Devo esclarecer que vou abordar
a mediunidade meio na contra mão do que vocês ouviram
até agora.
Nosso amigo e veterano nas palestras aqui em Juiz de Fora, Dr. Jorge
Andréa, abordou conceitos e generalidades “navegando”
pelo plano espiritual para nos colocar uma interpretação
muito doce sobre a mediunidade. Sou obrigado agora a aterrissar no
cérebro. Vou tentar equacionar as suas vias, as suas conexões,
sem que isso se torne enfadonho, difícil e árduo para
quem não é especialista na área de neurologia.
Posso lhes dizer que com o mesmo encantamento que o Dr. Andréa
identificou e desenhou para nós o Espírito, sou um apaixonado
pelo cérebro e creio que posso traduzir uma mensagem para que
vocês também se enamorem de toda esta riqueza de gestos,
de significados e de expressões que esse aparelho, aqui dentro
da nossa caixa craniana, nos permite realizar, vivenciando a realidade
do mundo físico, no plano dos encarnados, onde nós estamos
inseridos.
Quero destacar que "a mediunidade é um fenômeno
que se processa através do cérebro do médium".
Nós podemos ler esta frase no Livro dos Médiuns, pelo
menos cinco ou seis vezes.
Dentro desta perspectiva eu imagino que não podemos fazer qualquer
outra interpretação. Temos que identificar no cérebro
do médium como é que se processa o fenômeno mediúnico.
Para iniciar nosso estudo e principalmente por uma questão
pedagógica, precisamos nos situar dentro do propósito
da aula, expondo, para nossa identificação, os principais
pilares que sustentam a expressão da mediunidade ou seja, o
que é, a mediunidade. Depois, ao entrarmos no capítulo
específico da neurofisiologia, poderemos correlacionar a fisiologia
do cérebro que aprendemos, com aquilo que nós todos
aceitamos como sendo fenômeno mediúnico.
Histórico
A História da humanidade, quando estudada nos livros sagrados
das mais variadas civilizações, é muito rica
de demonstrações da ocorrência de comunicação
entre o plano espiritual e o homem encarnado. Em todos os povos, estas
histórias que estão aí registradas, podem ser,
eventualmente, recapituladas, demonstrando que nunca estivemos sozinhos
ou desamparados pela espiritualidade.
Entretanto, foi só após os estudos de Allan Kardec,
o “Codificador do Espiritismo”, que tivemos um texto definitivo
que nos permitiu compreender o mecanismo envolvido neste processo
de comunicação entre os dois mundos. Ele foi de uma
competência inigualável para equacionar os aspectos fundamentais
do fenômeno mediúnico de maneira extremamente didática.
Seu trabalho revela-se compreensível para os diversos níveis
da nossa escolaridade, para que todos pudéssemos, de alguma
maneira, lidar com esta fronteira entre o mundo físico e o
mundo espiritual.
No Livro dos Médiuns, temos as principais definições
da mediunidade confirmando o quanto Kardec foi didático e apropriado
na linguagem que usou no século passado e que, para mim, permanece
muito adequada até hoje.
Observando a metodologia de investigação da mediunidade,
adotada por Kardec, vamos encontrar, no próprio texto do Livro
dos Médiuns, os fundamentos básicos que estão
envolvidos no processo mediúnico. Antes de mais nada, a mediunidade
é vista ali como um processo de comunicação entre
um plano e o outro. Poderíamos dizer, entre uma dimensão
e a outra, ou, como repeti ao Dr. Andréa anteontem: com os
estudos da moderna física, estou preferindo usar a expressão
“entre uma realidade e a outra”, uma “realidade”
do mundo físico e a outra do mundo espiritual.
O fenômeno mediúnico
O fenômeno mediúnico é um processo de comunicação
que atravessa a fronteira que delimita estas duas realidades, estas
duas dimensões. Participam desse processo, uma determinada
“aparelhagem”, que inclui o corpo físico do médium,
o Espírito comunicante e o perispírito de ambos.
O Perispírito
O corpo espiritual ou perispírito, processa a comunicação
entre um plano e o outro mas, é o cérebro do médium
quem vai nos dar o texto final da linguagem usada nesta comunicação.
Assim como nós precisamos de um determinado programa para a
acessar as informações da internet, que daqui navega
por todo o mundo, a partir do que é filmado nesta sala, nós
precisamos de um outro corpo que nos permita acessar aquelas informações
que estão numa outra realidade, num outro plano, numa outra
dimensão.
Esse corpo espiritual, a que eu me referia, tem propriedades que transitam
de um plano ao outro, de uma dimensão a outra.
As ligações do corpo espiritual com o corpo físico
não estão permanentemente estáveis, rígidas,
aprisionadas, células por células ou átomo por
átomo. De alguma maneira, nós estamos sabendo que a
nossa mente participa continuamente deste processo de interação.
Em determinados momentos, o conjunto de elementos estruturais do corpo
físico, estão mais assentados sobre o corpo espiritual
ou vice-versa e, em outras situações, há um distanciamento,
um deslocamento, uma separação tênue entre um
campo de força do corpo físico e do corpo espiritual.
Quero reforçar para vocês os aspectos, que eu diria,
do nível atômico desta ligação entre estes
dois corpos. Ora este contato é mais forte, ora mais tênue,
preso apenas por um feixe brilhante, o que permite distanciar um corpo
do outro.
Desdobramentos da Alma
Vocês mesmos podem perceber a flutuação da nossa
consciência se pedirmos, a cada um, anotar como está
a sua concentração aqui do nosso ambiente, informando
se está sintonizado na nossa aula continuamente ou se as vezes
se distraem com alguma coisa.
Com um exercício de meditação poderemos nos deslocar
espiritualmente para as dimensões mais próximas dos
planos espirituais. Vamos procurar excluir todas as nossas preocupações
aí de fora. Vamos centralizar o nosso pensamento nos propósitos
mais nobres, dentro deste ambiente tão agradável, como
o que foi criado hoje cedo. Vamos evitar que ruídos perturbem
nossa sintonia psíquica. Apaguem as perturbações
que estão lá do lado de fora, os atritos com familiares
ou pessoas que nos incomodam. Vamos realizar um momento de paz, de
concentração, de tranqüilidade aqui entre nós
e, daqui a pouco cada um vai perceber, por si mesmo, aquela nítida
sensação de leveza, de bem estar interior, de sintonia
com propósitos mais nobres. Esta “viajem” é
extremamente comum para que cultiva o hábito da oração.
Por outro lado, a presença de determinadas pessoas nos põe
de sobressalto pela hostilidade com que a sua aparência ou a
sua aproximação nos provocam. Diante deles, exatamente
como um animal acuado, a gente se “recolhe” no corpo físico,
num mecanismo de defesa. É a viajem inversa na qual o corpo
de carne nos serve de refúgio.
O momento mais importante do desdobramento do perispírito ocorre
quando nós estamos dormindo. Gradativamente, ao iniciar o sono,
vamos nos desligando, ponto por ponto dessa ligação
e projetando o nosso corpo espiritual para um outro ambiente.
Nesta situação, estamos informado que o corpo espiritual,
pode se desdobrar, quase que por inteiro, e fazer o que podemos chamar
de “navegação” pelos planos espirituais.
Esta “navegação astral” nos permite deslocar,
atraídos para aqueles ambientes nos quais nós estamos,
de alguma maneira, aprisionados pela sintonia dos nossos propósitos.
O conteúdo dos nossos pensamentos irá contatar os espíritos
que nos vão fazer companhia.
Qualquer um de nós, aqui presente, sabe que os tarefeiros da
"Casa do Caminho", mesmo tendo ido para casa dormir, estiveram
“espiritualmente” aqui, de novo, tentando reorganizar
o ambiente, para as próximas reuniões, Eles estão
de tal maneira aprisionados, psiquicamente, a este contato com a Dª
Isabel, que a noite, retornam a esta psicosfera da "Casa do Caminho",
que os atrai, provocando o deslocamento das suas casas de volta para
esse ambiente.
O corpo espiritual nos permite desfrutar deste processo de navegação,
em que nos deslocamos, conforme a sintonia de nossos propósitos.
O Fluido cósmico
Um outro elemento, ligado ao fenômeno mediúnico são
os fluidos. Vocês podem perceber que, aos poucos estou acrescentando
informações para nós montarmos o quebra-cabeça
da mediunidade por inteiro.
Qualquer objeto material, assim como cada átomo, cada elemento
que nós identificarmos na nossa dimensão física,
está mergulhado numa substancia fluídica. É chamado
de fluido cósmico universal na sua expressão mais genérica.
Ele se condensa e forma o nosso perispírito, quando encarnado
nesse planeta e se modifica, quando daqui nos deslocamos para uma
outra esfera, de outras populações. Todo o Universo
é preenchido por este fluido e toda matéria se origina
dele.
Gosto de ressaltar isso porque é inédito em todas as
outras ciências o que o Espiritismo fala sobre o fluido cósmico
universal. Na minha opinião, a fisiologia deste fluido vai
constituir uma Teoria futura para explicação de todos
os fenômenos que nós observamos, tanto na área
física, quanto na área espiritual. As atuais Teorias
da física, baseadas na existência exclusivamente da matéria
que conhecemos, deverão ser superadas pela Teoria do Fluido
cósmico.
É oportuno que nós, espíritas, nos detenhamos
no estudo das propriedades deste chamado fluido cósmico universal,
antes que os físicos, que estão estudando e especulando
nesse campo, não comecem a falar em massa quântica ou
matéria psiquântica e, daqui a pouco, nós espíritas
ficaremos para trás.
Sempre que vem um físico fazer alguma proposta para nós,
eu fico receoso: vai ver que ele já descobriu isso e vai achar
que foi ele que inventou. Tenho reforçado sistematicamente
que Allan Kardec já nos ensinou no Livro dos Espíritos,
que há um fluido, no qual nós todos estamos mergulhados.
Os filósofos da antiga Grécia já falavam deste
fluido, mas, a doutrina espírita nos confirma e revela algumas
de suas propriedades. É exatamente este fluido, que constitui
o meio de transporte do nosso pensamento e, por conseqüência,
de toda a comunicação mediúnica.
Quando um Espírito se comunica com outro, seus pensamentos
mergulham nas “ondulações” e “corpúsculos”
do fluido cósmico universal.
A expressão mais adequada que para mim define o fluido universal
é a de André Luiz, quando o definiu como sendo o "Hálito
de Deus". Não tem coisa mais graciosa da gente entender,
exatamente, o que é isto, porque na Gênese consta que
Deus pegou o barro da terra, fez o homem e soprou em suas narinas
para que ele vivesse. É esse sopro de Deus, que habita todo
o Universo, o hálito divino, cósmico, no qual nós
estamos mergulhados. Este fluido vai participar, obviamente, de todo
o processo mediúnico, conforme vocês vão acompanhar
comigo.
Os mentores espirituais
Vamos agora à outro domínio do campo mediúnico.
O processo de comunicação que se faz de um plano para
o outro é acessorado por uma equipe que está no plano
espiritual. Nós sempre estamos destacando a existência
dos mentores nas reuniões espíritas. Eles são
os nossos orientadores, são apoiadores, são protetores,
são os missionários que nos auxiliam. Nós nunca
poderíamos caminhar sozinhos no exercício da mediunidade.
Imaginem comigo uma situação médica comum. Estamos
aqui, com o nosso queridíssimo Dr. Didier. De repente, hoje,
já são quatro horas da tarde, e ele é chamado
para fazer um parto. Jamais ele irá sozinho apoiar uma criança
que vai nascer, sair do meio líquido, ali, dentro da cavidade
uterina da mãe e se projetar para esse meio gasoso, aéreo,
onde nós estamos. Há toda uma equipe de apoio no hospital
onde ele trabalha.
Quando ocorre o processo mediúnico, como a gente vê nos
trabalhos da casa espírita, nós precisamos sempre do
auxílio desses orientadores.
Precisamos agradecer esta proteção, este carinho, esta
tolerância incansável que eles demonstram com a nossa
invigilância. Eles estão participando caridosamente com
o nosso crescimento espiritual. O comando, a ordem, o controle, do
fenômeno mediúnico é sempre exercido por eles.
Intercorrências com a mediunidade
Podemos ler no Livro dos Médiuns que a mediunidade é
um dom, uma aptidão, é uma predisposição
orgânica especial. Pode ocorrer, também, que um determinado
indivíduo deixe de produzir o fenômeno mediúnico
de que era possuidor. Por que será que acontece isso? Por que,
em determinados momentos, cessou o seu dom?. Determinados médiuns,
que vinham tendo vidência expressiva, de repente, mudam. Não
vêm mais e passam a ser médiuns de uma outra categoria.
São inúmeros os exemplos desse tipo de ocorrência.
A mim parece que tudo isso obedece uma pré-determinação
dos nossos mentores espirituais e não só , especificamente,
uma mudança na biofisiologia do cérebro do médium.
Nossos protetores espirituais têm, seguramente, um papel extremamente
importante na qualidade e na quantidade da expressão mediúnica
que se manifesta em nós.
No momento em que há passagem da informação ou
da comunicação ou do processo de materialização
entre um campo a outro, especialmente, casos de comunicação
de jovens ou de crianças que relatam, dali, alguma observação
de carinho e de apoio para os pais, que estão aqui encarnados,
eles só podem produzir esta fenomenologia através do
apoio desses protetores a quem estou me referindo.
Quero registrar enfaticamente o agradecimento aos mentores que têm
apoiado, carinhosamente, todos os nossos médiuns.
Classificação dos fenômenos mediúnicos
Pretendo discorrer agora sobre à “clínica”
do processo mediúnico. Como nós médicos quando
discutimos nossos casos: Quero ver um paciente com epilepsia. Deixe-me
ir lá na enfermaria testemunhar sua queixa e o tipo de crise
que apresenta.
Allan Kardec foi levado a estudar a mediunidade nas reuniões
das chamadas mesas girantes. As mesas demonstravam uma inteligência
nas respostas que escreviam aos participantes das reuniões..
A partir daí, Allan Kardec fez nascer um novo mundo! Tão
ou mais espetacular quando Pasteur e outros cientistas, ao utilizarem
o microscópio, descobriram a existência das bactérias
e dos germes produtores de doenças. O impacto da descoberta
dos micróbios trouxe um gigantesco avanço para a medicina,
pelo mundo novo que revelou.
Allan Kardec descortinou, na Doutrina dos Espíritos, um novo
paradigma, a dimensão espiritual que convive entre nós,
com elementos mais ativos que as bactérias. Eventualmente,
nos perturbando, mas é um novo mundo, que vivencia conosco
todas nossas experiências tanto do ponto de vista físico,
quanto do ponto de vista intelectual e, principalmente, do ponto de
vista emocional.
Allan Kardec fez uma leitura do fenômeno mediúnico com
uma didática excepcional. Ele classificou os fenômenos
dentro de dois grupos: os chamados fenômenos de efeitos físicos
e fenômenos de efeitos intelectuais, que estão ligados
à produção de conhecimento.
Os Fenômenos de efeitos físicos, são caracterizados
pela suas propriedades materiais. São de tal ordem que podemos
quantificá-los, medindo, por exemplo, a duração,
a extensão e a densidade do fenômeno. Ou seja, todas
as propriedades físicas que o fenômeno expressa.
Quanto às propriedades e significados dos fenômenos de
efeito psíquico ou intelectual, o próprio neurologista
tem dificuldade de quantificá-las, porque os fenômenos
de efeitos intelectuais são vividos como experiência
psíquica do médium e portanto dependemos dele para sentir
a sua extensão.
Posso apresentar a vocês alguns símbolos. Isso vai provocar
em vocês fenômenos psicológicos. Cada um de nós
estará realizando uma observação especial, particular
e subjetiva. Vamos dar uma olhada, por exemplo, nos sinais de trânsito,
depois num ponto de interrogação, num homem desenhado
nos muros de uma construção e, finalmente, numa cruz,
a cruz que simboliza os hospitais. Para mim ocorrerá maior
impacto, justamente aquela cruz, pela minha ligação
com a vida hospitalar, para outro, seguramente, os sinais de trânsito,
para um engenheiro de construção de obra, aquele outro
que sinaliza a presença de um trabalhador.
Vamos observar agora este detalhe: no fenômeno físico
eu posso dispor de uma régua para medir ou um relógio
para cronometrar, podendo, com estes instrumentos, observar a densidade
material do fenômeno.
Por outro lado, os fenômenos intelectuais, precisam ser quantificados
individualmente. Cada um de vocês observou os sinais que eu
apresentei e fizeram interpretações específicas.
Cada um viu melhor o que despertava mais interesse em suas mentes.
Anteontem, eu dizia para Dona Isabel : Observe o meu relógio.
Um objeto comprado numa relojoaria comum. Um relógio que vale
muito pouco em termos de preço, de custos, de qualidade, mas,
foi-me ofertado num dia de aniversário pela minha esposa. Simbolicamente,
para mim, ele tem um valor que não é estimado pelo relojoeiro
que o analisa.
O fenômeno mediúnico, de efeito intelectual, pela afetação
psíquica que provoca, tem que ser, especificamente, individual.
Não podemos fugir dessas regras. Com estes conceitos, posso
adiantar, que já estou, aos poucos, introduzindo vocês
na fisiologia do cérebro.
Os fenômenos de efeito físicos
Os fenômenos de efeitos físicos freqüentemente servem
para afrontar as Ciências materialistas. Infelizmente eles se
prestam muito para apresentação na televisão,
para produzir impacto, para atiçar a mídia, que, se
promove na produção desse tipo de quadro.
Não são tão raros os casos de “poltersgate”
(espírito brincalhão), nem os fenômenos de combustão
espontânea, de deslocamento de pedras que são atiradas
no telhado, de livros que são rasgados, de porta do guarda-roupa
que é queimada e de pessoas que são projetadas à
distância. Já houve indivíduos que se queimaram
gravemente. conforme relatos na literatura espírita, vítimas
de uma combustão espontânea, levando, inclusive, a morte
pelas queimaduras. Esta combustão tem particularidades curiosíssimas.
Quando se põe fogo, por exemplo, num pedaço de madeira,
ela se queima de fora para dentro. Nesse tipo de combustão,
nos fenômenos da mediunidade. o fogo é de dentro para
fora .
Cada um de vocês, eu acredito, tem também suas estorinhas
para contar. Os fatos que ouviram dizer de casas assombradas, de ruídos
dentro de casa, de pedras que são atiradas no telhado, objetos
que aparecem dentro dos cômodos e nos armários, são
muito comuns.
Na interpretação destes fenômenos, encontramos
no Livro Dos Médiuns a seguinte explicação: "A
combinação de fluidos do médium e do espírito
desencarnado podem mudar a propriedade da matéria". Nessa
frase percebe-se claramente que Kardec trouxe-nos uma nova ciência
que será melhor compreendida no próximo milênio.
Deve existir algum elemento que a Física de hoje ainda não
identificou que modifica as propriedades da matéria. A água,
como esta que está aqui, pode ficar extremamente, corrosiva,
se for submetida a alguma alteração provocada pelo fluido
cósmico universal. Magnetizando esta água podemos conseguir
este efeito através dos fluidos emitidos pelo magnetizador.
Certa ocasião pediram para o nosso Chico Xavier explicar o
efeito da medicação prescrita nas receitas ditadas pela
mediunidade. Para nós médicos, a “Thiaminose”
é uma vitamina, injetada na veia, que traz muito pouco beneficio
para os pacientes em geral e, as gotas da homeopatia, em termos médicos,
teria um valor discutível e nem sempre bem aceito.
Ele nos dizia que, na verdade, estas substâncias servem de veículos,
que permitem aos protetores espirituais colocarem os elementos adequados,
retirados do fluido cósmico, que estão aí, esparsos
por toda a nossa natureza e, na verdade, as propriedades físicas
das substâncias que vão na receita são potencializadas
pelos fluidos. Não é, especificamente, uma injeção
de vitamina ou umas gotinhas de um xarope que estão produzindo
o efeito.
Podemos, portanto, perceber, que está aí uma proposta
terapêutica muito interessante, merecendo estudo da nossa parte.
Toda esta matéria que nós estamos vendo, registradas
pelo nosso cérebro, é possível de sofrer modificações
por completo em suas propriedades. Qual é a teoria que explica
isso? A teoria dos fluidos . Está lá no Livro dos Espíritos,
nos primeiros capítulos quando Allan Kardec fala dos fluidos
e das propriedades da matéria.
Há possibilidade de nós termos curas de qualquer tipo
de doença, através de uma água fluidificada.
Não estranhem se isto é ou não possível.
Ainda não conhecemos os mecanismos que nos permitirão
manipular com mais propriedade o fluido cósmico e no futuro
talvez isto não será mais segredo.
Com os recursos que a energia proveniente das emissões fluídicas
fornece, um determinado objeto , um papel, ou um lenço que
jogo aqui no chão, pode se deslocar obedecendo as leis de combinações
fluídicas do fenômeno mediúnico. Os fluidos condicionam
esta propriedade. Esse lenço, que está atirado no solo,
deverá ser envolvido pelo fluido cósmico para obedecer
ao comando da mente que sugere o seu deslocamento. É indispensável
a combinação de dois tipos de fluido, um que é
fornecido pelo perispírito do médium e outro pelo espírito
que se comunica.
Qualquer objeto “imantado”, por esta combinação
de fluidos, adquire uma propriedade especial que o “vitaliza”.
Aqui está, por exemplo, a minha mão que eu movimento
e que tem vitalidade orgânica. Facilmente a faço obedecer
ao meu comando. Estou ligada à ela pelos meus nervos que transmitem
o comando do meu cérebro. Esse livro, enquanto ele estiver
aqui na mesa, ele não se movimenta, mas se o pegar na minha
mão, vejam o que acontece. Ora, quem achava que o livro não
se movimentava? Desde que eu encoste nele. Basta eu colocar a minha
“carne” nele.
Aquele lenço que joguei no chão, se o impregnamos de
fluido do perispírito do médium em associação
com o fluido do espírito comunicante, ele adquire uma “vitalidade”
e obedecerá as ordens do médium mesmo estando distante
de suas mãos.
Vocês nunca imaginaram que esse livro obedeceria às minhas
ordens. E viram Obedece sim! Salte, livro! Pronto. Ele saltou.Se vocês
não acreditavam, eu o fiz saltar! Mas tive que usar um instrumento:
a minha mão, mas quem a comandou foi a minha mente.
A mesma coisa ocorreria para este lenço que com o fluidos ele
passa a obedecer a mente. Nesse caso vai ocorrer uma dualidade interessante.
Tanto o médium pode determinar mentalmente que o lenço
se desloque para um lado, como o espírito que está produzindo
o fenômeno pode dizer : quero que vá para o outro lado.
Pode ocorrer uma perturbação nesta brincadeira, que,
com freqüência, os espíritos zombeteiros, brincalhões
e arruaceiros produzem nesse tipo de atividade mediúnica. O
que eles querem, na verdade, é provocar confusão. Que
produzem o fenômeno produzem; e que o lenço obedece,
obedece. Faço este livro aqui me obedecer, desde que eu tenha
contato com ele.
Os fenômenos mediúnicos intelectuais
Podemos rever agora, a fenomenologia mediúnica, no que se refere
ao domínio dos fenômenos intelectuais. Já lhes
falei de uma das características deles. Por serem processados
pela mente e o cérebro, ele vai ser especifico para cada médium
e cada um deles fará a sua interpretação particular.
É como alguém que vai transmitir um recado, o tema é
de quem transmite a mensagem, mas, a ênfase da entonação
fica por conta de quem anuncia.
O médium psicógrafo, ao redigir um texto revela certas
particularidades interessante para o nosso estudo. Vocês já
perceberam que ele escreve em alta velocidade? Não precisa
nem abrir os olhos. Podem apagar as luzes e ele vai escrevendo, freqüentemente
com letras grandes, um texto que ele mal sabe dar conta.
Um médium falante, incorporado por um espírito, faz
um discurso, numa linguagem que, às vezes, o médium
em si, não demonstra conhecer. Pode, inclusive, falar numa
outra língua (Inglês, Alemão ou Russo), que o
médium não demonstra conhecer.
É perfeitamente possível percebermos estas particularidades
da expressão do fenômeno mediúnico. Tanto na escrita
psicográfica como na fala mediúnica. São justamente
para estas características que nós queremos chamar a
atenção.
Quem já o assistiu o médium Francisco Cândido
Xavier psicografando, nota que ele fica com uma das mãos sobre
os olhos, pega o lápis, escreve com rapidez, com letras grandes
e que para quem sabe, não é essa a letra dele. Normalmente,
sua letrinha é redondinha e bem elaborada. Escreve com letras
grandes páginas e mais páginas e dá aquela impressão
de que não se cansa, mesmo quando vara a noite escrevendo.
Esse processo de escrita, é nitidamente uma habilidade automatizada.
Do ponto de vista da expressão do fenômeno, tanto da
escrita, quanto da fala, quero insistir em destacar estas características:
o processo se desenrola com gestos puramente automáticos. Um
automatismo motor para a escrita e para a fala.
No médium falante incorporado, ele fala, e se expressa com
velocidade, num texto que, freqüentemente, não se dá
conta, é muito produtivo, sem qualquer exaustão física
e sem comprometimento físico aparente.
A mesma coisa ocorre na pintura mediúnica. Observem que ela
se processa numa velocidade incrível e surpreendente para qualquer
um que conheça as dificuldades naturais de se pintar uma tela.
O médium, no entretanto, realiza a pintura de uma tela em um
minuto e meio, dois minutos ou três minutos. Aqui, também,
é muito fácil se perceber que os movimentos, em toda
sua gesticulação motora, por parte do médium,
é nitidamente automática.
A obsessão
Vamos observar outro fenômeno. Num processo, perturbador, através
da obsessão, nota-se que a presença do espírito
obsessor modifica a fisionomia do médium. As expressões
passam, com freqüência, a ser tão inapropriadas,
que a gente nem o reconhece. Parece muito estranho para quem não
conhece o fenômeno. Alguns indivíduos obsidiados, adquirem,
quando muito perturbados, uma energia, uma força tamanha, que,
com freqüência, duas ou três pessoas não conseguem
contê-los. Aqui também o quadro motor sugere o envolvimento
de automatismos.
A neurofisiologia da mediunidade
A apresentação que estou lhes fazendo do fenômeno
mediúnico está mostrando para nós algumas características
semiológicas que já podemos destacar para nossas interpretações.
Nos exemplos que citei constatamos que o médium é possuído
de uma força estranha. Ele é capaz de trabalhar horas
seguidas. Mal precisa da visão para escrever. O texto sai com
muita velocidade. A fala é fluente. O tema ele, com freqüência,
não se dá conta e não tem alcance intelectual
para expressa-lo por si. Pode até falar numa outra língua.
Transparece aquela impressão de que tudo está sendo
feito automaticamente. É exatamente como qualquer atividade
mecânica que a gente já aprendeu, de cor, e não
nos toma conta, nem tempo para sua realização.
Para analisar estes dados que a mediunidade nos fornece, temos, agora,
de voltarmos para o domínio da neurologia. Qual é o
programa que está inserido nos dezesseis bilhões de
neurônios, que organiza e estrutura a fisiologia do nosso cérebro?
Tem que haver um programa específico, no cérebro, onde
deve ser processada a comunicação mediúnica transmitida
de uma dimensão a outra. Aqueles, que têm esse programa,
são competentes para a comunicação. Serão
chamados de médiuns. Estou fazendo esta metáfora usando
a linguagem dos computadores, porque isso facilita muito o nosso entendimento.
É questão de ter ou não o programa que vai permitir
o acesso entre uma dimensão e a outra.
Quando falamos de incorporação, fica aquela sensação
de que incorporar é um corpo sobre outro, um corpo dentro do
outro. O que não é verdade. Pode até ocorrer
uma aproximação carinhosa entre o espírito que,
afetivamente, se acerca do médium. Mas, o processo de comunicação
é de sintonia entre as duas mentes.
Posso fazer com vocês, um exercício de sintonia. Começo
a contar uma história ou começo a cantar uma música.
Daqui a pouco, vocês todos, quando saírem para o café,
estarão com aquela música na cabeça. Vocês
sintonizaram comigo ou com o coral ou com a história que eu
contei. É muito comum isso. A gente vai assistir a uma peça
musical ou um conserto e quando retornamos para casa, ainda ressoa
em nossos ouvidos aquela sonoridade que acabamos de escutar. Estamos,
de certa forma, sonorizados ainda, com aquela mensagem que a música
nos provocou.
Falar de sintonia é falar em ondas; ondas têm comprimento
específicos; maiores ou menores, dentro de uma determinada
faixa . Posso estar sintonizado com um determinado espírito,
com outro, não. Há uma determinada faixa que capto mais,
com mais facilidade na minha sintonia, com outro, não. Vejam:
estou pretendendo montar para vocês um raciocínio que
precisa de alguma maneira justificar o fenômeno mediúnico.
As boas teorias têm que explicar toda fenomenologia. Não
posso inventar uma que explique só a materialização
ou só a psicografia. Dentro deste texto que estou falando,
estou inicialmente pinçando alguns dos elementos que vão
compor nossa proposta.
Mentalmente, posso sintonizar-me harmoniosamente com todos vocês.
Somos espíritas e estamos num ambiente amigável, fraterno
e comungando os mesmos ideais. Se estivesse num lugar estranho, não
vai ocorrer a mesma sintonia comigo. O fenômeno mediúnico
também ocorre dentro desse clima. O ambiente precisa ser receptivo
e favorável ao médium. No contexto neurológico,
que é a nossa proposta de estudo, quando nós falamos
de mente, que realiza uma sintonia, de alguma maneira, temos que consolidá-la
no cérebro, cristalizá-la na expressão física
do cérebro.
Precisamos ver agora o que existe na anatomia do cérebro, que
pode produzir esta sintonia de que estou falando, quando me refiro
à mente. Esta expressão, sintonia, pode nos parecer
um tanto abstrata, para ocupar lugar na anatomia do cérebro.
Vamos direto ao assunto, por pingos nos "is". Vamos descer
para o plano material.
Se nós observarmos o cérebro, podemos ver uma superfície
externa que é o nosso córtex, rico em neurônios.
Existe, também, um conjunto de núcleos, de situação
mais profunda que são os chamados núcleos da base. Preenchidos
por uma concentração muito grande de neurônios
pequenos. A neurologia já identificou muitas funções
das áreas do córtex e funções dos neurônios
curtos dos núcleos da base.
Vejam aqui comigo estes garotos, são os netos lá de
casa. Esparramei alguns objetos na mesa da sala bem na frente deles.
São porcelanas que a avó pinta. Digo para eles: vamos
abrir estas caixinhas, sem a vovó ver, porque acho que tem
alguma coisa guardada aí.
Provoco esta tentação neles. Deixo-os com de vontade
de abrir as caixas.
Eles ficam em dúvida:
E se acontecer alguma coisa, uma delas pode se quebrar e depois o
avô não me defende, não é?
É preciso que eles criem coragem e assumam uma atitude intencional,
voluntária. Mesmo que eu provoque neles alguma curiosidade,
eles têm que tomar uma iniciativa. Nesses casos é preciso
atuar sobre o córtex cerebral para agir voluntariamente.
Passo para uma outra tarefa:
Érick, você vai pegar o telefone e aprender a digitar.
Vamos conversar lá com a sua mãe ou com a vovó
na outra sala.
Aos poucos, vocês percebem, ele vai aprender este gesto e logo
estará sabendo digitar o teclado do telefone. Foi, inicialmente,
um gesto voluntário quando ele colocou o telefone no ouvido.
Depois, com o aprendizado, ele vai treinando e consegue fazer as ligações
automaticamente.
Vamos desenvolver agora, uma tarefa mais complexa. A criança
vai aprender a escrever . O texto vai devagar no começo. Ele
rabisca cada letra com lentidão.
O que ele quer escrever ?
_ Bola!
_ B-O-L-A . Ele pode ter um problema com L e com R . A professora
insiste: repita estas palavras. Ela reprograma o seu cérebro
para fazer a escrita com correção. Aos poucos, com o
passar dos dias, está pronto, já está correta
a sua escrita. Já automatizou os seus gestos e os faz com correção
gramatical. Toda dificuldade inicial foi superada pelo treinamento
repetitivo dos gestos apropriados.
Os automatismos
Existem atividades cerebrais mais complexas ainda. Utilizam a motricidade
e o equilíbrio, dentro de um contexto mais complexo. Para dirigir
uma bicicleta, por exemplo, temos que obedecer uma direção,
segurar com os braços, movimentar as pernas e manter equilibrado
o meu corpo sobre as rodas. No início do aprendizado é
preciso que alguém nos apoie auxiliando o equilíbrio.
Depois já podemos ir sozinhos. Aprendemos a combinar automaticamente
todos os gestos que nos permite deslocar com a bicicleta. A mesma
coisa acontece com que vai iniciar seu aprendizado para dirigir um
automóvel. Temos que superar as dificuldades iniciais e depois,
as custas do treinamento insistente, vamos automatizar os gestos e
desempenhar a tarefa com tranqüilidade. Percebam que quando dirigimos,
atentos ao desenrolar do trânsito, ainda nos sobra condições
para outras atividades paralelas que nos permite, por exemplo, ligar
o rádio, conversar com a pessoa que está do lado, dar
seta, etc.
Nos exemplos que citei, ficou claro que nós aprendemos com
dificuldade, tomamos iniciativas, optamos por determinado gesto que
parte dos estímulos do córtex cerebral. Depois que a
gente aprende fica tudo mais fácil porque está automatizado.
Nós transferimos o cortejo de gestos para o subcórtex,
onde estão aqueles núcleos da base.
Quando vim para cá estava preocupado, pensando como é
que vai ser minha aula lá na Dª Isabel, mas estou dirigindo
o automóvel. Um piloto automático passa a tomar conta
da direção e eu mal percebi que, vejam, já cheguei
e ... nem notei a quilometragem que a gente teve que percorrer para
vir até aqui. O desempenho de todo este automatismo é
feito corretamente e sem muito esforço pelos núcleos
da base.
Desde criança, o nosso sistema nervoso vai sendo programado
para deixar o córtex livre para os gestos novos e, tudo que
se aprender no decorrer da vida, se automatiza nos núcleos
da base favorecendo a economia de neurônios.
A fisiologia dos gestos
Quero repassar com vocês os três tipos básicos
de movimentos que nosso sistema nervoso nos põe à disposição.
Os reflexos, os voluntários e os movimentos automáticos.
Aqui está um bebezinho que pisa no chão e movimenta
as suas pernas como se estivesse andando. Uma atitude puramente reflexa
é a marcha reflexa do recém-nascido.
Quando pretendo, intencionalmente, movimentar alguns dos meus músculos,
utilizo uma determinada área do cérebro. Podemos ver
que há um cruzamento das fibras nervosas. Para um de nós
erguer o braço direito, temos que utilizar o cérebro
do lado esquerdo e vice-versa. É a partir, lá do córtex
cerebral, no lobo frontal, que nós dispomos de células
para tomar estas decisões. São os movimentos ditos voluntários,
intencionais. Eles são muito elaborados e dispendiosos.
Com o decorrer do tempo, tudo aquilo que automatizamos a partir do
aprendizado, é memorizado núcleos da base (nós
os chamamos de memória de procedimentos). Aqui é que
se localizam os pilotos automáticos, que programam os gestos
automáticos : o automatismo de dirigir, de digitar no computador,
de utilizar o telefone, de dedilhar o piano ou o violão, a
escrita que redige um texto, o que tiver automatizado, está
se processando nesses núcleos da base.
Convém vocês saberem que não estou apresentando
uma novidade. Quero me referir a Pièrre Janet. No século
passado, no ambiente da escola neurológica de Charcot, na Salpatriérre,
ele foi um dos neurologistas contemporâneos de Charcot, aluno
de Charcot, colega bem próximo de Freud pelos estudos que fizeram
sobre a histeria. Pièrre Janet, deve ter acompanhado Charles
Richet e Ernesto Bozzano nas sessões de materialização
de Willian Crooks e nos trabalhos mediúnicos de Euzápia
Paladino. Ele se formou em Filosofia, numa universidade próxima
a Paris. Depois se formou em Medicina, dedicou-se a neurologia.
Numa de suas Teses, Pierre Janet dizia que a mediunidade seria um
automatismo psicológico, sem a interferência de entidades
espirituais ou de inteligências estranhas e sim do próprio
cérebro do indivíduo. É muito semelhante a tudo
aquilo que falei para vocês sobre automatismo. Quando nós
temos um gesto, que se faz repetidamente, como aprender a utilizar
uma impressora, uma máquina numa fábrica ou equipamento
novo que chega no escritório, a gente primeiro aprende com
o uso do córtex cerebral, num looping superior de neurônios
corticais. É uma atitude voluntária, intencional. Abre-se
a máquina, põe o papel, desce a alavanca, imprime, confere
se ficou bem feito. É uma tarefa cansativa neste início
de aprendizado.
Depois de um mês, o operador da máquina já está
sabendo de cor como realizar cada uma dos seus gestos. A partir daí
sua atividade se torna puramente automática.
Alguém que está aprendendo a tocar o violão,
quando vai tirar a primeira música, tem uma certa dificuldade
natural. Está se processando um aprendizado bem em cima, no
córtex. Depois que ele sabe de cor, ... o nosso músico
toca o violão de olho fechado!
Por que a gente fala de cor? Vocês sabem? Significa, literalmente,
de coração. Porque os filósofos gregos achavam
que a nossa Alma estava localizada no coração. A gente
aprende a música de coração. Por isso eu falo
que gosto do fundo do meu coração. Como neurologista,
quero ensinar que, na verdade, a gente ama é no fundo do cérebro.
Não tem ninguém gostando do outro pelo coração,
porque no coração não tem onde gostar. É
aqui, no cérebro.
O looping inferior dos neurônios basais, é o looping
dos automatismos.
Vejam como nosso sistema nervoso é didático. Existe
um campo superior, no córtex cerebral, que é específico
do gesto voluntário. Sou eu que quero fazer. Eu que quero escrever.
Eu que peguei no lápis. Eu que vou ligar a chave do carro.
Eu que vou ligar a tomada do computador. Uso para isso a alça
superior.
Agora, no campo debaixo (looping inferior), o compromisso é
com os núcleos da base. Aqui, o gesto é automático.
Nós podemos ir conversando, enquanto eu vou falando e vocês
vão perguntando o que vocês quiserem. Eu falo três
horas seguidas sem me cansar. Faço isto enquanto dirijo 4 ou
6 horas seguidas.
Vejam porém um detalhe: há um determinado ponto, um
determinado momento, que as duas alças estão juntas.
O gesto voluntário se mistura com o automático. Um sistema
se reverte no outro com facilidade. Na direção do automóvel
isto é muito comum, nós nos distraímos estrada
a fora mas temos que escolher os gestos quando o trânsito nos
obriga a fazer a escolha das marchas apropriadas para cada instante.
O fenômeno mediúnico e a consciência
Perguntaram hoje ao Dr. Andréa:
No fenômeno mediúnico consciente e no inconsciente, como
é a participação do médium e da entidade
espiritual?
O propósito desta pergunta é questionar: será
que o médium inconsciente não interfere no fenômeno?
A meu ver, exclusivamente, pela anatomia das alças neurológicas
que acabo de mostrar, não tem jeito !
Os dois, tanto o médium como o Espírito comunicante,
estão atuando juntos. A participação é
sempre “associativa”. Coloquei essa expressão para
ser carinhoso com os médiuns. Nosso cérebro é
feito assim. Tudo que você se comprometer com a entidade espiritual
para transmitir a mensagem, é um processo de parceria. É
uma coisa lindíssima ! Porque isso demonstra, com mais precisão,
a fisiologia cerebral na produção do fenômeno
mediúnico.
Temos no cérebro áreas específicas capazes de
nos permitir falar. Uma outra para compreendermos o que se está
falando. Com freqüência, o médium pode ficar na
dúvida, por sua própria insegurança : o Espírito
o faz falar numa determinada área (área de Brocá,
no lobo frontal) e ele acompanha, ouvindo o que é falado em
outra área( de Wernick no lobo parietal).
Todos nós temos duas áreas no cérebro: uma que
utilizamos para a expressão da fala e, a outra, que se presta
para a compreensão da linguagem falada. O Espírito comunicante
não precisa usar as duas.
Já ouvimos alguns médiuns dizerem assim: “não
sei o que eu falo! Estou totalmente inconsciente. Não me lembro
de absolutamente nada. Acredito que não participo do que é
falado. Acho que o Espírito me toma e pronto. Faz o que quer
de mim !”
A meu ver, não é bem assim! O médium participa,
atua, se envolve e altera a mensagem. Como a comunicação
tem de ser transmitida através do cérebro do médium,
haverá sempre esta “contaminação”
por parte da sua interpretação e da sua cultura.
Quando o médium afirma não ter qualquer conhecimento
da ocorrência do fenômeno mediúnico, isto não
quer dizer que ele esteve inconsciente durante a comunicação.
O que se passa é que ele tem amnésia do ocorrido, tão
logo termine a expressão da mensagem.
É muito semelhante ao que ocorre durante o sono. Nós
estamos aqui com quinhentas ou seiscentas pessoas. São meio
dia. À meia noite, a maioria de nós estava dormindo.
Chegando a madrugada, lá pelas quatro ou cinco horas, todos
estavam sonhando. Perguntamos para vocês:
- Sonharam mesmo?
- Não. Eu não sonhei nada nessa noite, vão dizer
alguns.
Sonhou, sim. Vocês é que não se lembram. Todos
os que dormiram, nesta madrugada estavam sonhando. Nem todos estão
se lembrando. Um ou outro que lembra com certa nitidez. Principalmente
as mulheres que têm uma memória melhor para sonhos. Quase
todas elas lembram o que estavam sonhando.
Mas façam este exercício. Vocês mesmos. Tentem
recapitular. Essa madrugada, antes de vir para cá, das quatro
até às seis da manhã, que é a fase mais
produtiva do sono, vocês estavam sonhando e a maioria de nós
não se lembra. Isto não é “inconsciência”,
é amnésia.
O mesmo ocorre com o médium. Ele também está
escrevendo pela psicografia, ou se comunicando verbalmente. Assim
que desperta, terminada a comunicação nada será
lembrado, é simplesmente um fenômeno de amnésia.
Não houve registro na memória física. Estas lembranças
ficam num outro corpo. O corpo espiritual de todos nós também
tem o seu hipocampo, que registra essas memórias do que ocorre
no plano espiritual.
Os fenômenos de psicometria
Vamos continuar no cérebro com outro fenômeno corriqueiro
que qualquer um de nós pode perceber. Estando de olhos fechados,
toco um objeto e percebo suas características, de olho fechado,
percebo que é um copo de vidro.
Peço a minha filha para tocar alguns objetos:
Kátia, fique de olhos fechados. Não abra os olhos! Ponho
na sua mão alguns objetos e ela os identifica todos.
Com o toque das mãos, o tato informa ao nosso cérebro
um conceito do objeto. Basta um estímulo leve do tato. Elaboramos
com ele uma informação complexa reunindo vários
dados sensoriais. Eu estou tocando aqui. Olhem aqui, é um objeto
liso de couro! Já sei que é minha carteira. Agora estou
tocando uma caneta. Percebo que ele é de plástico. Tem
uma tampinha. Só não vou saber dizer a cor. Mas, o nosso
cérebro, o de todos vocês, se eu colocar esta caneta,
mesmo de olhos fechados, vocês identificam a textura, o peso,
a consistência. Vão poder informar até para que
serve cada objeto que lhes for oferecido.
Vamos repisar esta propriedade do cérebro. Basta dar uma única
pista sensorial que o cérebro amplia o contexto e completa
a imagem por inteiro. Basta uma informação pelo tato
e o cérebro processa o restante da identificação.
O Dr. Ney, está aqui presente e já fazia uns quinze
ou vinte dias que eu não o via. Bati os olhos só no
seu rosto e o reconheci imediatamente.
Dr. Ney, vire de costas para eu ver se é o senhor mesmo.
Meu cérebro não precisa disso para identificar as pessoas
que conheço.
O nosso cérebro tem competência para completar a imagem.
A imagem é elaborada por inteiro, pela minha mente utilizando
uma pista inicial. Isto se chama reconhecimento ou gnosia, em termos
neurológicos.
Quero contar-lhes um caso muito interessante. Um cliente nosso teve
uma trombose cerebral, e ficou com o lado direito comprometido.
Daí a um mês, ele se recuperou da paralisia, mas, passou
a revelar um quadro de negligência corporal. Isto é,
uma expressão clássica da neurologia. Ele não
reconhecia que aquele lado do seu corpo era dele. Aquele braço
que esteve paralisado não é mais dele. Essa negligência,
em termos cerebrais, expressa para nós, neurologistas, que
ele não reconhece mais o braço como dele. Um determinado
dia, estando no quintal de sua casa, estava ali, lidando com a enxada
e, quando terminou de roçar uma graminha, recostou a enxada
numa árvore próxima. O seu braço doente tocou
nas suas costas com certa força. O paciente achou que era um
ladrão que estava pegando nele por traz. O que ele fez? Com
rapidez ele jogou o ladrão em cima da árvore.
A mulher dele está rindo da estória que ele está
nos contando. Ele que se machucou. Não era ladrão coisa
nenhuma. Era a mão dele que estava ali atrás.
O neurologista testa estes pacientes, com muita facilidade, e constata
que o paciente não reconhece mais que aquele lado é
parte do seu corpo. Ele não faz reconhecimento da própria
paralisia, nem dos objetos situados naquele lado. Posso colocar uma
caneta, na sua mão comprometida. Se olhar, ele sabe e reconhece
que é uma caneta. Com os olhos fechados, não reconhecerá
mais o que é aquilo.
Alguns médiuns desenvolveram a psicometria. É uma forma
de mediunidade fundamentada neste tipo de reconhecimento cerebral
que estou comentando. Utilizando-se de objetos de uso pessoal, uma
foto, um relógio, um lenço, um azulejo e assim por diante,
esses médiuns conseguem revelar detalhes relacionados com as
pessoas que de certa forma estiveram evolvidas com tais objetos.
O médium também consegue elaborar outros elementos do
objeto que tem em suas mãos.. Pelo tato, ele faz toda reconstituição.
Este retrato é de fulano, de uma mulher, por exemplo, com tal
aparência e assim por diante. Sabemos que o espírito
não precisa de luz para ver, ele identifica os objetos pela
vibração que cada partícula deste objeto emite.
O mundo espiritual dispensa por completo a nossa costumeira luminosidade.
Eles penetram na essência das coisas, na intimidade da matéria,
porque nossa matéria vibra em seus sentidos.
Todos os elementos físicos aqui a nossa frente estão
em movimento. A impressão nossa é de que este livro
aqui está parado, o que não é verdade, todos
os átomos que formam este livro estão em grande movimento,
e movimento produz vibração. É essa vibração,
que atinge diretamente a mente do Espírito, por isso, ele não
precisa dos dois olhos para ver.
Nós, humanos, estamos encarnados e, de certa maneira, mergulhados
num equipamento que tem as suas limitações. Temos que
ver através de duas estruturas: os olhos, que nos permitem
identificar os objetos através de ondas luminosas. O Espírito,
além de não precisar das ondas luminosas, porque ele
vê diretamente a vibração do átomo de cada
objeto que ele se aproxima, ele não precisa dos olhos. Ele
enxerga até mesmo com os dedos. Ele identifica as letras e
lê um texto com os dedos. Passando a mão sobre uma tela,
ele é capaz de descrever o que está pintado ali e, de
que material é feita a tela.
O nosso cérebro também tem condições de
produzir esse tipo de percepção. Através do transe
magnético ou hipnótico podemos libertar a Alma de certos
limites que o corpo físico lhe impõe e termos suas faculdades
exaltadas.
São várias as experiências que podem demonstrar
que o hipnotizado pode perceber sensações usando os
recursos do seu perispírito. Podemos colocar uma letra, como
a que escrevi aqui neste livro, a letra A, por exemplo, e encostar
nas costas dele sem que ele a veja. Estando em transe hipnótico
profundo, ele poderá identificar para nós a letra "A",
com precisão, porque, o corpo mental do indivíduo hipnotizado,
registra este estímulo, independente do corpo físico.
Ele tem acesso aos estímulos sensoriais através do corpo
mental.
Posso sugerir que ele esteja enxergando pelo lóbulo da orelha:
Feche os olhos!
Em seguida, acendo uma lanterninha perto da sua orelha e ele pisca.
Isto comprova que, sob hipnose, ele deslocou sua percepção
visual para outra área, o que no corpo mental é perfeitamente
possível.
Tornou-se conhecida uma menina, na Rússia, que com os olhos
fechados, toca numa tela com vários quadriculados coloridos
e consegue ir dizendo, um por um, as cores que cada quadradinho está
pintado.
Expansões da consciência
Com muita freqüência, na história da humanidade,
tentamos determinar a sede da Alma em algum lugar do nosso corpo.
Atualmente a nossa tendência é localiza-la no cérebro.
A neurologia de hoje não aceita a existência da Alma,
mesmo assim localiza no cérebro todas as nossas aptidões
e, inclusive nossas paixões.
Vou tentar mostrar que nossa mente, atua além do meu cérebro.
Vamos usar alguns exemplos:
Se tentar passar correndo aqui no meio das pessoas, meu corpo, às
custas de uma imagem corporal construída pela minha mente,
vai me desviando permitindo acertar as distâncias e a direção
por onde tenho que caminhar. Nesta corrida, a mente, o corpo e o espaço
a sua volta estão conjugados com se fossem uma coisa só.
Sabemos, como neurologistas, que cada um de nós se apresenta
ao mundo com o conteúdo mental de que dispõe. A minha
própria roupa é a expressão da minha maneira
de ser e de querer vestir, do que eu tenho de conteúdo psíquico,
e que está organizado na minha mente .
Quero dizer, com estes exemplos, que a mente é maior que o
cérebro. Os neurologistas, atualmente, já estão
percebendo isto com uma certa facilidade. Refiro-me àqueles
neurologistas que têm uma visão espiritualista, não
os que permanecem cristalizados na perspectiva apenas materialista.
Se podemos nos expandir, psiquicamente, expandir a consciência,
demonstrar que o eu pode se projetar, às vezes, até
para fora da estrutura física, e aquele lenço, impregnado
do fluído cósmico universal, pode receber os influxos
da mente, não há porque limitar as dimensões
da mente aos limites do cérebro físico..
Vou dar agora um exemplo caseiro : vou brincar com os meus dois netos
.
Se eu pedir para eles: Vocês vão ali e se escondam.
Um de vocês vai ficar escondido atrás desta mesa. Eles
gostam da idéia porque a mesa é toda fechada e esconde
bem.
Mas, se eu falar: O outro vai se esconder atrás deste vaso
!
É claro que eles não vão aprovar. Sabem que atrás
do vaso podem ser encontrados com muita facilidade. Como que eles
fazem isso? Eles se projetam, para o lado de fora do vaso e sabem
que na hora em que eu chegar eu os vejo imediatamente.
Uma criança de quatro anos, se vier brincar conosco, já
sabe fazer isso. Vamos dizer que o “eu” dela, escondido
aqui atrás, sabe se deslocar para a minha posição
na hora da minha chegada.
É perfeitamente possível, para a criança, realizar
essas expansões da mente ou da consciência, como queiram.
É uma propriedade da própria mente ser maior do que
o cérebro e maior do que o corpo. Muitas das nossas atitudes
são assumidas porque ocupamos o lugar do outro, uma outra posição
no espaço.
Como a mente se projeta, com facilidade, não há o que
estranhar, quando aquele lenço que eu disse estar impregnado
pelos fluidos, passa a obedecer o meu comando.
O fenômeno de transporte
Quero mostrar um caso de transporte de objetos, realizado por uma
médium que nós tivemos ocasião de ver. Vários
objetos são trazidos ali no meio de um amontoado de algodão
que são dispostos em cima de uma peneira.
Há uma participação fluídica de todo público
que está presente. O nosso ambiente, em todo fenômeno
mediúnico é susceptível a esse contágio.
Os meninos que estão aqui ligando os aparelhos de rádio
sabem disso. Estando um microfone perto do outro, ou conforme você
pega em um deles, o outro microfone que está perto produz um
ruído desagradável. Eles chamam isto de microfonia.
Se isto existe ao nível da atividade eletrostática desses
microfones, imaginem, quando nós estivermos querendo sintonizar
mentes. Os médiuns e os Espíritos vêm se comunicar
conosco e contam com nossas próprias mentes. É natural
que ocorra um ruído psíquico, e que às vezes,
é tremendamente desagradável para o médium. Quando
assistimos a uma sessão mediúnica, se não controlarmos
o que estamos pensando, a microfonia psíquica que estamos produzindo
reflete no médium com muito desconforto.
É comum ouvirmos esta queixa dos médiuns. Perguntei
a uma pintora mediúnica, com quem conversei durante algumas
horas, o que ela sentia diante do público. Enquanto ela estava
pintando, conseguia ver as pessoas que conversavam por ali, via sem
muita nitidez, sem olhar, sem saber direito quem é, mas, o
ruído da conversa fica marcado na sua mente. E, segundo ela,
a perturbam muito.
Nós devemos respeitar o ambiente mediúnico, porque a
sintonia ocorre, também com a nossa participação.
Nós ouvimos perguntas ao Dr. Andreia referentes ao fenômeno
mediúnico e sua relação com as várias
idades. São clássicas as descrições. A
criança, num extremo, tem muita vidência. Depois, o idoso,
quando está se desprendendo, costuma ver os familiares que
vão assisti-lo no desencarne. Já na vida adulta, prevalece
a manifestação da psicografia ou dos médiuns
falantes. Tanto o idoso como a criança sentem com mais freqüência
a presença de entidades espirituais com quem eles se comunicam.
Conclusão
Do ponto de vista da expressão da fenomenologia mediúnica,
o que eu gostaria de passar para vocês sobre a participação
do cérebro pode ser resumido com a afirmação
de que a mediunidade é uma expressão de automatismo
cerebral com a participação das duas mentes em sintonia,
a do médium e a do Espírito comunicante. Estão
envolvidos os núcleos da base com os automatismos, e uma atividade
superficial do córtex, estabelecendo duas alças que
compartilham suas junções fisiológicas. A cortical
fica por conta do médium e a atividade profunda relacionada
com os núcleos da base, fica por conta do espírito comunicante.
O animismo
Há um outro capítulo que gostaria de abordar. Quero
falar sobre o que se chama em medicina de “diagnóstico
diferencial”. Afinal de contas, tudo isso que expressei até
agora, está dentro do contexto de atividade mediúnica.
Podemos então perguntar: e aquilo que não for mediúnico?
Em que tipo de fenomenologia se enquadra?
Afinal de contas, nós somos, cada um de nós, uma entidade
espiritual. Estamos incorporados no corpo físico, que nos permite
também produzir expressões no campo da transcendência
e da espiritualidade. As forças universais que estão
por aí não são patrimônio exclusivo dos
desencarnados. Nós também, enquanto encarnados, podemos
assumir uma determinada autonomia espiritual. Posso me assentar aqui,
nesta mesa de trabalho e, me deslocar pelas dimensões espirituais
e me servir de um médium para transmitir uma mensagem.
Conta-se que, Eurípedes Barsandulfo, um extraordinário
médium de Sacramento, MG, ao dar aula, pedia, às vezes,
licença aos seus alunos, assentava- se, recostava-se e voltava
depois de alguns minutos. Mais de uma vez, ele descrevia que tinha
estado na Europa, socorrendo soldados que estavam precisando de ajuda
na vigência da primeira grande guerra mundial.
Este relato foi passado por parentes de ex-alunos de Eurípedes
Barsandulfo. Há uma série de histórias lindíssimas,
desse médium extraordinário de Sacramento.
O fenômeno mediúnico pode ocorrer, com o próprio
espírito encarnado que vai incorporar em um médium e
produzir a sua informação ou a sua comunicação.
Não temos ainda conhecimento para entender a complexidade deste
fenômeno.
Há uma outra fenomenologia que faz parte da nossa dinâmica
física, que é o fenômeno anímico. Minha
alma vai produzir, atuar no mundo das ondas ou na mente das pessoas
ou dos objetos que nos cercam.
Podemos ter acesso ao inconsciente através do transe sonambúlico
ou pela hipnose. Podemos provocar um quadro de hipnose que se aprofunda
e leva o indivíduo a um transe ou uma crise, um transe sonambúlico
profundo e, a partir daí, podemos produzir manifestações
extraordinárias. Com as propriedades da Alma exaltadas o indivíduo
revela outras extensões da sua personalidade.
Na situação de letargia, catalepsia e sonambulismo,
é comum ocorrer a emancipação da Alma e desenvolver-se
espontaneamente uma produção fenomenológica muito
próxima do fenômeno mediúnico.
A grande questão é sabermos como reconhecer quando é
uma ou a outra situação?
O conteúdo do fenômeno mediúnico é, quase
sempre, conhecido pelo indivíduo quando acordado e consciente.
Ao passo que aquele indivíduo que está em transe sonambúlico
pode trazer informações que ele desconhece, enquanto
consciente.
Estou expondo um ponto de vista, mas, proponho esta avaliação
para vocês, para sentirem as dificuldades desta triagem de seleção.
O mesmo ocorre quando algumas pessoas vêem questionar sobre
suas percepções. Vão até ao centro onde
costumam ouvir : É mediunidade! Você precisa se desenvolver!
Há todo um texto dentro do Livro dos Médiuns capaz de
orientar- nos.
Kardec ensina que a mediunidade é uma disposição
orgânica especial e que ela não se desenvolve pelo exercício.
Cada um que se sentir envolvido por manifestações espirituais,
pode fazer sua própria experiência. Freqüente e
acompanhe as reunião num grupo espírita, estude, "conheça
- te a ti mesmo ", observe se as idéias são suas,
ou é possível a presença ou a participação
do mundo espiritual.
Cada um dos nossos centros tem os seus orientadores, os doutrinadores,
os envocadores, como diz o Livro dos Médiuns, que vão
adquirindo experiência e colocando você no caminho, onde,
sua mediunidade pode desabrochar.
Histeria e mistificação
Na área neurológica e psiquiátrica é muito
comum uma certa dificuldade no diagnóstico diferencial.
São inúmeros os pacientes em que o médico faz
o diagnóstico de histeria e, confirma-se depois que era um
quadro de esclerose múltipla. É uma grande surpresa
para o médico mas, só lhe resta pedir desculpas para
o doente.
Na área médica é muito comum o erro de diagnóstico
no início dos sintomas. No campo da mediunidade onde a histeria,
por exemplo, pode contaminar as manifestações espirituais,
percebe-se que certos médiuns tem manifestações
nestes dois domínios da mente.
Quero comentar, ainda, os sintomas do que entendo como sendo “Mediunismo”.
Coloco aqui aquelas manifestações orgânicas que
o médium apresenta no início dos seus primeiros contatos
ostensivos com a espiritualidade. Freqüentemente aparece insônia,
mal estar indefinido, sem causa aparente, dores atípicas, sonolência
excessiva, sonhos patológicos entre vários outros sintomas.
Fazer o diagnóstico diferencial entre as expressões
do Mediunismo e da histeria é, freqüentemente, muito difícil,
tanto dentro do ambiente médico, como dentro dos nossos centros
espírita.
Algumas vezes ocorre um outro agravante: no atendimento médico
é comum percebermos certas pessoas falsificando as expressões
dos seus sintomas. No ambiente espírita ocorre igualmente a
“mistificação” dos fenômenos. Pessoas
que tentam enganar, estão, freqüentemente, enganando até
a si mesmo, de uma maneira imperceptível. Vale dizer, inconscientes
do que fazem. A mistificação é um componente
sério no ambiente do centro espírita. Médiuns
habituados a se comportarem corretamente, com sua dignidade sempre
preservada, de repente, são envolvidos por um certo deslumbramento
das suas aptidões e acabam por se comprometerem com o processo
de mistificação.
O ser humano é de uma complexidade inimaginável. Diziam
os filósofos gregos que "o homem é a medida das
coisas". Por isso, temos que ter cautela e bom senso para saber
corrigir sem magoar aqueles que estão iniciando a tarefa mediúnica.
Foi o caso dessa senhora que trouxe-me dois ou três cadernos
com texto muito rabiscado. Achava que era mediúnico e me perguntava:
- Doutor, o senhor pode ficar com este caderno porque, quem sabe no
futuro, ele poderá ser traduzido e, o que está escrito
aí pode ser uma grande revelação. Será
que isso não seria sanscrito?
Como ela insistisse, maravilhada com o que via em seus cadernos, sugeri
o seguinte: “Me dê um recado a este Espírito, quando
ele se manifestar. Peça para ele se alfabetizar. Quem sabe
assim, a gente o entende melhor”.
Meus amigos, está aí a contribuição dos
estudos sobre mediunidade, que eu queria lhes apresentar. Muita paz
a todos!
Perguntas:
Dra Mirna: Vamos passar às perguntas.
As primeiras três perguntas se referem à vidência
. São três casos.
"Quando vou dormir, ouço barulhos na cozinha, alguém
mexendo em pratos e quando vou até lá, não há
ninguém. Será imaginação?
Às vezes, vejo algumas coisas. Não sei se é imaginação
ou se são espíritos. Como posso distinguir?
Às vezes, à noite, quando vou dormir, vejo vultos. O
que é isto? São espíritos?"
Dr. Nubor
Vou responder carinhosamente a estes “videntes”. Está
escrito no Livro dos Médiuns que é melhor que a gente
não acredite noventa e nove vezes, para não errar.
Prefiro imaginar que nós todos temos possibilidade de nos enganar
e ter aquela vontade de ver espíritos, mas como homem de ciência,
procurando uma verdade sempre muito consistente, prefiro optar por
dúvida. Se realmente acontecer de nós termos aptidão
para a vidência, os Espíritos que nos orientam, os nossos
protetores, vão, no momento adequado, nos amadurecer e permitir
que a gente tenha esse acesso ao mundo espiritual. Mas por esses dados
que estão relatados nas perguntas, ainda prefiro ficar no imaginário
que a nossa mente permite.
Dra. Mirna:
"Existe alguma droga, medicação, que pode provocar
a mediunidade?"
Dr. Nubor:
Acredito que esta pergunta foi feita, porque a literatura leiga tem
um lixo literário muito grande sobre essas drogas. Inventam
que seria possível termos acesso a outras dimensões,
utilizando chás ou pílulas com estas substâncias.
Isso teve início a partir da década de sessenta, com
o LSD e a mescalina. Creio que todos aqui já leram alguma coisa
sobre estas duas drogas. O fenômeno mediúnico tem esse
"quê" de sagrado, que eu quis transmitir a vocês,
pelo envolvimento com a espiritualidade. Peço desculpas até
por ter usado esta expressão. O que quero dizer é que
a mediunidade tem uma complexidade, tem uma seriedade, tem um mecanismo
neurofisiológico, e tem a participação destas
entidades que com freqüência nos comove pelo seu envolvimento.
Por outro lado, o que acontece com as drogas, os chás, ou as
medicações a que nos referimos. é que elas alterarem
a fisiologia do cérebro mudando principalmente a sua química.
No Livro dos Médiuns Allan Kardec sugeriu que , quando existe
uma lesão cerebral , portanto uma expressão orgânica
de doença, o espírito desta pessoa, pode se projetar
para fora do corpo e registrar o conteúdo de imagens do seu
próprio cérebro. É uma das explicações
que Allan Kardec dá para as alucinações.
Sabemos hoje, que há um risco seríssimo no uso de qualquer
droga que afete o cérebro. Curiosamente devemos lembrar que
estas substâncias, do tipo LSD surgiram junto com a invenção
da bomba atômica. No momento que o homem aprendeu a fragmentar
o átomo e explodir a matéria, ele também descobriu
as drogas que implodem a mente. Provoca-se um desastre biológico,
as vezes irreversível, com o uso deste tipo de droga, principalmente,
com a intenção de produzir fenômenos tidos como
transcendentes.
Dra. Mirna:
"Existe algum método de aprendizagem de estado psíquico,
ao qual se tornaria mecânico com o tempo e, com isto, poderia
ser atingido a parte mais remota da mente?"
Dr. Nubor
Vou tentar simplificar. Não sei se é isso que quer dizer
a pergunta. Estão muito em moda os exercícios de meditação.
São tentativas de se produzir estados alterados da consciência.
Há, realmente, alguma coisa de muito valor neste propósito,
que se presta muito para as terapias de relaxamento, de expansão
da consciência, de acesso a experiências de vidas anteriores,
entre outros benefícios. Mas o texto da pergunta para mim ficou
um pouco complicado. Não sei se é bem isso que questiona.
No sentido de nós fazermos um treinamento e produzirmos um
fenômeno mediúnico mecânico, isto, a meu ver não
tem sentido. Caso se refira a uma busca interior para se alcançar
estágios mais profundo de conhecimento da mente, isto é
sabido que os grandes mestres tem total domínio. Não
foi nem uma nem duas vezes que nos Evangelhos está escrito
que Jesus, em certos momentos da sua peregrinação, se
retirou de perto da multidão para meditar e orar s, seguramente
entrar em contato com a Espiritualidade Maior que Lhe acompanhava.
Dra. Mirna :
"Podem sintomas ditos mediúnicos e não trabalhados
ou tratados, com o passar do tempo, tornarem - se sintomas físicos?"
Dr. Nubor:
Analisando a chamada psicopatologia da mediunidade, se nós
pudermos introduzir esta expressão na nosologia médica,
observamos que ela está muito próxima de manifestações
psíquicas de uma série de comprometimentos da esfera
orgânica. Tanto é que já me expressei a respeito,
mostrando que, as vezes, é muito difícil o diagnóstico
diferencial entre um quadro histérico e uma manifestação
mediúnica. Quantas vezes a gente sabe que determinadas enxaquecas,
dor nas costas, indisposição, mal estar, realmente,
podem estar ligadas à presença de entidades perturbadoras.
Este campo da doença física e do "mediunismo"
será o tema que nós vamos abordar na aula de amanhã.
Será que existe uma chamada doença espiritual? Esta
é a proposta da discussão de amanhã.
Dra. Mirna :
Se a mediunidade está ligada ao automatismo e à aquisição
de várias experiências, o que ocasiona o medo e o temor
da confusão mental?"
Dr. Nubor:
Estou meio embaralhando com esta pergunta , mas acredito que isto
lembra muito bem aquela história, que nós comentamos
na aula de anteontem.
Falamos sobre as causas da loucura. No passado, ela era atribuida
aos astros, ao ar corrompido, a masturbação, a desvios
alimentares, a condutas imorais de várias ordens. Condutas
imorais para aquela época, podia ser assim: Alguém,
ao passar numa rua, deixou de pedir a bênção para
o padre que cruzou com ele. O indivíduo era condenado para
a fogueira, na inquisição, se produzisse um pecado mortal
desse tipo.
No livro de um grande médico romano, Celsus, que viveu 150
a 200 anos depois de Jesus Cristo, está escrito a sua sugestão
para a cura da doença mental. Ele recomendava para este doente
a tortura, as correntes, o fogo entre outras maldades. Ele dizia que
uma das causas muito comuns de doença mental era o estudo da
Filosofia.
Na minha época de garoto lá em Uberaba, ouvia-se dizer:
- “Não fique estudando muito estas coisas de espiritismo,
que você fica doido”.
Não é raro a gente imaginar as crises dos psicóticos
serem confundidas com manifestação mediúnica.
Afinal eles deliram, ouvem vozes e dizem enxergar espíritos.
Aliás, pode-se perguntar: E por que não é? Com
muita freqüência na verdade eles são realmente médiuns.
Associar loucura com espiritismo é muito comum e compreensível.
Isso não me afeta mais.
Dra. Mrina :
"O fenômeno mediúnico, físico e intelectual
utiliza o mesmo espaço cerebral ou existem caminhos específicos
para cada um deles?"
Dr.Nubor:
No fenômeno físico, como nós vimos é uma
expressão que exige a somatória de forças do
fluído do perispírito do médium e de fluídos
do perispírito do espírito comunicante. A partir desta
combinação fluídica, o comando do fenômeno
se conduz pelas duas mentes em parceria.
Por outro lado, o fenômeno intelectual, que analisei com vocês,
e isto na minha opinião, tem suas vias de produção
nos automatismos cerebrais.
No meu entendimento, o fenômeno mediúnico daquele psicógrafo,
que pega a caneta, daquele que pega as tintas e pinta rapidamente
ali na tela é um fenômeno de automatismo cerebral. É
claro que há muito mais coisa envolvida no fenômeno conforme
discorri no decurso da nossa aula.
Certa ocasião estava assistindo uma médium, em Águas
de Lindóia, a Valderice, pintando. Ela mistura aquelas tintas,
aquelas massas de tintas, o vermelho e o branco... Eu acho que se
fosse eu quem as misturasse, tenho certeza que iria fazer um borrão
de tremendo mal gosto. A médium, no entanto, sob ação
de Van Gogui simplesmente toca a tinta daquele jeito, assim meio automaticamente,
muito rápido, mas nunca faz nenhum borrão com as tintas.
A câmera que a filmava tão de pertinho, nos dava a sensação
de que a tinta seguia para o lugar certo, obedecendo alguma ordem
que deve vir do pintor. É incrível como isso acontece.
Não tenho qualquer habilidade para pintar, mas a minha esposa
pinta e a vejo nesta tarefa criando uma folha ou as florzinhas que
vão ali enfeitando a paisagem que ela imaginou por na tela.
É um trabalho produtivo, consciente e eu estou vendo de perto.
Na produção do fenômeno mediúnico, dessa
médium pintora que eu me referi. vejo nos seus gestos um automatismo
motor, enquanto o fenômeno está se processando. Por outro
lado, na hora em que aquela tinta está caindo na tela, ela
parece estar viva, ela obedece ao pintor espiritual. Aqui parece um
fenômeno de efeitos físicos. Por Deus, eu não
tenho expressão para dizer:
Parece um milagre!
O neurocirurgião Nubor Orlando Facure
é professor aposentado da Unicamp, presidente e fundador
do "Instituto do Cérebro", na cidade de Campinas.
Embora afastado da Universidade, Nubor continua clinicando em consultório
próprio e no Instituto do Cérebro, escrevendo e publicando
livros e também fazendo palestras nas casas espíritas
e instituições acadêmicas.