Não sou contra a Umbanda, muito menos contra os espíritos
que nela laboram. Penso que lá, tal como no seio espírita,
existem os que são esclarecidos e outros em condição
mediana, que dão daquilo que tem, embora ainda bastante limitados
em seus conhecimentos e na apreensão da realidade espiritual.
Durante muito tempo, até
os 13 anos de idade, convivi em meio às práticas de
Umbanda e de Candomblé. Acompanhava meu pai em suas muitas
visitas a diversas casas, em sua busca por respostas a uma série
de questionamentos, e vi, com meus próprios olhos, fenômenos
e prodígios de arrepiar muita gente.
Conversei com caboclos e pretos-velhos;
ouvi verdades e conselhos que muito me auxiliaram; tomei banhos,
provei beberagens, degustei pratos e muito aprendi durante todos
aqueles anos de convivência produtiva; convivência,
aliás, que em muito me preparou para o trato natural com
a mediunidade, na seara espírita.
Até os dias de hoje, sou
acompanhado por um espírito, que se apresenta como um “preto-velho”,
cuja simpatia foi conquistada naqueles tempos e que prossegue até
os dias de hoje.
Faço esse preâmbulo
ao meu texto com a única finalidade de dizer que não
sou contra a Umbanda, o Candomblé ou qualquer outra manifestação
religiosa que encerre, no seu culto, práticas mediúnicas.
Ao contrário, entendo e reconheço seu valor, acreditando
que são formas válidas de crença e que trazem
uma filosofia de vida que muito ensina aos seus adeptos.
Entretanto, a par do meu respeito
e da minha admiração pela Umbanda, não posso,
também, negar que, a partir dos 13 anos de idade, fiz a opção
de abraçar o Espiritismo. Tal opção descortinou,
para mim, a compreensão daqueles fenômenos que tão
moleque presenciei e de outros tantos que não conhecia.
Entendi que a prática espírita,
ou melhor, a prática mediúnica espírita, é
destituída de amuletos, velas, ídolos ou objetos externos
de adoração. Sendo, todos eles, recursos para canalizar
o pensamento em busca das energias que se quer mobilizar, vamos
aprendendo a utilizar a prece e a concentração nesse
objetivo, sem o recurso a cultos exteriores.
Aprendi, também, que banhos
e queima de pólvoras, conquanto possam trazer bem estar e
surtir um efeito agradável sobre a mente e as emoções,
não nos “limpam” de nossas verdadeiras impurezas.
Se a “sujeira” está na alma e é de fundo
moral, somente a higiene moral, surgida com a “transformação
moral e os esforços para domar as más inclinações”,
será capaz de libertar e proteger os indivíduos das
“más influências”
Nela, na prática mediúnica
espírita, não há gurus ou algo parecido, devendo,
cada colaboração, ser considerada como válida
e igualmente apta para nos ensinar sobre a verdade. Assim, não
temos “pais” nem “mães”, “sacerdotes”
ou “sacerdotisas”, “irmãos” ou “irmãs”,
mas tão somente colaboradores que abraçam a tarefa
mediúnica a fim de auxiliar, à medida que auxiliam
a si mesmos.
Os espíritos que se comunicam,
na prática mediúnica espírita, não são
deuses ou seres angelicais, demônios ou santos, mas tão
somente “homens sem os corpos”, pessoas que deixaram
a vida física e, agora na realidade espiritual, retornam
para compartilhar suas experiências e ensinamentos. Podem
ser cultos ou incultos, sábios ou ignorantes, predominantemente
bons ou maus, conforme suas peculiaridades, e devem ser tratados
com respeito e bom senso.
Considerando que espírito,
em sua realidade intrínseca, não tem cor, sexo ou
idade, pouco importa se são brancos, pretos ou amarelos;
homens ou mulheres; velhos ou novos – todos são iguais
aos olhos de Deus, devendo ser acolhidos, amados e respeitados em
sua singularidade.
Contudo, assim como, em nossa residência,
alguém que nos visite e nela se hospede deverá, nada
obstante seus hábitos e costumes, adaptar-se aos costumes,
hábitos e regras de quem hospeda, também nós,
em nossa prática mediúnica espírita, deveremos
prezar pelos princípios e orientações ensinados
pelo Espiritismo, esclarecendo a este ou àquele espírito
quais são os critérios de colaboração
e assistência daquele grupo.
Pouco importa quem seja o espírito!
Se foi um padre e deseja rezar uma missa, que o faça em uma
Igreja Católica, inspirando um padre, mas não no Centro
Espírita! Se foi protestante e almeja pelo seu culto específico,
que se dirija a um templo protestante e se reúna aos de pensamento
semelhante! Se se trata de um espírito vinculado à
Umbanda, pretendendo receitar banhos, limpezas, velas e práticas
semelhantes, que se acerque dos Centros de Umbanda, onde encontrarão
o ambiente específico para suas habilidades! Se quiserem,
porém, colaborar nas Casas Espíritas, deverão
se ajustar à proposta e aos critérios nelas adotados,
à luz das lições de Kardec, com todas as suas
peculiaridades e ensinamentos.
Voltando a minha experiência
pessoal. Quando, na prática mediúnica espírita,
identifiquei a presença do preto-velho que se vinculou a
mim desde os tempos da Umbanda, fiz-lhe a seguinte proposta: “poderemos
trabalhar juntos, desde que o amigo aceite os critérios apresentados
pelo Espiritismo”. Como ele aceitou, seguimos, há quase
20 anos, numa parceria mediúnica profícua e de muito
aprendizado recíproco.
Não se trata, volto a dizer,
de qualquer tipo de discriminação. Também não
emito qualquer juízo de valor, dizendo que este é
bom ou aquele é ruim. Tampouco é um ato de intolerância
religiosa, ou mesmo de “coro à desunião”.
Seremos, sempre, todos unidos no desejo de fazer o Bem, embora por
caminhos distintos. Como tudo é uma questão de opção,
que cada coisa seja colocada no seu devido lugar e cada um busque
a prática e a vivência com que melhor se identifique.
Nem devemos “espiritizar”
a Umbanda, nem devemos “umbandizar” o Espiritismo!