A física quântica
leva à conclusão de que o nada, no sentido de
ausência de tudo, não existe
O nada, por incrível
que pareça,vem ocupando a imaginação de filósofos
e cientistas há milênios. Coisa simples, não
é? Imaginar a ausência de tudo, o vazio absoluto, não
deve ser tão complicado. Grande engano. Se a ideia do nada
como a ausência total de matéria é trivial,
quando pensamos um pouco mais sobre o assunto, a coisa complica.
Foram os atomistas Leucipo e Demócrito, na Grécia
do século 5 a.C., que tiveram uma grande sacada: e se o cosmo
contivesse duas coisas, os átomos que constituem a matéria
e o vazio onde se movem? Com isso, na ausência de um átomo,
existe apenas o espaço vazio.
Aristóteles, um século mais tarde, descartou a ideia.
Para ele,o espaço vazio era uma impossibilidade. Existe sempre
algo preenchendo o vazio, que ele chamou de "éter".
Caso contrário, ponderou, objetos poderiam atingir velocidades
infinitas, algo que não parecia possível.
As ideias sobre o vazio de Aristóteles, Mesmo que transformadas,
retomaram força com o francês René Descartes
no século 18. Para ele, o vazio também não
existia. Uma forma de matéria fluida preenchia o espaço.
Para explicar as órbitas dos planetas em torno do Sol ou
da Lua em torno da Terra, descartes supôs que esse fluido,
ao girar, criava uma espécie de redemoinho que levava os
planetas em suas órbitas.
Newton, um pouco mais tarde, demonstrou matematicamente que o espaço
não pode ser preenchido por um fluido: sua viscosidade faria
com que os planetas espiralassem sobre o Sol. O nada voltou a existir.
Quando, no século 19, foi descoberto que a luz é uma
onda eletromagnética, a questão do meio material em
que essa onda se propagava veio à tona. Afinal, ondas de
água se propagam na água, ondas de som no ar. Qual
o meio em que as ondas de luz viajavam? Foi sugerido que o espaço,
afinal, não era vazio; existia uma espécie de fluido
que permitia a propagação das ondas de luz. Em 1887,
porém, um experimento que visava confirmar a existência
do éter falhou. A luz e a sua propagação se
tornaram um grande mistério, que só foi resolvido
em 1905, quando Einstein propôs que a luz não precisava
de meio algum para se propagar. O nada voltou, triunfante. Mas não
por muito tempo.
Na década de 1920, com a mecânica quântica, a
física que estuda os átomos e partículas, ficou
claro que conceitos do nosso dia a dia precisavam ser revisados
radicalmente. Entre eles, a noção de que objetos podem
ficar parados.
No mundo dos átomos, tudo vibra incessantemente. Com isso,
sempre existe uma energia residual, cujo valor flutua aleatoriamente.
Juntando isso ao fato de que a energia e a matéria estão
intimamente relacionadas, flutuações de energia são
convertidas em partículas de matéria.
Dadas as flutuações de energia,partículas de
matéria podem surgir do nada. A física quântica
leva à conclusão de que o nada, no sentido de ausência
de tudo, não existe.
Em1998, essa história ganhou um novo capítulo. Foi
descoberto que o Universo está em expansão acelerada.
Entre as explicações sugeridas para isso, a mais plausível
é que o efeito seja gerado pela energia do vazio, as tais
flutuações quânticas.
Nesse o caso, o nada, ou sua versão quântica, é
responsável pelo destino do nosso Universo.