Novos Elementos de Observação
Disponíveis nos permitem dar um Passo Adiante em uma Linha
de Raciocínio do Codificador
Ao longo dos Itens 12 a 16 do Capítulo III de A Gênese,
Allan Kardec desenvolve uma linha de raciocínio sobre as
causas do instinto, terminando, no item 17, com
a seguinte afirmação: “Todas essas maneiras
de considerar o instinto são forçosamente hipotéticas
e nenhuma apresenta caráter seguro de autenticidade, para
ser tida como solução definitiva. A questão,
sem dúvida, será resolvida um dia, quando se houverem
reunido os elementos de observação que ainda faltam.
Até lá, temos que limitar-nos a submeter as diversas
opiniões ao cadinho da razão e da lógica e
esperar que a luz se faça. A solução que mais
se aproxima da verdade será decerto a que melhor condiga
com os atributos de Deus, isto é, com a bondade suprema e
a suprema justiça”.
Nosso objetivo neste trabalho é mostrar evidências
sugerindo já haverem sido acumulados os elementos que faltavam
para resolver a questão. Não nos sentimos à
vontade, entretanto, para continuar, sem primeiro louvarmos Allan
Kardec pela observação final, fruto de sua sabedoria
altamente inspirada pelo Alto, isto é, seja qual for a Verdade,
ela sempre será a que melhor condiga “com os atributos
de Deus, isto é, com a bondade suprema e a suprema justiça”.
Vimos que, entre a inteligência e o instinto, existe
uma tênue fronteira. No entanto, não chamamos
na ocasião a atenção do leitor para um fato
que ficou patente naquele estudo, qual seja, que a ação
inteligente é, em qualquer circunstância, realizada
por um indivíduo para, a partir daí, se bem sucedida,
ser aprendida e repetida pelos demais membros do mesmo grupo. Antes,
portanto, de um comportamento aprendido se cristalizar na comunidade
e, após isso, em uma espécie como um padrão
fixo de ação – outro nome do instinto, conforme
aprendemos – é mister que o mesmo tenha sido espalhado
por todos seus membros.
No item 12, Capítulo III, de A Gênese,
falando da inteligência, Kardec diz ser ela
“incontestavelmente um atributo exclusivo da alma”.
Agora que acabamos de verificar ser o ato inteligente realizado
pelo indivíduo, falta-nos uma chave que nos permita relacionar
os conceitos de alma e de indivíduo para,
a partir da compreensão de como se dá tal relação,
podermos integrar o que nos diz a ciência e o que nos ensina
a Codificação em um único entendimento. Para
realizarmos nosso intento, lançaremos mão, mais uma
vez, da tese, proposta por André Luiz e
desenvolvida por Jorge Andréa, quanto ao
desenvolvimento da individualidade.
Pouco além da metade do Capítulo II
de sua excelente obra intitulada Impulsos Criativos da Evolução,
Jorge Andréa define o conceito de
alma-grupo. Tentaremos explicar, com citações,
o conceito, para melhor podermos ver em que ele nos irá elucidar.
“Nas espécies mais simples, a energética-espiritual
estaria mais presa aos seus afins; por isso, podemos referir-nos
à alma-grupo-da-espécie – um vórtice
dinâmico atuante da dimensão superior, portanto, fora
do tempo e do espaço, influenciando todo um conjunto de seres.
Por outros termos, um único campo vibratório controlando
a espécie a que se destina”.
“À medida que as espécies
vão perdendo o contato de colônia, próprio as
formas mais simples, vão adquirindo relativa Individualidade
e, com isso, o vórtice dinâmico, que dirige seus destinos,
já consegue lapidar, na massa energética da alma-grupo-da-espécie,
um verdadeiro núcleo (pequeno EU). Desse modo, a alma-grupo,
dinamismo conjunto que dirige colônias minerais, vegetais
e primeiros animais, iria apresentando em seu seio, por maturação
evolutiva, pequenos fulcros vorticosos, início de afirmações
individuais, porém, que ainda não ousam nem podem
viver fora da colônia dinâmica que lhes deu a origem
e donde se nutrem”.
“Num determinado momento, quando a maturação
desses vórtices-dinâmicos da alma-grupo atingem um
grau bem maior de afirmação e vivência, tendem
a romper seus laços dinâmicos com a energia que lhes
deu origem e a se tornarem independentes, absorvendo o de que necessitam
da “energia-mãe”. Fica, assim, a alma-grupo
dispersa em núcleos próprios, afirmação
de seus pequenos EUS – individualidades – e passando
a ter maior libertação”.
“Esta fase liberatória das energias
espirituais deve despontar nas espécies animais que tenham
possibilidade do nascimento de novos aspectos psicológicos,
isto é, dos primeiros vagidos emocionais e onde o mecanismo
sexual se apresenta com outras tonalidades. Com certa lógica
podemos incluir esta assertiva nos animais que evidenciam, na massa
nervosa, as primeiras células da futura glândula pineal
e que, por seus aspectos iniciais, são conhecidos e denominados
de olho pineal. ... A partir desses animais a alma-grupo, praticamente
vai desaparecendo e dá margem ao nascimento das individualidades”.
Podemos parar por aqui no exame do modelo proposto,
para os fins que desejamos.
Sendo a inteligência, como disse Kardec, um
atributo exclusivo da alma e os atos inteligentes, como se depreende
dos estudos da ciência, perpretados por indivíduos,
fica claro que algo escapa ao escrutínio da ciência,
o que sugere que esse algo ocorra nas dimensões espirituais.
Utilizando a explicação de Jorge Andréa,
podemos depreender que, na aquisição das características
comportamentais mais apropriadas para a evolução das
espécies mais simples, a alma-grupo-da-espécie correspondente
a cada uma trabalha nas dimensões espirituais sob a orientação
dos Espíritos que lhe dirigem as ações, sendo
o resultado de tal trabalho incorporado ao conhecimento da espécie
como um todo. Este entendimento explicaria o porque de certos instintos
de espécies primitivas, como as danças com que as
abelhas transmitem umas às outras a localização
das flores de onde irão sugar o néctar, parecem dirigidos
por uma inteligência superior, ao passo que imutáveis,
tanto entre seus membros, como de geração para geração.
À medida que os vórtices individuais
da alma-grupo-da-espécie vão se definindo e as individualidades
se formando, a inteligência vai passando a ser um atributo
cada vez mais observável pela ciência nos membros da
correspondente espécie.
No atual estágio de entendimento espírita
e científico, portanto, acreditamos já poder dar um
passo adiante na linha de raciocínio deixada inconclusiva
por Kardec em A Gênese, no tocante
à causa do instinto.
Utilizando o modelo proposto por Jorge Andréa,
podemos ver os seres mais primitivos sendo dirigidos e auxiliados
em grupo, sendo tão mais gerais tal direção
e tais auxílios quanto mais simples forem as necessidades
de tais seres e mais rudimentares suas capacidades. À medida
que o princípio inteligente vai evoluindo, com a definição
dos vórtices que irão desembocar no surgimento das
individualidades, mais específicos deverão ser a direção
e o auxílio prestados a cada ser, com uma correspondente
diminuição de importância da influência
genérica. A evolução, do mesmo modo, cada vez
mais se processará nas dimensões materiais e menos
nas espirituais.
Sabemos que todos os povos, que nada mais são
que agregados de Espíritos de cultura semelhante, possuem
seu protetor. Assim, sabemos, por exemplo, que Ismael, Bezerra de
Menezes, Emmanuel e Joanna de Ângelis, para só citar
alguns, são Espíritos responsáveis pelo povo
brasileiro. Sabemos da responsabilidade de nosso amado mestre e
modelo Jesus para com a raça humana e para com as demais
espécies do planeta assim como da responsabilidade de outros
Espíritos de alta envergadura pelas comunidades de outras
tradições religiosas, das quais são eles mestres,
profetas ou modelos, como Buda, Krishna, Lao Tsu , Maomé
e Moisés, entre outros. No entanto, apesar de não
nos faltar a orientação geral de que necessitamos
enquanto criaturas, espécie, comunidade religiosa e povo,
cada um de nós ainda conta com um guia espiritual especifico,
que nos segue por muitas e muitas vidas, sempre paciente e sábio.
Uma analogia com nossas instituições
de ensino nos parece apropriada, uma vez que as nobres organizações
do plano físico nada mais são que cópias imperfeitas
das que existem nas dimensões espirituais. Na educação
infantil uma educadora e poucas atendentes ficam cuidando de todas
as crianças. No ensino fundamental começa havendo
uma educadora principal e algumas outras em atividades de apoio.
Como o avanço dos anos passa a haver um professor para cada
disciplina, sendo as turmas separadas por algum critério.
Na universidade, ocorre a especialização por área
acadêmica e intensifica-se a diversidade de instrutores ao
mesmo tempo em que entram em cena monitores e palestrantes de apoio.
Finalmente, na pós-graduação, além dos
instrutores em cada disciplina e dos demais profissionais acadêmicos,
o aluno passa a contar com um orientador que o atende pessoalmente.
À medida que ocorre a focalização do apoio,
entretanto, a rede que apóia toda a comunidade não
deixa de existir, pois, tanto no ensino fundamental quanto na universidade,
existem diretores, vice-diretores e responsáveis por este
ou aquele aspecto da vida acadêmica.
Mais atrás em nosso modesto trabalho
dizíamos acreditar que o atual estágio de entendimento
espírita e cientifico já nos permitia dar um passo
adiante na linha de raciocínio deixada inconclusiva por Kardec
em A Gênese, com respeito à causa do instinto. Esperamos
ter sido bem sucedidos em nosso intento.