Tenho conversado com confrades de
toda parte sobre a realização de festas juninas e
semelhantes pelas Casas Espíritas, com venda de bebida alcoólica.
Perguntam-me o que penso de uma e de outra, como vejo a questão.
Inicialmente, as festas juninas.
Realizadas com o fim de integrar os trabalhadores e angariar fundos
para construções, têm se multiplicado, tornando-se
tradicionais em alguns grupos. Tal como elas, jantares italianos,
feijoadas, cafés da manhã e semelhantes.
Particularmente, nada contra. Penso
que, como todo movimento filosófico e religioso, o Movimento
Espírita também sofre influência dos elementos
culturais de cada região. É natural que as referências
pessoais e coletivas determinem a assimilação de costumes
e sua incorporação saudável aos hábitos
de certos grupos espíritas.
Assim, jantares comemorativos, almoços
confraternativos, eventos para angariar recursos, haja vista que
as Casas Espíritas têm contas a pagar, são naturais
e devem ser mantidos dentro dos padrões de bom comportamento,
boa organização e bom senso, para não estimular
a sensualidade, a glutonaria e os excessos de todo tipo.
Entretanto, é preciso boa
reflexão sobre a venda de bebidas alcoólicas nessas
ocasiões. Temos assistido ao grande estrago que o vício
do álcool tem ocasionado a pessoas e famílias. A própria
legislação de trânsito, atenta a isto, tem intensificado
o rigor no combate ao uso de álcool na direção
de veículos automotores.
Pessoas, cada vez mais dependentes,
utilizam-se do álcool como fuga da realidade, mergulham nas
drogas mais pesadas estimuladas pelo seu uso, adoecem física
e espiritualmente e comprometem a própria existência
em sua razão.
As reuniões mediúnicas,
laboratório de almas que são, assistem à manifestação
de alcoolistas desencarnados que acusam o grande estrago que o vício
causou em suas existências, concitando-nos à temperança,
à vigilância.
Será certo que nós,
como espíritas, estimulemos o seu consumo, a ponto de vender
bebidas alcoólicas em nossas comemorações?
Será que os fins – arrecadação de fundos
– justificam os meios – estímulo à viciação?
Estaremos, de fato, atendendo aos desígnios superiores que
o Espiritismo encerra?
Que cada um tem o direito de querer
beber, e na quantidade que quiser, isso não se nega. O livre-arbítrio
está aí e não devemos ser sensores do comportamento
alheio. Contudo, não devemos ocupar o papel espúrio
daqueles que exploram as misérias alheias, locupletando-nos
com os vícios que alimentam. Se nos convier fazê-lo,
também o foi para os católicos que, na Idade Média,
venderam um pedaço do Céu, como ainda o é para
certos grupos, que vendem a felicidade em seus arraias religiosos,
sob diversas formas.
A proposta espírita é
consolar e esclarecer, nunca estimular o erro ou perpetrá-lo.
Cuidemos de nossos grupamentos espíritas e de suas realizações,
frente às graves responsabilidades que assumimos perante
a nossa própria consciência.
Não nos transformemos em
vendilhões do templo, pois correremos o risco de ser recebidos,
pelo Cristo, não de braços abertos, mas de chicote
em punho, na qualidade de hipócritas.
Conhecemos uma verdade que escapa
à grande maioria das pessoas – a imortalidade da alma
– e devemos libertá-las, como propõe Jesus,
quando recomenda o conhecimento da verdade como instrumento de libertação.
Ou deveremos aprisioná-las, explorando seus vícios
e limitações sob o discurso de que é preciso
“fazer dinheiro”, a todo custo, para promover o Bem?