Temos os dirigentes de estarmos
alertas para a atividade do centro espírita de maneira constante.
O mundo progride, a filosofia de direção do centro
também. Até aqui, a história do centro espírita
demonstra que se fez dele, em boa parte dos casos, uma extensão
de doutrinas estranhas: as religiões formalistas. Era natural
que isto acontecesse. Não o será permanecer no mesmo
caminho! A cultura religiosa dominante na sociedade foi transportada
inconscientemente para a formação dos nossos centros,
pelos indivíduos. Principalmente as culturas católicas,
protestantes e as originárias de crenças como as da
Umbanda, Quimbanda e da Teosofia.
Analisemos os nossos centros espíritas: boa parte possui
uma sede em tudo parecida com um templo de fé religiosa estranha
ao Espiritismo: o tipo de construção, a disposição
das cadeiras ou bancos, o palco etc. A isto, muitas vezes se juntaram
quadros e imagens de santos e se estabeleceram nomes de instituições
que relembram cultos diversos. Mesmo naqueles em que os quadros
e imagens não surgiram, a idéia às vezes prevaleceu:
os santos foram substituídos pelos Espíritos de personalidades
do passado. É o que acontece em alguns lugares, onde Bezerra
de Menezes é cultuado na forma e proporção
dos santos católicos.
Essa cultura às vezes se transporta para o centro espírita
sob formas sutis de fixação. Tão sutis que
as pessoas não chegam a percebê-las senão com
algum esforço. Por exemplo, os freqüentadores assumem
a postura de fiéis, de acordo com o que aprenderam em suas
religiões de origem: comparecem ao centro como quem tem uma
obrigação cultual, mantendo a crença das aparências.
Imaginam que se não forem e tomarem um passe estarão
em dívida com Deus. Entre outras coisas, imaginam ter no
dirigente mais destacado ou médium de plantão o seu
guia terreno, à semelhança do padre ou pastor, sob
cujas mãos vê o seu e o destino das demais pessoas
que ali freqüentam. Não desejam por isso desagradá-lo,
mas são capazes de mentir se cobrados sobre possíveis
ausências. É a mentira que os protege de possíveis
sanções futuras, na mesma idéia de que poderá
ser mandada rezar uma novena ou alguns padres-nossos para ficar
bem com Deus.
Essa cultura às vezes se transporta para o centro espírita
sob formas sutis de fixação. Tão sutis que
as pessoas não chegam a percebê-las senão com
algum esforço. Por exemplo, os freqüentadores assumem
a postura de fiéis, de acordo com o que aprenderam em suas
religiões de origem: comparecem ao centro como quem tem uma
obrigação cultual, mantendo a crença das aparências.
Imaginam que se não forem e tomarem um passe estarão
em dívida com Deus. Entre outras coisas, imaginam ter no
dirigente mais destacado ou médium de plantão o seu
guia terreno, à semelhança do padre ou pastor, sob
cujas mãos vê o seu e o destino das demais pessoas
que ali freqüentam. Não desejam por isso desagradá-lo,
mas são capazes de mentir se cobrados sobre possíveis
ausências. É a mentira que os protege de possíveis
sanções futuras, na mesma idéia de que poderá
ser mandada rezar uma novena ou alguns padres-nossos para ficar
bem com Deus.
Espiritismo é, pois, a doutrina do mérito e não
das conquistas segundo o esforço alheio.
Torna-se necessário discutir se o centro espírita
é:
a. Templo
b. Pronto-socorro
c. Escola
Deste estudo se vai concluir, com
certeza, que o centro realiza:
a. atividades de templo, quando
esclarece e ensina sobre ligações com Deus, orações,
assistências em parceria com Espíritos etc.;
b. atividades de pronto-socorro, quando atende ao sofrimento espiritual
ou material das pessoas, contribuindo para sua cura ou melhora;
c. atividades de escola, quando ensina a doutrina à semelhança
das instituições escolares.
Embora tenha parcelas dessas atividades
em sua estrutura, o centro não é templo, pronto-socorro
ou escola. Não sendo nada disso, o que é então?
A melhor definição que se pode dar ao centro espírita
é a de CASA DE SERVIÇOS. O centro é prestador
de serviços, mediante os quais contribui para o progresso
da sociedade. Não sendo proselitista, o centro não
tem interesse maior na quantidade de pessoas a freqüentarem
sua sede; seu foco central é auxiliar a preparação
do indivíduo para que ele atue na sociedade. Para isto, deve
prestar-lhe serviços de qualidade.
O centro e os serviços - Cresce dia-a-dia a consciência
nos meios espíritas de que o centro espírita é
uma instituição voltada à prestação
de serviços à sociedade, a partir do atendimento do
ser humano.
Essa consciência vai por assim dizer eliminando os falsos
conceitos de um local mágico, onde se conseguem apenas curas
e revelações interessantes, onde as almas aportam
para conquistar quase sem nenhum esforço o passaporte para
a vida superior. Com isso, as idéias de que o centro seja
isoladamente o pronto-socorro, a escola ou o templo perdem terreno
para esta concepção maior de prestação
de serviços.
Prestar serviços significa realizar no centro atividades
úteis aos indivíduos e à coletividade, segundo
o ensino maior de Jesus de servir ao próximo com a máxima
humildade. Mas aqui a humildade não pode assumir a condição
piegas dos comportamentos estereotipados, dos sorrisos melífluos,
das promessas impossíveis de cumprimento, enfim, das condições
que caracterizam as religiões formalistas.
Prestar serviços no centro espírita significa realizar
os trabalhos com a máxima qualidade possível, de modo
que o atendimento resulte sempre em fato positivo para o indivíduo
e retorne em forma de conceito para o próprio centro.
Os serviços do centro não são cobrados. Nenhum
deles. Nem por isso a sua qualidade pode ou deve ser duvidosa. Os
dirigentes são criaturas que se colocam a serviço
desinteressado de quem quer que necessite, não recebendo
qualquer remuneração pelo trabalho que realizam, assim
como os médiuns e demais tarefeiros. Tudo ali é gratuito.
A qualidade, porém, não pode estar ligada a remunerações
que não se têm. Os serviços do centro, mais
do que qualquer outros prestados e trocados em nossa sociedade,
carecem de qualidade superior, porque alcançam diretamente
a alma humana. Quanto mais desinteressados sejam os serviços,
maior é a responsabilidade de quem os realiza.
A idéia de prestador de serviços não elimina
as precedentes: pronto-socorro, escola e templo. Está claro
que o centro realiza atividades nestas três áreas e
em outras mais, porém não há preponderância
de nenhuma delas em relação às outras. Ao tomarmos
o centro por prestador de serviços assumimos a concepção
de um local amplo, onde as realizações se multiplicam
e parecem não ter limites, dependendo das disponibilidades
e interesses dos dirigentes.
Assim como é ilimitado o campo de realizações,
preciso é que se observe o que fazer e como fazer. O entusiasmo
descuidado poderá levar para dentro dos centros atividades
que ficam muito bem em outros locais, mas não constam do
rol de serviços espíritas. É preciso agir aqui
com o máximo rigor doutrinário, a fim de não
descaracterizar os centros e o movimento espírita, atingindo
por decorrência a Doutrina Codificada. Na ânsia de realizar
serviços, muitos companheiros, sem a melhor orientação,
acabam por introduzir no centro serviços que lhes são
caros ao coração, dando-lhes preferência em
relação aos demais, chegando mesmo a tecer uma muito
forte rede de argumentos para defendê-los, mas se esquecendo
de que os serviços a serem privilegiados serão os
genuinamente doutrinários.
Práticas não espíritas
Considera-se atividades não espíritas, diversas atividades,
tais como: de cura, conhecidas como cromoterapia, fitoterapia, cristalterapia,
terapia das vidas passadas (TVP) e todas as demais que utilizam
métodos contrários aos ensinos da Codificação;
cerimônias de casamentos, batizados, crismas, bodas de prata
(e outras), que figurem como ritualísticas e valorizadoras
de formalidades; estudo de qualquer matéria sem a devida
conotação doutrinário-espírita; atividades
ritualísticas de qualquer natureza; discussões político-partidárias
ou patrocinadoras de candidaturas a qualquer cargo público
etc.
A intromissão de práticas estranhas, que no passado
se restringiam às oriundas das religiões e crenças
formalistas, assumiu em tempos próximos o acinte de serviços
outros, como as diversas terapias em voga. Quando essas práticas
são introduzidas no centro, elas costumam ganhar as preferências
porque seus defensores são às vezes hábeis
em defendê-las e quase sempre esbarram com adeptos pouco esclarecidos,
medrosos de defenderem a posição doutrinária
ou que se submetem à pressão de amigos que não
desejam desgostar. Além do mais, essas práticas, chegando
com o rótulo da novidade, ferem mais às vistas e ao
sentimento.
Entre os prejuízos que elas provocam está o da descaracterização
doutrinária, que é mais profunda do que imaginam alguns.
As atividades estranhas provocam a colocação do estudo
doutrinário em plano secundário, tendo em vista que
é preciso dar a elas uma atenção sempre crescente.
Elas envolvem e exigem dos colaboradores e dirigentes o tempo que
é dispendido nas atividades normais. A conclusão é
que não havendo estudo doutrinário permanente e progressivo,
esquece-se em pouco tempo os aspectos primordiais da doutrina, os
quais vão assumindo paulatinamente menor importância,
até chegar um ponto em que os responsáveis pelo centro
nenhuma lembrança mais forte terão deles. Neste momento,
os valores invertem: o doutrinário dá lugar ao não-doutrinário
e este assume o comando de todas as atenções.
Os centros que chegam a esse ponto acabam por ver seus responsáveis
cada vez mais envolvidos com as preocupações do não-doutrinário,
inclusive na busca de justificativa para a posição
assumida.
Foi exatamente isso que ocorreu com a Casa do Caminho, quando foram
ali abolidos os comentários dos ensinos do Cristo e imposta
aos freqüentadores a circuncisão, como passaporte para
virem ao local. Voltou-se ao ponto anterior à vinda do Cristo.
Morreu naquele momento a razão de ser da Casa.
Para os que pensam que desse perigo não corre o Espiritismo
é bom lembrar que o assédio de doutrinas estranhas
aos centros é algo constante e permanente e a tomada de rumos
anti-doutrinários é muito mais fácil do que
a implantação de atividades compatíveis com
o espírito da Codificação.
Antes de ser espíritas os indivíduos são muitas
outras coisas. Ao aderir à doutrina, deparam com a necessidade
de longos anos de estudo e trabalho, para alcançar a plena
consciência espírita. O comum é que, no transcorrer
do tempo, o indivíduo interprete e pratique o Espiritismo
segundo deduções e conclusões parciais, quando
então se utiliza de conhecimentos arquivados em sua memória,
conhecimentos esses que podem ser mais ou menos de acordo com a
nova doutrina. É neste período que as intromissões
no centro mais acontecem.
As demais intromissões ficam por conta de sentimentos que
adornam os indivíduos. O orgulho e a vaidade são normalmente
a porta de entrada para a instalação de atividades
e situações contrárias à doutrina. Os
indivíduos adquirem certos conhecimentos, pelos quais se
encantam, vêem seus resultados, inconscientemente os medem
em relação aos alcançados no centro, notam-lhe
a aparente superioridade e os levam para dentro da casa. Há
no fundo uma boa intenção, mas essa atitude esconde
a falta de conhecimentos doutrinários seguros. Quando a atividade
de assistência espiritual estagna ou apresenta resultados
abaixo do ideal, de duas uma: falta estudo e preparo à equipe
ou esta não está imbuída dos propósitos
mínimos para a ação.
O que parece bastante enfático nos nossos dias é a
falta de conhecimentos adequados para a fluidoterapia. Um bom exemplo
para justificar essa colocação está em algumas
doutrinas orientais, onde o trabalho sobre a energia, feito sob
designações próprias, ganha larga aplicação
e, segundo consta, excelentes resultados. Ora, a doutrina mostra
que esta energia está disponível à ação
de qualquer criatura interessada no bem (ou no mal, diga-se de passagem),
sendo o mínimo exigível que o indivíduo tenha
boa vontade para utilizá-la. Curiosamente, portanto, doutrinas
outras, que sobre a energia só possuem informações
teóricas não lastreadas na ciência, acabam por
conseguir resultados melhores do que certos centros espíritas,
onde existe uma doutrina formulada com excelentes fundamentações
sobre a energia, além de ampla base científica. Como
a falta de conhecimento é o que parece fortalecer os fracos
resultados e a estagnação, surge então a aparência
de impropriedade de continuar apenas com os passes, em algumas casas,
evidenciando-se a oportunidade de introdução de terapias
outras.
A fluidoterapia não é algo pronto e acabado doutrinariamente.
É uma atividade que deve estar sempre em evolução,
como qualquer outra no centro espírita. Se estagna revela
também falta de atenção dos dirigentes. O seu
ponto de estagnação pode estar numa conduta mecanizada
que se estabelece ao longo dos anos. Ou seja, há certas casas
onde os freqüentadores são levados a se habituarem a
comparecer ao centro em determinado dia e hora, para ouvirem algumas
explicações doutrinárias e receberem um passe
rápido. Depois retornam aos seus lares.
A pergunta é: de que o passe lhes serviu? Que consciência
possuem da terapia? Por que buscaram o centro? Como ficam, semana
após semana, recebendo o passe? E os passistas, como se comportam
diante do seu próprio trabalho, semana após semana?
Qual é a idéia geral dos dirigentes em relação
à atividade em si?
Bem respondidas, estas questões podem revelar uma situação
carente de mudança e, como dizia Heráclito, nada é
permanente, senão a mudança. Os indivíduos
tendem, ao longo do tempo em que se habituam a uma situação,
a praticá-la mecanicamente, como o fazem os freqüentadores
das religiões formalistas. O hábito lhes embota o
raciocínio e sem este a razão de ser do que fazem
assume o seu valor mais formal. Os indivíduos acabam entregando
aos Espíritos a tarefa de lhes proteger e curar, e com isto
resolvem momentaneamente problemas conscienciais.
Viu-se em alguns locais enormes salões completamente lotados
em dias de passes, onde o povo chega, se acomoda e bem não
começa a ouvir o expositor, é convocado em filas a
se dirigir à fluidoterapia.
Após receber o passe, retira-se da casa. Há todo um
contexto propício à mecanização. O trabalho
de assistência espiritual com grande público é
ainda um desafio para os espíritas. A observação
demonstra que em casos semelhantes as pessoas não assumem
uma consciência ideal mínima do serviço que
lhe é prestado, do seu valor e oportunidade. Há casos
inúmeros de indivíduos que absolutamente não
precisariam da assistência, mas se tornaram habituais freqüentadores
da reunião.
Se estes indivíduos imaginarem que não podem deixar
de comparecer ao local no dia e hora aprazado, assumindo uma espécie
de compromisso religioso, teremos aí o nascimento do freqüentador
do banco, do adepto não esclarecido, à semelhança
de religiões outras.
Saberá o dirigente se este pensamento se passa na cabeça
de seus freqüentadores? Não se vê praticamente
nada em desenvolvimento neste sentido. Observa-se, isto sim, muitas
casas, mercê do bom envolvimento com indivíduos e colaboradores,
crescendo em espaço e número; vê-se contingentes
enormes de pessoas comparecendo assiduamente em determinados dias,
mas pouco se distingue em termos de trabalho que busque aclarar
o que se passa na mente dos freqüentadores. Eis aí um
mal das casas enormes, que seus dirigentes deveriam resolver, já
que lhes é inevitável o crescimento.
Nos centros espíritas pequenos, essas situações
não ocorrem porque a proximidade entre as pessoas torna a
situação clara; a convivência estabelece a intimidade
e por ela se sabe onde vai o conhecimento de cada um. Eis porque
Kardec opinou favoravelmente às casas menores.
O outro lado da moeda da assistência espiritual é o
comportamento do grupo que assiste os freqüentadores. A mecanização
aí é ainda mais prejudicial, quando acontece.
Os serviços do centro exigem qualidade e qualidade é
a palavra de ordem da nossa sociedade produtiva deste final de século
XX e começo do terceiro milênio. Não é
apenas pelos serviços que presta mas, essencialmente, pela
qualidade deles que os espíritas alcançam um grande
conceito na sociedade. E, reforçando o que disse anteriormente,
por serem gratuitos os serviços do centro, muito mais responsabilidade
têm os dirigentes em relação à qualidade
deles.
Na assistência social, a questão da qualidade assume
dois aspectos igualmente interessantes: seja qual for o tipo de
serviço aí desenvolvido, a sua qualidade aparecerá
no serviço em si, aos olhos da sociedade, e no esclarecimento
doutrinário aos assistidos, perante a doutrina. Explicando:
se o centro oferece uma simples sopa aos pobres, esta deve ser nutritiva,
ser servida quente e em quantidade adequada, entre outras coisas.
Uma sopa assim deixará o assistido satisfeito; mas este alimento
do corpo precisa ser complementado com o alimento do espírito.
Aí aparece o esclarecimento doutrinário, capaz de
tornar o assistido um ser humano digno. O esclarecimento doutrinário
é o complemento indispensável do serviço assistencial
e sua qualidade se refletirá ao longo do tempo, na formação
e crescimento dos assistidos.
O serviço social prestado pelos espíritas tem feito
do Espiritismo uma doutrina altamente respeitada no Brasil, mas
isso não nos impede de ver alguns aspectos falhos nesta atividade.
O primeiro deles diz respeito à prática do serviço
sem o devido complemento doutrinário. Isto ocorre numa escala
diversificada, que vai desde a simples doação de alimentos
e roupas e chega às vezes a instituições hospitalares
e assemelhadas.
Tudo começa quase sempre no centro espírita, fundado
sob os influxos dos ideais doutrinários e da inspiração
superior, onde seus primeiros trabalhadores fazem escrever no Estatuto
uma finalidade social de médio ou longo prazo como objetivo
complementar do grupo. Põem-se eles com afinco no encalço
do tal objetivo e o denodo, a dedicação e a coragem
os levam a alcançar o ideal. Eis quando começam as
grandes dores de cabeça para alguns. A prática da
doutrina em uma instituição maior se transforma em
desafio de toda ordem. Ora debatendo-se com leis esdrúxulas
e castradoras do atendimento espiritual, ora vendo-se de frente
com o preconceito de assistidos e familiares, ora, enfim, sentindo
a falta de um grupo de colaboradores que não preparou ao
longo do tempo, os dirigentes não raro acabam por abandonar
a necessidade da prática doutrinária na instituição
e optam pela continuidade do serviço social simplesmente.
Certa ocasião, amigos de um centro espírita erguido
com grande esforço a partir de uma casinha humilde, em cidade
próxima da capital paulista, nos procuraram para ouvir nossa
opinião sobre uma grande obra social em vista. O prefeito
havia garantido o terreno, os maçons dariam alguns recursos
financeiros e a possibilidade de conseguir outro tanto junto à
sociedade era enorme. Havia, porém, no grupo uma discordância
interna, gerada pelo receio de partir para uma grande obra. Aí
estava a dúvida.
Questionado pelas duas alas, não tivemos dúvida em
perguntar se o centro havia se preocupado em preparar um grupo de
trabalhadores para a futura obra social, a fim de dar a ela a orientação
doutrinária indispensável. Não, foi a resposta.
Não haviam pensado nisto. Então, esta deveria ser
uma preocupação, pois muitas obras nos meios espíritas
acabam se tornando apenas um serviço social comum por falta
de pessoas habilitadas a empregar a doutrina. Não é
preciso dizer que o grupo continuou dividido, pois a ala dos que
desejavam erguer uma obra gigantesca era feita de pessoas de grande
entusiasmo, que não aceitaram as nossas ponderações.
Porém, ao que sabemos, a obra idealizada não teve
ali seu início, o que não impediu ao grupo de continuar
realizando inúmeros serviços assistenciais à
população carente.
A aplicação da doutrina nos serviços sociais
do centro espírita é algo desafiador. Mesmo em atividades
menores e mais simples. Há casos em que a instituição
passa a vida inteira doando meritoriamente enxovais às gestantes
pobres, acrescidos de informações de higiene e saúde
de grande alcance, mas sem jamais oferecer-lhes informações
mínimas que sejam sobre a doutrina. Existem em inúmeras
cidades brasileiras belíssimos serviços prestados
por espíritas dedicados, como os conhecidos Albergues Noturnos,
em que as pessoas são recebidas, tomam banho, se alimentam,
deitam e dormem para saírem no dia seguinte da mesma forma
como entraram. Nada de Espiritismo.
Ninguém nega o mérito desses serviços, mas
o diferencial do trabalho assistencial espírita está
na Doutrina. Sem ela, esse trabalho se torna comum. Frente a inúmeras
atividades dessa natureza, o espírita não sabe muitas
vezes como unir a Doutrina ao serviço. E, por não
saberem, abrem mão dela. Há portanto que se estudar
conjuntamente com o preparo da obra as formas como a doutrina estará
ligada e, por que não, sobreposta a ela.
Não será difícil encontrarmos alguns Lares
de Idosos, exemplarmente dirigidos por espíritas, onde o
trabalho desenvolvido serve de modelo para a própria comunidade.
Mas no instante de oferecer a doutrina os dirigentes deixam uma
lacuna enorme, por lhes faltar o natural planejamento para tanto.
Da mesma forma como acontece em Albergues, Creches, Hospitais etc.,
nestes Lares a Doutrina acaba se tornando artigo raro. Como oferecer
doutrina em um Albergue Noturno, onde os indivíduos têm
estada breve, às vezes chegam alcoolizados e quando não
cansados de tanto andar? Como dar Espiritismo em Lares onde os idosos
são portadores das mais diversas deficiências físicas
provocadas pela idade?
As perguntas, no entanto, devem ser invertidas: como oferecer assistência
social em uma casa doutrinária? Sim, porque em uma obra social
espírita previamente planejada, a doutrina deveria ter sua
aplicação antecipadamente definida. A qualidade total
do serviço será sempre a somatória da qualidade
do trabalho doutrinário e do serviço social. Onde
houver apenas serviço social, sem nenhum demérito
para a obra, faltará a parte da doutrina e a qualidade será
insuficiente.
Deve-se ainda questionar o fato da duplicidade de serviços
em uma mesma localidade e o comportamento semelhante à concorrência,
que se pratica aqui e ali. Sempre que desejam instalar uma obra
social, os bons dirigentes haverão de questionar quanto à
sua oportunidade, uma vez que se observa não raro em algumas
localidades, entidades espíritas e não espíritas
realizando serviços de natureza idêntica, em duplicidade
desnecessária, enquanto outras parcelas de interesse ficam
desprovidas de assistência.
Isto quando não ocorre a chamada concorrência, isto
é, indivíduos se jogam na direção de
um trabalho assistencial movidos pelo desejo de apresentarem apenas
um serviço melhor que o do vizinho e não pelo ideal
da obra em si. Viu-se isto acontecer mais de uma vez e as conseqüências
acabam recaindo sobre os beneficiários da obra, pois não
são eles o objeto direto da ação dos indivíduos.
Ora, em Doutrina Espírita não cabe a idéia
de concorrência, senão em pessoas desprovidas de conhecimento
e prática, que se alimentam de egoísmo e vaidade.
Pomposas obras foram erguidas neste país para desmoronarem
não muito tempo depois, porque não tinham o sentido
da solidariedade humana e sim o interesse de concorrência
entre grupos e, no fundo, uma espécie de comércio
envolvendo os idealizadores e Deus: à semelhança das
religiões formais, os indivíduos ofereciam a Deus
a obra em troca da garantia de um futuro espiritual excelente. Pobre
ilusão!
Dirigentes inteligentes e sinceros em seus ideais observam sempre
a oportunidade do serviço social como um ponto de apoio para
a carência dos indivíduos necessitados e - também
- uma possibilidade de prática da doutrina para muitos freqüentadores.
E antes de decidirem pelo caminho a seguir, analisam a situação,
a fim de colaborar nas áreas mais vazias da sociedade. Mas
não assumem o serviço como salvação
para ninguém e sim como mais uma atividade voltada para a
elevação da dignidade humana.
Caracterizado como prestador de serviço, o centro espírita
tem à sua frente um longo caminho de preparação
e emprego de atividades inúmeras, sob a orientação
da Codificação. Como a mediunidade é ainda
hoje um forte motivador para a criação de centros,
os dirigentes têm nela um elemento gerador de inúmeros
serviços, como a doutrinação, a desobsessão,
as curas e outras, que se vão formando no rol de atividades.
Herculano Pires, no seu precioso livro O Centro Espírita,
lançado após o seu desencarne, afirma que curar
e educar são atividades do ser humano de todas as épocas
e, como tal, não poderia faltar nas atividades do centro.
Em termos de atividades mediúnicas, muitos mitos têm
sido criados ao longo do tempo, contrários ao bom senso e
ao ensinamento de O Livro dos Médiuns.
Eles resultam ora da má interpretação do pensamento
kardequiano, ora da má compreensão das opiniões
de Espíritos nas obras complementares. Esses mitos, com o
tempo, se transformam em tabus, lugares-comuns e acabam virando
lei para aqueles que pouco estudam. Eles vão desde afirmações
que colocam a mediunidade em plano secundário e pretendem
criar um Espiritismo sem Espíritos, até a negação
dos fenômenos como elementos importantes do contexto doutrinário.
O rol de fatos negados é bastante extenso e às vezes
encontra eco em instituições de peso no movimento,
cujos diretores assumem a defesa deles e lhes conferem ares de lei.
Com isto, os centros espíritas que lhe são afins acabam
seguindo suas orientações e aumentando a atuação
dos negativistas. Mas, seria tremenda injustiça afirmar que
apenas os dirigentes mais simples entram por este caminho. Temos
de convir que dirigentes aparentemente cultos e bem conceituados
acabam por seguir a linha negativista dos fenômenos e reforçam
a atuação deles, mesmo que aleguem razões diferentes
para seu comportamento.
Não faz muito tempo, desencadeou-se no país uma campanha
para trazer de volta os Espíritos para dentro dos centros,
tal era a força dos negativistas, que haviam conseguido quase
aboli-los em nome de um intelectualismo materialista. Isso fez com
que as forças contrabalançassem, mas a questão
jamais morreu. Pelo contrário, aqui e ali surgem fatos e
acontecimentos que servem para fazer ressurgir o negativismo mediúnico,
ameaçando a grandeza do centro. Ninguém vive sem os
Espíritos.
Não existem dois mundos: o material e o espiritual. Há
apenas um. Nele, a vida se entrelaça e se mistura. Quando
alguém se refere à vida espiritual, o mundo dos Espíritos
surge apenas como elemento didático, visando facilitar a
compreensão.
Conclusão
A consciência de que o centro espírita é uma
casa de serviços se completa com a definição
dos tipos de serviços e da prioridade de cada um deles. Assim,
podemos alinhar as atividades da seguinte forma e por ordem de importância:
1 - Atividades de ensino
Estudo da doutrina das diferentes formas, com
cursos regulares que introduzem o indivíduo no novo conhecimento
e posteriormente o levam a se desenvolver. É o mais importante
serviço que o centro pode prestar à sociedade. Deve
abranger toda as obras de Kardec, desde O Livro dos
Espíritos até a Revista
Espírita, nos 11 anos em que o Codificador
a dirigiu.
2 - Atividades assistenciais
Cura: aplicação da fluidoterapia,
com estudos de preparação e revisão constantes
por parte dos passistas, a fim de que os resultados sejam satisfatórios
e sempre progressistas. Combiná-la com atividades esclarecedoras
para os assistidos, como reuniões de estudos morais. Complementá-la
com atividades de desobsessão, para os casos que assim
o exijam.
Social: assistências nos seus diversos
tipos, necessidades e possibilidades do centro, combinadas com
outras de esclarecimento doutrinários. Nunca colocar a
obra social acima da atividade doutrinária.
3 - Atividades administrativas
Recepção: organizar um serviço
de recepção e orientação de novos
interessados na freqüência ao centro, de forma a conhecer
os seus desejos e poder encaminhá-los à atividade
que lhes for mais conveniente. Orientá-los sobre os objetivos
do centro e sua organização. Acompanhar os seus
passos até o momento que ele se integre ao grupo de trabalhadores
do centro.
Controles: manter arquivos, recibos e controles
contábeis. Dispor de papelaria impressa com dados do centro,
como nome, endereço completo, números de inscrições
e dias de reuniões. Organizar e controlar as atividades,
dias e horários. Outras.
4 - Atividades de comunicação
Criar sistema de comunicação interna e externa,
mantendo informado o seu público sobre atividades regulares
e extras. Estimular a leitura de jornais doutrinários.
5 - Atividades outras
Realizar atividades complementares da doutrina,
como reuniões mediúnicas diversas, palestras públicas,
clubes de livros, feiras de livros etc. Participar de encontros,
simpósios, congressos e outras atividades de troca de experiência.
* * *