Não será exagero
dizer que à imprensa espírita se deve, em boa parte,
a grande divulgação que o Espiritismo teve no Brasil.
Esse fenômeno foi verificado até mesmo na Europa, com
o lançamento da Revista Espírita por Allan Kardec
em 1858, apenas oito meses após a edição de
"O Livro de Espíritos". Com a Revista, a doutrina
ganhou um impulso incrível, para além daquilo que
o próprio Codificador poderia esperar. Pessoas de diversas
partes do continente europeu passaram a ter conhecimento dos fenômenos
e da filosofia que os explicava e a prova do interesse pela Revista
se mostra exatamente pelos sucessivos aumentos da sua tiragem, além
de sua longa vida (Kardec dirigiu-a por 11 anos, até seu
desencarne, após o que a Revista passou para as mãos
de Madame Allan Kardec e de P. G. Leymarie).
No Brasil, antes mesmo de qualquer livro doutrinário,
foi lançado um jornal - Echo d'Além Túmulo
- em Salvador, Bahia. Embora de vida efêmera, o Echo deu a
partida para uma sucessão interminável de outros veículos
noticiosos, fato que alcançou os nossos dias e promete prosseguir
pelo tempo futuro, uma vez que a importância do jornal espírita
é vista diariamente por todos aqueles que sentem e vivem
o ideal doutrinário.
Seria impossível, apesar das tentativas feitas,
enumerar ou nomear todos os veículos espíritas existentes
no país. Com certeza, os de circulação regular
ultrapassam a uma centena e se pudéssemos contar os boletins
e os veículos não periódicos chegaríamos
a um número surpreendente.
Ao longo de quase século e meio, muitos homens
sentiram de uma maneira ou de outra a importância de poder
ter um veículo nas mãos. O alfaiate Augusto Elias
da Silva fundou, em 1883 "O Reformador",
que a FEB passou a editar e o faz até hoje; São Paulo,
terra onde o espírito do progresso se fez presente fortemente,
viu um Antônio Gonçalves da Silva "Batuíra"
criar o "Verdade e Luz"
também no século passado e distribuí-lo, lépido
como a ave que lhe emprestou o apelido, de casa em casa, e até
na famosa Faculdade de Direito do Largo São Francisco na
ânsia de tornar conhecida a Doutrina codificada na França.
Cairbar Schutel seguiria seus passos e acabaria
por editar um jornal (1905) - "O Clarim" -
e uma revista (1925) - "Revista
Internacional de Espiritismo" - para desbravar
a selva da ignorância alimentada pelo clero dominante. Schutel,
residente na então inexpressiva Matão, chegaria a
distribuir o seu jornal na porta dos cemitérios, em época
de finados, tal a sua visão da importância do veículo.
As coisas não parariam ai. O Brasil inteiro
via crescer vertiginosamente o número de folhas doutrinárias
e todos, absolutamente todos os homens imbuídos do propósito
de editar jornais espíritas eram criaturas nascidas dentro
de centros espíritas. Eis aí um fato importante. À
proporção do surgimento de jornais doutrinários
só não era maior que a da criação de
centros espíritas, pois estes espoucavam em todas as partes.
Mas os jornais apareciam como ferramentas indispensáveis
para a disseminação das novas idéias.
Estima-se que hoje, apenas no Estado de São
Paulo, exista cerca de dois mil centros espíritas. Calculando-se
à média de 500 pessoas por centro, chega-se a um número
considerável de freqüentadores: mais ou menos um milhão
de criaturas. Isso significa que existe um milhão de leitores
em potencial no Estado. Significa, também, que a imprensa
espírita teria que editar no mínimo 350 mil exemplares
por mês para suprir a demanda existente, uma vez que estatisticamente
cada jornal é lido por três pessoas.
Vejamos se os números da imprensa espírita
conferem com essa realidade. O primeiro dado já mostra uma
deficiência existente em nosso estado: cerca de 30 veículos
(jornais e revistas) periódicos que, juntos, somam mais ou
menos 80 mil exemplares por mês. Ocorre que cerca de 40% destes
exemplares se destinam a leitores fora do Estado: outros 20% vão
para um mesmo leitor, ou seja, há pessoas que lêem
mais de um jornal por mês: 10% é a taxa de encalhe,
jornais que deixam de ser lidos por falta de leitores ou por deficiência
de distribuição. Chegamos a um número definitivo
(sem considerar os jornais que são lidos por pessoas não
espíritas): apenas 30% dos veículos alcançam
os leitores. Temos, assim:
Exemplares editados - 80.000
Lidos fora do Estado - 32.000
Lidos pelo mesmo leitor - 16.000
Encalhe - 8.000
Efetivamente lidos - 24.000
Sobre estes números poderemos raciocinar
da seguinte forma:
Freqüentadores regulares de Centro Espírita
- 1.000.000.
Leitores: - 72.000.
Não lêem jornais - 928.000.
Estatisticamente cada exemplar de jornal é
lido por três pessoas em média. Se, efetivamente apenas
24 mil exemplares dos jornais editados em São Paulo ficam
no Estado, temos 72 mil pessoas que lêem esses jornais. Os
demais não lêem nada. Na verdade esses números
são hipotéticos, podendo sofrer variação,
porém, mesmo que isto aconteça, a variação
não deverá ser expressiva.
O que fazer para melhorar o nível
de leitura dos jornais? A resposta para essa pergunta é
a chave da questão. Diversas possibilidades podem ser agrupadas
aqui, como favoráveis ao aumento do número de leitores.
Ao longo do tempo, por exemplo, se verificou que muitos dirigentes
de centros deixam nas gavetas os jornais que recebem gratuitamente.
Isso significa que eles não lêem e não incentivam
a leitura pelos freqüentadores. Parece significativo, também
que a melhoria do nível de leitura tende a passar pelo centro
espírita, assim como qualquer questão que envolva
a coletividade espírita. Tudo se resume em uma tomada de
consciência para o assunto, ou seja, deve-se verificar que,
na época em que vivemos, a informação é
vital para o ser humano. O jornalismo espírita é o
canal capaz de levar ao adepto a informação que pode
colocá-lo a par dos horizontes espíritas.
A contrapartida disto deve vir dos próprios
veículos. Não se pode desconsiderar que a nossa imprensa
ainda possui suas falhas, responsáveis por uma parcela do
reduzido número de leitores. Melhorar a qualidade do jornalismo
espírita implica em contribuir para a melhoria do nível
de leitura. Mas essa melhoria não deve ser considerada apenas
de caráter estético ou técnico, mas principalmente
de conteúdo, ou seja, o jornalismo espírita deve ampliar
sua capacidade de informar sobre os fatos e a doutrina, de modo
a colaborar com o leitor em sua consciência crítica.
Isto se consegue através da melhor compreensão dos
objetivos do jornal e do modo como o jornal deve ser produzido.