Estudos Recentes da Inteligência não-humana
ajudam-nos a Entender uma Cautelosa Nota do Codificador.
No Item 56 do Capítulo I da Segunda Parte de “O Livro
dos Médiuns”, diz Kardec: “
Com pequenas diferenças
quanto às particularidades e exceção feita
das modificações orgânicas exigidas pelo meio
em o qual o ser tem que viver, a forma humana se nos depara entre
os habitantes de todos os globos. Pelo menos, é o que dizem
os Espíritos.”
Apesar de, logo a seguir, ter o Codificador tirado
algumas ilações tendo como base a afirmação
contida na primeira frase cotada, gostaríamos de chamar a
atenção dos leitores para a segunda, onde ele diz
“Pelo menos, é o que dizem os Espíritos”.
Kardec, como todos os que estudam a Codificação sabem,
não fazia nenhuma afirmação conclusiva sem
antes passar a mesma pelo crivo da razão e do bom senso.
A cautela expressa na segunda frase denota claramente que tal não
se havia dado com respeito à afirmação de que
“a forma humana se nos depara entre os habitantes de todos
os globos”. Procuraremos mostrar neste trabalho que Kardec
tinha bons motivos para ter tal cautela.
* * *
Desde as mais remotas eras o homem tem percebido
que determinadas espécies de animais denotam alguns comportamentos
semelhantes aos humanos e que, quando nos referimos à nossa
espécie, são tidos como inteligentes. Assim foi que
animais tão diversos como cães, corvos, golfinhos,
papagaios, chimpanzés e corujas, entre outros, foram, ao
longo dos séculos, associados a conceitos como fidelidade,
esperteza, amizade, habilidade e sabedoria.
A partir do século XX a questão da
“Inteligência Não Humana”
começou a despertar um interesse crescente na comunidade
científica, proliferando hoje em todo mundo cientistas dedicados
ao estudo daquelas e de outras espécies. Tais cientistas
se dividem entre os estudiosos de Psicologia Associativa, um ramo
da ciência que surgiu nos EUA na década de 20 e os
estudiosos de Etologia, outro ramo da ciência, este surgido
na Europa na década seguinte. É importante frisar,
com base nessa informação, que no século XIX
não havia nenhum ramo da ciência dedicado especificamente
ao estudo do comportamento animal, um fato que justifica a hesitação
de Kardec em aceitar o que haviam dito os Espíritos a respeito
da forma hominal nos diversos mundos.
No início desses estudos predominava a noção
de que a inteligência animal tinha que ser comparada com a
humana e avaliada a partir dela. Com esse enfoque comparou-se o
tamanho absoluto dos encéfalos das diversas espécies,
o seu tamanho relativo, o quociente de encefalização
e a quantidade de circunvoluções no córtex
cerebral, sendo que nenhum desses métodos demonstrou ser
suficientemente correto. Hoje em dia muitos estudiosos têm
defendido a tese de que inteligência é algo que não
deve ser analisado entre as espécies e sim avaliado para
cada uma em função dos desafios que tem por enfrentar
e do modo como escolhe, dentre os conjuntos de informação
de que dispõe, aquele que lhe oferece o melhor meio para
enfrentar tais desafios com sucesso.
Defrontado com os inúmeros estudos hoje disponíveis
que comprovam a inteligência das mais diversas espécies
de animais, alguém poderia objetar quanto à sua evolução
anímica, afirmando que os indivíduos que a elas pertencem
fazem hoje exatamente o mesmo que faziam há séculos
atrás ou mesmo desde que a história registra a sua
existência. Longe de se constituir tal afirmação
em uma objeção válida, no entanto, ela denota,
a nosso ver, apenas uma percepção equivocada quanto
à própria evolução da inteligência
humana. O ser humano, assim como os demais animais, não denota
ter feito significativa evolução em inteligência
nos últimos milênios, conforme demonstra a sofisticação
de escrituras e escritos filosóficos milenares das diversas
tradições. A evolução que houve na raça
humana foi, predominantemente, de ordem científica e tecnológica,
devendo-se ela, basicamente, à habilidade do homem na construção
de ferramentas e ao seu domínio de uma forma complexa de
comunicação, dotada de sintaxe e semântica e
que é chamada de linguagem.
Para sabermos, portanto, se uma outra espécie está
em condição de chegar algum dia a nível semelhante
àquele onde o ser humano hoje se encontra não nos
basta saber se eles possuem inteligência, mas, mais que isso,
precisamos saber se os indivíduos de tal espécie têm
condição de criar ferramentas e de estabelecer entre
si uma forma de comunicação que mereça ser
chamada de linguagem. Ocorre, porém, que o patamar onde o
homem se encontra não representa, necessariamente, um estágio
obrigatório para todas as espécies. Apesar de ser
verdade que o domínio da linguagem se afigura como essencial
característica evolutiva, o mesmo não se pode afirmar
com respeito à habilidade para construir ferramentas. Esta
última faz-se necessária ou não, dependendo
do meio onde a espécie vive e das condições
que ela tem de sobreviver nesse meio.
Capacidade de comunicação complexa
e muito mais são características que têm sido
verificadas pelos pesquisadores como existentes em diversas espécies,
havendo, entre elas, algumas que vivem na terra, outras no mar e
outra, ainda, que se locomovem pelo ar. Em artigo posterior daremos
um exemplo de cada uma delas de forma a caracterizar bem essa informação.
* * *
Maria João de Deus, a querida
mãezinha de nosso Chico Xavier, referiu-se aos habitantes
de Saturno com as seguintes palavras:
“Nada tinham de comum com os tipos da humanidade
terrena, afigurando-se-me extraordinariamente feios com a sua
organização animalesca, com suas membranas à
guisa de asas, tão estranhas para mim, as quais lhes facultavam
o poder de volitar à vontade.”
Ante o seu assombro, o instrutor a esclareceu quanto
às condições de vida naquele mundo e, referindo-se
aos seus habitantes, disse a Maria João:
“Essas criaturas que te parecem animais
egressos das plagas terrestres, onde os zoófitos encontram
os seus elementos de vida, são altamente dotados de sabedoria,
sensibilidade e inteligência. Seus sentidos e percepções
são muito superiores àqueles com que foram aquinhoados
os homens terrenos e a preocupação máxima
da sua existência é a intensificação
do poder intelectual.”
Nosso pequeno estudo mostrou que as espécies evoluem de forma
diferente conforme o meio onde vivam e os desafios que tenham que
enfrentar. E, mais, que cada uma delas, apesar de trilhar um caminho
evolutivo que lhe é próprio, chegará, um dia,
ao reino hominal para alçar-se, daí, à angelitude.
Processando-se a evolução em dois mundos, sabemos
que as mudanças necessárias no corpo físico
se refletem no corpo sutil e vice-versa. Logo, o animal que vem
evoluindo, há milênios, em meio líquido possui
um corpo físico totalmente adaptado para o meio líquido,
com tal adaptação perfeitamente refletida em seu corpo
sutil, o mesmo se podendo dizer, mutatis mutandis, do animal que
vem ao longo da sua evolução, deslocando-se pelo ar.
Aquilo que Maria João percebeu em Saturno,
portanto, não foi fruto de sua ilusão, mas algo perfeitamente
possível de se esperar. Sendo Saturno um imenso mundo gasoso,
os seres inteligentes que lá existam têm, forçosamente,
que ter seus corpos sutis adaptados ao meio. Ao constatarmos que
espécies de aves vêm evoluindo em inteligência,
é válido, portanto, supor que o caminho que elas irão
seguir venha a levá-las, daqui a vários milênios,
a estágio semelhante.
Esperamos ter mostrado evidências bastante
apontando para a conclusão de que os caminhos da
evolução anímica são vários e
diversos e que a forma humana que conhecemos na Terra é uma
e não a única destinada a receber a alma quando de
seu ingresso no reino hominal. Saudamos, neste ponto, mais
uma vez, a sábia cautela do Codificador.