A Forma dos Espíritos
Em O Livro dos Espíritos,
tem-se o seguinte diálogo entre Allan Kardec e os Espíritos
que ditaram a Codificação com respeito à forma
do Espírito:
88. Os Espíritos têm forma determinada,
limitada e constante?
“Para vós, não; para nós,
sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão,
ou uma centelha etérea”.
88a) - Essa chama ou centelha tem cor?
“Tem uma coloração que, para
vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante,
qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos
puro”.
Representam-se de ordinário os gênios
com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra
a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da
cabeça, porque aí está a sede da inteligência.
Analisemos primeiro, a frase inicial da resposta:
“Para vós, não; para nós, sim”.
Trata-se aqui da diferença existente entre
o que os Espíritos desencarnados podem perceber, usando seus
sentidos sutis e aquilo que os Espíritos encarnados podem
perceber, usando seus sentidos físicos.
De fato, a própria Ciência nos ensina
o quão limitada é a percepção da realidade
que nossos sentidos físicos nos propiciam. As faixas de freqüência
que nossos sentidos da visão e da audição capturam
são extremamente estreitas assim como impróprio é
o nosso tato para a realidade mais sutil como, por exemplo, a das
ondas mais diversas de comunicação que nos envolvem
em todas as direções.
Nas dimensões espirituais, o Espírito
está livre das restrições impostas pela matéria.
Sua percepção da realidade, portanto, é infinitamente
mais rica, logrando ele perceber cores e formas que, encarnado sequer
poderia descrever.
Analisemos, agora, a segunda parte da resposta:
“O Espírito é, se quiserdes,
uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea”.
Uma chama, um clarão ou uma centelha etérea
são elementos caracterizados, os três, basicamente,
pela sua tonalidade de cor, sua intensidade de brilho e o calor
que possuem. Os três são, por outro lado, desprovidos
de forma precisa. Desse modo, os Espíritos confirmaram o
que antes haviam dito, isto é, que os Espíritos não
são percebidos com forma.
Chama a nossa atenção, nessa resposta,
entretanto, que os Espíritos parecem estar falando do Princípio
Inteligente, e não do Espírito, entidade formada por
esse Princípio somado ao Perispírito. afinal, o Espírito
tem forma, uma vez que o Princípio Inteligente imprime forma
ao Perispírito. É, portanto, com forma que médiuns
de todas as raças e culturas têm percebido Espíritos
desde as mais remotas eras.
Desse modo, os Espíritos que ditaram a Codificação
parece terem aproveitado essa questão para dizer que o Princípio
Inteligente tem uma forma que foge aos nossos sentidos, sendo aceitável
que a imaginemos como uma chama.
Nossa interpretação encontra confirmação
no Item 55 do Capítulo I de O Livro dos Médiuns, onde
Kardec afirma:
Hão dito que o Espírito é uma
chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação
ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual
e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada.
Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito
está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito,
cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva
na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a idéia
de forma é inseparável da de Espírito e não
concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto,
parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem...
A Cor dos Espíritos
Voltando a O Livro dos Espíritos, verificamos
que, tendo os Espíritos respondido quanto à forma,
Kardec fez um complemento à questão preliminar, querendo
saber a cor dos Espíritos. A essa segunda pergunta, a resposta
foi a seguinte:
“Têm uma coloração que,
para vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante,
qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos
puro”.
Se prestarmos atenção, veremos que
essa resposta tem uma característica estranha. Kardec perguntou,
de forma inequívoca, pela cor da “chama ou centelha”.
Os Espíritos, no entanto, nada disseram de cor. O que é
uma cor “escura e opaca” ou uma cor “brilhante,
qual a do rubi?” Note-se que a resposta nada fala da cor em
si, destacando apenas o brilho. Nos ocorreu ter havido um equivoco
de tradução, o que nos fez recorrer ao original em
Francês:
"Pour vous, elle varie du sombre à l'éclat
du rubis, selon que l'Esprit est plus ou moins pur”. (Para
vós, ela varia do sombrio ao brilho intenso do rubi, conforme
seja o Espírito mais ou menos puro).
Como vemos, no original, a palavra cor (“couleur”)
sequer foi usada na resposta. De fato, tudo o que se obtém
da resposta é que os Espíritos mais atrasados são
vistos como uma sombra escura e os mais adiantados com uma chama
intensamente brilhante deles emanando.
Essa resposta e sua interpretação
coincidem com o que nos passam a diversas tradições
religiosas, que reportam que os anjos e santos ofuscam nossos olhos
com seu intenso brilho, ao passo que os chamados demônios
são ditos “espíritos das trevas”, devido
à sua aparência sombria.
É interessante notar que a resposta dos Espíritos
tanto é válida se estivermos falando do Princípio
Inteligente quanto se estivermos falando do Espírito, isto
é do Princípio Inteligente acoplado ao perispírito.
Teriam os Espíritos se furtado a falar da
cor por ser ela de somenos importância ou teria sido por serem
as cores em questão além de nossa capacidade visual?
Por alguma razão não o fizeram e por alguma razão
Kardec não os redargüiu a respeito, dando-se por satisfeito
em confirmar o brilho.
Uma Aventura pela Questão da Freqüência
Apesar de nada terem dito os Espíritos a
Kardec sobre a cor em si, a sub-questão “a” nos
oferece uma boa oportunidade para estudarmos um pouco a questão
da freqüência emitida pelos Espíritos, como é
percebida pelos médiuns videntes, como nos reporta a tradição
e como é entendida pela Ciência humana.
Sabemos, das noções básicas
da Física, que, no espectro da luz visível, a cor
vermelha corresponde às mais baixas freqüências
percebidas, correspondendo o violeta às freqüências
mais elevadas que o olho humano consegue ver.
A tradição, que nada mais é
que o acúmulo dos testemunhos dos médiuns videntes
através dos milênios, parece confirmar que a noção
que obtemos da Física pode ser utilizada. Todas as tradições
religiosas sempre associaram a cor vermelha aos demônios e
Espíritos perturbadores enquanto a cor branca sempre foi
associada aos anjos e demais Espíritos elevados.
Alguém poderia levantar a questão:
“É verdade que os demônios são representados
tradicionalmente na cor vermelha, mas as representações
dos anjos e demais Espíritos elevados utilizam, predominantemente,
a cor branca ou, se muito, anil e não à cor violeta”.
A própria Física nos ajuda a entender
o que ocorre. O branco visível nada mais é que a mistura
equilibrada das cores básicas ou de todas as cores. Ora,
os Espíritos mais adiantados necessitam adequar sua vibração
à dos médiuns videntes que os enxergam com sua visão
sutil. Por outro lado, o seu adiantamento moral deve produzir uma
determinada vibração elevada mesmo quando em contato
com Espíritos menos evoluídos que requerem deles uma
vibração mais baixa.
Isso sugere, a nosso ver, que eles tenham capacidade
de vibrar em mais de uma freqüência simultaneamente.
Se supusermos que os Espíritos mais evoluídos podem
vibrar em diversas freqüências simultaneamente, quando
desejam entrar em contato com diversos Espíritos em estágios
diferentes de evolução ao mesmo tempo, o resultado
visual dessa simultaneidade de emissão de freqüência
tenderá ao branco, como percebido pelos videntes.
Agora que já nos aventuramos pelos domínios
da cor, vamos utilizar o relacionamento entre as freqüências
de vibração e a temperatura e nosso conhecimento sobre
o que nos diz a tradição para ver se chegamos a uma
conclusão semelhante.
Ao longo dos séculos, a proximidade de Espíritos
perturbados ou perversos sempre foi percebida como uma sensação
de frio pelos médiuns. A temperatura fria corresponde à
baixa freqüência de vibração (o mesmo que
a cor vermelha). Os Espíritos evoluídos, por outro
lado, sempre foram percebidos como tendo temperatura agradável
e não como quentes, o que corresponderia a uma alta freqüência
de vibração. Ora, a temperatura agradável significa
exatamente o cuidado que o Espírito evoluído tem em
tornar igualmente agradável a sua aproximação,
guardado, pois, um paralelo com a cor branca.
A Alegoria dos Gênios
Kardec conclui a questão 88 com o seguinte
comentário:
Representam-se de ordinário os gênios
com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra
a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da
cabeça, porque aí está a sede da inteligência.
De fato, em todas as tradições os
homens e mulheres santos e mesmo as representações
da divindade costumam ser representados com uma chama, um halo ou
uma estrela na fronte ou pairando sobre a cabeça. Kardec
comenta que esse fato se deve a ser a cabeça a sede da inteligência,
o que se explica pela associação da inteligência
à mente e desta com o cérebro.
Como se Deslocam os Espíritos
As questões que sucedem a de número
88 até a de número 91 tratam da maneira com que os
Espíritos se movem de um lugar para o outro
89. Os Espíritos gastam algum tempo para
percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento”.
Dizer que algo se move com a rapidez do pensamento
é o mesmo, para efeitos práticos, que falar de deslocamento
instantâneo. O que sabemos, no entanto, pelas obras de André
Luiz, particularmente, mas por outras também, é que
os Espíritos se movem com velocidades diversas, desde o deslocamento
lento e pesado dos Espíritos perturbados ao volitar veloz
e gracioso dos Espíritos Bons trabalhadores da espiritualidade.
Teriam os Espíritos esquecido essa realidade?
Veremos que não.
Os Espíritos perturbados têm seus pensamentos
confusos, força de vontade embotada pela sua baixa auto-estima
e encontram-se desprovidos de fé. Assim, podemos induzir
que a rapidez do pensamento deles é baixa, quase nula. À
medida que o Espírito vai evoluindo, seus pensamentos ficam
mais coerentes, ao passo que aumenta sua força de vontade
e sua fé se torna raciocinada e firme. Desse modo, podemos
entender que a rapidez de seu pensamento e, por analogia, de seu
próprio deslocamento, vai crescendo à medida que ele
evolui, até que, alcançado o estado de Espírito
Puro, ele passa a se deslocar de forma quase instantânea de
um lugar a outro.
89a) - O pensamento não é a própria
alma que se transporta?
“Quando o pensamento está em alguma
parte, a alma também aí está, pois que é
a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”
A pergunta de Kardec nos parece hoje algo estranha.
Talvez o Codificador estivesse pensando em “mente” quando
disse “pensamento”. Do modo que ele perguntou, a resposta
dos Espíritos não podia ter sido diferente. Pensamento
é um atributo do Espírito e não pode, portanto,
ser confundido com ele. No entanto, o pensamento também é
um atributo da mente. Ficamos sem saber qual teria sido a resposta,
neste caso.
90. O Espírito que se transporta de um lugar
a outro tem consciência da distância que percorre e
dos espaços que atravessa, ou é subitamente transportado
ao lugar onde quer ir?
“Dá-se uma e outra coisa. O Espírito
pode perfeitamente, se o quiser, inteirar-se da distância
que percorre, mas também essa distância pode desaparecer
completamente, dependendo isso da sua vontade, bem como da sua natureza
mais ou menos depurada”.
A resposta é perfeitamente clara. Se o Espírito
possui o devido adiantamento que lhe permita vencer grandes distâncias
de forma instantânea, não há porque ele se dê
conta de tais distâncias se tal não for necessário.
Pensemos em uma analogia simples. Se eu percorro 12 km a pé,
eu sinto em meu corpo, nos meus pés, nos meus pulmões,
na minha boca seca, o efeito do percurso, o que me torna impossível
deixar de avaliar a distância percorrida. Suponhamos, agora,
que um avião a bordo do qual eu esteja percorra os mesmo
12 km em velocidade supersônica. Será que eu, confortavelmente
sentado a bordo, tomando uma bebida gelada, lendo uma revista ou
assistindo a um filme, me darei conta de que saí do lugar?
É bom ter em mente, entretanto, que, do mesmo
modo que ocorre com o passageiro do avião, o fato de não
sentir o efeito do percurso não faz com que o Espírito
seja impedido de conhecê-lo, caso isso lhe seja importante.
91. A matéria opõe obstáculo
ao Espírito?
"Nenhum; eles passam através de tudo. O ar, a terra,
as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente
acessíveis."
O Espírito desencarnado, em princípio,
é capaz de passar através de tudo. Ocorre, no entanto,
que Espíritos perturbados podem se crer incapazes de transpor
certas barreiras materiais, o que os leva a tentar contorná-las.
É baseado nesse fato que os Espíritos arraigados no
mal constroem prisões e fortalezas ideoplásticas nas
dimensões espirituais de modo a submeter outros Espíritos
de que se servem para seus propósitos escusos.
A Ubiqüidade dos Espíritos
92. Têm os Espíritos o dom da ubiqüidade?
Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir
em muitos pontos ao mesmo tempo?
“Não pode haver divisão de um
mesmo Espírito; mas, cada um é um centro que irradia
para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito
em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente.
No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus
raios. Contudo, não se divide.”
92a) - Todos os Espíritos irradiam com igual
força?
“Longe disso. Essa força depende do
grau de pureza de cada um”.
Cada Espírito é uma unidade indivisível,
mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados,
sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é
que se deve entender o dom da ubiqüidade atribuído aos
Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma
centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida
de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com
um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens,
sinais e movimento a diferentes pontos.
Não pode haver divisão de um mesmo
Espírito. Essa é uma resposta clara. A capacidade
de ser percebido em diversos lugares ao mesmo tempo não contraria,
em absoluto, esse princípio.
Nos dias de hoje podemos ter uma idéia melhor
da ubiqüidade do Espírito pensando em uma rede de televisão.
O Espírito está no estúdio dando uma entrevista
que é assistida em todo o Brasil por milhões de pessoas.
Podemos melhorar nossa analogia lembrando da capacidade
que tem a mente humana de cuidar de várias interações
ao mesmo tempo. Há pessoas capazes de escrever um texto no
computador ao mesmo tempo em que conversam com uma pessoa ao seu
lado. Uma mãe consegue dar atenção a três
filhos falando com ela ao mesmo tempo e não deixa de dar
a resposta correta a cada um.
A nossa analogia da TV ainda é fraca, portanto,
uma vez que, se uma pessoa encarnada consegue interagir de forma
diferente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, por que se daria
de forma diferente com um Espírito desencarnado. Se ele é
capaz de irradiar sua presença, é válido deduzir
que ele também será capaz de ser percebido interagindo
de forma diferente com pessoas diferentes.
A força com que os Espíritos irradiam
depende de seu grau de pureza, isso é, de seu adiantamento
evolutivo. Quanto mais evoluído o Espírito, portanto,
mais longe e para mais pessoas ele poderá irradiar sua presença.
Do mesmo lodo, quanto mais evoluído, mais poderá ele
diversificar o relacionamento que tem com cada um.
Para concluir nosso estudo sobre a ubiqüidade
do Espírito, nada melhor do que nos lembrarmos da promessa
do Mestre quando disse que onde quer houvesse dois ou mais reunidos
em Seu nome, entre eles Ele estaria.