
Nazareno Tourinho em primeiro plano
A mensagem da página do Facebook
que comunica a desencarnação da médium Zíbia
Gasparetto dias atrás é de uma leveza encantadora.
Dir-se-á muito de acordo com o que ensina o espiritismo.
Dispensa a velha terminologia plena de tristezas, melancolia, pesares
e apenas informa a partida do espírito que trocou um estágio
por outro, sem desaparecer.
Eis: "Zíbia Gasparetto,
92 anos, completou hoje sua missão entre nós e parte
para uma nova etapa ao lado de seus guias espirituais, deixando
uma legião de fãs, amigos e familiares, que foram
tocadas por sua graça, delicadeza e por suas palavras sábias".
Esse legado será eterno e os conhecimentos de Zíbia
sobre as relações humanas e espirituais serão
transmitidos por muitas e muitas gerações. Ela segue
em paz ao plano espiritual, olhando por todos nós"
A vida inteligente na Terra é
uma contínua história de partidas e chegadas, idas
e vindas. Espíritos que concluem sua jornada e espíritas
que a iniciam, numa alternância permanente. Daí o nascimento
e a morte como fenômenos sucessivos. Quando do nascimento
em novo corpo físico, os vivos se enchem de júbilo;
quando do nascimento no corpo espiritual, os vivos invisíveis
cantam a alegria. Nada de tristeza, amargura e dor.
Nazareno Tourinho partiu na sexta-feira,
19/10/2018. Encerrou seu ciclo reencarnatório iniciado em
1934 na cidade de Belém, capital do Pará. Tinha, pois,
84 anos incompletos. Conheci-o pessoalmente em 1980, em Santos,
numa das prévias do Congresso Brasileiro de Jornalistas e
Escritores Espíritas. Até então, havíamos
apenas trocado correspondências em virtude de artigos que
Nazareno escrevia para o jornal Correio Fraterno do ABC, do qual
fazíamos parte.
Das relações estabelecidas
naquela ocasião surgiu, de imediato, o compromisso de publicar
o primeiro livro de Nazareno pelo selo Correio Fraterno, de título
A ética espírita sem misticismo. Já
bastante conhecido, então, em todo o território nacional,
por suas atividades doutrinárias e pelo sucesso de suas peças
teatrais de fundo social, passaria ele a ter uma presença
maior junto ao Correio Fraterno do ABC. Era parceiro em um livro
do inesquecível Carlos Imbassahy, O poder oculto da mente,
e por Carlos nutriu uma grande admiração em toda a
sua trajetória espírita.
Em 1982, durante o XVIII Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores
Espíritas, em Salvador, BA, Nazareno tomou conhecimento das
atividades mediúnicas de Edson Queiroz e a partir de então
iniciou um trabalho de pesquisas que culminou com o livro Edson
Queiroz, o novo Arigó dos espíritos. Ao crescer
um movimento de combate ao médium, nos meios espíritas
e fora dele, Nazareno não titubeou em defender o médico-médium
pernambucano, participando, inclusive, de debates na TV brasileira
(leia
aqui).
Nazareno estava presente nos principais eventos
e instituições de destaque nos meios espíritas,
sem abandonar suas atuações nos meios sociais, especialmente
junto às reivindicações dos excluídos.
Sua política era explícita: centro-esquerda. As elites
dirigentes tradicionais sempre encontraram nele um opositor. Após
o golpe militar de 1964, foi perseguido por suas peças teatrais,
sempre de cunho popular, tendo, inclusive, sofrido a mão
pesada da ditadura.
Nazareno Tourinho estava sempre
aberto ao diálogo e nesse terreno era um hábil negociador.
Em 1982, como membro do Conselho da Associação Brasileira
de Jornalistas e Escritores Espíritas, deu início
a um movimento para que os quadros dirigentes dessa instituição
contemplassem membros do Estado de São Paulo, pois não
lhe parecia inteligente que o maior Estado da federação
não estivesse ali presente. Obteve sucesso nessa empreitada.
Em 1984, aceitou o desafio de escrever
uma peça espírita para o IX Congresso Brasileiro de
Jornalistas e Escritores Espíritas, a realizar-se dali dois
anos. Embora autor de peças premiadas no Brasil e fora dele
– e de ter uma convicção espírita inabalável
– Nazareno Tourinho jamais havia vinculado a doutrina às
suas atividades de dramaturgo até aquele momento. Daí
surgiu A estranha loucura de Lorena Martinez, que no congresso
foi apresentada no formato de leitura dramática, sob a direção
de Hamilton Saraiva. A peça foi, posteriormente, publicada
em formato de livro.
Escreveu em diversos jornais espíritas, inclusive na revista
Reformador, da FEB, mas quando a questão Roustaing voltou
a ser uma ideologia perigosa para os postulados espíritas,
combateu com veemência as suas ideias através de uma
série de artigos publicados no Correio Fraterno do ABC. Logo
depois, os artigos foram reunidos em um livro de título
Retalhos de um atalho – respostas a roustainguista febiano.
Nazareno Tourinho sabia como poucos os caminhos
para o desenvolvimento mediúnico. Por suas mãos passaram
inúmeros médiuns de grande potencial. Aplicava a técnica
que consistia no desbloqueio das resistências com o uso do
magnetismo e uma vez o médium se sentisse seguro, passava
a atuar com liberdade. Sua casa espírita e por muitos lugares
onde passou não tinham dificuldades para contar com médiuns
diversos. Curas, desobsessão, assistência espiritual,
todos esses tipos mediúnicos tinham emprego permanente.
Em 1961, teve lançado o primeiro
livro reunindo suas peças teatrais, sob o selo da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Em 1914, após estudo e pesquisa
de um doutorando e sua orientadora, da mesma Universidade, foi publicado
outro livro sobre as peças de Nazareno Tourinho, reunindo
14 delas. Uma das peças mais encenadas em todos os tempos
tem por título “Nó de quatro pernas”.
Fez parte da Academia Paraense de
Letras desde o ano de 1969.
O jornal O Liberal, de Belém
do Pará, estampou a notícia sobre a partida para o
mundo espiritual de Nazareno Tourinho, conforme recorte abaixo.
