Pedro
Camilo
> Chico Xavier, sua sexualidade e sua possível reencarnação
como Kardec
Um dia desses, recebi de um amigo
um pedido de opinião sobre fala proferida numa live
a respeito de determinado aspecto da personalidade/intimidade de Chico
Xavier. A pessoa que conduzia a transmissão, quando questionada
sobre sua opinião quanto à possível reencarnação
de Allan Kardec como Chico Xavier, usou, como um de seus argumentos
contrários à tese, sua opinião sobre a sexualidade
do médium. Segundo dizia, “Chico era homossexual”,
e isso, juntamente com outros argumentos, indicaria que um não
poderia ser o outro.
Para além da polêmica sobre Kardec/Chico (e já
adianto que, conquanto reconheça bons argumentos pró
e contra, não tenho pensamento definido sobre o assunto; e,
parodiando Caetano Veloso, “fino menino me inclino pro lado
do não”), a questão do meu amigo era: “Você
acha que Chico era homossexual?”
Respondi ao meu amigo que não sei e não me interessa
saber. O que cada pessoa é na sua intimidade, sobretudo no
que toca à sexualidade, é problema exclusivo dela, e
de mais ninguém. E ser ou não ser homossexual; ser ou
não ser heterossexual; ser ou não ser bissexual; ser
ou não ser assexuado em nada interfere no que cada indivíduo
é enquanto pessoa e enquanto ser espiritual. Dito de outra
forma: a orientação sexual não guarda qualquer
relação direta com a elevação ou a “rebaixação”
espiritual de quem quer que seja.
E exatamente por isso, convidei meu amigo para as seguintes reflexões:
por que pretender “desqualificar” o Chico ou qualquer
outro indivíduo em função de sua orientação
sexual? Ainda que o médium mineiro se tenha orientado sexualmente
conforme dito na live, por que usar esse dado de forma pejorativa?
Por que o desejo sexual dos indivíduos tem de ser estanque,
nas suas várias experiências reencarnatórias,
se, em cada vida, a formação da nova personalidade também
é influenciada pelo meio e pelos novos estímulos a que
se expõe?
Dizer que o Chico era homossexual por ser uma alma doce, terna e,
porque não dizer, feminina, é confundir duas esferas
que não se imbricam, necessariamente: gênero (identidade
e expressão) e desejo (orientação sexual). E
o que isso tem a ver com a possibilidade ou não de ele ser
Allan Kardec reencarnado? Respondo: nada!
É estranho ouvir coisas assim, sobretudo de quem pretende defender
pensamentos de vanguarda. São ideias que traem um “sabor”
homofóbico e que indicam como o nosso olhar ainda está
contaminado pelo preconceito e pelo desconhecimento de causa.
Precisamos ser mais sóbrios e menos apaixonados na defesa de
certas ideias. E, além disso, ser justos e precisos.
Que cada um defenda que o Chico é ou não é Kardec,
mas que o faça pelos motivos certos. E falar de forma apressada
de uma suposta homossexualidade como fator depreciativo e indicativo
da não identidade não é, por certo, dos melhores
argumentos – se é que é possível considerá-lo,
em qualquer cenário, um argumento de fato, um verdadeiro argumento.
Pedro Camilo
(Salvador/BA)
Pedro Camilo de Figueirêdo é
doutorando em Estudos Contemporâneos pela Universidade de
Coimbra, mestre em Direito Público e professor universitário.
Expositor espírita desde os 16 anos, já proferiu palestras
e seminários em diversas cidades do Brasil e em Portugal.
Entre livros espíritas, jurídicos, antologias poéticas
e obras organizadas, já publicou e participou de mais de
30 livros, além de contribuir com artigos para diversos periódicos
espíritas. No trabalho como editor, é responsável
pelas publicações da Editora Mente Aberta e da Lachâtre.
Tem pesquisado, há mais de 20 anos, a vida e a obra da médium
Yvonne do Amaral Pereira, sobre quem já publicou 5 (cinco)
livros.
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