Nubor
Orlando Facure
> O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual)

Há um grande fosso entre as considerações
acadêmicas sobre as bases da consciência e os postulados
espiritualistas. Esses últimos colocam como origem e destino
das manifestações da consciência o Espírito
ou princípio inteligente, independente da matéria.
Já as academias - nas chamadas 'neurociências' - procuram
explicar as manifestações de inteligência e
consciência como subprodutos da atividade neuroquímica
do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa ser muito
desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem
são explicações para o funcionamento de muitas
funções cognitivas elementares, que se construiu a
partir de uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções,
bem como sua localização no cérebro (ou seja,
há um mapa que liga essas funções com partes
específicas da massa encefálica). Não obstante
a existência desse mapa, inexiste uma 'teoria da consciência'
como muitos poderiam pensar que explique de forma satisfatória
as manifestações superiores da consciência (além
disso, é preciso ainda compreender o mistério que
existe na chamada 'plasticidade neural').
O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do
livro 'O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual'
onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e
não apenas espiritualista). O livro é formado por
vários capítulos (que não são numerados)
conforme a sequência abaixo:
-
A Evolução do
Cérebro
-
O Mapa do Desenvolvimento.
Os Sistemas.
-
O Mapa do Desenvolvimento.
As Funções.
-
Reconhecendo a Mente.
-
O Inconsciente Neurológico.
-
O Cérebro e a Mediunidade.
-
A Neurologia do Bem-Estar.
-
Revelações da
Alma.
-
Psicognosia. O Reconhecimento
da Alma.
-
O Homem Mediúnico. Uma
perspectiva para o Ser Humano no futuro.
-
Ciência e Espiritualidade.
-
Doença Espiritual.
-
Eventos Históricos na
Pesquisa do Cérebro e da Mente.
De início já comentamos que uma das
grandes deficiências do livro é inexistência
de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições
feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais).
O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração
exceto pela bela imagem da Nebulosa
de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu
e especificou a existência de um mapa entre funções
cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais
didático se a descrição do autor fosse acompanhada
de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas
e funções existentes. A figura abaixo é uma
imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup
(cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser
útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita
descrição de Facure das funções cerebrais.

Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia
(via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure
em seu livro.
Em 'A Evolução do Cérebro'
o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre a evolução
do volume da massa do cortex, desde os símios até
o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição, o autor não
se aventura a fazer qualquer 'conexão' com o princípio
inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo
'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor é bastante livre,
ele consegue descrever de forma simples muitos dos conceitos. Há
certa semelhança na maneira de apresentar cada conceito entre
o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros
sob psicografia de Francisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza
pelo uso do presente do indicativo para se referir a acontecimentos
passados e fatos históricos na forma de curtos parágrafos.
Duas passagens do 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção.
Na página 41, ao descrever o gigantesco número de
conexões neurais existentes no cérebro e a quantidade
de informação genética supostamente necessária
para descrever detalhadamente tais descrições, Facure
reconhece uma impossibilidade:
Ainda não se tem uma
interpretação adequada para explicar quais os mecanismos
que direcionam essas ligações. Não sabemos,
por exemplo, como os neurônios do olho se estendem pelas vias
corretas até a parte de trás do cérebro, onde
suas terminações têm que se distribuir por camadas
de alta complexidade e com a exigência de impecável
de que cada fibra deve ocupar com precisão o seu devido lugar.
Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias
químicas que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com
a qual se deve ligar. Convém registrar que, enquanto temos
milhões de gens, as ligações entre os neurônios
são de tal forma numerosas que, para desligá-las,
uma a uma, a cada segundo, seriam necessários 32 milhões
de anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material
genético para, por si só, direcionar todas essas informações.
Em outras palavras, a quantidade de informação
contida no código genético é muito menor do
que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões
neurais. De onde vem essa informação adicional? O
problema aqui é que, embora se possa ter ideia dessas diferenças
de informação, ninguém consegue quantificá-las
corretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto
dessas ligações indica que alguma força adicional
está em operação. Como a neurologia é
conhecimento essencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência
sobre como essa força poderia operar, é como se apenas
dispuséssemos da descrição de prédios
e ruas do centro de uma metrópole sem poder saber absolutamente
nada sobre as forças subjacentes que os utilizam durante
a maior parte do tempo.
Outra parte interessante está na pagina 47.
O autor considera que as estruturas encefálicas necessárias
para a inteligência do homem moderno já estavam prontas
a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:
Podemos questionar, então,
porque só tão recentemente fomos capazes de construir
cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados,
considerando que a disponibilidade do cérebro já podia
nos permitir desempenhar essas funções muito tempo
antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço,
que ocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido
precipitado ela vinda de criaturas, mais desenvolvidas, que vieram
habitar entre nós, exercendo um papel de enxertia para a
espécie humana.
Uma observação pode ser válida
aqui: é possível que a história que conhecemos
seja apenas um esboço precário da verdadeira história
pregressa dos últimos 100 mil anos. É possível
que nossa história verdadeira tenha começado muito
tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante
considerar que a arqueologia e antropologias modernas especifiquem
um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos últimos
25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estava
disponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção
de nossa cultura tenha sido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos
mais evoluídos. Essa 'vinda' em nada teve de extraordinária:
ela se deu pelas vias normais do nascimento comum e nada teve a
ver com uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência
física dela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento,
que é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma
explicação aparente.
Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira
abordagem da necessidade de se incluir a Alma ou Espírito
no quadro puramente descritivo das ciências neurológicas.
Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas
culturas que reconheciam a existência de uma individualidade
que é preservada além da morte. É importante
considerarmos aqui que a postulação da existência
da Alma não parte de uma necessidade meramente neurológica.
De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação
no código genético para explicar as ligações
neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência)
vem como base independente dessas considerações. De
uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve
conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos
primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar
aparentemente a incompletude das descrições neurológicas
da mente.
O Cérebro e a Mediunidade
O
que também chama a atenção em 'O Cérebro
e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento da noção
de Kardec de que a mediunidade tem a ver com a organização
física do médium que, para Facure, sugere uma ligação
estreita com a estrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia
da mediunidade'). Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo
aqueles que se poderiam considerar os mais 'físicos') passam
pelo filtro do cérebro para que possam se manifestar. Isso
contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de que
mediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere
não se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica,
quando o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum
tipo de interferência. Esboços em direção
ao desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia
e Pintura Mediúnica'):
Com o desenvolvimento mediúnico,
a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente
como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o Espírito
comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas
motoras complementares para executar a tarefa. Por isso, ambos,
a psicografia e a pictografia, são executados com extrema
rapidez; a caligrafia com frequência é ampliada e não
há necessidade de acompanhamento da visão por parte
do médium, porque ele já está treinado para
execução do texto ou da pintura.
E não apenas isso. O conhecimento da maneira
como o cérebro opera a codificação dos sinais
visuais para fornecer ao Espírito a visão integral
de um objeto (1) parece ser essencial
para compreender as diferenças que existem entre descrições
de diversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog,
Facure discute uma possível explicação para
esse fenômeno (2). Ele fala,
por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma
maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas
de informação de uma imagem vão para áreas
diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está
essencialmente ligada a estrutura física do cérebro,
então diferentes médiuns poderão descrever
diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade
dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles
(trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécie
Homo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns
de conhecer a história pregressa de objetos físicos
simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das
funções do tato ordinário que são processadas
no lobo parietal. Dessa forma, prevê-se que as variedades
(e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto
as variedades de funções cognitivas disponibilizadas
pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece
que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses
conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar
uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro.
O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos
usados pelo autor no livro (tal como a palavra psicognosia com significado
específico dado por ele), além do conceito do inconsciente
neurológico. Na parte final do livro há um instrutivo
quadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde
não deixam de figurar as contribuições de Kardec
e de outros investigadores para a compreensão integral do
ser humano. Não é possível estabelecer uma
ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado
a partir de observações da neurologia, assim sendo:
Estando presos à realidade
física que nos limita, não poderemos explicar a fisiologia
dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade
da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende
a sua fisiologia. (pag. 97)
Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas,
certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda a aprender um
pouco mais sobre o assunto.
Dados da obra
Título: O Cérebro e a Mente, uma
conexão espiritual.
Autor: Dr. Nubor O. Facure
Na nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN
dessa obra.
Número de páginas: 174.
Editora: FE Editora Jornalística Ltda.
Referências
1. Com relação à maneira
como o cérebro interpreta inicialmente a informação
visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada
no Capítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V.
S. Ramachandran (Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este
autor, existem cerca de 30 áreas no cérebro associadas
ao processamento separado da informação visual.
2. Ver 'Mediunidade a visão das cores'
postado em 26/11/11 no blog do Dr. Nubor Facure. Há outros
posts sobre o assunto mediunidade também.
Fonte: https://eradoespirito.blogspot.com/2012/01/livro-iv-o-cerebro-e-mente-uma-conexao.html
|