoluírem além das
limitações físicas e mentais parece ficção
científica, mas já é realidade
Como definir um ser humano? É
o corpo? O jeito de ser? A capacidade autorreflexão, de compaixão?
A mente? Talvez todas essas coisas e outras mais? O que parece óbvio
para a maioria das pessoas vai ficar cada vez menos, com o avanço
da nossa relação mais simbiótica com aparelhos
e instrumentos.
Trans-humanismo é definido
como a possibilidade de a raça humana evoluir além
de suas limitações mentais e físicas, especialmente
por meio da intervenção da ciência e da tecnologia.
Pode parecer coisa de ficção científica: pessoas
com asas violetas ou capazes de levantar um carro com uma mão
ou com uma memória prodigiosa. Se sua definição
do que é ser humano é purista, ou seja, sem intervenção
de fontes externas, é bom abrir os olhos: quase ninguém
mais é.
Tomemos, por exemplo, os remédios.
Se tomamos um remédio que muda nossa química, por
exemplo, se temos depressão ou pressão alta, já
não somos os mesmos. Somos produto de quem éramos
mais o remédio. O trans-humanismo não aparece apenas
no cinema; serve também para aliviar o sofrimento humano.
Para muitos, essa é sua maior motivação. A
apropriação pelo corpo da química farmacêutica
muda nossa natureza. Mesmo vitaminas fazem a mesma coisa, mudando
nossos corpos para termos um sistema imunológico mais resistente
ou mais energia.
E quando começamos a adicionar
partes extras ou próteses? Um atleta paraolímpico,
se tem pernas feitas de fibras de carbono, deve competir com atletas
normais? Na última Olimpíada, o sul-africano Oscar
Pistorius fez parte do time de seu país. E se tivesse ganhado?
Teria sido justo?
O ponto é que estamos já
na era do trans-humanismo. Quem não toma remédios
ou vitaminas certamente tem um celular. Esse aparelho é uma
extensão de quem somos, que se tornou indispensável
no cotidiano. Difícil imaginar que, não tanto tempo
atrás, ninguém tinha celular. Esquecer o seu em casa
é trágico, certo? É ficar desconectado, sem
memória, sem calendário, sem notícias, sem
e-mail, sem mapas, sem música, GPS etc. Todos esses aplicativos
são extensões de nossas faculdades mentais, parte
de quem somos, de como nos definimos. Não entrar no Facebook
ou no Twitter é se desligar da realidade.
Isso porque nossa realidade também
é trans-humana. Vivemos na era da informação
de rápido acesso, conectados por vídeo com pessoas
do outro lado do planeta, algo que para nossos avós seria
magia negra. Estendemos nossa teia por todo o planeta e temos acesso
a quantidades inimagináveis de dados. Nosso cérebro
não é mais apenas o que está dentro do crânio,
ele espalha seus tentáculos pelo mundo inteiro.
E no futuro? A tendência será
trans-humanizar cada vez mais. E ficar menos humano. O que temos
que mudar num indivíduo para que deixe de ser humano? Ou
será que, com o avanço do trans-humanismo, essas perguntas
não farão mais sentido? Seremos algo de novo, nos
reinventando enquanto espécie.