Gosto da palavra conexão. Ainda
é a palavra do momento. Palavras outras nortearam o sentido
das coisas em outros tempos. Como transar, transa, em seu mais amplo
sentido, nome de um disco de Caetano Veloso. Engajamento já
teve a sua fase, assim como conscientizar. Cada época valoriza
determinados substantivos, que inspiram atitudes (verbais), novos
verbos, diferentes entonações, novas emoções
de se pensar e sentir o mundo, novos mundos, a cada momento. Liberdade,
libertário, esta não sai de moda, imexível em
seu charme intrínseco.
O grande pedagogo e educador Paulo Freire (1921-1997) se considerava
uma pessoa conectiva. E segundo ele, na simplicidade profunda de suas
palavras ditas com serenidade e radicalidade, uma pessoa conectiva
é alguém "e". Como a conjunção
"e". Menor do que "and", no inglês, próxima
a "y", no castelhano. Trata-se de, no português, a
menor palavra existente para aproximar uma coisa de outra, um sujeito
de outro, eu e você, leitor, você e eu, que aproxima,
na conjunção das coisas, os amantes, os amigos, os idealistas.
Contudo, em vez do "e", suportamos o "eu", palavra
um pouco maior do que essa pequena conjunção que é
muito mais do que uma vogal. Quando o "eu" se supervaloriza,
não existe conexão, não há o "e".
"Eu" fiz, "eu" realizei, "eu" ganhei,
esquecendo-se do "e", do outro, que dá significado
a nossa existência.
Alguém "e" é alguém que "é".
A interação, a comunhão, a conexão com
o mundo, com os seres e as coisas. É o trabalho em equipe,
que soma ao invés de solapar e subtrair, que multiplica ao
invés de dividir. Quando há a divisão, no sentido
mais positivo, surge o comprometimento, a cumplicidade. Não
se aparta, pois existe a partilha. Aquele que é "e",
compartilha.
E a base da conexão com o meio é o diálogo, não
somente verbal, visual também, mental, sensorial, intuitivo.
Do diálogo à ação, que rima com conexão.
Conectar-se é se unir, se ligar ("tá ligado?"),
estabelecer um nexo, com um provedor, eletrônico ou natural,
com uma Inteligência, Suprema ou então com a mulher amada,
com a natureza, consigo mesmo.
Por ser ecológico, gregário, social, o ser humano é
conectivo por natureza. Quando dela se desconecta (da natureza), quando
se desconecta de si mesmo, do outro, temos a desagregação,
a destruição. Daí para a crueldade, o suicídio
e a demência é um simples passo.
A lei de ação e reação ou de causa e efeito,
deveria ser pressentida como uma conexão existencial, que transcende
o tempo e o espaço, que abdica da contabilidade mesquinha do
"olho por olho, dente por dente". Lei essa tão ultrapassada
que até para Deus já deve ter saído de moda.
Somos conectivos. Somos, portanto, internéticos, interexistenciais.
Estou conectado? Então existo...
O Espiritismo é conectivo, policonectivo por que ele é
um "e" em relação ao conhecimento, ao nos
oferecer uma forma de pensar e sentir o mundo que navega numa faixa
de síntese. É, portanto, religião no sentido
de laço, de elo, de conexão estimulante entre as pessoas,
num clima de fraternidade e solidariedade, bem distante do sectarismo
religioso, do reformismo religiosista, do fanatismo, do fundamentalismo
dogmático, intolerantes por natureza. O Espiritismo nos conecta
com o além, bem além de nossas fronteiras existenciais.
Conectemo-nos, pois, a fim de estabelecer uma comunicação
conectante com os sentimentos mais profundos. Ser conectivo é
compartilhar o mundo em profunda comunhão, não no sentido
litúrgico, sacramental, mas de modo comunicacional, participativo
e benevolente. É tempo de se conectar...