Uma vez, há alguns anos atrás, um irmão, sério
estudioso do Espiritismo, escreveu em uma lista
espírita dizendo, com respeito à dita “magia
negra”, que não havia “arrastamento irresistível”
e que, portanto, os espíritas deviam se preocupar com sua
reforma íntima em lugar de “dar curso às bobagens
dos outros”.
Sem tirar de todo a razão do nobre irmão,
enviamos à lista, na ocasião, uma mensagem contendo
alguns argumentos que procuramos desenvolver abaixo, na esperança
de que sejam úteis ao prezado leitor.
Falar de magia negra no meio Espírita parece
um tabu. É evidente que, se soubermos, como o Senhor Jesus,
como estar no mundo sem ser do mundo, não seremos jamais
vítimas de magia alguma. Qualquer Espírita está
cansado de ouvir que os Espíritos se atraem por sintonia
e que somente seremos afetados por um Espírito mal intencionado
se nos sintonizarmos com ele. Ocorre que, se todos nós fossemos
capazes de manter nossa vibração elevada o tempo todo,
o mundo seria um paraíso. O problema reside justamente aí:
a maioria de nós deixa cair a guarda com muita facilidade.
E é justo por isso que, enquanto ainda somos crianças
espirituais, precisamos, e muito, de auxílio.
Escutamos o notável orador e espírita
exemplar Divaldo Franco dizer, em uma palestra à qual assistimos
em vídeo, que qualquer um pode pegar um lenço dele
e fazer com o mesmo um trabalho de magia que nada lhe afetará.
Em nosso modesto entendimento, o que Divaldo falou vale para ele
mesmo e para uns poucos seres encarnados pelo mundo, não
sendo, porém, de modo algum, uma fórmula que funcione
com qualquer um de nós. É evidente que, não
se dando um segundo de descanso no trabalho do bem, Divaldo está
permanentemente em sintonia com Joanna e com outros Espíritos
de escol, somente entrando em sintonia com Espíritos menos
nobres em trabalhos voltados para o bem. Assim, ele pode entrar
em cada quarto do palácio do mundo, prestando o máximo
de atenção no que nele ocorre, como conta tradicional
historieta oriental, sem entornar o cálice de paz divina
que traz em suas mãos. O mesmo se passava com Chico, Madre
Tereza, Bezerra de Menezes, Ghandi e ocorre hoje com alguns poucos
encarnados espalhados pelo mundo.
Realmente, como disse o irmão que nos interpelou
na ocasião, “não há arrastamento irresistível”.
Acontece que, se é verdade que muitos conseguem resistir
a alguns arrastamentos e, muito poucos, a todos, também é
verdade que muitos mais não conseguem resistir quase nunca,
a quase nenhum, se deixando, no mais das vezes, arrastar. Não
fosse assim, nosso mundo seria um Mundo Ditoso e não o Mundo
de Provas e Expiações que inegavelmente é.
Aceitar que Magia voltada para o mal existe –
não importa a cor que se lhe atribua – não é
“dar curso às bobagens dos outros” e sim estudar,
com humildade, o que as tradições de todas as culturas
nos ensinam. E o Espiritismo, o que tem a dizer a respeito?
O que é, afinal, o efeito da magia negra,
senão a influência negativa sobre nós da parte
de Espíritos que desejam nos prejudicar? Reconhecer que essa
influência existe é dever de todo espírita estudioso,
visto ser assunto tratado fartamente nas obras da Codificação
e em obras posteriores merecedoras de crédito. Forçados
que somos a reconhecer que Espíritos podem nos levar a praticar
ou sofrer ações que nos prejudicam caso entrem em
sintonia conosco, resta saber se a ação de tais Espíritos
pode ou não ser o resultado de certos procedimentos levados
a efeito por encarnados aos quais se dá o nome de “magia
negra”.
Em O Livro dos Espíritos o assunto é
abordado na questão 549, em seção à
qual Kardec deu o nome de “Pactos”:
549. Algo de verdade haverá nos pactos com
os maus Espíritos?
“Não, não há pactos.
Há, porém, naturezas más que simpatizam com
os maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho
e não sabes como hás de fazer.
Chamas então por Espíritos inferiores
que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem
que também os sirvas em seus maus desígnios. Mas,
não se segue que o teu vizinho não possa livrar-se
deles por meio de uma conjuração oposta e pela ação
da sua vontade. Aquele que intenta praticar uma ação
má, pelo simples fato de alimentar essa intenção,
chama em seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica
então obrigado a servir, porque dele também precisam
esses Espíritos, para o mal que queiram fazer. Nisto é
que consiste o pacto.”
O fato de o homem ficar, às vezes, na dependência
dos Espíritos inferiores nasce de se entregar aos maus pensamentos
que estes lhe sugerem e não de estipulação
quaisquer que com eles faça. O pacto, no sentido vulgar do
termo, é uma alegoria representativa da simpatia existente
entre um indivíduo de natureza má e Espíritos
malfazejos.
Como podemos ver, pelo esclarecimento dos instrutores
espirituais, rituais porventura utilizados nos procedimentos de
magia negra são de menor ou de nenhuma importância,
resumindo-se o que ocorre à questão da sintonia. Encarnados
que vibram no mal se vinculam a desencarnados que vibram nas mesmas
freqüências, ajudando-se uns aos outros na prática
das más ações.
Todo espírita sabe que os desencarnados agem
como agiam quando encarnados. Portanto, se um líder de uma
organização criminosa, que tratava seus comandados
a ferro e a fogo, vem a desencarnar, é evidente que continuará
agindo da mesma forma quando, desencarnado, se vincular a encarnados
no serviço do mal, causando um evidente problema para os
que a ele se vincularem. Mesmo não tendo sido líder
na criminalidade terrena, um desencarnado que se compraz em prejudicar
pessoas a quem não conhece é sempre um Espírito
emocionalmente desequilibrado e com força de vontade mal
orientada, constituindo-se em parceiro perturbador para quem a ele
se associa. Logo, aqueles que praticam a chamada “magia negra”
acabam, no mais das vezes, sendo as principais “vítimas”
de suas próprias ações equivocadas.
Assim, se, por um lado, devemos saber manter a guarda
levantada contra as investidas de Espíritos perturbadores,
vinculados ou não a encarnados que nos desejem mal, por outro,
devemos sempre orar por eles, sabedores de que, no mais das vezes,
estão, uns e outros, em situação muito mais
difícil que nós e precisando muito do nosso auxílio,
mesmo crendo, na sua ignorância, serem eles nossos algozes.
O amável leitor poderia, a esta altura, nos
perguntar: “E como posso eu manter a guarda levantada contra
as investidas de Espíritos perturbadores?” “Na
resposta dos Espíritos a Kardec, eles falam de ‘conjuração
oposta’. O que é isso?”
Meus bons amigos, a Codificação é
clara quando insiste na necessidade da reforma íntima, da
oração e da prática da caridade cristã.
“Levantar a guarda” é isso: esforçarmo-nos
para sermos um pouco melhores dia após dia, desenvolvendo
em nós as virtudes cristãs da tolerância, da
paciência, da humildade, da caridade e de outras mais que
tão bem conhecemos e esperamos dos outros, mas as quais nos
falta desenvolver em nós.
Fazer uma “conjuração oposta”
é chamar em nosso auxílio nossos guias espirituais
ou os Espíritos protetores da casa espírita à
qual nos vinculamos, pedindo a eles que nos inspirem em nossos atos
e palavras, desse modo nos protegendo das investidas do mal.
“Orai e vigiai para não cairdes em
tentação”, foi o ensinamento que o Mestre nos
deixou. Sigamos o ensinamento de Jesus com confiança, mesmo
sabendo que ainda somos crianças espirituais e que, por isso,
seremos ainda tentados muitas vezes. O importante é não
desistirmos jamais.