“É, pois, necessária
a união da Inteligência e da moralidade para haver legítima
preponderância, a que a massa se submeterá, confiada
em suas luzes. Esta será a última aristocracia, sinal
do advento do reino do bem na Terra”. Esta previsão é
da Allan Kardec e está contida em Obras Póstumas. Apesar
de haver mais de um século que foi feita, pode-se notar que
a oportunidade do brasileiro ser dirigido por uma aristocracia intelecto-moral,
resultado da união da inteligência com a moralidade,
como quis o Codificador, está ainda bastante distante. Desejar
estar sob a direção de homens inteligentes e moralizados
é ainda um sonho nos nossos dias.
No entanto, as eleições estão aí. A cada
dois anos os cidadãos deste País se encontram diante
da oportunidade de votar e renovar, manter, modificar, fortalecer
ou excluir políticos. E o quem tem a ver o espírita
com isso? E a casa espírita, como se porta nestes instantes
graves? Ambos, diríamos, com naturalidade e participação,
guardados os limites de cada um.
Para que serve o cidadão espírita, se não for
para participar ativamente da sociedade e ajudar a transformá-la
para melhor? Ora, o Espiritismo não cria parasitas, homens
inertes, para que se portem alheios ao que se passa em seu redor.
Pelo contrário, a Doutrina Espírita os quer participativos,
integrados ao meio, agentes do bem social. Assim sendo, sua ação
neste momento quem que o povo deve ir às urnas é tão
necessária quanto a de qualquer outro cidadão.
O que se espera de um cidadão espírita é um comportamento
diferenciado, onde prepondere a inteligência e a moral, seja
ele um cidadão comum seja um candidato a cargo público.
No momento do voto, pela inteligência saberá discernir
entre os enganadores e interesseiros e os políticos sérios,
bem intencionados e corajosos o bastante par pôr em prática
seus projetos. Se candidato, seu comportamento será o de um
homem que conhece seus limites, que não faz promessas vãs,
impossíveis. Mas, que, conhecendo a realidade social e sem
interesses outros que não sejam trabalhar, para o povo, se
coloca à disposição para ocupar os cargos a que
se candidata.
A presença da casa espírita neste contexto é,
de certa forma, um pouco diferente. O seus horizontes lhe indicam
que deve participar, de um lado, e ter cautela, de outro. Participar
através da orientação clara, segura, aos seus
frequentadores, de modo a oferecer-lhes condições de
raciocinar sobre as questões políticas e poder decidir.
Não se trata de mandar votar neste ou naquele, isto é
óbvio, mas de ensinar a usar a razão para votar bem
e certo, de acordo com a consciência.
A cautela advém de determinados “perigos”. E dois
deles se apresentam como os mais próximos: o uso da casa espírita
como palanque e o engajamento político-partidário. Ambos
inadmissíveis. Mas que não se confundam as coisas. Cautela
não é proibição pura e simples da abordagem
de assuntos políticos, mesmo porque quando a proibição
impera, impera também a irresponsabilidade, a fuga do compromisso
de orientar e bem o frequentador. Cautela é uma ação
equilibrada que impede o estabelecimento de compromissos inconvenientes.
Muitos políticos e até falsos espíritas vão
atrás das casas espíritas para obter seu apoio, muitas
vezes em troca de favores, com a promessa de conseguir terrenos, prédios
públicos e outros. A única coisa que exigem é
que a casa lhe abra as portas para que eles exponham aos frequentadores
o seu pensamento. Em primeiro lugar, ninguém pode garantir
o cumprimento dessas promessas de campanha; em segundo lugar, tal
atitude é totalmente imoral. Dar guarida a este tipo de candidato
é contribuir para a manutenção do “status
quo”, da política de interesses particulares, em detrimento
da vinda da aristocracia intelecto-moral preconizada por Kardec.
Por outro lado, há que se separar a participação
de certos dirigentes, que, tendo em vista sua presença –
muito justa – em determinados partidos políticos, muitas
vezes confundem as coisas e querem transformar o seu centro espírita
numa extensão do partido. Nem uma coisa nem outra pode acontecer,
ou seja, nem o partido político pode ser transformado em centro
espírita nem o centro em partido. Cada um tem sua função.
Cada cidadão espírita tem o direito de agir socialmente
da forma como lhe convier e de se filiar ao partido de seu interesse.
Caso queira – e isto é aconselhável quando possui
vocação – pode se candidatar aos cargos públicos.
Mesmo porque, se souber se comportar como ensina o Espiritismo, muito
terá para ajudar, a melhorar as nossas instituições
políticas. Só não pode e não deve é
usar o movimento espírita para alcançar objetivos políticos.
A ação política séria não acena
com favores. Em sã consciência, ninguém vota em
determinado político na esperança de obter dele favores
pessoais. Esse tipo de política só interessa aos grupos
dominadores, que não se importam com as condições
miseráveis em que vive o nosso povo. Expressa, quando acontece,
o egoísmo particular. É condenável a nível
de pensamento espírita.
A união de casas espíritas com partidos políticos
traz graves desvios. Em primeiro lugar, por levar para dentro de casa
a discussão em torno de interesses políticos, com a
intenção de alguns dominar o voto de outros. Isto gera
a eliminação da liberdade de opção que
cada pessoa possui. A tendência será de criação
de um clima de confusão totalmente prejudicial aos desígnios
maiores da casa.
Por isso mesmo a casa espírita é apartidária.
A política alie pode servir de estudo como tema amplo, geral,
sem entrar no mérito dos interesses classistas, de grupos como
meio de forçar a que todos tenham visão única
das coisas. Como a política faz parte da vida do cidadão
e da sociedade, consequentemente, deve ser preocupação
de tantos quantos se dedicam a criar a sociedade justa e de paz. E
entre estes se encontra a cada espírita.
A questão, portanto, parece clara. Espiritismo e política
partidária são coisas que não se misturam. Espiritismo
e política, esta no sentido amplo, são temas que se
tocam e influenciam. É bom pensar