José Herculano Pires

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José Herculano Pires
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Ao designar Deus como inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, não incidimos numa posição epistemológica, puramente intelectualista? E ao estabelecer a relação Deus-Vida, atribuindo o mistério desta ao mistério daquele, não caímos no solipsismo [1]? Pelo menos aparentemente, excluímos da tríade metafísica [2], Deus-Homem-Mundo, o terceiro termo. A relação se estabelece em forma de polaridade: da inteligência suprema para a inteligência inferior. Mas no intermúndio [3] dessa polaridade encontramos todas as coisas, ou seja: o Mundo. Dessa maneira, temos a tríade clássica da metafísica num sentido metapsíquico [4]: a relação é antes psíquica do que espiritual, pois dela resultam os sistemas orgânicos e inorgânicos das coisas, dela brotam, ao mesmo tempo, os entes e os seres.

Vemos assim que essa fórmula, pela qual designamos Deus, mas não o definimos, estabelece uma nova ordem epistemológica. E nessa ordem a relação éctipo-arctipo [5] se confirma como o processo de comunicação Deus-Homem. O mundo é então meio de transmissão, a distância, interconsciencial, através da qual se verifica, como modalidade do trânsito do eu, o trânsito do pensamento. Foi essa possibilidade que levou Kierkegaard [6] ao diálogo com o Outro, como única forma de comunicação possível da arcstase [7] mística. Mas a fórmula deus-inteligência-e-causa suprime o equívoco kierdegaardiano, por estabelecer sinteticamente as posições e essas funções demonstram, imediatamente, a impossibilidade de uma tríplice polaridade a que aludem alguns metafísicos. A polaridade é irreversivelmente dual: entre os pólos do éctipo e do arctipo só existe a zona necessária à existência da própria polaridade, a zona de influência polar, que já examinamos ao tratar da unipolaridade e da polaridade [8] no homem. Essa zona, que a região ontológica [9] das coisas, é que constitui o mundo, implicando a mundanidade.

A busca da serenidade se define, então, como a busca de Deus. Uma espécie qualquer de tripolaridade impediria essa busca, pois a região ontológica das coisas é o plano natural da alienação na precipitação, o plano da atomização da percepção e da compreensão. Esse plano é necessário ao desenvolvimento do espírito, é o meio em que se da a processão plotiniana [10] ou a projeção existencial. Se não houvesse esse meio, não haveria polaridade, mas apenas pólos isolados. Deus seria, então, o motor imóvel de Aristóteles, isolado no infinito, sem a possibilidade aristotélica da atração pelo amor, pois a atração exigiria o meio em que se exercer. Aliás, não é possível admitir-se essa situação negativa, que implicaria a existência do nada absoluto, com a nadificação total do mundo, o que é um contra-senso, um ilogismo. Assim, a polaridade implica o meio, até mesmo como resultado dialético da reciprocidade interativa dos pólos. Mas, se a polaridade fosse tríplice, a possibilidade permanente da alienação inutilizaria a busca da serenidade.

Outro problema que se levanta é o da designação de inteligência para Deus, e não de mente ou psiquismo, pois sabemos que a inteligência para Deus, e não de mente ou psiquismo, pois sabemos que a inteligência é apenas um instrumento da mente. Mas o instrumento não se define como tal, e sim como função. Ora, a função implica o todo de que provém, e também o explica. Não podemos tratar de Deus num sentindo ontológico puro, porque o seu onto escapa à nossa percepção e à nossa compreensão. Mas podemos encará-lo na sua função inteligente, como encaramos o homem, pois é, nessa função que ele se revela e se oculta, tornando-se acessível ao nosso entendimento. Deus, como inteligência, pode ser a causa primária, pois a inteligência é atuante; mas Deus como mente, psiquismo, ou onto, exigiria definições de substância e estrutura, que escapam inteiramente às nossas possibilidades. Quer dizer: a inteligência é a própria relação, em que nos encontramos com Deus, e independente de maiores definições para a compreendermos. Além, pois, de ser o fato imediato, que epistemologicamente se impõe, e metodologicamente se aclara em nosso entendimento, oferece a vantagem da desimplicação de questões metafísicas de natureza irremediavelmente tautológicas [11].

Essas razões justificam a alusão anterior ao sentido metapsíquico da relação metafísica Deus-Homem. Nosso psiquismo se define como tal, escapando ao nosso entendimento as conexões puramente espirituais do intermúndio psíquico. Da mesma maneira por que Deus, como Ser, escapa às nossas possibilidades de captação perceptiva ou intuitiva, o nosso ser espiritual refoge ao nosso entendimento. O sentido, mais tradicional do que propriamente etimológico, da palavra metafísica, serve para alimentar a dicotomia teológica da realidade, interessando especialmente ao pensamento místico, com sua tendência para a alienação espiritual, enquanto o sentido etimológico da palavra metapsíquica, não influenciado por nenhuma tradição dicotômica, antes reforçado em sua significação por uma tradição monocientífica bem definida, corresponde às exigências metodológicas do pensamento atual. E isso, embora pareça etimologicamente o contrário, pois além do psíquico é sempre mais do que apenas além do físico. Não obstante, a tradição superou a etimologia, no caso da palavra metafísica, emprestando-lhe um significado teológico que vai muito além do psíquico e do parapsíquico.

Claro que damos à palavra metapsíquica um sentido diverso daquele assinalou o seu uso científico, mas esse sentido não estabelece nenhum tipo de conflito, como os determinados pela palavra metafísica. A metapsíquica se define, assim, como um novo ramo epistemológico, aplicado não apenas ao estudo das possibilidades parapsíquicas do homem, mas também às relações psíquicas e parapsíquicas com o mundo e com o além-mundo, onde situamos a posição arctípica de Deus. Isto, por outro lado, vale dizer que há em Deus, também, uma posição ectípica. Realmente há, e é esta posição ectípica de Deus que o torna acessível à análise, que o põe ao alcance da lógica formal. Deus, como éctipo, pode ser tratado logicamente: é tão objeto como o homem, o mundo, as coisas. Por isso, Descartes [12] o chamou precisamente de coisa. Esta possibilidade é sempre rejeitada pelo pensamento místico, mesmo no plano da filosofia, em que a teologia exerce ainda as últimas funções-resquícios do seu império medieval sobre a antiga serva. Mas a legitimidade dessa posição de Deus é patente, historicamente inegável. A antropologia [13] e a etnologia [14], reforçadas pela própria história das religiões, mostram-nos a todo momento a posição ectípica de Deus nas formas antropomórficas das religiões primitivas e das chamadas religiões positivas.

Procuremos esclarecer este assunto. Georges Gusdorf [15], por exemplo, que defende a posição metafísica clássica no atual existencialismo, afirma em seu Traité de Métaphysique:

"A representação da divindade e de seus atributos, nos diversos estádios da pré-História, é da História, é como um banco de ensaio para tirar a limpo os traços principais do ser humano. Por isso, a História das Religiões representou sempre uma das dimensões privilegiadas da antropologia. A busca de Deus é a busca de si mesmo, e todo enriquecimento da imagem de Deus, todo aprofundamento da teologia ou da piedade, é correlativo de um enobrecimento da pessoa."

Temos aqui a polaridade de Deus manifestada no social, e Deus como éctipo projetando-se em imagens de sua representação sensível. Essas imagens assumem para Gusdorf uma importância maior do que o próprio Deus, ou pelo menos da concepção filosófica de Deus, pois são as suas características concretas que põe diretamente em debate o destino de seus fieis, segundo a expressão textual de Gusdorf. Curiosa contradição: o Deus-coisa de Descartes, que é o mesmo Deus-função Gusdorf, esse éctipo de Deus, imanente em nossa compreensão humana, torna-se vitalmente mais importante para a metafísica do que o Deus metafísico da concepção filosófica e teológica. Mas isso porque Gusdorf insiste na contradição metafísica da interpretação de Deus como dualidade dicotômica [16], e não como polaridade.

O que chamamos de dualidade dicotômica é ao mesmo tempo a divisão de Deus em duas partes distintas e a divisão teológica do cosmos em dois planos distintos, estabelecendo a concepção contraditória de natural e sobrenatural. Para Gusdorf, o sagrado e um elemento difuso no natural, impondo-lhe a presença do sobrenatural como aquela marca do obreiro na sua obra, que, para Descartes era a idéia de Deus no home. Com isto, Gusdorf salva o princípio teológico do sobrenatural, mantendo a dicotomia clássica, em vez de anulá-la através do conceito filosófico do natural, que permite a visão monística [17] do vasto mundo. Para uma compreensão possível de Deus e de suas relações com o Homem, através do Mundo, a dicotomia teológica é um obstáculo permanente, enquanto o minismo filosófico favorece o trânsito. E esse monismo não é forçado, não é artificial, mas natural. O artificial é a dicotomia, que resulta da nossa incapacidade conceptual para captar a totalidade do natural. Por isso, Espinosa [18] sustentava a polaridade natura naturans e natura naturata, negando a sobrenaturalidade e o milagre, diante do avanço constante do conhecimento. As grandes áreas já conquistadas pelo conhecimento antigo sobrenatural provam essa realidade. Sobrenatural era apenas o que não podíamos incluir no natural, e o milagre era apenas o fenômeno cujas leis nos escapavam. Tanto as investigações metapsíquicas, no passado, como as investigações parapsicológicas, no presente, revalidam cientificamente essa explicação.

Deus se situa, assim, no natural, e especificamente na área antropológica do natural. Gusdorf reclama a presença de Deus como objetivo no éctipo, para que o homem possa relacionar-se com ele. Mas a presença de Deus é onímoda [19]: ele tanto esta no éctipo humano, quanto no ente das coisas do mundo, no ser do mundo e da mundanidade, (que é o arctipo do mundo), e no próprio arctipo do ser humano, onde é o próprio Deus no homem, a divindade interna das escrituras. O vós sois deuses do Evangelho é uma confirmação de último fato. Cada homem tem Deus em si: no éctipo, como objeto exterior de adoração; no arctipo, como aspiração suprema da alma, vivência interior da divindade. Assim, a polaridade humana reflete a polaridade de Deus, e o cosmo humano, à maneira do cosmo divino, que é todo o cosmo natural, também se define pela presença do humano-divino em si mesmo. Essa inter-relação natural permite o acesso da divindade ao humano, e vice-versa. Daí a naturalidade com que se dão as comunicações espirituais aos homens; os espíritos confabulam através da encarnação, e isso tanto no tocante aos espíritos humanos quanto no tocante ao Espírito de Deus.

Mas o que podemos entender por Espírito de Deus? Pois se Deus é inteligência, consequentemente é espírito. Pode o espírito ter espírito? Axiologicamente, isso parece uma impossibilidade, mas ontologicamente é possível. Porque o espírito é substância, mas de natureza hipostásica [20]. Assim, temos em Deus o éctipo e o arctipo, com já vimos. A polaridade é Deus, mas o arctipo é o seu espírito. Este se comunica com o homem na arcstase da serenidade, onde o homem atinge o arctipo, através, como já vimos, da espiral da ipseidade [21]. E ao mesmo tempo em que verificamos isto, negamos a possibilidade da comunicação de Deus, pelo seu espírito, com o homem, através do éctipo ou na sua individualidade mundana. Para Kierkegaard dialogar com o Outro, tinha de superar o éctipo, afastar-se do mundo e da mundanidade, subir pela espiral da ipseidade até a arcstase do arctipo. Moisés subiu ao sinai para receber a revelação da Lei, e Cristo subiu ao Tabor para confabular com Moisés e Elias. Enquanto Moisés dialogava com o Senhor, o povo judeu voltava à écstase da individualidade mundana e caia na adoração exterior do símbolo. Enquanto Cristo confabulava como Moisés e Elias, os apóstolos caíam por terra, pois o seu écstase mundano não lhes permitia participar da confabulação.

É assim que Deus está na écstase do mundo, que é o próprio mundo, através da sua inteligência, imanente nas coisas, onde se faz lei natural; e está na arcstase do mundo, que é a mundanidade, através da sua inteligência transcendente, que se faz lei moral, ou moralidade. Num e noutro plano, Deus está presente no homem, e o homem esta presente em Deus. Por isso, Paulo podia dizer: "Vivemos em Deus e em Deus nos movemos" [22]. Deus, assim, é a própria vida e o próprio mistério da vida. Física e biologicamente é a lei que as ciências descobrem no processo vital; axiologicamente [23] é a norma da conduta moral; ontologicamente é o espírito divino que sopra onde quer, o impulso arctípico que determina o elã vital bergsoniano [24] e abre para o homem a espiral da ipseidade. Resta lembrar que sociologicamente é a relação da mundanidade, a comunhão das consciências no plano social, onde o éctipo e arctipo se encontram, para que a espiral se abra no momento possível.

O vasto mundo pode então parecer com o corpo de Deus, como na concepção do panteísmo espinosiano. Mas o corpo de Deus não é o vasto mundo, porque este é apenas uma parte do seu organismo hipostásico, apenas o éctipo da sua estrutura ôntica. Não é fácil compreendermos o problema da estrutura ôntica de Deus, nem mesmo possível abrange-la em nosso entendimento. Essa a razão por que os místicos [25] insistem na impossibilidade racional do conhecimento de Deus, e a razão de Kant [26] faz o mesmo, ao estabelecer os limites do cognoscível. Mas quando as filosofias [27] da existência nos ensinam que o homem é um projeto, e quando a busca da serenidade nos mostra que esse projeto se abre para dimensões insuspeitadas, através da espiral da ipseidade, compreendemos facilmente que ele pode avançar no conhecimento de Deus, na proporção em que avança na sua própria trajetória.

Por outro lado, não é verdade que Deus seja inacessível à razão. Porque Deus, como vimos, é um objeto lógico, pelas manifestações concretas do seu éctipo. A lei de adoração [28] nos mostra que todos os seres, levando em si a marca do obreiro referida por Descartes, estão submetidos ao princípio da reverência. Até mesmo os materialistas [29] adoram alguma coisa: a Humanidade, com o positivismo de Comte [30]; a Utilidade, com o pragmatismo [31] de James [32]; o Social, com o socialismo de Marx [33], e assim por diante. As religiões positivas determinam a adoração de Deus através dos símbolos de Deus em espírito e verdade, através dos seus atributos. Assim, Deus é um objeto lógico como qualquer outro, perfeitamente acessível ao raciocínio e aos processos da lógica formal. A confusão existente nesse campo provém de uma interpretação unilateral de Deus, ou de interpretação unipolar, em que Deus é tomado apenas no seu aspecto arctípico.

Essa unilateralidade incentivou o materialismo e o ateísmo. Chegou-se então ao absurdo de supor que Deus, sendo inacessível à razão, é ilógico ou alógico. Não obstante, as categorias racionais de Deus, ou seja, as nossas categorias racionais referentes à divindade, manifestaram-se no homem, como experiência vital, desde os tempos primitivos. O homem tem as suas experiências de Deus, que determinaram as referidas categorias. Pensamos Deus, sentimos Deus, vivemos Deus e em Deus. Como afasta-lo do campo da razão, onde ele está mais presente que tudo, como condição da própria existência das coisas e dos seres? Descartes tinha razão, ao declarar que retirar Deus do universo é o mesmo que retirar o sol do nosso sistema solar. Poderemos, acaso, imaginar um sistema universal orgânico, sem um centro de organização, manutenção e orientação da sua estrutura e dos seus processos? E podemos negar, por acaso, a natureza estrutural dos cosmos? Se o pudéssemos fazer, estaríamos na impossibilidade, como acentua Whitehead [34], de conhecer as coisas e de desenvolver as ciências e as técnicas. O fideísmo científico, que admite as relações constantes dos fenômenos, constitui a primeira exigência lógica do reconhecimento de Deus pelas ciências. E isso sob pena inexorável de contradição para o pensamento.

A relação Deus-Vida, portanto, que nos faz derivar a vida da ação de Deus no vasto mundo, não é uma suposição arbitrária do misticismo, não é uma lição fideísta, de tipo religioso, mas uma suposição filosófica logicamente fundamental. O mistério da vida se enraíza no mistério de Deus, e isso unicamente porque não estamos em condições evolutivas de conhecer as relações íntimas da vida e as suas relações com Deus. No momento em amadurecermos para a compreensão dos mistérios vitais, estes deixarão de ser mistérios para serem realidades cognoscíveis, como aconteceu com os mistérios cosmológicos do passado.

Da tríade clássica da metafísica: Deus, Home e Mundo, o primeiro termo, que implica também o mistério da vida, é o único que ainda permanece no plano do mistério, embora os outros dois não estejam suficientemente esclarecidos. O Homem não pode rejeitar-se a si mesmo nem rejeitar o Mundo como realidade, mas se dá o luxo de rejeitar a Deus, cuja marca profunda está na sua própria consciência. No momento em que, segundo a lei de negação da negação, rejeitar também essa rejeição, verá a face de Deus no espelho lustral de Narciso e encontrará a serenidade.

 

 

NOTAS:

Obs: As fontes desta pesquisa de notas, podem facilmente serem encontradas usando-se qualquer serviço de busca na Internet, em especial Google, Wikipédia e Dicionários on line.

[1] Solipsismo: so.lip.sis.mo, sm (solipso+ismo2) 1 Vida de solipso. 2 Costumes de quem é solitário ou vive retiradamente. O SOLIPSISMO é a idéia de que a única realidade é o próprio EU, é que tudo o mais não tem existência em si própria, ou não se pode comprovar tal existência. A ilusão do mundo então, incluindo as outras pessoas, seria uma projeção da mente.

[2] Metafísica: me.ta.fí.si.ca, sf (lat med metaphysica) 1 Ciência do supra-sensível. 2 Parte da Filosofia que estuda a essência dos seres. 3 Inventário sistemático de todos os conhecimentos provenientes da razão pura. 4 Conhecimento geral e abstrato. 5 Sutileza ou transcendência no discorrer. A metafísica é um ramo da filosofia que estuda a essência do mundo. O sentido da palavra metafísica deve-se a Aristóteles e a Andrônico de Rodes.

[3] Intermúndio: in.ter.mún.dio, sm (lat intermundiu) 1 Espaço entre os mundos ou entre os corpos celestes. 2 Ermo, solidão.

[4] Metapsíquica: (do gr. meta - além + psikê - alma + suf.). Ciência estabelecida e estruturada por Charles_Richet, destinada a estudar os fenômenos que transcendiam à Psicologia e que fugiam ao domínio físico da ciência dita materialista. Sobre este assunto, seu autor escreveu um tratado (Traité de Metapsichique) que, até a 15ª edição sofreu várias modificações. Inicialmente, de cunho materialista, admitia que todo fenômeno procedia do poder psíquico do seu sujet, ou seja, daquele que tinha essa capacidade. Assim, classificou os fenômenos ditos metapsíquicos em dois grupos:
· os objetivos, onde a ação se fazia sentir sobre objetos, como levitação, transportes, etc.
· os subjetivos, os que não atuavam nos ditos objetos, como telepatia, desprendimento e outros.

[5] O éctipo é a natureza primária da individualidade, uma espécie de casulo psíquico em que o individuo se fecha no processo de relação, pela necessidade mesma de ser o que é, de permanecer em-si, isolado do contexto social e do próprio contexto natural. O arctipo, ao contrário do ectipo, é a forma individual da comunhão, o momento em que a espiral da ipseidade atinge literalmente o seu apogeu, afastando-se das exigências egocêntricas da existência terrena, para abrir-se no cosmo, ou seja, na vida universal.

[6] Søren Aabye Kierkegaard (Copenhague, 5 de Maio de 1813 — Copenhague, 11 de Novembro de 1855) foi um teólogo e filósofo dinamarquês do século XIX, que é conhecido por ser o "pai do existencialismo".

[7] ARCSTASE: Permanência numa posição arctípica.

[8] Ver capítulo 8 do livro O Ser e a Serenidade de J. H. Pires.

[9] Ontologia (em grego ontos e logoi, "conhecimento do ser") é a parte da filosofia que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Costuma ser confundida com metafísica.

[10] O Uno ainda constitui a primeira das três hipóstases que compõem o sistema concebido por Plotino. As demais são: a segunda hipóstase, o já citado Espírito; e a terceira hipóstase, denominada de Alma. As hipóstases são sucessivas e ocorrem através do que Plotino denomina Processão (Próodos). Assim, o Uno, por ser livre, através de sua atividade e pela Processão, gera o Espírito. Este último, a seu turno, também pela Processão, gera a terceira e derradeira hipóstase, a Alma, o mundo sensível. Como complemento, seguindo com a teoria de Plotino, haveria ainda o – por assim dizer – caminho de volta. Nesse contexto, paulatinamente, hipóstase por hipóstase e através do que ele entende como Conversão (Epistrophé), caberia ao mundo sensível retornar ao Uno.

[11] A tautologia (do grego) é, na retórica, um termo ou texto que expressa a mesma idéia de formas diferentes. Como um vício de linguagem pode ser considerada um sinônimo de pleonasmo ou redundância. A origem do termo vem de do grego tautó, que significa "o mesmo", mais logos, que significa "assunto". Portanto, tautologia é dizer sempre a mesma coisa em termos diferentes. Em filosofia e outras áreas das ciências humanas, diz-se que um argumento é tautológico quando se explica por ele próprio, às vezes redundantemente ou falaciosamente.

[12] René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de Março de 1596 — Estocolmo, 11 de Fevereiro de 1650), também conhecido como Renatus Cartesius (forma latinizada), foi filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.

[13] Antropologia (do grego, transl. anthropos, "homem", e logos, "razão"/"pensamento") é a ciência preocupada em estudar o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões [1]. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da Antropologia Biológica. Cada uma destas, em sua construção abrigou diversas correntes de pensamento.

[14] A Etnologia é o estudo ou ciência que estuda os fatos e documentos levantados pela etnografia no âmbito da antropologia cultural e social, buscando uma apreciação analítica e comparativa das culturas.

[15] Georges Gusdorf (1912-2000) foi um dos grandes intelectuais da França do século XX. Enfrentou o desafio de escrever uma "história das ciências sociais" em vários volumes, que se tornou referência obrigatória sobre o tema. Seus estudos sobre a hermenêutica e sobre o Romantismo oferecem uma história que se aprofunda além dos fatos e personagens importantes destas temáticas.

[16] Dicotomia de dicótomo. s. f., divisão em duas partes; classificação que se baseia na divisão e subdivisão sucessiva em dois. Método de classificação em que cada uma das divisões e subdivisões não contém mais de dois termos. [Cf. politomia.] A dualidade dicotômica fundamental da metafísica e da ética (bem e mal) é o alvo central da reflexão crítica nietzscheana.

[17] Monismo: s.m. Filosofia. Sistema filosófico segundo o qual existe apenas uma espécie de realidade: o monismo de Spinoza identifica Deus com a natureza. Monístico, adj, Que diz respeito ao monismo.

[18] Baruch de Espinosa (1632 - 1677), foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu nos Países Baixos (Amsterdam, Holanda) em uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. A teologia de Spinoza é contida, substancialmente, no primeiro livro da Ethica (De Deo). Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente, logicamente, geometricamente toda a realidade, como aparece pela própria estrutura exterior da Ethica ordine geometrico demonstrata. A substância e os atributos constituem a natura naturans. Da natura naturans (Deus) procede o mundo das coisas, isto é, os modos.

[19] Onímodo, o.ní.mo.do, adj (lat omnimodu) 1 Que abrange todos os modos ou gêneros. 2 Que não tem limites ou restrições.

[20] Hipóstase, do grego hypostasis, significa subsistência, realidade. Na filosofia de Plotino, Deus se deriva em três hipóstases - uno, nous (inteligência) e alma -, que ele comparava, respectivamente, à luz, ao sol e à lua. Mas o termo foi utilizada por diferentes tradições filosóficas com significados totalmente diferentes daquele adotado por Plotino. Também é encontrado entre os gnósticos. Um dos livros da biblioteca de Nag Hammadi se chama "A Hipóstase dos Arcontes". Contemporaneamente, designa um equívoco cognitivo que consiste na atribuição de existência concreta a uma realidade fictícia, abstrata, presente apenas na razão humana.

[21] IPSIEDADE: A ipseidade é a individualização, a percepção do individuo de ele existe em meio à massa. Essa ipseidade se abre em espiral da evolução, no éctipo, que é a primeira fase da individualização, "o casulo psíquico no qual o indivíduo se fecha no processo de relação"; o arctipo é a abertura para o mundo, a comunhão com o mundo. A ipseidade aparece como uma espiral que se abre no éctipo em direção ao arctipo.

[22] At. 17:28.

[23] Axiológico: Relativo à axiologia, ramo da filosofia que trata dos valores, como aqueles da ética, estética ou Religião.

[24] Henri-Louis Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês. Conhecido principalmente por Matière et mémoire e L'Évolution créatrice, sua obra é de grande atualidade e tem sido estudada em diferentes disciplinas - cinema, literatura, neuropsicologia, entre outras. Em 1927, obteve o Prêmio Nobel de Literatura. Bergson conceitua a intuição como a faculdade suprema do impulso vital (élan vital) e faculdade cognoscitiva do filósofo. Segundo o filósofo, "hoje, só raramente e com grande esforço, podemos chegar à intuição; no entanto a humanidade chegará um dia a desenvolver a intuição de tal modo que será a faculdade ordinária para conhecer as coisas. Então, desaparecerão todas as escolas filosóficas e haverá uma só filosofia verdadeira conhecedora da verdade e do ser absoluto." Bergson foi um dos primeiros a fazer referência ao inconsciente.

[25] Misticismo (do grego mystikos, um início de um mistério religioso) é a busca da comunhão com a identidade, com, consciente ou consciência de uma derradeira realidade, divindade, verdade espiritual, ou Deus através da experiência direta ou intuitiva. É um tipo de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. "O místico é aquele que aspira a uma união pessoal ou a unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc.". (Lewis, Ralph M)"

[26] Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de Abril de 1724 — Königsberg, 12 de Fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais influentes. Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o Racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução). Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental.

[27] Filosofia (do grego philos - que ama + sophia - sabedoria, «que ama a sabedoria») é a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem. Surgiu nos séculos VII-VI a.C. nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Começa por ser uma interpretação des-sacralizada dos mitos cosmogônicos difundidos pelas religiões do tempo. Não apenas de mitos gregos, mas dos mitos de todas as religiões que influenciavam a Ásia menor.

[28] http://aeradoespirito2.sites.uol.com.br/OLivrodosEspiritos/O_LIVRO_DOS_ESPI_L3_C2_SC1.html

[29] Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância. Como teoria, o materialismo pertence à classe da ontologia monista. Assim, é diferente de teorias ontológicas baseadas no dualismo ou pluralismo. Em termos de explicações da realidade dos fenômenos, o materialismo está em franca oposição ao idealismo. O termo foi inventado em 1702 por Leibniz , e reivindicado pela primeira vez em 1748 por La Mettrie.

[30 Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (Montpellier, 19 de janeiro de 1798 — Paris, 5 de setembro de 1857) foi um filósofo francês, fundador da Sociologia e do Positivismo. Nascido em Montpellier, no Sul da França, Augusto Comte desde cedo revelou uma grande capacidade intelectual e uma prodigiosa memória.

[31] O Pragmatismo foi a primeira filosofia americana elaborada autonomamente. Inspirada em Ralph Waldo Emerson, seus fundadores foram Charles Sanders Peirce, com seu artigo How to make our ideas clear, e William James, que retomou as idéias de Peirce, popularizando-as em sua coletânea "O Pragmatismo".

[32] William James (Nova Iorque, 11 de Janeiro de 1842 — Chocorua, Tamworth, Nova Hampshire, 26 de Agosto de 1910) foi um filósofo e psicólogo estadunidense. Considerado, ao lado de Charles Sanders Peirce, um dos fundadores do pragmatismo. Escreveu livros influentes sobre a jovem ciência da psicologia, as variedades da experiência religiosa e do misticismo e a filosofia do pragmatismo.

[33] Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, História, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Psicologia, Economia, Comunicação, Arquitetura e outras.

[34] Alfred North Whitehead (Ramsgate, Kent, 15 de fevereiro de 1861 - Cambridge, Massachusetts, 30 de dezembro de 1947) foi um filósofo e matemático britânico e um renomado pesquisador na área da Filosofia da Ciência, principalmente no que diz respeito aos fundamentos da Matemática. Juntamente com Bertrand Russell, escreveu Principia Mathematica. Refrão: A ciência natural deve estudar o conteúdo das nossas percepções. Obras mais conhecidas: Principia Mathematica (com Bertrand Russell), The Concept of Nature, Process and Reality. Whitehead buscou uma interpretação unificada de tudo, da física à psicologia. É também o desenvolvedor da chamada Teologia do Processo.

 


Fonte: In O Ser e a Serenidade, cap. 10



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