Pseudônimo (pseudónymos)
é uma palavra constituída pelos componentes gregos
pséudos (falso) e ônoma (nome), cuja acepção
tem o sentido de ocultação da real personalidade do
autor. Trata-se de um recurso normalmente usado por literatos, artistas
e pessoas públicas.
O uso de pseudônimo está
associado à reputação e à posteridade,
à preservação da identidade do autor. O compositor
brasileiro Chico Buarque, por exemplo, para driblar a censura nos
anos negros da ditadura militar, usou o pseudônimo Julinho
Adelaide. E o escritor francês George Sand, assim como o "outro"
George, a inglesa Eliot, eram mulheres, apesar do pseudônimo
masculino. Muito provavelmente não teriam tanto sucesso literário
se assinassem com seu nome civil. No século 19, a literatura
era de domínio quase exclusivo dos homens.
O grande escritor carioca Machado
de Assis, quando escrevia crônicas de teor político
mais arrojado para sua época, se escondia por trás
de pseudônimo. Muitos textos que redigiu contra a abolição
somente foram descobertos, como sendo de sua autoria, cerca de 40
anos após a publicação. Até então,
ninguém sabia que o autor de Dom Casmurro era quem escrevia
aqueles textos de sabor panfletário, assinados como "Boa
Noite".
O pseudônimo se constitui,
amiúde, numa identidade secreta. Isto não significa
que seja semelhante a anônimo, onde não há a
identificação de uma personalidade, de alguma pessoa
ou autor, como é também o caso do "ghost-writer"
(escritor fantasma), aquele que escreve biografias, artigos e ensaios
sem que seu nome apareça como autor, sem que receba os créditos.
Políticos que não sabem escrever normalmente se servem
de ghost-writers, para proferir seus discursos políticos
e publicar artigos em jornais diários.
Pode também ser o pseudônimo
um nome artístico, seja porque o nome civil, o ortônimo,
soa desagradável ao ser pronunciado ou porque o nome alternativo
mostra-se mais compatível com a atividade desempenhada ou
com algum esquema numerológico, simbólico, como é
o caso do cantor Jorge Ben Jor (Jorge Duílio Lima Meneses).
José de Lima Sobrinho & Durval de Lima dificilmente fariam
sucesso como dupla sertaneja se não adotassem o nome artístico
Chitãozinho & Xororó. Do mesmo modo, o cantor
e compositor britânico Elton John (Reginald Kenneth Dwight),
o cantor brasileiro de rap Mano Brown (Pedro Paulo Soares Pereira)
e o ex-beatle Ringo Starr (Richard Starkey), dentre outros.
Normalmente o pseudônimo é
uma criação, uma invenção do autor,
apenas um nome diferente de seu nome civil, não existente
na vida real. Já o heterônimo designa outra personalidade
distinta e independente, com uma biografia inventada. É um
personagem fictício, como eram os heterônimos de Fernando
Pessoa. Em sua obra literária, o grande poeta português
lançou mão de dezenas de heterônimos para expressar
a multiplicidade de sua produção poética, cada
qual com biografia própria, por ele inventada. O termo heterônimo
surge e se consagra com Fernando Pessoa.
No meio espírita, o uso de
pseudônimo é bastante comum: Irmão Saulo (Herculano
Pires), Max (Bezerra de Menezes), Vinícius (Pedro Camargo),
Karl W. Golstein (Hernani Guimarães Andrade), Horácio
(Jaci Regis), Fortúnio (Joaquim Carlos Travassos), Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas) etc.
No caso de Denizard Rivail, é
curioso observar que o nome Allan Kardec, ao contrário dos
pseudônimos normais, não foi inventado, não
surgiu de sua imaginação. Foi emprestado de uma de
suas supostas existências, o que dota o nome, de certo modo,
com as mesmas características de um heterônimo, ou
seja, tem vida própria, possui uma biografia. O nome Allan
Kardec, segundo a tradição aceita pelos espíritas,
designa um druida, personalidade que teria vivido entre os celtas,
ao tempo de Júlio César na conquista da Gália.
É um nome real, de um personagem que supostamente teria existido,
podendo se constituir, portanto, num heterônimo.
Todavia, o nome Allan Kardec é
mesmo um pseudônimo, é assim que se caracteriza. Devido
à sua origem, poderíamos classificá-lo como
um semi-heterônimo, porque possui características verossímeis
à personalidade de Rivail, considerando-se no caso, obviamente,
que haveria um fio de continuidade existencial, palingenética
entre o suposto druida Allan Kardec e o pedagogo Hippolyte Léon
Denizard Rivail, reencarnado em Lyon, França, em 3 de outubro
de 1804.
Pela abrangência de seu significado,
talvez a expressão mais adequada às características
do pseudônimo Allan Kardec seja o atual termo "nickname"
(apelido, alcunha). Aplicada em chats, em salas de bate-papo na
internet, essa palavra inglesa é usada para identificar os
internautas entre si. Normalmente o nick é cheio de caracteres
estranhos, que pululam e poluem a interface dos chats no Orkut,
Facebook, no Messenger (MSN), nas chamadas redes sociais.
O pseudônimo pode surgir de
um apelido, de um cognome, normalmente com sentido pejorativo, mas
que também pode representar uma forma de exaltação.
Seria um epíteto, alcunha ou codinome. Também conhecido
como apodo ou antonomásia, termo este que caracterizaria,
por exemplo, a expressão Druida de Lyon, concedida a Allan
Kardec. Se tem sentido afetivo, normalmente no meio familiar, nas
relações interpessoais, é denominado de hipocorístico.
O apelido de Gabi, dado por Denizard Rivail a sua esposa, Amélie
Boudet, é um autêntico hipocorístico.