Resumo
Neste artigo é feita uma análise estatística
das características comuns de 16 psicografias de Chico
Xavier, na obra “Estamos
Vivos”, estruturada pelo Dr. Elias Barbosa. Posteriormente
são discutidas possíveis causas para os dados apresentados.
A fraude não se apresentou como uma tese idônea.
Telepatia entre vivos conjugada com dramatização
(personificação) foi considerada uma alternativa
possível, embora creditada como uma explicação
menos parcimoniosa que a hipótese da sobrevivência
após a morte. O parecer ainda é não-conclusivo
acerca dos fenômenos do médium. Pretende-se no futuro
aditar novas psicografias ao presente em busca de maiores esclarecimentos
e possível fortalecimento de itens evidenciais.
Introdução
O presente trabalho faz uma
revisão global das 16 psicografias elaboradas pelo falecido
e célebre médium Francisco Cândido Xavier e coletadas
pelo Dr. Elias Barbosa na obra "Estamos Vivos". Este, oportunamente,
entrevistou os requerentes com escopo em obter esclarecimento sobre
as informações recebidas pelo médium. Dados significativos
foram revelados. A significância parece ficar mais evidente
através de uma análise estatística das características
de todo o conjunto. As psicografias aqui em comento remetem-nos à
década de 80. Apenas uma foi elaborada fora deste período
(caso 15 - Abr/1978). Elas foram obtidas regradamente dentro do “Grupo
Espírita da Prece” em Uberaba/MG.
Termos como “consulente” e “requerente” foram
usados aqui para indicar a pessoa que se direcionou ao médium
e solicitou notícias de um parente falecido. “Comunicante”
e “comunicador” designam a personalidade mediúnica
- ou autor espiritual - que transmite a mensagem através do
médium.
Dados Gerais
Dos 16 casos, apenas em um
o comunicante não era a pessoa esperada (caso 13). O consulente
na ocasião desejava receber notícias da falecida mãe,
não obstante quem subscreveu a missiva foi seu irmão,
morto, à época, há mais de 33 anos, antes do
próprio nascimento do requerente. Todas as psicografias citaram
nomes de parentes vivos. Do caso 1 ao 5, os comunicantes eram crianças
e adolescentes mortos no mesmo acidente automobilístico. Nesses
casos, foram desconsiderados do cômputo dos "nomes de parentes
e conhecidos vivos citados" os nomes dos envolvidos no acidente
bem como de seus respectivos pais, uma vez que na imprensa do lugar
do acidente e municípios vizinhos houve publicação
de tais dados. Os 16 casos psicográficos citaram 61 nomes de
parentes vivos e 8 nomes de pessoas conhecidas do comunicante e família,
sem relação de parentesco. Outro dado estatisticamente
considerável foi a referência a 23 parentes falecidos,
tidos como vivos num suposto plano espiritual. A maioria desse parentesco
era em relação de ascendência em linha reta de
2º grau, embora tenha havido uma correlação de
4º grau em relação de ascendência em linha
colateral e outras de ascendência em linha colateral de 3º
grau. 37,5% dos casos fizeram referência a personalidades identificadas
após o contato e as quais só foram conhecidas pelos
comunicantes após a morte. Em 56,25% dos casos a psicografia
citava alguém não pelo seu nome próprio, mas
por um apelido. Quase a metade das comunicações (43,8%)
expressava ter a personalidade comunicante recebido alguma espécie
de socorro ou tratamento espiritual, fazendo referências a palavras
ou cognatos de "clínica", "hospital", "tratamento",
"posto de socorro espiritual" e "internação".
A média de idade dos comunicantes foi de 19,38 anos, variando
de 03 a 37 anos. A média de tempo entre a morte do comunicante
e sua mensagem através do médium foi de 7 meses e 19
dias (caso 15 não foi considerado por sua atipicidade). 62,5%
deles se referiram ou descreveram detalhadamente o modo da morte.
25% dos casos citaram nomes de lugares (ruas, municípios, estados
e países). 37,5% das mensagens trouxeram alguma declaração
informando dificuldades na transmissão das mensagens [ver
tabelas: 01
e 02].
As Circunstâncias Peculiares
Em 68,75% dos casos houve menção a
circunstâncias peculiares. Essas são aqui consideradas
como detalhes significativos que individualizam a comunicação,
tornando-a de alguma maneira especial, trazendo a sugestão
de algum fenômeno paranormal. Por sabermos que uma classificação
dessas é subjetiva, teremos o cuidado então de colocar
uma breve justificativa para os 16 detalhes julgados no presente artigo
como sugestivos de paranormalidade.
Caso 03: o comunicante citou o nome de uma prima
morta antes de seu nascimento. Disse que a menina lhe visitava no
plano espiritual e que pedia para ele (através do médium)
falar a tia Nancy (mãe da garota), ainda viva, que ela vai
ficar bem. A mãe da menina se culpava pelo acidente que vitimou
a moça.
Caso 04: a mensagem faz referência ao escritório
e profissão (técnico em contabilidade) do pai do comunicante
sem que este tenha falado a respeito ao médium.
Caso 05: a mensagem faz referência certeira
aos aniversários do pai e avô do comunicante, sem que
tais dados fossem fornecidos ao médium.
Caso 07: a psicografia citou o nome da avó
paterna do comunicante, dado desconhecido até mesmo pelo consulente.
Só após uma pesquisa na família a informação
foi confirmada. A personalidade mediúnica ainda citou o nome
dos três irmãos em ordem decrescente de idade.
Caso 08: Houve referência ao nome "Rita",
com a ressalva que não se tratava da mãe do comunicante.
Pesquisado depois, constatou-se que "Rita" era uma escrava
da família que faleceu no início do século passado.
A tia-bisavó, "Ana", também foi citada como
viva num plano espiritual. Ela também morreu no início
do século passado.
Caso 09: A mensagem traz informações
sobre a avó do comunicante. Diz que ela está viva espiritualmente
e que em vida cometeu suicídio. Faz referência aos problemas
de dinheiro que ela tinha e da doença que sofria. Tudo correto.
Caso 11: A psicografia acertadamente diz não
haver dolo no projétil que vitimou o comunicante. A mensagem
ainda corretamente disse que o comunicante estava a passeio no Brasil
e que voltaria aos EUA onde sua irmã o aguardava. Curiosamente
foi citado o nome "Ricardo Campos", dado como um socorrista
espiritual. O comunicante ainda o correlacionou à cidade de
Rio Verde. O mesmo era um respeitado advogado na mencionada cidade.
Caso 12: A mensagem trazia a assinatura múltipla,
como costumeiramente fazia o comunicante. Faz menção
expressa a instituição projetada pelos pais do falecido
com a finalidade de unir pais que perderam seus filhos. O comunicante
ainda diz ter sido assistido por uma moça. O nome dado era
o da filha falecida de um casal que se tornou amigo dos pais do comunicante
após a morte dele.
Caso 13: O consulente desejava receber informações
de sua falecida mãe e algumas palavras de conforto. Apenas
disse isso ao médium. No entanto, quem apareceu foi seu irmão,
falecido há mais de 33 anos, antes do nascimento do requerente
da mensagem.
Caso 15: Havia uma frase na psicografia que fazia
referência aos tios do comunicante e que aparentemente não
fazia sentido. A mãe do falecido acrescentou no início
dela a palavra “abraços”. Numa segunda mensagem
a entidade diz: “era mesmo dois abraços que desejava
enviar ao tio Rômel e ao nosso caro Edmundo. Se coração
adivinhou e mais uma vez me auxiliou a acertar”. Depois o comunicante
faz referência a uma amiga que deixou na Terra e a tranqüiliza
dizendo que “amigos quando brigam um pouco, é porque
se querem muito”. A moça, antes do acidente que vitimou
o rapaz, havia se desentendido com ele e estava triste.
Caso 16: o comunicante, em mensagem a seu pai, fez
referência ao suicídio de sua mãe, a qual aparentemente
não suportou a dor de perder seu filho.
Inferências Justificantes
a) Fraude
Inferir é interpretar uma
hipótese possível a qual seja uma subsunção
lógica das informações apresentadas. A inferência,
longe de ser a única exegese, é apenas uma das alternativas
capazes de explicar dados fornecidos. Sem dúvida a inferência
primária em casos que chocam a nossa noção de
realidade é a opção de que eles sejam produto
de fraude. Em tela, é possível imaginar vazamento de
informações em jornais sobre alguns casos, pois que
a maioria deles trazia algum acidente trágico, o que é
matéria comum em notícias da impressa falada e escrita.
Entretanto, segundo o processo em que as mensagens foram elaboradas,
essa explicação parece não ter muita força.
Como já dito, as psicografias foram realizadas no Grupo Espírita
da Prece - Uberaba. Os requerentes presumivelmente se aglomeraram
a tantos outros, eis que os dons mediúnicos de Chico conclamavam
uma legião de pessoas angustiadas e esperançosas em
receber uma mensagem de conforto de um ente querido que desencarnou.
Não há evidência de que os casos aqui analisados
tenham fugido a essa regra. Sendo assim, pouco tempo e contato –
físico e de palavras – tinham os consulentes para pleitear
ao médium um contato com o parente morto. Algumas vezes o nome
do falecido era apenas deixado e a mensagem era distribuída
na sexta à noite junto com cinco ou seis outras psicografias.
Em um olhar detalhado, o nível de minudências é
tão rico que articular um plano de trapaça requereria
um concurso de muitas pessoas, dotadas de boa capacidade investigativa
que pudessem concorrer para os acertos do médium. Veja, caro
leitor, que em apenas 16 casos houve citação correta
de 101 nomes (na obra estudada apenas dois nomes não foram
correlacionados: 1- Rafael (caso 8) e 2- Victor (caso 11)). As mensagens
ainda indicaram acertadamente 12 apelidos de pessoas próximas
ao comunicante. Para confirmar o caráter da inviabilidade de
vazamento de informações, no dia 18.09.2007, solicitei
respeitosamente esclarecimentos ao autor das entrevistas e da obra
em epígrafe, Dr. Elias Barbosa, o qual amavelmente informou
que:
“Em resposta ao seu e-mail,
informo ao Amigo que as páginas recebidas pelo médium
Francisco Cândido Xavier (1910-2002), dirigidas aos familiares
que ficaram no mundo, presentes nas reuniões públicas
da Comunhão Espírita Cristã, de Uberaba, de
1959 a 1975, todas elas foram psicografadas, sem que o médium
soubesse qualquer informação dos nomes citados nas
referidas páginas. Muitos dos assistentes ficavam surpresos
porque as mensagens vinham espontaneamente, grande parte delas com
as respectivas assinaturas semelhantes às deixadas em documentos
ou em várias correspondências, até mesmo em
cadernos escolares. De abril de 1975 até poucas semanas antes
de sua desencarnação, Chico Xavier continuou recebendo
as cartas mediúnicas, levando o conforto a centenas de pessoas,
no Grupo Espírita da Prece, sempre trabalhando da mesma forma,
isto é, desconhecendo os detalhes narrados pelos espíritos
comunicantes, emocionando profundamente pais e mães ali presentes”.
b) Telepatia Entre Vivos e Dramatização
A segunda inferência a se fazer seria aquela em que os casos
são explicáveis pela hipótese telepática
entre vivos conjugada com elementos dramáticos derivados da
cultura espiritualista a que o médium fora submetido ao longo
da vida. Essa explicação enseja que Chico teria uma
acentuada e incisiva capacidade de selecionar dados na mente do requerente
(e mesmo extensivamente nas pessoas que lhe são próximas)
e coletar circunstâncias especiais que envolvam o falecido.
Posteriormente, por um processo altamente criativo, o médium
construiria um drama segundo as bases de sua crença espiritualista.
O caráter constante de algumas expressões e a qualidade
padronizada da linguagem realmente podem sugerir um único autor.
O substantivo “mãezinha”, designando um afeto filial,
foi usado em todos os casos analisados. Em 50% das despedidas foi
usada as palavras “reconhecido” ou “reconhecimento”.
Praticamente todas as citações de “avô/avó”
usam os substantivos “vovô/vovó”. Algumas
mensagens usam orações incomuns a idade/instrução
do falecido, mesmo considerando um suposto período de aprendizado
post mortem.
Por exemplo, no caso 12, o comunicante faleceu aos 13 anos de idade,
um pouco mais de 7 meses contatou usando orações como:
“espelhando o ideal de servir, que atualmente vem jorrando esperanças
novas de nossas almas, qual se os corações estivessem
transfigurados em fontes de paz e renovação para o bem”.
No caso 14, o falecido estava cursando a 7ª série ginasial,
depois de 3 meses transmite: “escutei as indicações
de meu pai, no silêncio das suas horas de reclusão, e
li com enternecimento e com muitas lágrimas o texto escrito
por nossa Rachel com respeito à minha passagem para esta ‘outra
vida’”.
No caso 05, o comunicante era um menino que falecera aos 12 anos.
6 meses depois, fazendo uma homenagem ao pai, diz: “... porque
o diálogo amigo foi sempre a base de seu intercâmbio
com os filhos que o adoram; que estudando os orçamentos domésticos
e pesando valores e conveniência, preferisse usar roupa humilde,
conquanto digna, para que seus rapazes se apresentassem nos grupos
sociais na melhor forma...”
No caso 16, a personalidade mediúnica, morta aos 23 anos de
idade, 14 meses depois, assim descreve o suicídio da própria
mãe: “aquela alma forte e sensível fora ferida
nas próprias entranhas, e por muito nos dedicássemos
a ela, no sentido de alterar-lhe as disposições, incapaz
de arrebatá-la ao terrível intento, vi-a arrasar o próprio
corpo...”
No caso 7, o comunicante faleceu aos 36 anos, e disse 4 meses depois:
“tenho a convicção de que a bondade de Deus cobre
a desencarnação com muitos agentes da natureza, que
resultam no esquecimento em que somos mergulhados, para não
acrescentar sofrimentos maiores ao sofrimento de demissão da
vida física a que somos obrigados”.
No caso 10, o comunicador, falecido aos 22 anos de idade, diz cerca
de 8 meses depois: “desvincular-se, de repente, do corpo robusto,
não é uma erradicação de raízes,
como no mundo das árvores”.
No caso 11, a personalidade supostamente espiritual, a qual falecera
aos 25 anos, 10 meses após o desenlace transmite: “E
eu, transferido para a Vida Espiritual, sob a proteção
dos amigos fies que encontrei, passarei à condição
de cooperador dos irmãos que se fazem mensageiros do Pai...”
Em suma, independente da instrução
e da idade do comunicador, as psicografias parecem ter a mesma disposição
na escolha das palavras e mantêm o mesmo bom padrão lingüístico.
Inegável que o nível de cognição é
fator preponderante para a individualização da personalidade.
Nesse contexto, todas as psicografias parecem conciliar a mesma qualidade
vocabular, salvo algumas exceções de expressões
(as quais veremos a seguir). Assim, tal identidade formal na escrita
pode sugerir um único autor das mensagens, o próprio
médium, o qual captaria as informações telepaticamente
na mente das pessoas vivas e íntimas ao morto. O segundo aspecto
do processo, de natureza psicológica, seria a encenação
e o comportamento artificioso do médium (inclusive para si),
moldado por fatores culturais que serviriam de elo para que as informações
anômalas fosse exteriorizadas no papel. Assim, a dramatização
espiritualista ao invés de ter um caráter simplesmente
de realce, teria uma função condutiva, a fim de que
os dados captados telepaticamente pelo médium saiam da esfera
subjetiva do seu inconsciente e sejam revelados a terceiros. A construção
dessa tese é fortemente embasada na famosa teoria de Tyrrell
sobre Aparições (ver: G.N.M Tyrrell, Apparitions (London:
Society of Psychical Research, 1942). Republished, New York , Pantheon
Books, 1953). Tyrrell não exclui que possa haver telepatia
entre o falecido e o percipiente da Aparição.
Como contraponto, podemos citar: consideráveis referências
a “familiares” e a “pessoas conhecidas” usaram
um artigo antes, revelando um aspecto bastante informal de tratamento
(“O Walter” [caso 12]; “O Didido” [caso 01],
etc.). Outros exemplos de termos informais que parecem espelhar ou
a mesma intimidade que o falecido tinha em vida com as pessoas referidas
ou a seu modo de falar, foram: “nosso choque com a carreta não
está em nenhum gibi” [caso 1]; “Luciene, a nossa
neguinha” [caso 5]; “a irmãzinha” [caso 14]
etc.. Há um número significativo de apelidos em momentos
adequados. Articulação de termos bastante usuais do
morto e mesma maneira de assinar cartas, “abilolado” [caso
7] e “Luís” [caso 12], respectivamente. Houve dois
casos com informações desconhecidas do consulente: a
referência ao nome da avó do falecido, informação
desconhecida pela requerente da mensagem, a mulher dele (caso 7);
e a menção ao nome “Rita”, escrava da família
morta no início do século passado (caso 8). Telepatia
entre vivos, nesses dois exemplos, requereria ser de forma indireta
(captar informações que estão na mente de pessoas
que estão na mente do suplicante da mensagem), o que a tornaria,
para muitos, uma tese muito forçada. No caso 15, o comunicante
sabia que sua amiga, a qual não era a consulente, ficara triste
pela briga que tiveram, antes da morte dele, muito embora essa informação
poderia ser de conhecimento no seio da família.
c) A Hipótese da Sobrevivência
Intuitivamente, a alternativa de autêntica mediunidade
é sem dúvida mais adequada. Mas dentro de um viés
científico, a intuição não é um
meio seguro de validar um fato. Nos casos aqui discutidos, inexiste
uma justificativa suficiente para conceder certeza completa para as
psicografias como produto de autores desencarnados ou, alternativamente,
de incisiva telepatia do médium na mente dos requerentes. O
que podemos fazer é escolher a hipótese mais razoável.
Analisando a tese da sobrevivência da consciência após
a morte, afigura-nos ela, por vezes, ser uma alternativa mais econômica
que telepatia entre vivos, eis que supõe apenas duas mentes
como causa das informações obtidas anormalmente: a mente
de um desencarnado e a do próprio médium. Nos casos
7 e 8, ad argumentandum telepatia entre vivos, no mínimo três
mentes deveriam se correlacionar. E ainda, como já citado –
e aqui se recomenda fortemente ao leitor à leitura das psicografias
de Chico Xavier a fim de ter dimensão do que estamos falando
– a quantidade de minúcias é tão alto que
acredito ser forçoso (ou mesmo temerário) afirmar que
todas as informações estavam presentes na mente do consulente.
No que tange ao aspecto formal da escrita e linguagem, seria estranho
supor que não houvesse interferência do arcabouço
cognitivo do próprio médium, já que ele em tese
é o “fio condutor” da transmissão. O médium,
longe de ser um instrumento passivo, é um colaborador e, como
uma espécie de tradutor, transforma em palavras aquilo que
recebe telepaticamente dos mortos. Nesse processo é natural
que ele impregne parte das mensagens com seu estilo lingüístico.
Conclusão
Diante da análise de “Estamos Vivos”,
a qual coleta 16 psicografias do médium Chico Xavier e as confronta
com os dados fornecidos pelos familiares, realmente elas parecem sugerir
a ação de uma mente externa ao médium e que,
a todo custo, pretende passar uma mensagem de alívio aos parentes
e amigos. Acredito que a maior motivação – em
cada caso específico – em transmitir a missiva é
a da própria personalidade desencarnada, e não alguma
suposta intenção do médium. Particularmente,
não penso ser parcimonioso admitir com mais facilidade uma
ação telepática do médium capaz de investigar
a mente de quem quer que se lhe apresente (e mesmo nas mentes daqueles
que estão no círculo de intimidade do consulente), sem
nenhuma resistência, pois tal seria o caso de Chico, caso telepatia
entre vivos fosse a única e verdadeira causa. William James,
quando pesquisando a médium americana Sra. Piper, disse acreditar,
embora sem se comprometer, no concurso de duas vontades: a vontade
em se expressar da personalidade exterior e a vontade do médium
em personificar. A personificação é o comportamento
dramático em imitar a expressão e os maneirismos do
falecido. Na ocasião, James pesquisava a Sra. Piper a fim de
legitimar ou não a identidade de Hodgson, conhecido em vida
pela médium. No caso do médium mineiro, ele não
só não conhecia os falecidos como também seus
parentes, amigos e os requerentes das mensagens; ainda as transmitia
não apenas sobre um único morto, mas de diversos, desde
1959 aos últimos momentos de sua existência, a exemplo
dos 16 casos aqui tratados. Isto posto, embora também não
queira me comprometer ainda sobre o fenômeno Chico Xavier, em
razão de necessitar de mais estudos e pesquisas, concedo um
parecer, mesmo que ainda não conclusivo, a favor da hipótese
espírita. Não se pretende com isso persuadir nenhum
cético nem afrontar a convicção religiosa de
alguém, mas apenas se pensa que aqueles desejosos em opinar
diferente deveriam expor fundamentadamente suas razões, embasadas
em dados históricos e/ou técnicos, evitando assumir,
por pré-conceito, uma negação/aceitação
sistemática. O autor do presente artigo não tem problemas
em rever seu ponto de vista e encontra-se aberto a sugestões.
BARBOSA, Elias e XAVIER, Francisco Cândido.
Estamos Vivos. Araras: IDE. 3ª edição, 1998.