Renato Costa

>    Magia Negra é Bobagem?

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Uma vez, há alguns anos atrás, um irmão, sério estudioso do Espiritismo, escreveu em uma lista espírita dizendo, com respeito à dita “magia negra”, que não havia “arrastamento irresistível” e que, portanto, os espíritas deviam se preocupar com sua reforma íntima em lugar de “dar curso às bobagens dos outros”.

Sem tirar de todo a razão do nobre irmão, enviamos à lista, na ocasião, uma mensagem contendo alguns argumentos que procuramos desenvolver abaixo, na esperança de que sejam úteis ao prezado leitor.

Falar de magia negra no meio Espírita parece um tabu. É evidente que, se soubermos, como o Senhor Jesus, como estar no mundo sem ser do mundo, não seremos jamais vítimas de magia alguma. Qualquer Espírita está cansado de ouvir que os Espíritos se atraem por sintonia e que somente seremos afetados por um Espírito mal intencionado se nos sintonizarmos com ele. Ocorre que, se todos nós fossemos capazes de manter nossa vibração elevada o tempo todo, o mundo seria um paraíso. O problema reside justamente aí: a maioria de nós deixa cair a guarda com muita facilidade. E é justo por isso que, enquanto ainda somos crianças espirituais, precisamos, e muito, de auxílio.

Escutamos o notável orador e espírita exemplar Divaldo Franco dizer, em uma palestra à qual assistimos em vídeo, que qualquer um pode pegar um lenço dele e fazer com o mesmo um trabalho de magia que nada lhe afetará. Em nosso modesto entendimento, o que Divaldo falou vale para ele mesmo e para uns poucos seres encarnados pelo mundo, não sendo, porém, de modo algum, uma fórmula que funcione com qualquer um de nós. É evidente que, não se dando um segundo de descanso no trabalho do bem, Divaldo está permanentemente em sintonia com Joanna e com outros Espíritos de escol, somente entrando em sintonia com Espíritos menos nobres em trabalhos voltados para o bem. Assim, ele pode entrar em cada quarto do palácio do mundo, prestando o máximo de atenção no que nele ocorre, como conta tradicional historieta oriental, sem entornar o cálice de paz divina que traz em suas mãos. O mesmo se passava com Chico, Madre Tereza, Bezerra de Menezes, Ghandi e ocorre hoje com alguns poucos encarnados espalhados pelo mundo.

Realmente, como disse o irmão que nos interpelou na ocasião, “não há arrastamento irresistível”. Acontece que, se é verdade que muitos conseguem resistir a alguns arrastamentos e, muito poucos, a todos, também é verdade que muitos mais não conseguem resistir quase nunca, a quase nenhum, se deixando, no mais das vezes, arrastar. Não fosse assim, nosso mundo seria um Mundo Ditoso e não o Mundo de Provas e Expiações que inegavelmente é.

Aceitar que Magia voltada para o mal existe – não importa a cor que se lhe atribua – não é “dar curso às bobagens dos outros” e sim estudar, com humildade, o que as tradições de todas as culturas nos ensinam. E o Espiritismo, o que tem a dizer a respeito?

O que é, afinal, o efeito da magia negra, senão a influência negativa sobre nós da parte de Espíritos que desejam nos prejudicar? Reconhecer que essa influência existe é dever de todo espírita estudioso, visto ser assunto tratado fartamente nas obras da Codificação e em obras posteriores merecedoras de crédito. Forçados que somos a reconhecer que Espíritos podem nos levar a praticar ou sofrer ações que nos prejudicam caso entrem em sintonia conosco, resta saber se a ação de tais Espíritos pode ou não ser o resultado de certos procedimentos levados a efeito por encarnados aos quais se dá o nome de “magia negra”.

Em O Livro dos Espíritos o assunto é abordado na questão 549, em seção à qual Kardec deu o nome de “Pactos”:

549. Algo de verdade haverá nos pactos com os maus Espíritos?

“Não, não há pactos. Há, porém, naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como hás de fazer.

Chamas então por Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também os sirvas em seus maus desígnios. Mas, não se segue que o teu vizinho não possa livrar-se deles por meio de uma conjuração oposta e pela ação da sua vontade. Aquele que intenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir, porque dele também precisam esses Espíritos, para o mal que queiram fazer. Nisto é que consiste o pacto.”

O fato de o homem ficar, às vezes, na dependência dos Espíritos inferiores nasce de se entregar aos maus pensamentos que estes lhe sugerem e não de estipulação quaisquer que com eles faça. O pacto, no sentido vulgar do termo, é uma alegoria representativa da simpatia existente entre um indivíduo de natureza má e Espíritos malfazejos.

Como podemos ver, pelo esclarecimento dos instrutores espirituais, rituais porventura utilizados nos procedimentos de magia negra são de menor ou de nenhuma importância, resumindo-se o que ocorre à questão da sintonia. Encarnados que vibram no mal se vinculam a desencarnados que vibram nas mesmas freqüências, ajudando-se uns aos outros na prática das más ações.

Todo espírita sabe que os desencarnados agem como agiam quando encarnados. Portanto, se um líder de uma organização criminosa, que tratava seus comandados a ferro e a fogo, vem a desencarnar, é evidente que continuará agindo da mesma forma quando, desencarnado, se vincular a encarnados no serviço do mal, causando um evidente problema para os que a ele se vincularem. Mesmo não tendo sido líder na criminalidade terrena, um desencarnado que se compraz em prejudicar pessoas a quem não conhece é sempre um Espírito emocionalmente desequilibrado e com força de vontade mal orientada, constituindo-se em parceiro perturbador para quem a ele se associa. Logo, aqueles que praticam a chamada “magia negra” acabam, no mais das vezes, sendo as principais “vítimas” de suas próprias ações equivocadas.

Assim, se, por um lado, devemos saber manter a guarda levantada contra as investidas de Espíritos perturbadores, vinculados ou não a encarnados que nos desejem mal, por outro, devemos sempre orar por eles, sabedores de que, no mais das vezes, estão, uns e outros, em situação muito mais difícil que nós e precisando muito do nosso auxílio, mesmo crendo, na sua ignorância, serem eles nossos algozes.

O amável leitor poderia, a esta altura, nos perguntar: “E como posso eu manter a guarda levantada contra as investidas de Espíritos perturbadores?” “Na resposta dos Espíritos a Kardec, eles falam de ‘conjuração oposta’. O que é isso?”

Meus bons amigos, a Codificação é clara quando insiste na necessidade da reforma íntima, da oração e da prática da caridade cristã. “Levantar a guarda” é isso: esforçarmo-nos para sermos um pouco melhores dia após dia, desenvolvendo em nós as virtudes cristãs da tolerância, da paciência, da humildade, da caridade e de outras mais que tão bem conhecemos e esperamos dos outros, mas as quais nos falta desenvolver em nós.

Fazer uma “conjuração oposta” é chamar em nosso auxílio nossos guias espirituais ou os Espíritos protetores da casa espírita à qual nos vinculamos, pedindo a eles que nos inspirem em nossos atos e palavras, desse modo nos protegendo das investidas do mal.

“Orai e vigiai para não cairdes em tentação”, foi o ensinamento que o Mestre nos deixou. Sigamos o ensinamento de Jesus com confiança, mesmo sabendo que ainda somos crianças espirituais e que, por isso, seremos ainda tentados muitas vezes. O importante é não desistirmos jamais.

 


Bibliografia

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

Artigo publicado originalmente na Revista Internacional de Espiritismo, Ano LXXX, no 12, Janeiro de 2006

 

Fonte: http://www.ieja.org/portugues/p_index.htm

 



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