| Eugenio
Lara
> Mediunidade Social
Conforme a definição de Allan Kardec, o “Espiritismo
é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino
dos Espíritos, e de suas relações com o mundo
corporal.” (1)
Essas relações ocorrem através de um processo
de comunicação entre espíritos desencarnados
e encarnados, classificado pelo Espiritismo de mediunidade. Para o
fundador do Espiritismo, mediunidade é a capacidade que todos
os seres humanos possuem de sentir a influência dos seres desencarnados.
“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência
dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa
faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto,
um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as
pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois,
dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.”
(2)
Essa faculdade se manifesta nas relações interexistenciais
e é a responsável pela interação entre
os dois mundos, o físico e o extrafísico. A mediunidade
surge com o próprio ser humano, é inerente, indissociável,
um atributo intrínseco de nosso psiquismo, cujos registros
existem desde a pré-história. Todas as grandes religiões
da humanidade, em todas as civilizações da Antiguidade,
em todos os livros sagrados, da Bíblia ao Alcorão, nos
Vedas e nos Upanishades, no Bagavhad Gita, no Livro de Mórmon,
no Livro dos Mortos do antigo Egito, dentre outros, observa-se a influência
dos Espíritos no mundo corporal.
Com as pesquisas realizadas no século passado, hoje os estudiosos
do Espiritismo admitem essa influência, não somente pela
via natural, tradicional, na interação comunicacional
entre um determinado Espírito e o médium, mas também
através de aparelhos eletrônicos, a chamada Transcomunicação
Instrumental (TCI), que ao lado da Transcomunicação
Mediúnica (TCM), constituem um conjunto de fenômenos
inseridos no universo do Processo de Comunicação Mediúnica
(PCM).
Segundo a teoria desenvolvida por Kardec em suas experimentações,
evidenciada pelas investigações metapsíquicas
e parapsicológicas, essa interação entre as duas
dimensões ocorre em função da existência
de uma matéria sutil, o fluido cósmico universal, conceito
semelhante ao prana dos orientais, mais adequadamente definido como
energia cósmica, cujas propriedades ainda pouco conhecemos.
É através da manipulação dessa energia
que os Espíritos podem influir no mundo corporal e, em contrapartida,
os encarnados conseguem obter efeitos impressionantes quando manipulam
a energia vital (uma modificação da energia cósmica),
cuja fonte se encontra na Natureza, especialmente nos chamados médiuns
de efeitos físicos, estabelecendo influenciações
na dimensão extrafísica, paralela a nossa. Essa forma
de energia, ainda pouco conhecida, “desempenha o papel de intermediário
entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por
demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação
sobre ela.” (3)
Além da mediunidade, a reencarnação é
um outro portal que permite a influência dos Espíritos
no mundo físico. De modo que, segundo a teoria espírita,
a mediunidade e a reencarnação são as duas únicas
formas de que os Espíritos podem se servir para influir na
matéria.
A influência espiritual não se dá somente nas
relações interpessoais. Ela ocorre em nível coletivo,
social, o que nos leva a pensar a mediunidade em parâmetros
que extrapolam as relações localizadas, individuais,
seja em um nível eticamente positivo (a inspiração),
como também nos processos obsessivos. Allan Kardec admitiu
a tese de que a obsessão pode se dar em nível coletivo.
“O que um Espírito pode fazer com um indivíduo,
vários Espíritos podem fazer com vários indivíduos
simultaneamente, dando à obsessão um caráter
epidêmico. Uma legião de maus Espíritos
pode invadir uma localidade, e aí manifestar-se de diversas
maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que castigou a Judéia
no tempo do Cristo.” (4)
MEDIUNIDADE E SOCIOLOGIA
O conceito de mediunidade, aplicada no campo sociológico, se
alarga, se amplia ao ponto de termos de acrescentar um adjetivo, a
fim de qualificar essa modalidade fenomenológica ainda desconsiderada
pelas ciências sociais. Mediunidade social foi
a expressão cunhada pelo filósofo portenho Humberto
Mariotti (5),
em seu livro Parapsicologia e Materialismo Histórico
(6), a partir
de estudos por ele realizados sobre a monumental obra Espiritismo
Dialético, do também portenho Manuel
S. Porteiro. (7)
Mariotti, amiúde mais poeta do que filósofo, vê
na mediunidade social o campo propício para a manifestação
superior de Espíritos extremamente elevados, o que em sua visionária
concepção, daria origem ao que denominou de Espiritocracia.
Segundo ele, a mediunidade social seria uma nova faculdade mediúnica,
“por meio da qual os fenômenos sociais, políticos
e econômicos serão elucidados pelos Grandes Seres, que
se comunicarão com a alma do povo para expressar ao Homem e
ao Cidadão o verdadeiro significado da existência e das
questões sociais.” (8)
A Espiritocracia, conforme o conceito do eminente filósofo
portenho, seria uma forma extremamente avançada de democracia
mediúnica, onde os tribunos espíritas, através
da mediunidade social, realizariam um movimento de intensa transformação
ética e comportamental no seio da sociedade, cuja conceituação
se constitui numa superação do que Allan Kardec denominou
de Aristocracia Intelecto-Moral. (9)
Segundo Mariotti, “a História sempre foi movida pela
mediunidade social”, que abrangerá “tanto a tribuna
e o orador, como as massas. Em certos momentos, os povos desenvolvem
um tipo de mediunidade coletiva, por meio da qual se produzem as revoluções
históricas, como a francesa e a russa.” (10)
O Espiritismo, na sua visão, é o único espiritualismo
“que possui caracteres mediúnicos; por conseguinte, é
ele que deverá dirigir-se aos povos, para que desenvolvam suas
qualidades psíquicas e metapsíquicas.” (11)
O pensador espírita francês Léon Denis
é também um dos partidários da idéia de
que o mundo dos Espíritos não é uma dimensão
estática, estagnada e parada no tempo e no espaço. Para
ele, “as almas dos mortos não são entidades vagas,
indefinidas, como alguns acreditam, pois, atingindo as altas camadas
da hierarquia espiritual, elas se convertem em poderes notáveis,
em centros de atividades e de vida capazes de exercer uma ação
sobre a humanidade terrestre.” (12)
“Pela sugestão magnética,
podem influir sobre aquele que escolheram, fazendo nele germinar a
idéia matriz e incitá-lo ao ato decisivo que vai coroar
sua obra.
“É dessa forma que os
invisíveis se envolvem nos atos dos vivos, para a concretização
do bem e o cumprimento da justiça eterna”. (13)
Esse envolvimento ativo dos Espíritos, citado por Léon
Denis, ocorre, por exemplo, durante os conflitos bélicos, nas
guerras. Kardec incluiu essa questão em O Livro dos Espíritos:
541. Durante uma batalha, há Espíritos assistindo
os combates e amparando cada um dos exércitos?
“Sim, e que lhes estimulam a coragem.”
“Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste ou daquele
povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos representados
por alegorias.”
542. Estando, numa guerra, a justiça sempre de um dos
lados, como pode haver Espíritos que tomem o partido dos que
se batem por uma causa injusta?
“Bem sabeis haver Espíritos que só se comprazem
na discórdia e na destruição. Para esses, a guerra
é a guerra. A justiça da causa pouco os preocupa.”
543. Podem alguns Espíritos influenciar o general na
concepção de seus planos de campanha?
“Sem dúvida alguma. Podem influenciá-lo nesse
sentido, como com relação a todas as concepções.”
544. Poderiam maus Espíritos suscitar-lhe planos errôneos
com o fim de levá-lo à derrota?
“Podem; mas, não tem ele o livre-arbítrio? Se
não tiver critério bastante para distinguir uma idéia
falsa, sofrerá as conseqüências e melhor faria se
obedecesse, em vez de comandar.”
545. Pode, alguma vez, o general ser guiado por uma espécie
de dupla vista, por uma visão intuitiva, que lhe mostre de
antemão o resultado de seus planos?
“Isso se dá amiúde com o homem de gênio.
É o que ele chama inspiração e o que faz que
obre com uma espécie de certeza. Essa inspiração
lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam
das faculdades de que o vêem dotado.” (14)
A intervenção dos Espíritos no mundo corporal
é um tema extremamente importante no Espiritismo, ao ponto
de Kardec dedicar-lhe um capítulo inteiro em O Livro dos
Espíritos, cujo mecanismo será analisado em sua
obra posterior, O Livro dos Médiuns.
Essa intervenção pode ser oculta ou manifesta, quando
evidenciada pelos fenômenos de efeitos físicos. Sofremos
a influência dos Espíritos diariamente, a todo instante.
Ela se dá em nível individual e coletivo, de modo espontâneo
e desorganizado. Ou então, de forma planejada e dirigida, a
partir de um projeto, de uma ação coordenada visando
determinado objetivo.
O conflito de idéias, de classes, que ocorre em nosso mundo,
também existe no mundo dos Espíritos. Por afinidade,
grupos de pessoas se aglutinam em torno de uma idéia, formando
partidos, movimentos, organizações voltadas para o bem-estar
ou para o mal. O crime organizado não existe somente em nosso
mundo. Da mesma forma que organizações humanitárias
extrafísicas atuam de forma decisiva nos processos sociais,
conforme descreve o Espírito André Luiz através
da mediunidade de Chico Xavier.
A influência é mútua. Ela é interativa,
e não se dá de forma tão unilateral como parece
ser quando lemos essa outra pergunta de O Livro dos Espíritos:
459. Influem os Espíritos
em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário,
são eles que vos dirigem.” (15)
Há quem sustente que nosso mundo é um reflexo do mundo
dos Espíritos. Trata-se de uma concepção metafísica,
mística, cujos fundamentos estão bem distantes da boa
lógica e do bom senso. No entanto, são dois lados de
uma mesma moeda. Vivemos em um grande ecossistema
(físico e extrafísico) que interage, se interpenetra,
mas que na forma, no formato, em sua construção, está
sujeito ao nível evolutivo, ao progresso das idéias,
ao desenvolvimento tecnológico, a tal ponto que poderíamos,
inclusive, inverter a formulação contida nessa questão.
Não seriam os homens que dirigem os Espíritos, muito
mais do que eles imaginam? Afinal, quer queira ou quer não,
a decisão humana, em última instância, estará
sempre restrita ao exercício do livre-arbítrio.
JOANA D’ARC E OS ESPÍRITOS
Na história da humanidade, a trajetória de Joana d’Arc
(1412-1431) é uma das mais emblemáticas quanto à
intervenção dos Espíritos no processo social.
Camponesa simples, analfabeta, criada dentro do,s princípios
do catolicismo, Joana começou a ouvir vozes e ter visões
a partir dos 12 anos de idade. Na primeira visão, viu uma grande
luz e em seguida a aparição de santos. O arcanjo São
Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida foram as entidades que lhe
revelaram uma missão: a de libertar os franceses do jugo inglês.
Esse fato ocorreu durante a Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra
e França, que se prolongou por mais de um século (1337
a 1450) e marca uma fase da transição entre o feudalismo
e o capitalismo.
Sob a inspiração dos Espíritos, Joana d’Arc
convence o rei Carlos VII de sua missão, que lhe outorga o
título de “chefe de guerra”, isso com apenas 17
anos. Vestida com uma armadura de guerreiro, espada e um estandarte,
lidera um exército de homens envolvidos por seu magnetismo,
pela influência dos Espíritos e confiantes na vitória.
Joana toma a cidade de Orléans (1929) e as principais bases
dos inimigos ingleses. Foi o prenúncio da definitiva expulsão
dos ingleses, que somente se daria em 1450, com a vitória final
de Carlos VII e a retomada da Normandia.
Mesmo tendo sido ferida em Paris, traída, presa, julgada e
queimada como herege pelos ingleses, como uma bruxa, Joana tornou-se
um símbolo de liberdade e do patriotismo francês, algo
que na época não era muito claro, pois a idéia
de nação ainda não estava bem desenvolvida entre
os franceses.
O filósofo espírita francês Léon Denis
foi um grande admirador dessa formidável heroína. Joana
d’Arc, Médium é uma de suas obras mais eloqüentes.
Nela, o Druida de Lorena analisa a vida e o martírio dessa
excepcional médium, segundo os princípios espíritas.
“Joana d’Arc era, pois, um intermediário de dois
mundos, um médium poderoso. Por isso foi martirizada, queimada.
Tal, em regra, a sorte dos enviados do Alto”. (16)
Até hoje, os fenômenos de vidência, audiência,
premonição e clarividência que faziam parte da
vida de Joana, desde a pré-adolescência, não são
aceitos pelos historiadores. Muito menos a decisiva intervenção
dos Espíritos naquela delicada fase da história humana,
pois tais acontecimentos contribuíram para que surgisse um
contexto propício à vindoura Revolução
Francesa, em 1789. (17)
Em uma reunião anual da Academia Americana de Neurologia, realizada
em 1990, as pesquisadoras Lydia Bayne e Elizabeth Foote-Smith, da
Universidade da Califórnia, em São Francisco, concluíram
que a inspiração, as vozes e as visões de Joana
eram na verdade uma forma rara de epilepsia. Segundo essas perspicazes
cientistas, o ataque epiléptico ao invés de se dar por
meio de convulsões, manifesta-se na forma de delírios,
de alucinações. Joana sofria então de Apoplexia
Parcial Complexa. (18)
Cabe lembrar que o médium Francisco Cândido Xavier também
foi considerado um epilético por neurologistas e parapsicólogos
de batina.
O fato é que essa humilde camponesa, influenciada por vozes
e visões, comandou exércitos na Idade Média,
numa época em que ser mulher e, ainda mais, guerreira, não
era algo comum e muito bem aceito pela sociedade da época,
tanto que foi queimada como bruxa. Somente em 1455 a corte eclesiástica
reverteu o processo inquisitorial que a incriminou. De mulher-demônio,
tornou-se santa, canonizada somente em 1909 pela mesma igreja que
a queimou em praça pública. O caso Joana d’Arc
até hoje intriga os historiadores. Nenhuma das diversas correntes
da História deu conta dessa questão.
Allan Kardec também, como Denis, se interessou por Joana d’Arc.
Chegou a comentar na Revista Espírita (1858) uma polêmica
obra psicografada pela médium Ermance Dufaux, intitulada A
Vida de Joana d’Arc (Ditada por Ela Mesma) (19).
A médium, que foi colaboradora do fundador do Espiritismo,
recebeu a densa obra, repleta de informações históricas,
com apenas 14 anos. “Sabemos que os incrédulos farão
sempre mil e uma objeções; mas para nós, que
vimos a médium operar, a origem do livro não pode ser
posta em dúvida”, (20)
afirmou Kardec a respeito do interessante livro, lançado em
1858.
RELEITURA DA HISTÓRIA
Mesmo com todas as dificuldades de comprovação do fenômeno
mediúnico, a ação dos Espíritos no processo
histórico é um componente fundamental para o entendimento
de determinados fatos. A partir do conceito de mediunidade social
é possível fazer uma releitura da história, amparada
não somente na análise da fenomenologia mediúnica,
como também em informações advindas dos Espíritos,
segundo uma metodologia adequada, conforme os mesmos parâmetros
que nortearam Allan Kardec em seus estudos sobre a mediunidade.
Segundo Léon Denis, a intervenção dos Espíritos
ocorre de tempos em tempos na vida dos povos, “como nos tempos
de Joana d’Arc. As mais das vezes, porém, a ação
que exercem permanece obscura, primeiro para salvaguarda da liberdade
humana, e, sobretudo, porque, se é indubitável que elas
desejam ser conhecidas, não menos certo é quererem que
o homem se esforce e se faça apto a conhecê-las.”
E prossegue o filósofo: “Os grandes fatos da História,
devidos à intervenção delas, são comparáveis
às aberturas que se produzem de súbito entre as nuvens,
quando o tempo está sombrio, para nos mostrarem o céu
profundo, luminoso, infinito, claros esses que, entretanto, logo se
cerram, porque o homem ainda não se acha bastante maduro para
apanhar e compreender os mistérios da vida superior.”
(21)
Afirma Manuel S. Porteiro que “desde os séculos
mais antigos, os mortos têm chamado a atenção
dos vivos e já era hora de a ciência dar-se por advertida.
Por absurdos ou inverossímeis que pareçam os fenômenos
espíritas, não deixam, no entanto, de serem certos e
naturais como toda outra manifestação da Natureza e
do Espírito que a anima.” “O demônio de Sócrates,
a diva de Plotino, a ninfa de Numa, deixaram de ser personagens mitológicos
para converterem-se, à luz do Espiritismo, em gênios
protetores ou em espíritos vinculados à vida de certos
homens, por afetos ou outras diversas razões, capazes, em certos
casos, de ser vistos e ainda fotografados, como a Katie King de William
Crookes, a Estela de Livermore, a Yolanda de Elisabeth D'Espérance,
o Joey de Alexandre Aksakof e o Vicente do dr. Imoda.” (22)
Há uma infinidade de situações provocadas pelos
Espíritos que ainda não foram devidamente analisadas
pela historiografia oficial. A epopéia do Êxodo, com
a libertação do povo judeu por Moisés, sob a
inspiração e ação extrafísica de
Jeová, o espírito familiar protetor dos hebreus, adotado
pelo cristianismo como um Deus universal — o “Senhor dos
Exércitos”, que fulminou Sodoma e Gomorra e eventualmente
enviava anjos (Espíritos) aos patriarcas, como aquele que lutou
corporalmente com Jacó e o que ajudou Tobias a curar seu pai
da cegueira, até o evento mediúnico do Pentecostes,
um marco na propagação do cristianismo, registrado no
Atos dos Apóstolos.
A ação de Krishna e de Espíritos nas tradições
descritas no MahaBarata; na cultura céltica, cujos guerreiros
eram respeitados pela sua coragem, pela sua fúria. Eles não
temiam a morte (os celtas eram reencarnacionistas) e contavam com
o auxílio dos guerreiros celtas desencarnados, evocados pelo
druida, um mago, poderoso médium iniciado nos mistérios
dos fenômenos da natureza.
A Cabana do Pai Tomás, célebre obra escrita pela norte-americana
Harriet Beecher Stowe, em 1852, foi uma contundente denúncia
da escravatura e serviu como fonte de inspiração para
o abolicionismo norte-americano, que culminou com a Guerra da Secessão.
Essa obra, um dos grandes clássicos da literatura mundial,
foi considerada pelo grande escritor russo Leon Tolstoi como “uma
das grandes produções da mente humana”. Pelos
relatos da escritora, a obra foi obtida em transe mediúnico,
nos moldes semelhantes às obras recebidas pelo médium
Chico Xavier. (23)
Alguns anos depois o célebre presidente dos Estados Unidos,
Abraão Lincoln, realizaria sessões mediúnicas
na Casa Branca, fato esse que até hoje não foi devidamente
esclarecido. (24)
Não poderia ficar de fora o que Arthur Conan Doyle
chamou de “invasão organizada”. Num espaço
de dez anos (de 1848 a 1858) ocorreu uma ação intensa
dos Espíritos por meio de fenômenos de poltergeist, raps,
materializações etc., em todo o mundo, notadamente na
Europa e América do Norte. A América Latina também
não passou incólume. No Brasil, principalmente no Ceará,
a imprensa registrou o que se convencionou chamar de mesas girantes.
De 31 de março de 1848, quando se iniciaram os célebres
fenômenos de Hydesville com as irmãs Fox, nos Estados
Unidos, até a fundação da Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas, em 1858, o mundo foi invadido pela ação
dos Espíritos, em um processo antecipado pelas revelações
pessoais do profeta e clarividente sueco Emmanuel Swedenborg, pelo
sensitivo escocês Edward Irving e os poderes psíquicos
do norte-americano Andrew Jackson Davis.
Enfim, muitos são os fatos históricos a espera de uma
releitura à luz do conceito de mediunidade social e dos princípios
espíritas. A evolução do ser humano, da sociedade
e da história passa necessariamente pela interação
entre o físico e o extrafísico, através do fenômeno
mediúnico e do fenômeno palingenésico.
Notas
(1) KARDEC, Allan, O Que é o Espiritismo,
preâmbulo in Iniciação Espírita, Edicel,
5ª edição, 1979, trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo
– São Paulo-SP .
(2) KARDEC, Allan, O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 159, pg.
203, FEB, 62ª edição, 1986, trad. J. Herculano Pires
– Rio de Janeiro-RJ.
(3) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 1ª parte, cap.
II, q. 27, FEB, 76ª edição, 1995, trad. Guillon Ribeiro
– Rio de Janeiro-RJ.
(4) KARDEC, Allan, Obras Póstumas, 1ª parte, III. A Criação,
§ 7º Da Obsessão e da Possessão, pág.
45, Edicel, 2ª edição, 1979, trad. Sylvia Mele Pereira
da Silva – São Paulo-SP.
Dentro desse critério, podemos considerar o nazismo como um movimento
de histeria coletiva, uma obsessão social.
(5) Humberto Mariotti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista
e intelectual espírita portenho. Foi presidente da Confederação
Espírita Argentina (em 1935/1937 e 1963/1967) e também
vice-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana
(Cepa) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras: Dialéctica
y Metapsíquica; El Alma de los Animales a Luz de la Filosofia
Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano
Pires; Victor Hugo, el Poeta del Más Allá; Los Ideais
Espíritas en la Sociedad Moderna.
(6) Essa obra, editada na Argentina em 1963, foi traduzida pelo filósofo
e jornalista J. Herculano Pires nos anos 60 com o nome O Homem e a Sociedade
Numa Nova Civilização (Edicel) e relançada com
o título original em 1983 pela mesma editora. Ela foi lançada
inicialmente no Brasil em plena ditadura militar, daí a mudança
estratégica do nome da obra, a fim de evitar problemas com a
censura e a repressão ideológica.
(7) Manuel S. Porteiro (1881-1936), pensador espírita argentino,
considerado o fundador da sociologia espírita. Foi presidente
da Confederação Espírita Argentina (1934-1935).
Escreveu os livros Espiritismo Dialectico (disponível gratuitamente
no site PENSE – Pensamento Social Espírita - www.viasantos.com/pense
em edição virtual e lançada no Brasil por iniciativa
do Centro Espírita José Barroso em 2002, com tradução
de José Rodrigues), Concepto Espirita de la Sociologia, Origen
de las Ideas Morales e Ama y Espera.
(8) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico,
2ª parte, cap. XIX, Edicel, 2ª edição, 1983,
trad. J. Herculano Pires – São Paulo-SP.
(9) Ver Obras Póstumas, Allan Kardec, 1ª parte, As
Aristocracias.
(10) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico,
2ª parte, cap. XIX, pág. 151.
(11) MARIOTTI, Humberto, Ibidem.
(12) DENIS, Léon, O Mundo Invisível e a Guerra, cap. II,
pág. 21, Ed. CELD, 1ª edição, 1995, trad.
José Jorge – Rio de Janeiro-RJ.
(13) DENIS, Léon, Ibidem.
(14) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 2ª parte, cap.
IX.
(15) KARDEC, Allan, Ibidem.
(16) DENIS, Léon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, pág.
67, 11ª edição, 1984, trad. Guillon Ribeiro, ed.
FEB.
(17) A Revolução Gloriosa, na Inglaterra e a Revolução
Norte-Americana também influenciaram decisivamente os ideólogos
da Revolução Francesa.
(18) Joana d’Arc Ganha Diagnóstico, in O Estado de S. Paulo,
3/5/1990.
(19) Essa obra foi lançada no Brasil pela Editora do Lar da Família
Universal (LFU) e pela DPL.
(20) KARDEC, Allan, Revista Espírita, 1858, pág. 30, trad.
Júlio Abreu Filho, Edicel.
(21) DENIS, Leon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, págs.
64 e 65.
(22) PORTEIRO, Manuel S., Espiritismo Dialético, pág.
5, Ed. PENSE, trad. José Rodrigues. In www.viasantos.com/pense/livros
(23) MARIOTTI, Humberto, Victor Hugo, Espírita, item 15, Ed.
Correio Fraterno, 1ª edição, 1989, trad. Wilson Garcia,
São Bernardo do Campo-SP.
(24) MAYNARD, Nettie Colburn, Sessões Espíritas na Casa
Branca, 2ª edição, 1981, Ed. O Clarim, trad. Wallace
Leal V. Rodrigues, Matão-SP.
Eugenio Lara, arquiteto e
jornalista, é membro-fundador do Centro de Pesquisa
e Documentação Espírita (CPDoc), do Instituto
Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e um dos coordenadores
do site Pense - Pensamento Social Espírita.
Fonte:
http://viasantos.com/pense/arquivo/1126.html
topo
Vejam outros textos de Eugênio Lara
->
Allan Kardec: Pseudônimo ou Heterônimo
->
Amélie Boudet, Uma Mulher de Verdade
->
Conceito Espírita de Evolução
->
Conexão
->
Da Teologia à Filosofia Espírita da História
->
Da Inspiração à Transpiração
->
O Espiritismo e o Lugar Social da Igreja
->
A Espiritualidade nos Animais
->
Kardecista ou espírita? Uma oportunidade de debate
->
O Livre-Pensar e a Práxis Sociocultural
->
Mediunidade Social
->
Milenarismo e Espiritismo
->
Racismo e Espiritsmo
->
Reflexões espíritas acerca da propriedade
->
A Segunda Edição desconhecida de O Livro dos Espíritos
->
Sobre o Pseudônimo de Denizard Rivail
->
As Três Paixões do Jovem Kardec
|