Ainda muito novo, com 13 anos de
idade, conheci e apaixonei-me pelo Espiritismo. E para quem diz
que paixão é coisa que não passa de dois anos,
afirmo que a minha já dura quase 19 anos...
Muitos motivos eu tenho para manter,
viva e acesa, essa paixão, sobretudo graças ao trabalho
e à vida de alguns espíritas notáveis, tal
o próprio Allan Kardec, Yvonne Pereira, Chico Xavier, José
Herculano Pires e Lamartine Palhano Júnior, para citar alguns.
E, claro, não poderia ficar de fora dessa lista o nome singular
de Hermínio Corrêa de Miranda.
Assim que ingressei na prática
mediúnica, em maio de 1995, graças ao afloramento
mediúnico, fiz de Diálogo com as sombras um livro
de cabeceira. Anos mais tarde, vim a saber, pelo próprio
Hermínio, que essa obra era considerada, por Yvonne Pereira,
“o livro que Kardec não escreveu”. Yvonne sabia
das coisas, e como sabia!
Após descobrir o Diálogos...,
outros “diálogos” vieram parar em minhas mãos,
nos livros Histórias que os espíritos contaram e A
dama do Vizir, em que pude aprender com ele a arte de conversar
com os espíritos, também despertando em mim o vivo
interesse pela pesquisa espírita, que ele tão bem
soube empreender.
A partir daí, muito fui aprendendo
com seus livros, com sua seriedade e sua escrita fácil e
criteriosa, que encantam a quantos o leem.
Em 1999, quando Yvonne surgiu para
mim e decidi pesquisar sua vida, o que resultou nos estudos iniciados
com Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa, troquei algumas
cartas com Hermínio. Descobri que foram amigos graças
ao livro Cânticos do coração, de autoria da
médium e cujo prefácio é do nosso escriba (era
assim que Hermínio gostava de referir a si próprio).
Aliás, foi esse livro que me ajudou a constatar que era,
de fato, Yvonne o espírito que estava por perto... Mas esta
é uma história que conto outro dia, em outro texto.
Voltemos a Hermínio. Sabendo
da amizade de ambos, aproveitei da presença de alguns confrades
no Congresso Espírita que aconteceu na Bahia, no mês
de abril daquele 1999, para tentar colher informações.
Dentre muitos, Suely Caldas Schubert foi procurada, afirmando que
não conhecera Yvonne pessoalmente e que poderia, caso eu
quisesse, fornecer o endereço de Hermínio, para troca
de correspondência. Não só aceitei, como telefonei
para ela, na semana imediata, obtendo aquela “senha”
para um contato que foi tão grato e importante para mim.
Com muita presteza, Hermínio
respondeu às minhas cartas, em estilo leve, descontraído
e simpático, com informações que enriqueceram
as pesquisas e que se encontram registradas no meu primeiro livro.
Anos depois, em julho de 2003, remeti
a obra, já publicada, para sua apreciação,
dele recebendo preciosa carta de agradecimento, em que acusava ter
gostado da leitura, estimulando-me a prosseguir na tarefa abraçada.
* * *
Em janeiro de 2006, a escritora
Lygia Barbieri do Amaral, radicada em Caxambu, convidou-me para
proferir palestra naquela cidade e em outras da região. Era
a primeira vez que eu visitava Minas Gerais, e transbordava de alegria
pela oportunidade.
Antes de viajar, Lygia revelara
que Hermínio possuía uma casa em Caxambu. “Ele
costuma passar o outono e o inverno no Rio, enquanto fica por aqui
na primavera e no verão”, afirmava Lygia, completando:
“quem sabe você não consegue visitá-lo?”?
Com essa esperança, fui para
a jornada de palestras, num final de semana. Quando chegamos à
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006, dia em que iria para São
Lourenço e, de lá, para o Rio de Janeiro, enchi-me
de coragem e liguei para Hermínio. Estava completamente desestimulado,
pois não foram poucos os que me disseram ser ele muito ocupado
e que, por conta da sua natural timidez, não costumava receber
pessoas em casa.
Apesar dos pesares, telefonei. Uma
voz feminina atendeu. Apresentei-me e pedi para falar com ele, que
logo foi chamado e atendeu. Que emoção! Eu não
passava de um jovem, ousado e sonhador, desejando avistar-me com
alguém que era uma grande referência para mim!
Falamos por alguns minutos ao telefone.
Disse-lhe que estava na cidade e desejava visitá-lo, não
somente para conhecê-lo de perto, agradecendo pela ajuda com
o livro, bem como para ouvi-lo sobre Deolindo Amorim, sobre quem
eu estava pesquisando. Hermínio e Deolindo foram amigos durante
anos.
Para minha surpresa, Hermínio
disse um “passe aqui pela tarde”, assim, com toda simplicidade
e naturalidade. E eu, sem pensar duas vezes, passei...
Cheguei lá por volta das
15h. Às 17h, os confrades me conduziriam a São Lourenço.
Que dizer daquelas duas horas de
conversa? Falamos de muitas coisas: de sua vida, de sua obra, da
vida e da obra de Deolindo, do Movimento Espírita... Pude
ouvi-lo, com os ouvidos e o gravador bem atentos, até o último
momento, aproveitando sua grande simpatia e seu encantamento. Ele,
que sempre se furtava a palestras públicas por afirmar não
ser bom com a palavra falada, era, na verdade, um excelente comunicador
oral, pois o seu carisma e sua vivacidade prendiam o interlocutor
de forma impressionante!
Saí dali extremamente agradecido,
a Deus e a Hermínio, por uma tarde tão agradável!
* * *
Em meados de 2011, cheguei a casa
no final da tarde. Como de hábito, abri o notebook e consultei
meus e-mails. Em meio a tantas mensagens, uma de Izabel Vitusso,
a querida amiga, responsável pela Editora Correio Fraterno.
Consultando o conteúdo da
mensagem, meus olhos ficaram fixos e, durante algum tempo, não
tive palavras. Minha esposa, no sofá, acompanhava a cena,
entre preocupada e curiosa, perguntando o que acontecera. Passados
alguns minutos, tive coragem de dizer: era o convite para prefaciar
a obra "O que é fenômeno anímico",
de Hermínio Miranda, que a Correio Fraterno publicaria até
o final do ano.
- Como “eu” vou prefaciar
um livro de Hermínio? – perguntava a Alana, entre surpreso
e descrente. – No máximo, seu sempre sonhei em ter
um livro prefaciado por ele. Mas eu prefaciá-lo? Com que
direito?
Apresentei o mesmo questionamento
a Izabel, tentando declinar do convite, mas fui peremptoriamente
impedido por ela e Eliana Hadad, que insistiam, lembrando a minha
pesquisa – ainda em andamento – sobre o animismo e os
fenômenos anímicos.
Fiz o prefácio como preito
de amizade, gratidão e reconhecimento. Hermínio era
um homem simples, sábio e humilde, cuja grandeza dispensa
homenagens e louvaminhas. Por isso, não ousei violar sua
timidez e seu jeito de ser.
Em maio de 2012, ele, em um ato
de extrema gentileza, embora já com a saúde abalada
e sem muitas condições de trabalho, deu-me as linhas
do prefácio do meu "Mediunidade: para entender e refletir".
Após o texto que consta no livro, Hermínio ainda escreveu,
para mim e para Izabel, que lia o e-mail em cópia, as seguintes
palavras, recheadas de bom humor, modéstia e jovialidade:
< Pedro Camilo e Izabel
Vitusso
Caros amigos e confrades:
Aí vai o prefácio solicitado. Devo confessar-lhes,
honestamente, que não me agrada meu próprio texto,
mas foi o que consegui produzir, vencendo minhas limitações.
Decididamente, não sei escrever prefácios. Além
disso, o texto precisa de cuidadosa revisão gramatical,
com as vírgulas no devido lugar, como querem os gramáticos
e filólogos.
Não é a toa que Erico Verissimo declarou, um dia,
que se tornava cada vez mais difícil escrever. E que Monteiro
Lobato – outro ícone meu – também se
queixava de seus tropeços na pontuação. Chegou
mesmo a pensar em botar ao pé de cada página, uma
batelada de vírgulas, pontos-e-vírgulas, pontos
finais, de interrogação e de exclamação
para que leitoras e leitores se servissem à sua vontade
da notação de seu gosto.
Foi ele mesmo, o querido Lobato que contou história do
homem que se casou com a mulher errada porque a pediu ao pai em
carta que continha um pronome mal colocado. O infeliz tornou-se
gramático, escreveu um respeitável tratado sobre
o assunto e morreu enfartado, porque a revisão deixou passar
um imperdoável erro gramatical. Novamente com um fatídico
pronome.
A esta altura nem sei se meu texto servirá aos propósitos
de autor, editora e leitores em geral.
Cordialmente,
Hermínio C. Miranda >
Como não serviria, Hermínio? Seus textos serviram,
servem e sempre servirão a todos nós, que aprendemos
a amá-lo e respeitá-lo, por sua vasta contribuição
à Causa do Espírito e por sua vida, toda ela uma trajetória
reta e ascensional, rumo à conquista da paz!
Que hoje, nos braços de sua
querida mãe e de Paulo de Tarso, que certamente o orientava
e supervisionava sua tarefa, você possa merecer não
o famoso “descanso dos justos”, mas a “renovação
de forças e de tarefas” tão próprias
de quem soube dignificar a vida e o viver.
E que Jesus o abençoe, hoje
e sempre!
_________
A seguir, o prefácio
que Pedro Camilo escreveu para o livro O QUE É FENÔMENO
ANÍMICO, de Hermínio Miranda, pela Editora
Correio Fraterno. Serve para ajudar a conhecer um pouco mais de
sua obra tão importante para o Espiritismo. Hermínio
desencarnou hoje.
PREFÁCIO
Décadas atrás, a Editora
Correio Fraterno iniciou um instigante projeto editorial: a “Série
Começar”. A iniciativa tinha, por objetivo, tratar
dos temas fundamentais do Espiritismo e de sua prática, partindo-se
sempre de uma afirmativa que, em verdade, revela um caráter
interrogativo, característico daqueles que desejam mergulhar
fundo nas discussões para desvendar a sua essência:
“o que é...”.
Naquela ocasião, entendeu-se
que se a ideia era começar a compreender o Espiritismo. Nada
mais adequado, pois, do que “começar pelo começo”,
seguindo os passos de Kardec no caminho das primeiras descobertas.
Assim, o livro inaugural se desenhou na perspectiva dos fenômenos
mediúnicos, a partir dos quais foi possível atingir
uma compreensão mais clara e ampla da realidade espiritual.
A primeira obra da série,
"O que é fenômeno mediúnico", foi
confiada à pena de Hermínio Corrêa de Miranda.
Já conhecido, à época, como escritor espírita,
Hermínio tomou para si a incumbência e soube relacionar,
em páginas breves e textos enxutos, uma coleção
de fatos registrados desde os mais recuados tempos até os
dias de então, traçando curioso panorama do fenômeno
mediúnico e de seus prodígios.
Com a publicação de
"O que é fenômeno mediúnico", a “Série
Começar” começou, embora tenha sido interrompida!
Variados fatores fizeram com que não somente o projeto fosse
adiado, como também o livro estivesse esquecido, apesar de
seu valor.
Entretanto, após passar por
uma profunda reformulação, a Editora Correio Fraterno,
respeitada por suas publicações de qualidade, resolveu
recomeçar a série. Voltando aos caminhos da mediunidade,
propôs-se a abordar uma variável por demais encontrada
e pouco explorada na prática espírita, que são
os fenômenos anímicos, para, assim, nos oferecer "O
que é fenômeno anímico".
A fim de retomar o projeto, os editores
convidaram, mais uma vez, Hermínio Corrêa de Miranda.
E, para alegria de seus leitores, Hermínio aceitou o convite.
* * *
Ninguém melhor do que Hermínio
Corrêa de Miranda para nos falar sobre "O que é
fenômeno anímico".
Hermínio conta nada menos
do que nove décadas na existência atual, sendo pelo
menos cinco delas dedicadas ao estudo dos inquietantes problemas
do Espírito.
Passamos a conhecê-lo, no
Movimento Espírita, a partir dos artigos publicados na Revista
Reformador, da Federação Espírita Brasileira.
Grande parte desse material foi transformada em livro, posteriormente,
ganhando eco nas páginas de Reencarnação e
Imortalidade, Sobrevivência e comunicabilidade dos Espíritos,
Candeias na noite escura e As mil faces da realidade espiritual,
para citar alguns, cujo repertório é pleno de cultura
e conhecimento doutrinário.
Ao longo de sua trajetória
de “escriba”, como a si mesmo costuma referir, vamos
surpreendê-lo em projetos ousados, marcados por alta versatilidade,
revelando um espírito amadurecido pela luz dos séculos
e antenado com o seu tempo e com todos os tempos. Assim, podemos
relacionar que:
• de suas buscas em torno
do Evangelho e do Cristianismo, surgiram Cristianismo: a mensagem
esquecida, O Evangelho gnóstico de Tomé e Os Cátaros
e a heresia católica;
• das investigações no campo da regressão
de memória, área de destaque da sua produção,
apareceram Eu sou Camille Desmolins e Viagens psíquicas
ao Egito;
• das reflexões em torno dos complexos meandros da
mente, da memória e do existir, brotaram A memória
e o tempo, Autismo: uma leitura espiritual, Memória Cósmica,
Condomínio Espiritual e o recente O enigma e o estigma;
• da paixão pela pesquisa em torno de personalidades
históricas e suas várias aparições
no solo de nosso planeta, sua análise ousada revelou A
noviça e o faraó, Negritude e genialidade, As marcas
do Cristo e Guerrilheiros da Intolerância;
• das vivências e pesquisas mediúnicas, nasceram
Diversidade dos Carismas, em que o tema mediunidade é tratado
de forma leve, descomplicada e profunda, bem como Histórias
que os espíritos contaram e A dama do vizir, dentre outros.
Ainda mais extensa, sua produção bibliográfica
ainda conta com biografias e traduções, sobretudo
da língua inglesa para a portuguesa, sítio de domínio
de sua inteligência singular.
No entanto, duas obras de sua lavra
merecem ser lembradas com uma atenção especial: "Nossos
filhos são espíritos" e "Diálogo
com as sombras". A primeira, nascida de uma proposta-desafio
que Espíritos amigos lhe lançaram, tornou-se best-seller
entre nós, já tendo alcançado a marca de mais
de duzentos mil exemplares, como obra de referência que se
tornou para compreensão do tema.
Quanto à segunda, que foi
a sua primeira produção a ser publicada, podemos seguramente
afirmar que, ao lado de "O livro dos médiuns",
"Diálogo com as sombras" representa obra cuja leitura
e estudo é indispensável a quem se debruça
sobre a prática da mediunidade e o diálogo com os
Espíritos. Pretender desincumbir-se dessas duas tarefas,
com responsabilidade e eficazmente, sem conhecer as duas obras referidas,
caracteriza uma grande temeridade a que as almas prudentes certamente
não se expõem.
Não foi sem razão
que a médium Yvonne do Amaral Pereira, após a leitura
cuidadosa e criteriosa de Diálogo com as sombras, confidenciou
ao autor algo que o motivaria a nunca mais deixar de escrever, como
afirmado por ele próprio:
- Diálogo com as sombras
é o livro que Kardec não escreveu...
* * *
Embora pequeno no tamanho e sucinto
nas abordagens, "O que é fenômeno anímico"
é pleno de clareza e profundidade. Hermínio consegue,
em seu tom leve e descontraído, conduzir o leitor, de forma
muito sutil, a uma compreensão dilatada e a uma ampliação
de horizontes, permitindo que se situe o animismo e seus fenômenos
onde, por vezes, não os suspeitamos, além de clarificar
falsas percepções e as localizar nos devidos lugares.
Assim, vamos acompanhar seu resgate
das lições de Kardec em torno do tema em "O livro
dos espíritos", as pesquisas de regressão de
memória com Luciano dos Anjos e Cesar Burnier, a análise
do autismo e dos casos de síndrome das personalidades múltiplas,
as experiências de quase-morte e os curiosíssimos fenômenos
de psicometria. Todos esses assuntos e outros tantos, de elevado
interesse, são apresentados nesta obra singular, conduzindo-nos
a importantes reflexões sobre a riqueza que o mundo do animismo
pode apresentar ao observador atento e cuidadoso.
Escrito no mesmo estilo do primeiro,
ou seja, "O que é fenômeno mediúnico",
Hermínio vai lançando as bases do seu pensamento à
medida que conversa com o leitor, transmitindo a clara impressão
de estar bem perto, sentado no sofá ao lado, num bate-papo
descontraído, mas pleno de informações que
nos fazem parar, refletir, avaliar e concluir com clareza e simplicidade.
Ao ler o livro para preparar este
prefácio, tive a sensação de regressar à
sala de visitas de sua casa, na bucólica cidade mineira de
Caxambu. A visita surgiu a propósito de me encontrar em palestras
pela região, a convite de Ligia Barbieri do Amaral, e foi
motivada pelos breves contatos por carta, trocadas ao tempo em que
preparava meu primeiro livro, Yvonne Pereira: uma heroína
silenciosa, e a ele recorri, por sabê-lo amigo da médium
biografada.
Recordo-me de que amigos me disseram
ser difícil estar com ele, em face dos seus muitos afazeres.
Contudo, ao telefonar, apresentando-me e revelando o interesse em
vê-lo, fui surpreendido ao escutar dele um “passe aqui
pela tarde”. Lá estando, encontrei um homem discreto,
agradável e extremamente simples.
Ao apreciar a obra, recomendo ao
leitor que não se engane com a sua extensão ou mesmo
com sua abordagem direta e objetiva. A brevidade é atributo
dos simples, a simplicidade é característica dos sábios
e a verdadeira sabedoria é irmã da humildade!
E todas essas qualidades estão
reunidas em Hermínio Corrêa de Miranda, a quem passo
a palavra para conduzir os nossos passos, a partir de agora, pelo
mundo instigante dos fenômenos anímicos.
Pedro Camilo
Salvador / São Paulo, 23 de outubro de 2011.
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Pedro Camilo e Hermínio Miranda