André
Luís N. Soares
> Continuamos Vivos: Mente Além
ou Aquém do Cérebro?
Seria importante o
leitor previamente ver a discussão inicial no artigo -
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"Estamos
Vivos: uma re-análise de 16 casos psicográficos"
Resumo
No presente artigo, o autor, além de dar
continuidade a análise estatística dos dados inseridos
nas psicografias de Chico Xavier, sentiu-se na necessidade de
buscar um novo caminho para entender o que pôde ter efetivamente
representado este médium. Assim, paralelamente, tendo em
vista agora certeza de que houve vazamento sensorial de parte
das informações contidas nas psicografias, o autor
do presente revisou na literatura conteúdos que não
poderiam ser explicados por leitura fria e nem informações
descuidadamente fornecidas ao médium e a seus assistentes
e nem conhecidas por leitura de jornais, obituários e outros
papéis. Posteriormente, fez-se uma discussão entre
a suficiência do argumento de psi para explicar casos que
intuitivamente sugerem a interferência de mentes desencarnadas.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer aos amigos Francisco Mozart
R. de Souza e Vitor Moura Visoni pelo auxílio na análise
das psicografias do médium aqui submetido a inquirição
bem como a indicação de outras fontes importantes para
estudo.
Introdução
O presente artigo prossegue
na revisão das psicografias de Chico Xavier. Desta vez a análise
seguiu paralelamente dois caminhos na busca de elementos evidenciais
de paranormalidade nos fenômenos deste médium. O primeiro,
seguindo os moldes do estudo feito em "Estamos Vivos: uma re-análise
de 16 casos psicográficos", verificou a significância
estatística dos 13 casos psicográficos na obra "Enxugando
Lágrimas", organizada pelo Dr. Elias Barbosa. As psicografias
agora ficaram compreendidas em regra no período de 1970-80.
O segundo trajeto foi procurar casos nos quais os parentes do falecido,
ou o entrevistador, expressamente afirmam que determinado dado não
foi dito ao médium nem a quem quer que seja em Uberaba, nem
publicado antes do recebimento da mensagem psicográfica em
algum jornal ou revista; ou ainda, que certa informação
era desconhecida de todos os familiares e amigos, mas verificada e
confirmada a posteriori, seja por uma pesquisa dos parentes ou por
exame pericial.
Termos como “consulente” e “requerente”
foram usados aqui para indicar a pessoa que se direcionou ao médium
e solicitou notícias de um parente falecido. “Comunicante”
e “comunicador” designam a personalidade mediúnica
- ou autor espiritual - que transmite a mensagem através do
médium.
Dados Gerais de "Enxugando Lágrimas"
Desta vez todos os comunicantes foram pessoas esperadas. Todas as
psicografias citaram nomes de parentes vivos (53). Os 13 casos psicográficos
mencionaram 16 nomes de pessoas conhecidas do comunicante e família,
sem relação de parentesco. Outro dado estatisticamente
considerável foi a referência a 46 parentes e amigos
falecidos, tidos como vivos num suposto plano espiritual. 38,46% dos
casos fizeram referência a personalidades identificadas após
o contato e as quais só foram supostamente conhecidas pelos
comunicantes após a morte. Em 56,25% dos casos a psicografia
citava alguém não pelo seu nome próprio, mas
por um apelido. Mais da metade das comunicações (61,5%)
expressava ter a personalidade comunicante recebido alguma espécie
de socorro ou tratamento espiritual, fazendo referências a palavras
ou cognatos de "clínica", "hospital", "tratamento",
"posto de socorro espiritual" e "internação".
A média de idade dos comunicantes foi bem mais alta (34 anos)
do que os 19,38 anos de "Estamos Vivos", variando de 07
a 72 anos. A média de tempo entre a morte dos comunicantes
e suas mensagens através do médium foi de 3 anos e meio,
variando de 1 mês a 21 anos. 61,5% deles se referiram ou descreveram
detalhadamente o modo da morte. 69,29% dos casos citaram nomes de
lugares (ruas, municípios, estados e países). 15,38%
das mensagens trouxeram alguma declaração informando
dificuldades na transmissão das mensagens. Em 53,85% dos casos
houve menção a circunstâncias peculiares. Essas
são aqui consideradas como detalhes significativos que individualizam
a comunicação, tornando-a de alguma maneira especial
em relação as demais.
Comparativamente aos 16 casos de "Estamos Vivos", psicografias
de 1980-90, os 13 casos de "Enxugando Lágrimas" conseguiriam
citar 115 nomes entre parentes, amigos, falecidos e pessoas supostamente
conhecidas somente após a morte e ainda 10 apelidos. Naquela
há referência a 101 nomes e 12 apelidos. A média
de idade também é muito superior na obra aqui analisada.
34 anos contra 19,3 anos. Ambas tiveram o mesmo número de circunstâncias
peculiares (16). Em geral, o padrão permanece substancialmente
o mesmo. A diferença quantitativa de informações
aqui consideradas (apenas dados que não dependam de "sim"
ou "não" para serem verdadeiros ou falsos) fornecidas
pelo médium, entre os dois grupos de psicografias, nas duas
obras, é não-significativa (3,44 acertos/caso a mais
para "Enxugando Lágrimas".). Grosso modo o padrão
permanece em todas as obras que carreiam esclarecimentos sobre as
psicografias deste médium. Apesar de todos os números,
grande parte das informações pode ser explicada por
meios comuns de percepção, como veremos abaixo. Daí
a premência da segunda vertente de inquérito: pesquisa
qualitativa de informações declaradas como não-divulgadas
ou ignoradas pelos conhecidos da suposta entidade comunicante.
Vazamento de Informações
e Fraude deliberada
Parte da carreira mediúnica de Chico destinava-se a transmitir
mensagens de parentes falecidos. Isso acontecia principalmente quando
atuava na Comunhão Espírita Cristã e no Grupo
Espírita da Prece, ambos em Uberaba, Minas Gerais. O médium
mantinha diálogo antecipado com as famílias que concorriam
a mensagens de seus entes falecidos. As sessões públicas
aconteciam às sextas-feiras e aos sábados. Das 14:00
às 18:00 h o médium percorria uma fila de aproximadamente
60 grupos de familiares suplicantes por uma mensagem de algum parente
falecido. As conversas com cada requerente duravam cerca de 5 a 15
min. Não há indício de ter havido qualquer anotação
de alguma informação, como nomes, relações
de parentesco e causa morte.
“As apresentações
foram rápidas, não tendo sido relatado nenhum pormenor
ao médium sobre a vida de André. Somente uma sua fotografia
3x4 foi vista por Chico. A entrevista da mãe com o médium
não durou mais de dois minutos”
(GERMINHASI, Rubens Silvio e XAVIER, Francisco Cândido.
Continuidade. 1990).
Fim das entrevistas, o médium
encaminhava-se ao receituário e prescrevia aos necessitados
que previamente haviam deixado apenas os nomes. Ao término
do receituário, aquele dirigia-se ao salão principal,
onde, após comentários dos expositores sobre temas da
doutrina espírita, começava a preencher freneticamente
as folhas em branco diante de mais de duzentas a trezentas pessoas.
Isso ocorria em média 8 h depois das entrevistas.
A hipótese de fraude por ação única do
médium fica enfraquecida diante do número extenso de
dados fornecidos, não sendo razoável afirmar que ele
seria capaz de reter na memória as descrições
de acidentes; nomes de parentes, amigos e falecidos; lugares; citar
corretamente as relações de parentesco; grafia correta
e completa de nomes (não trocar "s" por "z",
como em "Tereza" ou "Teresa", "w" por
"v", como em "Walter" ou "Valter" etc.);
e prosseguir com coesão e coerência dos fatos nas cartas
subseqüentes remetidas pelos mesmos falecidos. Em boa parte do
período abrangido pelas sessões públicas, os
instrumentos de gravação existentes não eram
compactos, de maneira que não me parece idôneo crer que
o médium carregava algum aparelho no bolso etc. Por outro lado,
por mais que houvesse o desejo dos parentes em se comunicar com entes
falecidos, num país predominantemente católico, havia
muita desconfiança sobre Chico. Um dos requerentes falou:
“Prevenida da maneira
que eu estava contra a Doutrina Espírita, confesso que se
tivesse conversado e comentado alguma coisa sobre o acidente, eu
não acreditaria, mas deu-se tudo ao contrário. As
únicas palavras minhas foram para dar o meu nome e o do meu
filho a Chico Xavier e nada mais”.
Nesse momento Chico perguntou-me quem era vovó Maximínia.
Queria falar comigo. Dizia que o menino estava bem e feliz. Pedia
para não me desesperar. Sorriu e disse-me ainda:
'O menino está aqui, é muita luz, ele está
feliz por ter uma mãezinha que o auxiliou a ajudar duas pessoas
que agora estão enxergando'"
(BARBOSA, Elias e XAVIER, Francisco
Cândido. Claramente Vivos, 1979).
Outro entrevistador, Sr. Caio Ramacciotti, com trabalho similar ao
do Dr. Elias Barbosa, realmente confirma a prevenção
de muitos suplicantes:
"Dos próprios familiares
[...] destaca-se, por outro lado, o desejo de omitirem, em seus
contatos com Chico, nomes, datas ou acontecimentos ligados aos filhos
mortos, para crerem integralmente na eventual comunicação
mediúnica, com que sejam aquinhoados, seja essa comunicação
simples recado ou uma página mediúnica".
(RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco
Cândido. Jovens no Além. 2007)
Volta-se então a dizer que, se toda a carreira de Chico Xavier
pode ser explicada pela fraude, isso requereria um número de
partícipes para ludibriar todos os suplicantes. Um plano para
fraude poderia ser o seguinte: Chico, durante as entrevistas, por
leitura fria, marcaria os familiares mais suscetíveis a deixar
escapar informações em conversas informais. Posteriormente,
algum assistente, ou mais de um, em tempos sucessivos, dirigir-se-ia
aos sujeitos marcados e, por conversas de propósitos velados,
roubaria dados úteis para montar os dramas espirituais estampados
nas falsas psicografias. O papel Central de Chico poderia ser explicado
por uma memória de alta capacidade (seu professor, Dr. Ottoni,
destacou inteligência lúcida, superior a normal, e memória,
ver MAIOR, M. S., 2006, p. 61; ver também Guy Playfair, 1975,
p. 24) e criatividade bem acima dos limites comuns, uma vez que o
engodo deveria ser feito dentro do período de 8 h (lapso entre
as entrevistas e as psicografias), exigindo engenho dramático
dentro da temática da doutrina espírita, vinculação
dos nomes conseguidos com suas relações de parentesco,
descrição da causa mortis, revisão e
memorização para não haver troca de dados entre
os destinatários das psicografias, de 6 a 8 por sessão,
tal como acontecia. Isso tudo poderia ser feito durante algum intervalo
nas horas de receituários. A objeção de que as
psicografias carregam o linguajar do falecido poderia ser afastada
por uma explicação psicológica, principalmente
porque as datas de falecimento eram regradamente curtas (nas 45 mensagens
em "A Vida triunfa", 42,2% das famílias reconhecem
na carta o estilo peculiar dos comunicantes).
O problema com essa inferência é que não há
absolutamente uma evidência material dela. Céticos aqui
comeram mosca. Uma atriz poderia ser contratada para fazer o papel
de uma viúva ou mãe que perdera seu filho, inventar
dados falsos e esperar se viria alguma "psicografia". Em
abril de 1971, o repórter Hamilton Ribeiro, para a Revista
Realidade, fez algo parecido. Colocou
dois nomes, um verdadeiro e um falso no receituário. Curiosamente
os dois não receberam as receitas, mas sim a mesma frase: "Junto
dos amigos espirituais que lhe prestam auxílio, buscaremos
cooperar espiritualmente em seu favor, Jesus nos abençoe".
Fazemos a mesma pergunta que ele: o que pensar disso? Fraude com certeza
não é a única inferência, e talvez seja
a mais radical. Chico poderia ter simplesmente errado, ou mesmo acertado,
considerando que não houve receita.
Fechando esta primeira parte, se realmente Chico representou o conceito
original de mediunidade, é certo também que boa parte
das informações pode ser respondida por criptomnésia,
retenção inconsciente de informações.
A grande quantidade de dados figurada nas análises dos 29 casos
psicográficos de "Estamos Vivos" e "Enxugando
Lágrimas", embora carreiem: a) algumas informações
só conhecidas após as mensagens ou, b) dados especificamente
expressos como não-informados; a maior parcela de informações
fica numa área cinzenta de incerteza sobre o que foi ou não
dito ao médium e a outras pessoas no local, pelo menos para
nós que fazemos uma revisão na literatura. Considerando
que parcela de sujeitos chegava desconfiada, talvez o número
real que apresente alguma informação paranormal não
esteja tão abaixo dos valores acima encontrados, mas conferir
certeza a isso, de qualquer forma, seria temerário.
Saindo da Fronteira: Informações
que Realmente Sugerem Paranormalidade
Na tabulação abaixo, a qual é meramente exemplificativa,
relacionamos casos que:
a) indicam ter havido, pelo menos, uma informação não-declarada
pelos parentes ao médium ou a quem quer que seja em Uberaba;
e
b) casos que trazem informações desconhecidas a todos
os presentes, mas confirmadas depois por alguma espécie de
pesquisa ou perícia técnica.
Nº |
Nome
do Caso |
Resumo |
Fonte
Bibliográfica |
1 |
Nadinho |
A psicografia vincula o pai do
morto à profissão de contador. Em entrevista, o pai do falecido revela
que não informou a natureza de sua profissão ao médium nem a ninguém.
A mensagem foi transmitida na primeira visita do pai. |
BARBOSA, Elias e XAVIER, Francisco
Cândido. Estamos Vivos. Araras: IDE. 3ª edição, 1998,
p. 48. |
2 |
Romero
J. de Souza |
A psicografia acerta as datas de aniversário
do Dr. José Marco Alves de Souza e do Sr. Homero Alves de Souza sem
que ninguém da família tenha comentado com o médium ou a qualquer
pessoa no recinto. |
BARBOSA, Elias e XAVIER, Francisco Cândido.
Estamos Vivos . Araras: IDE. 3ª edição, 1998, p.
56 |
3 |
Antenor de Amorim |
O apelido (Lelé) de Adelaide Siqueira
de Amorim e quanto ao fato dela ter sido uma distinta religiosa franciscana
que posteriormente abraçou o Espiritismo eram detalhes completamente
desconhecidos do médium. segundo informações do entrevistador. |
BARBOSA, Elias e
XAVIER, Francisco Cândido. Enxugando Lágrimas. Araras:
IDE. 18ª edição, 1993, p. 73 |
4 |
João Guignone |
Quando o sr. João Guignone, presidente da Federação
Espírita do Paraná, chegou para abraçar o médium, ouviu-o dizer:
- Sabe quem está aqui do meu lado, cheia de emoção e querendo abraça-lo?
Sua mãe!
O sr. João fingiu alegria, manteve a aparência e depois comentou com
um companheiro:
- Acho que o Chico não está regulando bem. Disse que viu ao seu lado
o espírito, de minha mãe, e mamãe está viva em Curitiba!
Bem, foi ele chegar ao hotel e um interurbano do Paraná lhe dava a
notícia. A mãe havia falecido. |
REVISTA REALIDADE. Novembro de 1971. |
5 |
Izídio I. da Silva |
A psicografia revelou que quem conduzia
o veículo acidentado fora Izídio, o comunicante, não obstante todos
acreditassem que Zé da Brahma, outro falecido no acidente, guiava
o carro. A perícia técnica depois esclareceu que quem dirigia era
Izídio. |
BARBOSA, Elias e XAVIER, Francisco Cândido.
Enxugando Lágrimas. Araras: IDE. 18ª edição, 1993,
p. 146. |
6 |
Wady A. Filho |
- O Sr. Wady, pai de Wady A. Filho, o falecido,
impôs como condição que ninguém se abrisse com ou médium ou quem quer
que seja em Uberaba a fim de que eventual revelação fosse realmente
autêntica. Dentre vários nomes e intimidades, o comunicante cita o
nome "Maria Albertina". Ninguém sabia a que ele se referia. Ao voltarem
para São Paulo descobriram que era o nome do orfanato o qual Wady
A. Filho tinha programado a festa de natal do ano em que faleceu.
- A mãe, sem que ninguém soubesse, pedia em prece para que o filho
assinasse Wadyzinho, como ela estava acostumada a chamá-lo, tendo
em vista que nas duas primeiras comunicações o comunicante assinava
"Wady". Coincidência ou não, a partir da terceira mensagem as psicografias
passaram a ser assinadas "Wadyzinho". |
RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco Cândido.
Jovens no Além. São Bernardo do Campo: GEEM. 25ª
edição, 2007, pp. 160, 176, 185 e 210. e MAIOR, Marcel Souto. As
Vidas de Chico Xavier. São Paulo: Planeta. 2003, 2ª edição.
p. 209. |
7 |
Jair Presente |
- O comunicante fala da "Irmã Elvira". A mãe
do falecido relacionou a Sra. Elvira Vanini Favoreto, sua tia e madrinha,
cuja morte ignorava. Apenas quando regressou de Uberaba, ao entrar
em contato com familiares, veio a saber que Elvira havia falecido.
Curioso que o restante da família até então não concordava com a mãe
de que irmã Elvira fosse a Elvira Favoreto, sua tia e madrinha. Achavam
se tratar de uma benfeitora espiritual. Numa segunda mensagem o comunicante
ratifica a identidade dizendo: "mamãe faz questão que fale na tia
e madrinha".
- O comunicante fala em "Aníbal". Que este "abriu o portão do lado
de vocês e veio pra cá em dificuldades". Mas ninguém conhecido de
Jair sabia de tal nome. O jornalista Mário Tamassia publica num jornal
de Campinas a mensagem de Jair. Sra. Maria Aparecida Rodrigues identificou
o nome como do seu filho Aníbal o qual cometera suicídio. |
RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco Cândido.
Jovens no Além. São Bernardo do Campo: GEEM. 25ª
edição, 2007, pp. 124, 125, 143 e 144. |
8 |
"Minha Cica" |
Numa das sessões do Grupo Espírita da Prece,
uma mãe reconhece a identidade do filho. O falecido se refere à mãe
como "minha Cica". Só depois de algum tempo a mãe lembra-se de uma
discussão que teve com o rapaz duas semanas antes da morte dele, na
qual havia proibido-o de chamá-la "Minha elefantinha". O rapaz trocou
"elefantinha" por "Cica", conhecida marca do elefantinho de extrato
de tomate. |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás do Véu
de Ísis. São Paulo: Planeta. 2004, p. 18. |
9 |
Rosimari Daurício |
A comunicante faz um poema para a mãe. Repetidamente
aparece no início das estrofes a letra "N". Só depois de algum tempo
a mãe lembra do hábito delas de quando Rosimari era menina, despedir-se
com beijos na ponta do nariz, os beijos "N". Pra quem está fora de
contexto, o "N" não tem significado. Não obstante isso convenceu a
mãe. Não foi o entrevistador que sugeriu. A objeção de que a mãe é
a "pior pessoa do mundo" para avaliar, pelos depoimentos que pude
observar, é um argumento superficial, pelo menos no caso de Chico
e no tempo em que ele fazia tal trabalho. No início da pesquisa estava
inclinado a pensar assim. Se analisarmos de perto, tal contestação
ainda está fora de ambiência histórica. Há 40-50 anos atrás, ou até
mais, o Espiritismo ainda era severamente atacado pelo Catolicismo.
Mais de 60% dos requerentes em a "Vida Triunfa" eram católicos. Inclusive,
RAMACCIOTTI, como citado acima, asseverou que as famílias chegavam
desconfiadas, de manera que já houve relato de vias de fato contra
o médium e, por outras 4 ocasiões, sujeitos rasgaram as psicografias
diante dele, como protesto por não acreditarem na comunicação. Bem,
são detalhes que simplesmente não se pode desprezar e que, na minha
visão, têm mais embasamento do que uma explicação por disposição psicologia
condescendente generalizada, a qual ignora relatos importantes e,
no mais das vezes, é alegada sem nenhum estudo prévio a fim de testar
se ela é aplicável ou não à espécie de caso. Não existe hipótese com
validade absoluta. Nesta análise, observou-se a evidência mais apontando
para "familiares prevenidos" no lugar de "sujeitos complacentes". |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás do Véu
de Ísis. São Paulo: Planeta. 2004, p. 18-19. e SEVERINO,
Paulo Rossi e Equipe AME-SP. A Vida Triunfa. São
Paulo: Fé. 2006, 2ª edição, p. 134. |
10 |
Elisabeth Vieira |
Elisabeth, moradora do Rio de Janeiro, foi
na companhia de amigos a Uberaba. Nunca tinha ouvido falar em Chico
Xavier. Junto com um anfitrião, amigo do médium, ela visitou este.
Chico a cumprimentou com os vocábulos estranhos "boneca" e depois
de betinha". Eram os trejeitos, respectivamente, do pai e da mãe da
moça, logicamente falecidos. O Pai, Laudo, censurou a filha pelo desquite,
o que era um tabu na época. |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás do Véu
de Ísis. São Paulo: Planeta. 2004, p. 19 |
11 |
Orimar de Ramos Bastos e Waldéa
Argenta Bastos |
O mesmo Juiz Orimar do caso Henrique, meses
depois da sentença, visita o médium com sua mulher. O médium logo
manifesta o pai da Sra. Waldéa, cita diversos nomes, agradece a filha
por ter sido enterrado aos pés de Santa Bárbara e fala em Lourenço,
parente de Orissanga, este era pai do Juiz Orimar. Lourenço tinha
sido assassinado por m homem que o acusava de ter deflorado a filha
deste. Por Chico, insistia em sua inocência. |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás
do Véu de Ísis. São Paulo: laneta. 2004,
p. 22. |
12 |
Ilda Mascaro Saullo |
O especialista em identificação datiloscópica,
Carlos Augusto Perandréa, analisou a assinatura psicográfica de Ilda
com sua ssinatura em vida. O resultado foi positivo para identidade. |
PERANDRÉA, Carlos Augusto. A
Psicografia à Luz da Grafoscopia. 1ª. ed. São
Paulo: Editora Jornalística Fé, 1991. |
13 |
O caso das folhas rubricadas |
O repórter investigativo Clementino,
acompanhado do promotor da comarca e do engenheiro Andrade Pinto,
caminhando os três juntos à sessão, idealizam
rubricar as folhas que serviriam para psicografia, a fim de afastar
o risco de fraude, tendo em vista a hipótese das folhas usadas
serem substituídas por outras preenchidas antecipadamente.
O engenheiro tomou incumbência de solicitar isso ao médium.
Logo ao entrar em transe, o médium diz: "Emmanuel diz
que podem rubricar as folhas". |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás
do Véu de Ísis. São Paulo: laneta. 2004,
pp. 49 e 50. |
14 |
Xenoglossia |
O mesmo Clementino faz três perguntas em inglês.
Chico responde-as convenientemente. No entanto, o que Clementino queria
era uma resposta também em inglês. Para tanto realizava pedidos mentais.
No fim, o médium responde: "my good friend. I consider terminated
this experiences phasis with himself. Even in benefits of investigation
either science, I cannot sacrifice he health of our Francis. We think
you have encountered enough elements to remove all supposition from
fraud". |
MAIOR, Marcel Souto. Por Trás
do Véu de Ísis. São Paulo: laneta. 2004,
p 77. |
15 |
Volquimar C. Dos Santos |
A moça Volquimar faleceu no incêndio do Edifício
Joelma, em São Paulo. Inconsolada, a mãe, mesmo católica e descrente
na mediunidade, decide procurar Chico. Ela é informada pelo médium
que a filha havia feito uma espécie de Ouija de cartolina quando viva
e que, por intermédio daquele instrumento, iria comunicar-se. A família,
ao retornar para São Paulo, procura desenfreadamente tal objeto e
o acha no quarto da falecida. Ninguém tinha a mínima idéia da existência
de tal aparelho, embora o irmão dela tenha se lembrado de ter encontrado
a irmã desenhando algo em cartolina. Ninguém sabia para qual finalidade,
salvo a própria Volquimar. |
RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco Cândido.
Somos Seis. Bernardo do Campo: GEEM. 25ª edição,
2006.
e
SEVERINO, Paulo Rossi e Equipe AME-SP. A Vida Triunfa.
São Paulo: Fé. 2006, 2ª edição, p.
46. |
16 |
Ricardo Leão |
- A psicografia fala do "vovô Joaquim", só
descoberto por averiguações posteriores feitas pelos familiares. |
SEVERINO, Paulo Rossi Equipe AME-SP. A
Vida Triunfa. São Paulo: Fé. 2006, 2ª
edição, p. 196. |
17 |
Allann C. Padovani |
A psicografia cita "Antônio Padovani", falecido
há mais de 40 anos. Era o tio-avô do pai do comunicante. Ninguém presente
tinha conhecimento da existência deste Padovani. |
SEVERINO, Paulo Rossi Equipe AME-SP. A
Vida Triunfa. São Paulo: Fé. 2006, 2ª
edição, p. 229. |
18 |
Sidnei Martini |
- Sidnei citou a avó Marietta, sua avó que
desencarnou nove meses após ele. Chico de nada sabia.
- Outro fato realmente esclarecedor foi a menção de vovô Giacomo.
Na hora, os pais do falecido, em dúvida, não sabiam se era por parte
do pai ou da mãe o próprio parentesco de Giacomo. Não lembravam. Só
quando retornaram, os irmãos mais velhos da mãe, quando perguntados
por parte de quem era o vovô Giacomo, confirmaram se tratar do avô
materno deles, Giacomo Pedrina, falecido na Itália em 1918, na 1ª
Guerra Mundial. |
GERMINHASI, Rubens Silvio e XAVIER, Francisco
Cândido. Continuidade. São Paulo: IDEAL.
1990. |
19 |
Serginho |
O comunicante, pela psicografia de Francisco
Cândido Xavier, fala do vovô Rocha. Na ocasião, Chico diz ao pai de
Serginho tratar-se do vovô Antônio Rocha. Ninguém conhecia o Sr. Antônio.
Sr. Luiz, ao retornar de Uberaba, começa uma pesquisa na família a
fim de identificar a personalidade. Depois de algumas inquirições
inicias, não havia ainda encontrado nenhum parente chamado Antônio.
No entanto, após revirar algumas certidões de nascimento, ele descobre
o Sr. Antônio Rocha, tataravô do comunicante. |
RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco Cândido.
Adeus Solidão. Bernardo do Campo: GEEM. 1982, p. 128. |
Como vimos, os casos acima sugerem paranormalidade,
embora mediunidade não seja a única possibilidade exegética.
Passemos agora a examinar a inferência de percepção
extra-sensorial (PES) e mediunidade.
Percepção Extra-Sensorial e Mediunidade:
Rapport Como Divisor de Águas
Passamos analisar as explicações paranormais. Uma primeira
abordagem para percepção extra-sensorial (PES) obstrui
a evidência do fenômeno mediúnico. Se um médium
transmite a informação sobre uma pessoa falecida, e,
se esta informação não é verificável,
nada mais preventivo que atribuir o caso à fraude ou à
mistificação. Por outro lado, se a informação
é verificável e verdadeira, há quem entenda que
se deve explicar sempre por telepatia ou clarividência do sensitivo,
sendo, pois, dispensável a atuação de uma mente
desencarnada. Essa generalização, a meu ver, não
passa de uma ideologia materialista de que a mente seja ou uma substância
dependente e gerada pelo cérebro ou uma função
desempenha pela rede neural. No entanto, a assunção
fisicalista está cheia de lacunas dentro da discussão
ontológica sobre consciência. Ademais, psi,
ao invés de favorecer o materialismo, vem destacar ainda mais
as falhas no programa materialista.
Muitos filósofos que possuem um discurso fisicalista, e que
discutem psi, usam um argumento elástico de que, se não
conhecemos os limites dela, nada impede que possa responder pelos
mais estranhos fenômenos, como telepatia indireta, retrocognição
telepática, aviões caindo por psicocineses (PK), por
que não? O problema é que, quando se tenta teorizar
como psi funciona,
começamos a observar que alguns limites filosóficos
existem para ela, ou pelo menos deixa de ser razoável determinado
modus operandi.
Muito curioso é que estes mesmos filósofos, quando discutem
sobre o Idealismo
na filosofia da mente, não têm a mesma flexibilização,
são mais rígidos e refutam a possibilidade da consciência
ser o único componente da ontologia em razão do Idealismo
não ser testável ou não ser prático por
dispensar muitos conceitos que entendemos como reais. Ora, mas para
Super-PES estas mesmas objeções não se aplicariam?
Como posso provar que meu cérebro derrubou aquele avião?
Ou então, como o estado das minhas conexões neurais
foi capaz de sondar a rede neural de outra pessoa? Como posso decodificar
a linguagem telepática sem ter tido um processo de aprendizagem
prévio? Por que o cérebro é o único objeto
físico que é uma barreira às "radiações"
telepáticas, tendo em vista que, fora ele, elas não
respeitam espaço-tempo, atravessando paredes, cruzando vastos
terrenos, rios, mares e montanhas etc.?
Podemos dizer que telepatia é uma leitura
de pensamento e não mera transmissão.
Isso resolve a questão do subjetivismo ou da perspectiva de
primeira pessoa. Se uma mãe telepaticamente "sente"
as dores de seu filho, o qual estava, sem o conhecimento dela, acidentado,
como saber que as dores que ela "sente" são as experiências
do seu filho ou os próprios qualias
dela? Penso ser mais razoável dizer que aquela mãe reflete
a experiência dela mesma, segundo a influência que lhe
chega, seja uma sensação ou a interpretação
que faz de uma proposição informacional. Por outro lado,
telepatia como leitura,
encontra os mesmos problemas espaço-temporais que a telepatia
como transmissão, sendo a diferença fundamental
que a primeira transforma o emissor num agente passivo e o receptor
num papel ativo de sondagem. De qualquer forma, deveria haver alguma
"radiação" - ou seja o que for aquilo que
o cérebro produz - que fosse capaz de penetrabilidade em todos
os objetos, salvo o próprio cérebro, e hábil
a selecionar, dentro do arquivo de memórias de alguém,
apenas as informações que são úteis ao
propósito do invasor. No caso de Chico Xavier, deveria ele
ter a capacidade de decifrar certas disposições neurais
dos requerentes e traduzi-la para seus correspondentes semânticos
da linguagem falada. Mas não só isso, o cérebro
do médium deveria ser apto a sondar também mentes de
pessoas distantes e desconhecidas (ver casos 6, 7, 15, 16 e 17 acima)
e mesmo hábil a dar informações até então
ignoradas por pessoas vivas, o que implicaria em precognição
em certo grau (ver casos 4 e 5).
Sondagem telepática não difere em natureza da clarividência,
trocando apenas os objetos-alvo: coisa qualquer por coisa específica:
o cérebro. Mas uma explicação fisicalista para
clarividência é ainda mais esquisita. Dentro da abordagem
da transmissão, a matéria deveria possuir alguma energia
capaz de armazenar situações, pensamentos e sentimentos
de pessoas próximas daquela, a qual então radiaria as
informações para fora. O cérebro de algum sensitivo
deveria desta forma captar tais "ondas radiantes" e decifrar
o significado, descrevendo cores, formas etc. Telepatia por transmissão,
num viés materialista, exigiria o mesmo poder radiante, mas
pela estrutura cerebral do emissor. Telepatia por sondagem também
não facilita muito o problema. Afinal, que espécie de
substância produzida pelo cérebro seria capaz de ir e
voltar fora dos limites ordinários de espaço-tempo e
selecionar por clarividência, no banco de memórias de
de um cérebro distante, as informações úteis
ao sujeito invasor, substância essa que ainda deveria teoricamente
carregar tais dados durante o período de transposição,
para, no fim, servir de substrato a um drama de acordo com as crenças
e propósitos pessoais de alguém, como os médiuns
espíritas?
Uma solução para resolver os problemas acima seria não
se exigir demais de psi.
Isso transformaria muitas dessas indagações, as quais
estão longe de serem solucionadas, em não-problemas.
A incompreensibilidade de como o cérebro seria capaz de realizar
tais operações parapsicológicas exalta também
as conclusões das teorias dualistas e outras que sejam consciencialistas,
sugerindo que os fenômenos poderiam ocorrer na mente, uma substância
separada e possivelmente independente do cérebro. Poderíamos
então supor de psi apenas a existência de um receptor
passivo e de um emissor que transmitisse as informações.
Acontece que isso não explicaria as informações
sabidas pelo médium e desconhecidas dos presentes, salvo se
evocarmos a contribuição informacional de mentes desencarnadas.
Por assim dizer, não existiriam fenômenos de telepatia
indireta, as informações desconhecidas de parentes e
amigos proviriam realmente da mente daquele que teve a experiência
em vida, estando agora sem um corpo físico.
Em telepatia experimental, a exemplo de ganzfeld,
há um condicionamento metodológico de colocar emissores
e receptores em sincronia voluntária de objetivos que se complementam.
Resultados estatisticamente significativos já foram apresentados
a ponto de haver uma boa certeza quanto à existência
de PES, embora não saibamos sua natureza e como ela funciona,
principalmente do ponto de vista de outras ciências além
da Psicologia, como a Física e a Biologia. Muitos parapsicólogos
vão justificar a dificuldade e o baixo impacto de psi
nos laboratórios em razão da impossibilidade de recriar
o ambiente e as condições naturais em que psi
espontâneo acontece. Deste raciocínio parte
a idéia de que psi
in natura deve ter impactos bem mais possantes. O problema
desta elucubração, simplesmente como está posto,
é que poderia nos levar a enxergar apenas a distinção
de grau entre PES
induzida (em laboratório) e PES
espontânea, e tirando-nos o foco de uma exigência
primordial para PES funcionar: o alinhamento voluntário entre
emissor e receptor para transmissão da mensagem, isto é,
o que os pioneiros em pesquisa psíquica chamavam de rapport.
Em tese, quanto maior a "relação psíquica"
entre os sujeitos (afinidade de sentimentos e pensamentos, proximidade
sensória, como contato físico ou visual, focalização
mental ou concentração simultânea em metas comuns
etc.) telepatia deveria ser mais fácil. Por este raciocínio,
pesquisadores começaram a fazer uma série de sessões
por procuração (ou representação) com
médiuns espíritas a fim de diluir o elo entre médium
e possíveis fontes vivas para as mensagens. Tais experimentos
consistiam em pôr diante de um médium um assistente que
nunca tivera qualquer espécie de contato com o sujeito requerente.
O assistente saberia apenas o nome deste e o nome e a época
da morte do parente desencarnado que deveria se manifestar. Todas
as informações ainda seriam passadas por um terceiro
sujeito independente. Para quem leu o relatório do Rev. Drayton
Thomas com a médium Leonard nos Proceedings
da S.P.R, vol. 45, de 1938-9, pp. 259-308 deve ter ficado impressionado
com a quantidade e qualidade das informações sobre o
falecido. O que isso quer dizer? Que mesmo vínculos muito tênues
de proximidade já seriam suficientes para o êxito da
sondagem telepática e sem afetar a qualidade de acesso, por
parte do cérebro do médium, a informações
contidas em estados neurais de pessoas distantes? Bem, se você
achar tudo isso muito complicado, penso haver uma saída mais
simples, mas que acabará lhe guiando a existência de
mentes independentes de cérebros as quais persistiriam com
memória, cognição e percepção capazes
de interagir e fornecer informações a pessoas com faculdades
especiais. É uma abordagem muito sedutora para muitos casos
na Parapsicologia e que não precisa responder a questão
sobre a existência de um "cérebro radar". É
o que vemos na teoria da mediunidade. Outra possibilidade para justificar
mediunidade seria a capacidade psicocinética (PK) de uma mente
(desencarnada ou não) sobre o aparelho motor do médium
fazendo-o escrever páginas e páginas de mensagens, tal
como sugere, algumas vezes, o processo de psicografia. Mas ainda não
terminei a questão do rapport. PK e PES são espécies
de psi. Na PK, derrubar um avião pelo pensamento ou movimentar
alguns pequenos objetos, como palitos de fósforo, a exemplo
de Nina Kulagina (KEILT e FAHLER, 1974), é uma diferença
de grau. Seja qual for a "radiação" responsável,
esta não necessita retornar a sua fonte de emanação,
muito menos trazendo algum conteúdo informacional, pelo menos
não como em PES. Nesta, pelo contrário, partindo de
um paradigma de sondagem por parte do sensitivo, seja qual for a natureza
física da "radiação", ela precisa retornar
a sua fonte geradora com a resposta orientada ao propósito.
Daí a importância da motivação e concentração
afinada a uma meta comum, ajustamento sincrônico entre os sujeitos
ativo e passivo para o êxito. Tal alinhamento poderia dar-se
por alguma espécie de contato ou proximidade prévios
suficientes para individualizar o alvo. Assim, no meu entender, telepatia
indireta só seria explicável pela hipótese mediúnica,
mesmo quando o requerente diante do médium teve contato com
sujeitos vivos os quais seriam possíveis fontes de dados. O
interessante que apenas tenho notícia de casos deste tipo dentro
de cenários espiritualistas. O que pensar disso? Bozzano (1968)
é complacente em admitir sondagem telepática (leitura
de pensamento) na mente de sujeitos desconhecidos do sensitivo, mas
que sejam conhecidos dos que estão na presença deste.
Haveria uma espécie de orientação psíquica
por parte do sujeito presencial o qual serviria de marcação
para individualização do sujeito-alvo, que está
distante. O falecido pesquisador italiano talvez entenda assim por
pensar que as faculdades psi sejam de natureza espiritual. Mas dentro
do fisicalismo, aceitar telepatia indireta talvez nos leve a assumir,
ao nosso redor, a existência de campos psicométricos
carregados de informações sobre o quê e quem já
tivemos alguma espécie de contato. Ou então nos trazer
a embaraçosa indagação de como o sensitivo é
capaz de decodificar a disposição das cargas neurais
que constitui o banco de memórias de alguém presente
e pegar informações que identifiquem semanticamente
uma outra pessoal distante (nome, aparência, residência
etc.) e assim sondar remotamente a memória dela em busca de
informações específicas? Aqui mora um terreno
por deveras ardiloso para se concluir. De qualquer forma, para um
materialista, é uma odiosa discussão a perpetrar-se.
Mas o que dizer da clarividência, não existiria? Se dissermos
que sim, isso nos deveria jogar mais uma vez longe dos assuntos que
um materialista se sentiria à vontade em dialogar, como discussões
sobre espaço-tempo alternativo, uso de uma nova geometria e
assunções filosóficas que poderiam ser emprestadas
pela física quântica e principalmente a possibilidade
de uma mente que pode se destacar do corpo. Se dissermos que não,
como explicar a literatura correlacionada, como justificar a série
de experimentos do livro feitos com a médium Leonard (ver Rev.
S. W Irving, J.S.P.R Volume 24, 1927-1928. p. 04; Sr. e Sra. Grey.
J.S.P.R Volume 24, 1927-1928. p. 71; Drayton Thomas. "Life Beyond
Death with Evidence", W. Collins Sons & Co., Ltd., 1928)?
Dever-se-ia necessariamente invocar a atuação de mentes
desencarnadas ou dos controles espíritas (os chamados guias)
como fonte das informações? Uma outra opção
seria admitir clarividência por projeção mental,
dentro de um espaço razoavelmente delimitado, a exemplo dos
casos de projeção PES como Alex Tanous; Keith Blue e
Ingo Swann reportados na American Society Psychical Research e na
Psychical Research Foundation ou, forçando um pouco, a captação
de imagens-pensamento de lugares visitados por pessoas afinadas por
proximidade ou sentimento com o sensitivo. Quer dizer, o rapport aqui
deveria ser também indispensável.
Bem, não tenho a pretensão de demover ninguém
do materialismo, inclusive parapsicólogos que acreditam que
psi pode ser explicada neurofisiologicamente. Só penso ser
mais prudente, no lugar de usar um conceito elástico para psi,
não ser tão condescendente quanto ao tamanho do alcance
da relação
psíquica entre os sujeitos. De minha observação,
essa indulgência mesmo enfraquece psi
como teoria científica, tornando-a imprestável a falseabilidade.
Casos como o de Izídio (5), psicografado por Chico Xavier,
exigiram um super-alargamento do conceito de PES, bem como todos aqueles
outros em que este médium cita dados desconhecidos pelos requerentes
que se dirigiram a Uberaba, nomes de ancestrais e lugares os quais
os parentes sequer sabiam existir, salvo se recorremos a co-participação
de alguma mente (encarnada ou desencarnada) próxima fisicamente
ou sintonizada por propósitos em comum e que detenha as informações.
A explicação mediúnica nestes casos faria de
PES um processo simples, pois o que haveria seria uma telepatia entre
duas mentes harmonizadas finalisticamente e com motivações
necessárias. No entanto, por uma das mentes estar desencarnada,
é difícil assumir abertamente tal posição
tendo em vista o tabu social já enraizado pela ideologia materialista,
apesar de existirem falhas na visão fisicalista de um cérebro
gerador de mente, como aquelas provenientes das EQMs, casos de crianças
que lembram espontaneamente de vidas passadas, experiências-fora-do-corpo,
fenômenos psíquicos no leito de morte e a própria
mediunidade.
Conclusão
Tendo em vista minha posição pessoal
ajustar-se melhor a teorias transmissivas da relação
mente-cérebro e por pensar que o conceito de sintonia
psíquica para psi
não deve ser tão arbitrário, até mesmo
pela falta de exemplos que a história das pesquisas parapsicológicas
pode nos conceder sobre um psi
sem rapport,
penso existir uma gama de fatos que poderia com mais razoável
certeza ser explicada pela ação de uma mente desencarnada,
tais como os casos 5, 6, 7, 15, 16 e 17 acima, salvo uma explicação
normal por fraude. Chico Xavier continua sendo um indício forte
de evidência da Sobrevivência, o qual poderia ser mais
esclarecedor se houvesse um aproveitamento experimental controlado.
Trabalhos espirituais assistenciais são benesses e consolos
aos entes que ficam, mas não ajudam muito a resolver o problema
da sobrevivência na raiz. São ações capazes
de dar conforto aos que tiveram a sorte de uma experiência pessoal,
porém não silenciam as justas objeções
a uma vida após a morte.
Mais uma vez ressalto que minha posição sobre Chico
Xavier continua aberta a sugestões. Não me sinto obrigado
a defender seu legado, salvo entendimento de que isso possa estar
conciliado a verdade dos fatos. Desta forma, o autor do presente artigo
persiste não tendo problemas em rever seu ponto de vista.
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RAMACCIOTTI, Caio e XAVIER, Francisco Cândido. Entes Queridos.
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Bernardo do Campo: GEEM. 25ª edição, 2006. e SEVERINO,
Paulo Rossi e Equipe AME-SP.
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THOMAS, Drayton. Um Experimento Por Representação de Sucesso
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Fonte:
http://parapsi.blogspot.com.br/2007/12/continuamos-vivos-mente-alm-ou-aqum-do.html
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