Será o nosso Universo só
um entre uma multidão de outros, todos parte de um multiverso
eterno?
É bom começar explicando
esse título que, sem dúvida, deve parecer estranho
aos não especialistas.
A ideia é que nosso Universo
(com "U" maiúsculo) é só um entre
uma multidão de outros universos, todos parte de um multiverso
que pode ter existido por toda a eternidade.
Com isso, o que chamamos de Big
Bang seria apenas o evento que marcou o início da nossa narrativa
cósmica. Outros universos teriam os seus big bangs e as suas
histórias.
Existem vários tipo de multiverso,
mas todos têm essa característica em comum, de serem
genitores de universos. Por exemplo, algumas teorias sugerem que
as leis da natureza podem variar de região a região
no multiverso. Nesse caso, diferentes universos poderiam ter diferentes
leis da física. No momento, essas teorias são mais
metafísicas do que físicas.
Em outras teorias, os diferentes
universos têm as mesmas leis, mas as constantes da natureza
(a massa e a carga do elétron, a massa do próton,
a constante que determina a intensidade da força da gravidade
etc.) é que variam.
Esta última hipótese
vem da teoria de supercordas, a tentativa de construir uma teoria
de todas as forças da natureza (são quatro ao todo),
a chamada "Teoria de Tudo".
No momento, não temos qualquer
indicação de que o multiverso possa existir. Ou, se
existir, se poderemos determinar sua existência. É
possível que exista apenas o nosso Universo e ponto final.
Porém, se for este o caso, temos o problema de explicar por
que esse Universo e não outro. Especialmente se levarmos
as previsões da teoria de supercordas a sério e concluirmos
que o multiverso é inevitável e que um número
enorme de universos existe, cada qual com suas constantes físicas
e, portanto, com uma física diferente.
Universos como o nosso são
comuns entre eles ou raros? Como determinar isso?
Uma resposta óbvia é
que, se nosso Universo não existisse, não estaríamos
aqui nos perguntando sobre sua existência. Ele existe e pronto.
Mas essa resposta não é muito satisfatória,
pois estamos programados para buscar explicações finais,
narrativas que justifiquem o começo, o meio e o fim de uma
história.
É difícil imaginar
algo que não tenha tido um início, como o temos nós
e todas as formas de vida. Mais difícil ainda é imaginar
que algo possa surgir sem uma causa inicial.
A existência ou não
do multiverso, para que seja uma questão científica
e não filosófica ou teológica, precisa ser
determinada experimentalmente, por alguma observação.
No momento, existem tentativas de
fazer isso, estudando o efeito sobre dois universos vizinhos que
tivessem sofrido uma colisão no passado. Infelizmente, esses
modelos ainda são bem simples, e está faltando muita
coisa.
Um dos problemas que a ciência
enfrenta com esse debate é a questão do infinito.
Se teorias afirmam que o multiverso existiu e existirá para
sempre, como comprovar isso? Mesmo com o nosso Universo e seu futuro:
para determinar se ele existirá para sempre, precisaríamos
de um experimento que durasse também para sempre.
A crise aqui vem da colisão
entre conceitos como o infinito e as limitações concretas
da passagem do tempo da qual a ciência, enquanto obra humana,
prescinde.