Na epígrafe do seu livro “Recherches
sur la Médiumnité” Gabriel Delanne
transcreve um pensamento de Kant que ouso traduzir:
Breve, e o tempo se torna próximo,
chegar-se-á a demonstrar que a alma humana pode viver desde
esta existência terrena, em comunicação estreita
e indissolúvel com as Entidades imateriais do mundo dos Espíritos;
será obtido e provado que este mundo atua indubitavelmente
sobre o nosso e lhe comunica as influências profundas das
quais o homem atualmente não tem consciência, mas que
reconhecerá mais tarde.
Immanuel Kant, filósofo
alemão de Königsberg destaca-se por três grandes
temas que abordou: A Crítica da Razão Pura (penso
logo existo), Fundamentos da Metafísica dos Costumes e, com
especial atenção para o lado crítico filosófico,
o seu trabalho relativo à Imanência e o Transcendentalismo
que resultou na consideração de que ele teria criado
a Escola Transcendentalista onde, provavelmente, teria reafirmado
sua posição de A Religião nos limites da
simples razão.
Ora, Kant falecera em 1804, praticamente
meio século antes de A. Kardec tomar conhecimento das mensagens
mediúnicas que redundaram na sua grandiosa obra da Codificação
Espírita. Como tal, não poderia se anteceder aos conceitos
espíritas.
Por outro lado, o mestre lionês veio a falecer em 1869, exatamente
na época em que a rainha da Inglaterra convocara um grupo
de cientistas britânicos para provar que o “fantasma”
(ghost) não existia e que tudo não passava da criação
da mente humana, a fim de que ela pudesse pôr termo às
aparições dos castelos medievais da sua coroa.
Com isso, quando Kardec escreveu “O Livro dos
Médiuns” dedicado à apreciação
dos aludidos fenômenos considerados transcendentais de comunicação
com os “mortos” o grupo inglês de pesquisas ainda
não tinha tomado pé da situação, motivo
pelo qual Kardec não pôde tirar suas conclusões
a respeito das descobertas feitas dentro dos fenômenos hoje
conhecidos como ectoplásmicos e que Kardec denominou de “fenômenos
de efeitos físicos”.
Por isso, talvez, ele não tenha
dedicado maiores atenções aos mesmos, limitando-se
a considerar a existência dos médiuns em questão,
apenas, numa parte do capítulo XIV do referido livro.
Quando as Entidades espirituais nos disseram que poderíamos
constituir um grupo de trabalhos para pesquisas ectoplásmicas,
a primeira coisa que fiz foi sair em pesquisa de literatura que
me pudesse dar uma base de estudos a fim de não entrar como
neófito nos trabalhos que deveríamos realizar.
Assim foi que encontrei uma obra do Monsieur Dussard (1905) editada
em francês onde ele transcrevia todo o arquivo da Sociedade
Dialética de Londres (London’s Dialectical Society)
relativo às pesquisas de Sir William Crookes, inclusive com
depoimentos dos participantes do grupo de trabalhos e dentre eles
o de Sir Cromwell Flewetwood Edington Varley, famoso engenheiro
eletrônico que construiu o primeiro cabo submarino de telefonia
entre Londres e Nova Iorque, além de ter criado a célula
foto-elétrica primitiva para controlar a saída e entrada
dos “fantasmas” na cabine onde estava o médium
e demais aparelhagem de controle usada durante as pesquisas.
Foi em seu depoimento que encontrei a explicação para
o emprego do termo “ectoplásmico” usado inicialmente
por Ch. Richet – sem citar a origem – para definir os
aludidos fenômenos hoje utilizados por muitos com impropriedades
atribuindo-o ao fisiologista francês da Sorbone.
O que Varley informa é que uma Entidade materializada a partir
da mediunidade de Dunglas Home teria informado que tirava do ectoplasma
celular orgânico – com destaque para as células
dos vegetais – a energia para produzir tais fenômenos.
Evidentemente, não poderia ser o próprio ectoplasma
estudado em Citologia que entraria em jogo porque, senão
a célula da qual ele fosse retirado sofreria sérios
danos; no caso, dentro da concepção quântica
do fenômeno físico, o que se aduz é que a energia
fornecida pela catálise mediúnica é produzida
pela vibração do ectoplasma celular, assim como um
som pode ser obtido a partir de uma corda de violão sem que
a corda saia do instrumento.
No entanto, há gente garantindo
que o ectoplasma dos fenômenos é aquela réstia
luminosa que se interpõe entre o médium e a aparição
no momento da foto, quando, na verdade, o que a câmera fotografa
é a própria atmosfera mais densa iluminada pelo seu
próprio flash.
Torna-se, pois, importantíssimo
que se analise tal tipo de fenômeno sob uma observação
científica rigorosa para que não se emita tolices
a seu respeito.
Quando a energia ectoplásmica cria uma corrente entre o médium
e a materialização, ocorre um fenômeno idêntico
ao sonoro, em que o ambiente fica impregnado pelas ondas acústicas
emitidas, capazes de quebrar, até, copo de cristal, todavia,
o som, ali, é apenas representado por uma onda quântica
de energia que se propaga através do meio ambiente. Ninguém
fotografaria essa onda sonora: o resultado não mostraria
nada porque sua intensidade não modifica a camada de ar como
ocorre com os fenômenos de OEM, com vibrações
superiores a 1 megahertz. O próprio campo que envolve fios
elétricos de alta tensão cria uma aura em seu entorno,
por vezes visível, em fios expostos ao tempo, durante tempestades.
Nas ditas “sessões de
materialização”, para que o fenômeno se
torne possível, é criada uma nova densidade ambiental
facilmente percebida pelo tato, pois a região atingida pela
criação do campo parafísico propício
ao fenômeno se esfria e torna-se mais denso, motivo pelo qual
reflete a luz do flash da máquina fotográfica.
E o curioso é que esta camada mais fria fica acima da camada
inferior mais quente, contrariando o princípio físico
da gravidade.
Outra coisa que nosso grupo pôde
constatar é que o fenômeno se apresenta de modo bipolar,
como a eletricidade, havendo necessidade da presença de outro
médium no ambiente, além do que produz o fenômeno,
para que a energia ectoplásmica funcione, tal como a elétrica
através dos aparelhos que movimenta e atua.
O provável é que nas demais sessões já
realizadas, sempre, deveria haver outro médium, sem que fosse
detectado pelos observadores.
Os espectrômetros são
muito importantes nessas pesquisas, pois eles são capazes
de registrar a presença do aludido “fantasma”
que, ao se materializar, aumenta o campo energético do ambiente
na região em que ele se forma; no caso da mistificação,
não haverá nenhum aumento porque o mistificador já
é componente do campo ambiental, sem acrescentar nada a ele.
Geralmente, usados por quem saiba, inicialmente, estes aparelhos
têm que ser zerados em decorrência dos campos criados
pela fiação elétrica do cômodo onde vá
ser realizado o trabalho, a fim de que possa registrar qualquer
alteração havida sem necessidade de maiores cálculos,
ou seja, bastando a leitura direta dos seus valores.
Uma das características essenciais dos trabalhos de materializações,
como dissemos, é o esfriamento das camadas superiores do
ambiente sem que os aparelhos registrem nenhuma variação
energética de campo, o que significa dizer que, apesar de
estarem sob ação das radiações ectoplásmicas,
os campos energéticos não variaram. E o curioso é
que um ventilador não influi na atmosfera mais fria, o que
demonstra que não é o ar, mas algo estranho que faz
este ambiente ficar com temperatura mais baixa. Dá para sentir
frio, mesmo no verão.
Os aparelhos também não
registram nenhuma variação cinética no movimento
anômalo de objetos, mas, tão logo uma aparição
se faz presente, mesmo que seja o de uma simples mão com
uma folha fosforescente, imediatamente, o aparelho registra um aumento
de campo como se ali tivesse entrado uma nova fonte.
Se uma pessoa presente se move, o aparelho registra a modificação
do campo produzido pela presença dos participantes, o que
evita que qualquer deles possa atuar na fenomenologia.
Também nada se registra durante o fenômeno de tiptologia,
quando eles estão escrevendo por batidas. A conclusão
óbvia, portanto, é que os Espíritos presentes
não podem ser detectados pelo aparelho senão quando
se materializam, ou melhor, se revestem de forma material aparente.
Crookes foi obrigado a usar recursos os mais diversos para não
permitir que fosse enganado por mistificações, mas,
em sua época, não existia a condição
atual de que se dispõe e ele foi o único que usou
de controles energéticos para comprovar a verdadeira existência
do fenômeno em si, com ajuda da aparelhagem montada por Varley.
Pena é que Kardec não pudesse tomar ciência
dos resultados de suas pesquisas e tirar suas próprias conclusões
doutrinárias.
Em 1874, depois de mais de seis anos de pesquisas, coadjuvado pelos
mais importantes cientistas do reino em sua época, William
Crookes inicia seu relatório à rainha Victoria dizendo:
“Se Vossa Majestade me convocou para provar que o fantasma
(ghost) não existe, sou obrigado a dizer que ele existe”.
E está encerrada a sessão.