Nós, os espíritas, precisamos aprender
a lidar com a crítica e a divergência de maneira menos
assombrosa e com menos melindre; sem paixão e com sentimento
fraterno.
É fato perfeitamente natural, sobretudo para aqueles que assumem
papel de destaque em qualquer movimento humano, que suas ideias e
posturas sejam alvo tanto da concordância, quanto da discordância.
Aceitar ou não aceitar são possibilidades abertas e
caminhos inevitáveis, e entender isso é fruto de uma
maturidade que todos precisamos construir.
Discordar ou criticar determinada ideia ou postura, deste ou daquele
escritor, palestrante ou médium, não significa, necessariamente,
destituí-lo da posição que ocupa. Não
é um “atentado” contra a pessoa, mas apenas pensar,
sentir e querer de modo diferente. É acontecimento perfeitamente
natural, humano e necessário em nosso aprendizado evolutivo.
É possível, sim, discordar do que alguém diz
e manter saudável convivência, conservar respeito, alimentar
carinho e concordar em outras tantas coisas com essa mesma pessoa.
De minha parte, sinto-me completamente à vontade para:
– Discordar de algumas ideias da médium Yvonne Pereira,
embora conserve, por ela, o mais profundo amor e trabalhe pela divulgação
de sua vida e de sua obra;
– Discordar de algumas posturas de Dora Incontri, nada obstante
a grande amizade que nos une e a admiração pelo seu
trabalho de vanguarda;
– Discordar de ideias de Divaldo Franco, sem com isso deixar
de respeitar seu trabalho ou de reconhecer seu valor, como tribuno,
médium e ativista social;
– Discordar de ideias e posturas de Chico Xavier, sem que isso
signifique negar o inestimável serviço que sua vida
e sua obra prestaram – e ainda prestam – ao Espiritismo
e a milhares de pessoas, também aprendendo muito com todo seu
trabalho.
Outros tantos poderiam ser citados, aqui, em relação
a quem nutro sentimentos de respeito e estima, mas com os quais possuo
divergências doutrinárias. Contudo, acredito que as indicações
são suficientemente claras para que se possa entender que é
possível divergir de ideias, tecer críticas e, ainda
assim, preservar, amar, respeitar e conviver com as pessoas.
Divergir e criticar ideias e posturas não significa que estejamos
necessariamente certos ou errados. É tão somente consequência
do fato de sermos capazes de livremente pensar e decidir – e
qualquer um que pretenda suprimir esse direito, seja de quem for,
demonstrará que bem pouco compreendeu sobre aquilo que estamos
fazendo “aqui”.
Pedro Camilo
(Salvador/BA)
Pedro Camilo de Figueirêdo é
doutorando em Estudos Contemporâneos pela Universidade de
Coimbra, mestre em Direito Público e professor universitário.
Expositor espírita desde os 16 anos, já proferiu palestras
e seminários em diversas cidades do Brasil e em Portugal.
Entre livros espíritas, jurídicos, antologias poéticas
e obras organizadas, já publicou e participou de mais de
30 livros, além de contribuir com artigos para diversos periódicos
espíritas. No trabalho como editor, é responsável
pelas publicações da Editora Mente Aberta e da Lachâtre.
Tem pesquisado, há mais de 20 anos, a vida e a obra da médium
Yvonne do Amaral Pereira, sobre quem já publicou 5 (cinco)
livros.